sexta-feira, 8 de março de 2013

Divisão no PSDB leva serristas a se aproximar do PSB de Eduardo

Caio Junqueira e Murillo Camarotto

BRASÍLIA e RECIFE - A ala do PSDB ligada ao ex-governador de São Paulo José Serra intensificou nos últimos dias conversas com interlocutores do PSB do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, sobre o cenário presidencial de 2014.

O movimento foi impulsionado por uma divisão crescente na bancada federal do PSDB paulista. Parte dela está incomodada com o papel secundário que tem sido dispensado a Serra no debate sobre os rumos do partido e o consequente protagonismo assumido pelo senador Aécio Neves (PSDB-MG).

Outra parte se sente desprestigiada pelo governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB). Acusam-no de contemplar com espaços no governo e no partido apenas os mais próximos a ele. Diante disso, há receio quanto às condições eleitorais que esses parlamentares vão enfrentar em 2014.

As contas apontam dificuldades. A coligação proporcional em 2010 juntou PSDB, DEM e PPS e elegeu 22 deputados, mas é ameaçada por uma série de fatores. Alckmin corre riscos. O PSD pegou metade da bancada do DEM paulista e puxadores de votos ou estão no círculo de Alckmin com reeleição garantida, ou se elegeram prefeitos, ou estão de saída, como Walter Feldmann, com o pé na Rede de Marina Silva.

Com todo esse cenário posto, a convenção nacional do PSDB agendada para maio é vista como um possível ponto de chegada dessas insatisfações e, consequentemente, um ponto de partida para outras articulações. Basta que Serra não concorde com o arranjo que lhe for oferecido. Aí pode ganhar corpo a hipótese Serra-Eduardo.

O PSB espera que a confirmação da candidatura de Eduardo Campos atraia ao partido parlamentares de diversos partidos, inclusive os descontentes serristas. Esses, por sua vez, contemplam outra possibilidade: a criação de um novo partido. Isso se daria a partir da fusão entre PPS e PMN, ou mesmo incorporação do PMN pelo PPS. A vantagem é que, nesse caso, seria evitada a perda de mandatos dos que quisessem para ele migrar.

O presidente do PPS, deputado Roberto Freire (SP), confirma a discussão: "Isso foi pensado há muito tempo e agora voltou por conta da especulação de ter Eduardo candidato. Temos que trabalhar para derrotar esse bloco político liderado pelo PT e a ideia é formar um bloco para derrotá-lo." Mas a candidatura de Eduardo é uma condição para que esse novo partido saia? "Estamos abertos a discutir a hipótese Eduardo Campos. Mas enquanto ele não se definir também não podemos nos definir." Serra estaria nesse projeto? "Se pudesse juntar essas duas forças, seria interessante", concluiu Freire.

Eduardo e Freire se reuniram na semana passada e trataram do assunto. O presidente do PPS revelou a intenção de atrair tucanos descontentes - inclusive José Serra - para reforçar a candidatura do pernambucano ao Planalto.

Eduardo ainda não conversou diretamente com Serra, mas interlocutores dos dois lados não descartam a possibilidade de uma reunião acontecer nas próximas semanas. Também estão previstas novas rodadas de negociações com Freire. No entanto, o PSB não pretende embarcar no discurso de "tudo pra derrotar o PT", entoado pelo presidente do PPS.

Um elo entre Eduardo e Serra é o prefeito de Teresina, Firmino Filho (PSDB). Além de ser amigo de Eduardo - os dois estudaram juntos na Universidade Federal de Pernambuco -, Firmino é serrista ferrenho. Trabalhou com Serra na Prefeitura de São Paulo e tem dito a pessoas próximas que poderá contrariar o partido e pedir votos para Eduardo em 2014. Firmino e Eduardo se reuniram anteontem em Brasília. Firmino também tem se aproximado muito do governador do Piauí, Wilson Martins (PSB), um dos principais entusiastas da candidatura de Eduardo.

Nome certo para a presidência do partido e para a disputa contra Dilma Rousseff em 2014, o senador Aécio Neves está de olho nesse movimento, até porque um PSDB rachado não lhe interessa. Sua expectativa é atrair Serra para sua campanha. Deseja tê-lo na formulação do programa de governo e sonha com sua candidatura ao Senado ou até mesmo a deputado federal, para alavancar a bancada paulista.

A tarefa é difícil. No domingo, ambos conversaram. Aécio telefonou para Serra convidando-o para ir até Goiânia, onde ocorreu um seminário do partido. Serra não foi. No dia 25 de março, Aécio quer conversar com ele pessoalmente em São Paulo, onde o PSDB paulista planeja um encontro partidário com a presença de prefeitos tucanos. "Se os malucos de Minas quiserem excluir o Serra ele pode sim turbinar a campanha do Eduardo Campos", disse, sob reserva, um parlamentar tucano.

Fonte: Valor Econômico

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