quinta-feira, 14 de março de 2013

Balanço dos riscos - Míriam Leitão

O economista José Roberto Mendonça de Barros acha que há um recrudescimento da inflação e não está tão certo de que haverá forte desaceleração da inflação de alimentos ao longo do ano. Alguma queda haverá, mas ele teme os custos que pressionarão os produtores este ano e a excessiva dependência de que a safra americana seja boa.

A inflação está indo para 6,7% neste primeiro semestre, para cair para 6% no fim do ano. E não há um chuchu da vez. Um estudo que fizemos aqui na MB Associados em 340 categorias de preços pesquisados pelo IPCA mostra que mais de um terço dos preços subiram mais de 10% nos 12 meses terminados em fevereiro - disse Mendonça de Barros.

Uma inflação espalhada e que está "leve para subir", na expressão do economista. Quer dizer com isso que qualquer evento afetará imediatamente os preços por falta da capacidade de absorver esses choques.

A maioria do mercado está mais otimista quanto à queda da inflação de alimentos ao longo do ano, mas Mendonça de Barros, que tem grande conhecimento em produção agrícola, pondera algumas questões:

- Melhor do que o ano passado, será, é claro. No ano passado, houve uma grande quebra de safra nos Estados Unidos. O Brasil terá uma bela safra, mas já começou a ser reduzida a previsão. Seria de 85 milhões de toneladas, será de 80 milhões a 81 milhões. É ainda uma grande safra, mas como os estoques estão baixos, as cotações vão depender da produção americana.

José Roberto explica também que o uso do diesel nas termelétricas reduz a oferta de diesel para os caminhões e o produto subiu duas vezes. O frete está muito alto. A seca, de um lado, e o excesso de chuvas, de outro, estão afetando também certas culturas:

- Minha hipótese é que alimento pode dar um refresco ao longo do ano, mas não necessariamente na proporção que se imagina. Acho também que o efeito da desoneração de alguns produtos será menor do que o esperado.

A conjuntura econômica de 2013 está mesmo confusa, e o episódio da declaração desta semana do presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, em Varsóvia, mostrou isso. Bastou uma frase não dita por ele - a de que a inflação vai cair no segundo semestre - para disparar anteontem as previsões de alta das taxas de juros.

José Roberto está prevendo crescimento do PIB em torno de 3%, mas nada acima disso:
- Vai ser melhor do que no ano passado, mas nada além disso. O consumo não consegue mais ser o puxador da economia e isso porque a inflação está comendo o orçamento das famílias, o mercado de trabalho está desaquecendo ligeiramente, tudo depende de investimento. O problema é que o investimento público não foi suficiente para alavancar o setor privado, o ambiente entre os empresários não está bom, as mudanças regulatórias assustaram, e as alterações na política cambial criaram incertezas.

Segundo o economista, empresas que compraram o dólar quando ele bateu em R$ 2,10, para se proteger dos sinais de que o governo queria mais depreciação, viram a moeda cair para R$ 1,97 em poucas semanas e estão tendo prejuízo.

- Nós não somos a Argentina, o Brasil tem US$ 400 bilhões de reserva. A gente está se afogando em 20 centímetros de água, aceitando essa volatilidade do câmbio - disse ele.

Tanto em relação ao crescimento quanto no combate à inflação, o economista acha que há necessidade de atuação mais eficiente e não de pacotes sequenciais:

-A frustração do crescimento do último trimestre teve um impacto no governo maior do que se imaginava. Gerou perplexidade porque eles achavam que a redução dos juros e as medidas de estímulo fariam o país crescer. E a perplexidade não é boa companheira.

Fonte: O Globo

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