quarta-feira, 20 de março de 2013

A economia do século 21 - Paulo R. Haddad

Keynes dizia, de uma forma pejorativa, não saber o que torna um homem mais conservador: não conhecer nada, mas apenas o presente, ou não conhecer nada, mas apenas o passado. Um exame cuidadoso da história do pensamento econômico irá mostrar como tema recorrente uma preocupação, no passado, com as questões das relações do homem com a natureza na evolução do processo de desenvolvimento das sociedades. E, no presente, nada preocupa mais os pensadores econômicos do que o futuro da humanidade em face do persistente uso predatório da base de recursos naturais do planeta e do eventual esgotamento desses recursos, levando ao fim do crescimento econômico. Já se analisam modelos de desenvolvimento sustentável que possam gerar prosperidade sem crescimento econômico ao longo das próximas décadas.

Essas inquietações analíticas têm nos conduzido para um novo paradigma da Economia como ciência neste início de século 21. A questão básica se coloca no seguinte dilema: na economia tradicional, a macroeconomia é vista como um sistema isolado sem trocas de matéria e energia com o meio ambiente. O ecossistema é considerado como um subsistema da economia do qual se extraem recursos ambientais e no qual se depositam os desperdícios e os resíduos da produção e do consumo. Na economia do século 21, entretanto, a economia tende a ser considerada como um subsistema aberto do ecossistema com ou sem congestionamento.

Na visão macroeconômica tradicional, considera-se como objetivo principal da economia a maximização do crescimento econômico medido pela taxa de expansão do PIB per capita do território, tendo como pressuposto otimista que as forças desacorrentadas dos mercados, em conjunção com o progresso tecnológico, garantirão possibilidades de substituição de matéria e energia capazes de mitigar todas as restrições de escassez ou "os limites do possível" (fontes e perdas ambientais). O ecossistema é apenas o setor extrativo e de disposição de resíduos da economia. Mesmo que esses serviços se tornem escassos (capacidade de suporte de uma bacia hidrográfica ou limitações de oferta de um recurso natural não renovável relevante), o crescimento econômico pode se manter para sempre porque a tecnologia permite a substituição de capital natural por capital man-made. O único limite ao crescimento, na visão tradicional, é a tecnologia e, desde que se desenvolvam novas tecnologias (produção de etanol lignocelulósico para o aproveitamento do bagaço da cana ou de resíduos de madeiras, a descoberta de novos materiais, a miniaturização de bens duráveis de consumo, etc.), não há limites para o crescimento econômico.

Na visão contemporânea da economia, desde que o ecossistema permaneça em escala enquanto a economia cresce, é inevitável que a economia se tome maior em relação ao ecossistema ao longo do tempo, ou seja, a economia toma-se maior em relação ao ecossistema que a contém. O capital natural remanescente passa a ser o fator limitativo de crescimento econômico num ecossistema congestionado (com stress). Contudo, o meio ambiente não pode ser tratado apenas como uma externalidade negativa (exemplo: emissão de monóxido de carbono de veículos automotivos ou positiva (exemplo: propagação de inovações tecnológicas), que se busca precificar indiretamente pelos mecanismos de mercado.

Nesta nova visão, os conceitos se renovam (PIB Potencial Ecológico, Contas Sociais adaptadas para a inclusão do uso e da conservação do capital natural, etc.); novos indicadores de desenvolvimento são elaborados (Pegada Hídrica índice de Bem-Estar Econômico Sustentável, etc.); e teorias são repensada; (Ecoeficiência Microeconômica, Capitalismo Natural, etc.). Essa compreensão passa pelas relações entre as duas Leis da Termodinâmica e pelas Regras de Sustentabilidade do meio ambiente que permitem predizer melhor o que poderá ocorrer com o futuro bem-estar das nossas populações.

Professor do IBMEC/MG, foi ministro do Planejamento e da Fazenda no governo Itamar Franco.

Fonte: O Estado de S. Paulo

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