terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

O flerte do PSB com a Rede de Marina

Socialistas ensaiam aproximação ao movimento da ex-ministra. Eles acreditam que uma eventual aliança teria potencial para levar a disputa presidencial de 2014 ao segundo turno

Paulo de Tarso Lyra

O lançamento da Rede Sustentabilidade, novo partido de Marina Silva, transformou-se em uma aposta das demais legendas para forçar a existência de um segundo turno nas eleições presidenciais do ano que vem. O caminho ainda é longo — os sonháticos precisam recolher 500 mil assinaturas em nove estados e registrar o pedido de oficialização da legenda no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) até outubro deste ano. Mesmo assim, a movimentação é enxergada como uma esperança para evitar que Dilma Rousseff seja eleita em primeiro turno, como apontam as pesquisas até o momento. "Lula foi eleito e reeleito em segundo turno. Quanto mais candidatos com história política tivermos, mais chances existem de o cenário se repetir", afirmou um interlocutor do governador de Pernambuco e presidente do PSB, Eduardo Campos. Dentro do partido, já há quem sonhe com uma chapa composta entre Eduardo e Marina.

Cada vez mais presidenciável, mas sem assumir publicamente a situação — o prazo exigido para a desincompatibilização é abril de 2014, seis meses após o tempo limite para Marina registrar oficialmente o partido a tempo de disputar as eleições do ano que vem —, Eduardo Campos fez questão de mandar uma carta para a ex-candidata a Presidência pelo PV, no sábado, parabenizando-a pela iniciativa. "Entendemos que a construção desse novo partido será de grande contribuição ao urgente debate que nossa sociedade reclama, e queremos afirmar nosso propósito e a nossa determinação em manter canais de diálogo e cooperação", escreveu Campos.

O portador da carta, lida durante o lançamento da Rede em Brasília, foi o secretário de Meio Ambiente de Pernambuco, Sérgio Xavier. Filiado ao PV, ele integrará o futuro partido tão logo a legenda seja formalizada. Xavier é um dos interlocutores comuns entre Eduardo Campos e Marina, grupo que inclui também o ainda Verde deputado federal Alfredo Sirkis e o ex-candidato a vice-presidente de Marina na campanha presidencial de 2010 e empresário Guilherme Leal, da Natura.

No ano passado, segundo apurou o Correio, mais especificamente durante as eleições municipais, Campos fez chegar a Marina o interesse em manter um canal de diálogo. Integrantes dos "sonháticos" admitiram que a sinalização se estenderia a uma possível chapa presidencial em 2014, tendo Marina como vice, caso o futuro partido — que à época não tinha nome definido — não prospere no aspecto legal.

Aliados do governador de Pernambuco acreditam, inclusive, que os eleitorados de Marina e Eduardo são complementares. A ex-ministra do Meio Ambiente é extremamente forte em dois nichos: o dos jovens e o dos conservadores, que inclui evangélicos. Já o presidente nacional do PSB transita bem nas camadas intermediárias, o que confere potencial eleitoral. Afinal, Marina teve 19,6 milhões de votos na corrida presidencial de 2010.

A eventual aliança foi, inclusive, ironizada ontem pelo presidente nacional do PTB, Roberto Jefferson. Em uma rede social, o ex-deputado brincou: "Nessa costura, quem seria vice de quem: Eduardo de Marina ou Marina de Eduardo? É namoro ou amizade?".

Renovação

O senador Rodrigo Rollemberg (PSB-DF) defendeu ontem o direito de Marina de criar um partido — na contramão de outros partidos, que têm criticado os "sonháticos" de Marina. O Correio mostrou, no sábado, que várias legendas estão se mobilizando para impedir que a Rede, caso seja oficializada, tenha direito ao Fundo Partidário e ao tempo de televisão. Rollemberg posicionou-se contra esse movimento. "Renovação é importante. Defendo que parlamentares e setores da sociedade tenham liberdade de criar seu próprio partido."

Sobre o bloqueio aos mesmos direitos que as demais legendas têm, Rollemberg foi enfático: "Fiquei assustado e surpreso. É um gesto de casuísmo que não pode ser suportado, é um casuísmo intolerável. Nós, do PSB, não compactuamos com qualquer medida de restrição à liberdade de organização partidária", declarou.

Uma das principais estrelas do futuro partido, o deputado Walter Feldman (PSDB-SP) lamentou as declarações dadas pelos detratores da Rede. Para ele, qualquer movimento de renovação política deve ser encarada como positiva. "Foi desse jeito que entendi o movimento feito governador de Pernambuco ao parabenizar a Marina. Não creio que faça parte, neste momento, de uma estratégia de aliança", ponderou o ainda tucano. Ele não quer nem imaginar a possibilidade de a Rede não ser lançada. "Eu me expus demais. Estou no meio da floresta sem ver a saída dela. Só sei que não posso mais voltar", resumiu.

Homenagem a Fernando Lyra

O ex-ministro Fernando Lyra receberá amanhã uma homenagem dos amigos que deixou em Brasília, onde morou quando deputado federal (1971-1999) e chefe da pasta da Justiça (1985-1986). Será celebrada uma missa de sétimo dia no Santuário Dom Bosco, na 702 Sul, às 19h. Um dos companheiros de Lyra, o senador Cristovam Buarque (PDT-DF) diz que o ex-ministro tinha muitos amigos na capital federal, não só no universo político. O senador destaca que, além de defender Pernambuco, sua terra natal, Lyra foi, acima de tudo, um "político de espírito nacional".

Fonte: Correio Braziliense

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