sábado, 2 de fevereiro de 2013

Máquinas e câmbio - Míriam Leitão

A política cambial virou uma incerteza a mais em uma semana que termina com o IBGE divulgando que a indústria encolheu 2,7% em 2012 e o setor de bens de capital teve um tombo de 11,8%. No ano passado, o governo atuou para enfraquecer o real e subir o dólar, e esta semana o Banco Central vendeu dólar para fortalecer o real. O ministro Guido Mantega fez novas declarações confusas.

Os exportadores que querem o real desvalorizado não entenderam o movimento do BC. Mantega disse que o câmbio permanece flutuante "desde que dentro de uma banda apropriada".

A equipe econômica tem tido dificuldades de comunicar com clareza a política adotada, em qualquer área. No câmbio, parece que querem o dólar mais forte para ajudar os exportadores, desde que não impacte a inflação.

Quando o real está caro, isso favorece a importação de máquinas, facilita investimentos, e ajuda no combate à inflação. Mas, para quem exporta, o real mais forte é perda direta de competitividade. O produto brasileiro chega mais caro lá fora e perde dos concorrentes. Agradar a todos com a taxa de câmbio é uma missão impossível.

O governo estimulou a desvalorização nos últimos seis meses. Agora, parece voltar atrás. O real caiu abaixo de R$ 2,00 pela primeira vez desde julho. O setor que produz máquinas está em suspense com a mudança de tendência. Mesmo com o dólar alto na maior parte do tempo, o ano de 2012 foi difícil. Os dados das 1.500 empresas que fazem parte da Associação da Indústria de Máquinas (Abimaq) mostram queda de 5,4% na produção e 3% no faturamento. O Nível de Utilização da Capacidade Instalada é o mais baixo dos últimos 40 anos: fechou em 73%. Mas a desvalorização do real impediu um cenário pior porque as exportações subiram 11,2%. Houve forte crescimento no segundo semestre, quando o real perdeu valor e isso conteve também o crescimento das importações, de apenas 0,9%.

Os números da produção industrial do IBGE, divulgados ontem, mostram uma queda de 11,8% no segmento de bens de capital durante o ano passado. O instituto inclui nesse item também produtos da linha branca, caminhões, tratores e ônibus.

O que a Abimaq diz é que o dólar mais alto ajudou. De cada R$ 100 faturados, R$ 33 vieram do exterior, segundo a associação. Houve aumento nas exportações para a Europa, apesar da crise lá, de US$ 2,2 bilhões para US$ 2,6 bilhões, e para os Estados Unidos, de US$ 2 bi para US$ 2,4 bilhões. As vendas de máquinas para a América Latina caíram, em parte pelo protecionismo da Argentina. O déficit da balança comercial do setor continuou muito grande, US$ 16,9 bilhões. Mas caiu pela primeira vez desde 2005.

- Esses números mostram que o setor de máquinas é competitivo internacionalmente. O que não é competitivo é o Brasil, com seu custo de produção enorme. Quando houve um impulso do câmbio, as exportações responderam, a partir de junho e julho. Se o dólar voltar a R$ 1,60, derruba isso tudo de novo - disse o presidente da Abimaq, Luiz Aubert.

Esse é o risco. Se ficar a dúvida sobre o objetivo da polícia cambial - deixar o dólar baixo para ajudar a inflação, ou o dólar mais alto para favorecer a indústria - os investimentos ficarão em suspenso. O pior ambiente para investir é a incerteza.

O vice-presidente da Abimaq, Mário Bernardini, defende que o governo use outros instrumentos para combater a inflação:

- Há outras formas de se combater a inflação que não seja o câmbio. A principal delas é promover uma forte redução de impostos, mas isso o governo não faz.

A Formação Bruta de Capital Fixo deve cair pelo sexto trimestre seguido, de acordo com a Abimaq, quando o IBGE divulgar os números finais do PIB de 2012.

Fonte: O Globo

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