segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Inflação em alta no Brasil vai na contramão da AL

Situação não se repete na Colômbia, Chile, Peru e México, os novos "quatro grandes" da América Latina

luri Dantas 

BRASÍLIA - Ao mesmo tempo em que o Banco Central informa que não se sente confortável com os indices de preços e a inflação oficial surpreende para cima, no Brasil, outros países da América Latina lidam com um cenário inverso, com inflação em queda e possibilidade de novos cortes de juros. A resistência da inflação nacional divide economistas ouvidos pelo Estado. Há quem atribua o comportamento dos preços brasileiros a erros do governo Dilma Rousseff, ao baixo desemprego e à crise financeira global.

Segundo o IBGE, o índice ofi­cial de inflação foi de o,86% em janeiro, o maior desde 2003. O número elevou a inflação em 12 meses dos 5,84%, em dezembro, para 6,15%, no mês passado. Ou seja: a inflação continua acele­rando. Esse quadro não se repe­te na Colômbia, no Chile, no Pe­ru ou no México, os novos qua­tro grandes da América Latina, na visão de especialistas.

Nenhum dos economistas ou­vidos pelo Estado aposta em ele­vação dos juros como a melhor resposta para a alta recente da inflação. Nisso concordam com o Comitê de Política Monetária (Copom). Na ata da reunião de janeiro, o BC diagnosticou um "choque de oferta". Significa que faltam produtos para ven­der, por isso os preços sobem.

Crise. Na avaliação de Darwin Dib, economista-chefe da CM Capital Markets, os problemas de oferta se devem ao pessimis­mo. "A demanda na economia é influenciada por toda a popula­ção brasileira, mas a oferta é definida por algumas famílias. Esse grupo está assustado: olhe só o que está acontecendo lá fora."

Para André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos, alguns fatores explicam a diferença da inflação nos paí­ses. Um deles é a taxa de desem­prego, que no Brasil baixou ao nível recorde de 4,6% em dezem­bro, menor que no Chile (6,1%), Colômbia (10,2%), Peru (5,6%) e no México (5%). Apesar de o BC brasileiro não ver um choque de demanda, o economista acre­dita que, com mais gente traba­lhando, há maior procura por produtos e serviços. Isso acaba pressionando os preços mais no Brasil que em outros países da América Latina com taxas de de­semprego mais elevadas.

Outro aspecto seria a reação ao excesso de medidas governa­mentais nos últimos meses, co­mo cortes de impostos e dos ju­ros e novos marcos regulatórios. "O governo pisa no acelerador e na embreagem ao mesmo tem­po, o motor roda, mas a energia não chega no eixo e o carro não anda", diz Perfeito.

No Brasil, uma combinação de fatores explica a alta da inflação na visão de Carlos Pio, professor de Economia Política Internacio­nal da Universidade de Brasília: "Demanda aquecida, baixa con­corrência doméstica, protecio­nismo comercial e políticas so­ciais ou de rendas, incluindo polí­tica salarial, que descolem a va­riação dos rendimentos dos tra­balhadores do ciclo econômico. Tudo isso está em vigor atual­mente no Brasil".

Já os outros latino-america­nos "vêm adotando um receituário muito diferente do brasileiro, que combina abertura comer­cial (todos têm acordo de livre comércio com EUA e União Eu­ropéia, além de fortes vínculos com a China), contas públicas ajustadas, juros e impostos bai­xos, desregulamentação da eco­nomia, inclusive liberalização dos regimes de trabalho e câmbio flutuante, sem qualquer pre­juízo para a capacidade do Esta­do de ampliar gastos sociais."

Fonte: O Estado de S. Paulo

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