quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Crédito consignado explode em janeiro: alta de 33%, para R$ 11 bi

Entre aposentados, empréstimo com desconto em folha teve alta de 57%

Gabriela Valente

BRASÍLIA - O brasileiro recorreu ao crédito consignado para fechar as contas em janeiro. As famílias tomaram R$ 11,4 bilhões em empréstimos com desconto em folha de pagamento, 33% a mais que em dezembro. Os aposentados do INSS foram os que mais buscaram esse tipo de financiamento. A procura desse público aumentou 57%. Os especialistas dizem que a culpa dessa alta é dos bancos que, num cenário de inadimplência alta, fizeram propaganda do crédito mais seguro para as instituições. Esses novos contratos, como a maioria das linhas, ficaram mais caros por causa da expectativa de juros maiores no futuro para conter a inflação.

Para o Banco Central, a demanda por consignado é comum no início do ano para cobrir despesas como material escolar, IPTU, IPVA, dívidas de fim de ano e até os excessos das férias. No entanto, dados do BC mostram que houve uma explosão em 2013. Em janeiro do ano passado, o crescimento na concessão de consignado foi de 5% frente ao mês anterior, enquanto os novos contratos para aposentados aumentaram 30%.

Além de ser um crédito fácil de contratar - até pela internet - o juro é baixo pela segurança que o banco tem de receber. Mas esse tipo de crédito ficou mais caro no mês passado. A taxa para os aposentados aumentou 0,3 ponto percentual, para 27,2% ao ano em média. Já os trabalhadores privados pagaram 30,1% ao ano, mais 0,2 ponto em relação a dezembro.

Para o vice-presidente da Associação Nacional dos Executivos de Finanças (Anefac), Miguel de Oliveira, as instituições aumentaram os juros na expectativa de que o BC volte a subir a Selic para conter a persistente inflação. Ele disse que a explosão do consignado no mês passado tem mais motivos que as questões sazonais do início do ano: foi uma forma de o banco fugir do calote que está alto, mas que deve ceder no futuro.

- A tendência daqui para frente é que a inadimplência caia, mas de forma muito lenta e gradual - previu.

O primeiro sinal foi visto em janeiro: o nível de calote das famílias caiu de 8% para 7,9%. O BC divulgou dados novos que não levam em consideração apenas o dinheiro que os bancos podem alocar como quiserem. Ao computar todos os tipos de crédito, como os do BNDES, por exemplo, a inadimplência da pessoa física caiu pelo quarto mês seguido. Em janeiro, passou de 5,6% para 5,5%. E tende a cair mais.

- O aumento da renda, do emprego e da massa salarial e a queda dos juros nos possibilitam assinalar a diminuição da inadimplência - afirmou o chefe do departamento econômico do BC, Túlio Maciel, sem se comprometer com datas.

Mesmo com sinais de que a inadimplência começou a arrefecer, o custo dos empréstimos para as pessoas físicas ficou mais caro. O spread bancário (diferença entre o que o banco paga pelo dinheiro e repassa aos clientes) subiu de 25,6 pontos percentuais para 26,1. Na média, o brasileiro paga 34,5% ao ano de juros. Houve uma alta de 0,6 ponto em janeiro. Crédito pessoal e de veículos pesam mais no bolso do que antes.

Os dados divulgados ontem também mostraram queda de 67% em janeiro na concessão de empréstimos do BNDES para financiar investimentos, levemente acima do mesmo mês do ano passado, quando foi de 66%. O banco emprestou R$ 9,1 bilhões mês passado. Diferentemente do início de 2012, quando o foco do governo era estimular o consumo, agora a prioridade é incentivar investimentos. Para Maciel, essa queda tem um componente sazonal:

- Está associada sobretudo ao arrefecimento do comércio no início do ano.

Fonte: O Globo

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