segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

A trincheira - Igor Gielow

Desde a eleição do "outsider" Severino Cavalcanti à presidência da Câmara em 2005, sempre cabe um "salvo surpresas" antes de falar da provável condução de Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) à mesma cadeira hoje.

Isso dito, o peemedebista deverá fazer companhia a seu correligionário Renan Calheiros no comando do Legislativo por dois anos. Não só lá: como advertiu José Sarney antes de passar o bastão a Renan no Senado, serão "cinco meses de denúncias", de exposição de todos os feitos e malfeitos dos novos caciques.

Haverá choradeira entre os que se declaram éticos, seja lá qual for o teor de seus votos secretos. Abaixo-assinado em redes sociais, se é que alguém ainda acredita em votação na internet. É inócuo. Salvo a surpresa (veja a muleta em ação) ou a descoberta de segredos da dupla, o PMDB de Alves e Renan dará as cartas.

Como já está decantado, isso implicará custos políticos ao governo do PT, que mais do que nunca terá de tratar bem seu aliado principal.

E Renan e Alves apontam para um Legislativo entrincheirado. Ambos são a cara de suas respectivas Casas, com suas defesas corporativas e suspeitas de todas as ordens.

A Corregedoria da Câmara já está sendo esvaziada. No Senado, denúncias caem no vazio, como se o Congresso debochasse da sociedade.

Mas quem foi mesmo que colocou esse pessoal lá? Você se lembra em quem votou para o Parlamento? E sem bairrismos preconceituosos: Renan e Alves vêm de rincões, mas estão lá com o apoio de todos, cordiais mineiros e urbanos paulistas, em ordem unida por sua fatia do bolo.

Que se cuide a PGR, que cometeu um erro crasso ao permitir ser acusada de politizar a denúncia grave contra Renan, por apresentá-la à véspera da eleição no Senado. São previsíveis novos embates com o Supremo, visto entre políticos como a versão 2.0 da Inquisição. A trincheira da corporação está mais forte do que nunca.

Fonte: Folha de S. Paulo

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