sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Oposição acusa Dilma de antecipar campanha

PSDB e DEM afirmam que a presidente, ao anunciar em rede nacional a redução na tarifa de energia, fez uso eleitoreiro da estrutura de Estado e dividiu a nação em "do contra" e "a favor".

Protesto da oposição

Lideranças do DEM e do PSDB criticam o viés político e eleitoral do pronunciamento de Dilma para anunciar a redução da conta de luz

Paulo de Tarso Lyra, Leonardo Azevedo e Adriana Caitano

A presença de Dilma Rousseff no pronunciamento em rede nacional na noite da última quarta-feira — vestida de vermelho e com um tom nítido de campanha eleitoral antecipada ao criticar os "pessimistas que falam em racionamento de energia" — irritou a oposição. Tucanos e demistas protestaram pela presidente utilizar, em apenas seis meses, o espaço considerado de utilidade pública para falar, pela terceira vez, do mesmo assunto: a redução da conta de energia elétrica. Provável candidato do PSDB a presidente, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) foi enfático. "O Brasil assistiu mais um exemplo inaceitável de como o PT usa, sem constrangimentos, estruturas de Estado para alcançar seus objetivos políticos", afirmou Aécio.

Para o senador mineiro, não havia razões para a formação de uma rede nacional obrigatória para anunciar novamente a redução da conta de energia. "Falou à Nação não a presidente da República, mas um partido político, evidenciando, como nunca antes neste país, a mistura entre o público e o particular, o institucional e o partidário. Registro meu pesar por este triste marco de quebra do princípio da impessoalidade no exercício da Presidência da República", completou Aécio.

O presidente nacional do PSDB, Sérgio Guerra (PE), que deixará o comando do partido em maio para ser sucedido, provavelmente, pelo próprio Aécio, divulgou uma nota oficial. E foi também duro, ao declarar que o PT pôs em risco os princípios democráticos na noite de quarta-feira. "O país assistiu à mais agressiva utilização do poder público em favor de uma candidatura e de um partido político: o caráter político-partidário do pronunciamento oficial da presidente pode ser constatado inclusive pela substituição do brasão da República pela marca publicitária do atual governo na vinheta de abertura da "peça publicitária" veiculada em cadeia nacional", acusa a nota oficial do PSDB.

De acordo com Guerra, ao longo dos oito minutos de pronunciamento, a presidente "faltou com a verdade, fez ataques aos adversários, criticou a imprensa e desqualificou os brasileiros que ousam discordar de seu governo". Retomou o embate ideológico adotado nas últimas campanhas, nas quais os tucanos afirmavam que o ex-presidente Lula dividia o país em dois grupos. "A chefe da Nação, que deveria ser a primeira a se reconhecer como presidente de todos os brasileiros, agora os divide em dois grupos: o "nós" e o "eles". O dos vencedores e o dos derrotados. Os do contra e os a favor. É como se estivesse fazendo um discurso numa reunião interna do PT, em meio ao agitar das bandeiras e ao som da charanga do partido", prosseguiu.

Liturgia esquecida

A nota oficial do DEM também é crítica, mas um pouco mais amena. O presidente nacional do Democratas, José Agripino Maia (RN), lembra que não adianta o governo anunciar uma ação se não tiver a certeza de que a manterá com o passar do tempo. "A medida (a redução da tarifa de energia elétrica) tem por base o esforço de muitos brasileiros que terão de subsidiar o governo, e de investidores que podem cortar parte dos recursos para a proteção do sistema", alertou Agripino.

Por isso, na visão do senador potiguar, o governo deveria ser mais cauteloso para não ter que se arrepender depois. O líder do partido na Câmara, Ronaldo Caiado (GO), afirmou que o governo e a presidente Dilma abandonaram toda a liturgia que o cargo exige para, em cadeia de rádio e televisão, antecipar a campanha pela reeleição em 2014. "E ainda quer jogar nas costas das oposição as responsabilidades pela própria incompetência", afirmou Caiado, em uma referência aos recentes apagões registrados no país.

Caiado lembrou vários problemas e "jeitinhos" adotados pelo governo Dilma nos últimos meses para mostrar que existe, sim, um problema gerencial na máquina pública federal. "A inflação está voltando, a saúde vive uma situação de caos, eles foram obrigados a "maquiar" os dados para conseguir fechar a meta de superavit primário." E também considerou absurda a retomada do debate em torno do racionamento de energia. "Estamos na oposição há exatos 10 anos. É estranho eles falarem em herança maldita até hoje", completou.

Para o presidente estadual do PSDB mineiro, Marcus Pestana, ao mesmo tempo em que anuncia a redução na conta de luz, o governo federal terá que reajustar o preço da gasolina. "Dá com uma mão: a energia vai baixar. Tira com outra: gasolina vai aumentar", comparou. Em debate pelo Twitter com o petista Ricardo Berzoini (SP), Pestana lançou o desafio. "Nos deem uma cadeia nacional a cada uma da presidente. Aí sim, será verdadeira discussão. O resto é monólogo".

Petistas rebatem

O PT demostrou que não está disposto ao monólogo e respondeu aos ataques feitos por DEM e PSDB. Em nota oficial divulgada no início da noite de ontem, o líder do PT na Câmara, José Guimarães (CE), lembrou que a "conquista histórica (redução da conta de luz) foi aprovada no fim do ano passado pelo Congresso, a despeito da oposição do PSDB/DEM". E reforçou que os estados de São Paulo, de Minas Gerais e do Paraná — todos administrados pelo PSDB — rejeitaram as condições do acordo proposto pelo governo federal para a redução das tarifas de energia.

A nota do PT deixa claro que o embate eleitoral começou. "Antidemocrático é censurar a palavra da presidente sobre as conquistas de seu governo e querer estabelecer inclusive o cenário e quando ela deve falar à Nação. A nota do PSDB mostra claramente que faltam à oposição propostas para o país e sobra a surrada opção de distorcer e manipular os fatos", completou Guimarães.

Para o petista, o PSDB "nos oito anos em que esteve à frente do governo federal deixou como legado a façanha de quebrar o país três vezes e provocar um apagão de mais de um ano, levando o Brasil de volta à era das lamparinas", acrescentou.

Fonte: Correio Braziliense

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