sábado, 26 de janeiro de 2013

Juros caem, mas o calote só aumenta

Na contramão da previsão do governo de que o calote cairia com os juros em queda e o aumento do emprego, a inadimplência do brasileiro terminou em alta no ano passado. O nível de atrasos nas contas das pessoas físicas subiu de 7,8% em novembro para 7,9% em dezembro. Segundo o BC, no início do governo Dilma, em 2011, a taxa era de 5,7%. Já o juro caiu 9,2 pontos no ano e fechou no piso histórico de 34,6%. Apesar de diminuir 34% em relação ao ano anterior, o país criou 1,3 milhão de vagas formais em 2012

Juro cai, mas calote sobe

Inadimplência acima de 90 dias aumenta para 7,9% em dezembro. Crédito pessoal puxa a alta

Gabriela Valente

BRASÍLIA - A inadimplência das famílias brasileiras resiste. Encerrou 2012 em alta, na contramão das previsões do governo de que cederia por causa dos juros em queda e do aumento da renda e do emprego. O nível de atrasos acima de 90 dias nas contas das pessoas físicas subiu de 7,8% em novembro para 7,9% em dezembro, patamar em que permaneceu praticamente todo o segundo semestre. De acordo com o Banco Central (BC), no início do governo Dilma Rousseff, em 2011, essa taxa era de 5,7%. Já os juros cobrados das famílias seguiram o plano traçado pelo Palácio do Planalto, que usou os bancos públicos para forçar a concorrência. A taxa média cobrada das pessoas físicas pelos bancos caiu 9,2 pontos percentuais no ano e fechou 2012 no piso histórico de 34,6% ao ano.

Em dezembro, o nível de calote aumentou, principalmente, por causa do crédito pessoal. Nessa modalidade, a inadimplência subiu de 6,3% para 6,4%. No início de 2012, os atrasos acima de 90 dias representavam 5,7%. Dentro desse tipo de financiamento, está o CDC, o crédito direto ao consumidor. O BC não explicou por que, com o dinheiro do 13º salário no bolso, o brasileiro não pôs as contas em dia. A autarquia apenas apontou a resistência do calote nos financiamentos de veículos como causa para a alta da inadimplência no mês passado.

O calote no crédito para a compra de automóveis, que esteve no foco das autoridades nos últimos dois anos, no entanto, terminou o ano no mesmo patamar em que começou: 5,3%. Mas chegou ao ápice de 6% em meados de 2012. Para o BC, a tendência é que esse percentual caia porque, à medida em que o tempo passa, diminui a quantidade de contratos fechados em 2010 - quando havia regras frouxas e possibilidade de empréstimos acima de cinco anos - e isso promoverá uma "limpa" nas carteiras.

- A gente disse durante o ano que a inadimplência ia recuar por causa da continuidade do aumento da renda - disse o chefe do Departamento Econômico do BC, Túlio Maciel. - Isso nos dá base para apontar o recuo no futuro. O momento mais crítico foi superado.

Dívida seis vezes maior que a renda

Com um salário de R$ 800, a vendedora Ane Caroline Quintão tem dívidas que correspondem a mais de seis vezes seu rendimento. A maior parte das despesas foi com roupas. Ela deve mais de R$ 2 mil no cheque especial e de R$ 3 mil em cartões de crédito. Neste caso, a dívida inicial era de cerca de R$ 2,3 mil, mas o valor cresceu com os juros de um parcelamento em dez vezes e já está 30% maior.

- Vou parar de gastar. Este ano, ainda não comprei nada - afirmou a vendedora, que não tem um plano para lidar com a dívida do cheque especial.

O Banco Central mantém o discurso de que a inadimplência deve cair daqui para frente pelas mesmas razões do ano passado - queda recorde dos juros e alta real de 6% na renda do brasileiro. Carlos Thadeu de Freitas, ex-diretor do BC e economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio, concorda. Ele diz que o Brasil passa por uma ressaca de inadimplência causada por uma safra dos contratos ruins de financiamento de veículos. Ele calcula que a aceleração do crescimento esperada para este ano pode ajudar a reverter esse quadro e projeta que a inadimplência caia para 7,2% no ano que vem.

- Os juros não vão cair mais como antes, mas a inadimplência está chegando no seu máximo e vai cair ao longo do ano - previu.

Para o economista-chefe da Votorantim Corretora, Roberto Padovani, há uma ansiedade entre os economistas para saber quando a inadimplência cairá, por ser um indicador importante do crescimento, já que mostra a possibilidade futura de consumo. Ele também prevê uma queda porque, com juros mais baixos, as famílias acertarão suas contas. Mas lentamente.

- Essa queda será lenta e virá de um jeito muito suave - disse.

38% a mais para a casa própria

Com o repique da inadimplência em dezembro, o spread bancário - a diferença entre o custo de captação dos bancos e o custo para o tomador final - teve uma alta de 0,1 ponto percentual. No ano, por causa da pressão dos bancos públicos, o spread cobrado desses clientes caiu de 34,9 pontos percentuais em janeiro para 27,4 pontos em dezembro.

As empresas também se beneficiaram, não apenas da movimentação na concorrência bancária, mas também com os cortes da taxa básica de juros (Selic). Os juros cobrados pelos bancos caíram de uma média de 28,7% ao ano, em janeiro do ano passado, para 20,6% ao ano, em dezembro. Já a inadimplência de pessoas jurídicas, que começou o ano em 4%, encerrou 2012 no mesmo patamar.

Em 2011, o crédito desacelerou: cresceu 16,2%. Em 2011, a expansão fora de 19%. Segundo o BC, é um ritmo mais adequado ao crescimento do Brasil. Entre as modalidades de empréstimos a que mais aumentou foi o financiamento da casa própria - 38%, com R$ 277 bilhões em contratos ativos. Mas ainda está atrás do crédito pessoal, com saldo de R$ 314,6 bilhões e alta de 16% no último ano. O crédito imobiliário, porém, representa apenas 6% do Produto Interno Bruto (PIB), segundo o BC. Nos EUA, o empréstimo para compra de imóveis equivale a cerca de 70% do PIB.

Fonte: O Globo

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