terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Entrevista -Roberto Freire: 'Não somos anti-PT "

Em seu sétimo mandato na Câmara, o deputado elogia ainda o desfecho do julgamento do mensalão no Supremo Tribunal Federal (STF), que mudou a cultura política brasileira ao mostrar que "poderosos" não estão acima da lei

Vera Ferraço,

Com o PPS ocupando prefeituras importantes no Espírito Santo, Vitória e Cariacica, o presidente nacional do partido, deputado federal Roberto Freire, diz que o Estado pode virar vitrine da legenda. Crítico ferrenho do governo federal, Freire afirma que o PPS não é contra o PT: "Não somos anti-PT. O PPS é contra o governo incompetente e corrupto de Lula e Dilma". Em seu sétimo mandato na Câmara, o deputado elogia ainda o desfecho do julgamento do mensalão no Supremo Tribunal Federal (STF), que mudou a cultura política brasileira ao mostrar que "poderosos" não estão acima da lei.

Qual a importância para o PPS de ter os prefeitos de Vitória e de Cariacica?

Significou de forma muito concreta mudarmos a avaliação das nossas participações nas eleições de razoável para boa. O Espírito Santo hoje é onde você tem um PPS com maior presença e peso político porque insere um protagonismo concreto na política estadual. Será maior esse protagonismo se as administrações mostrarem a decência e a competência que os dois prefeitos têm como característica pessoal. Se as administrações forem isso, evidentemente será uma grande vitrine.

A vitória da mudança é um desafio para Luciano Rezende?

Diria que desafio serão todas as administrações municipais no Brasil, porque nós estamos começando a enfrentar muito seriamente uma crise econômica e que, por incompetência do governo federal na gestão da economia brasileira, os reflexos nos municípios serão ainda piores. Um exemplo muito concreto é que o governo adotou políticas de incentivos que vão prejudicar diretamente os municípios e não ajudaram em nada para que tivéssemos um melhor desempenho econômico. Basta ver o pífio PIB do governo Dilma, menos de 1%. As transferências constitucionais para as prefeituras vão ter uma diminuição grave e isso vai exigir dos prefeitos muita competência para enfrentar as dificuldades.

Em Cariacica, Juninho não tem experiência. Isso pode ser um complicador para a gestão dele?

Ao contrário. Durante a campanha, Juninho demonstrou um bom conhecimento da realidade de Cariacica, das suas dificuldades. Inclusive, seus discursos após eleito foram de quem está tendo uma boa compreensão dos desafios e de como enfrentá-los.

Qual conselho daria a Luciano e Juninho?

(Risos) Não precisa muito dar conselho. Eles demonstraram que estão preparados. O que posso dizer é que estou à disposição, como acredito que todo o partido, para o que eles precisarem.

O PPS é o partido mais crítico ao PT no cenário nacional. Mas, em Vitória, o prefeito Luciano assumiu trocando elogios a João Coser (PT). Não é contraditório?

Não. A crítica ao PT não é ao partido como instituição, é ao PT como governo. E o governo federal do PT evidentemente seria um desastre se tivesse sido do mesmo tipo em Vitória. Pelo menos é isso que Luciano atestou: que foi um governo que abriu as portas para uma boa transição. Foi esse o elogio que ele fez. Tem que ficar bem claro que não somos um partido anti-PT. Somos contra o governo incompetente e corrupto de Lula e Dilma. Em relação a Coser não temos o mesmo conceito. Foi isso que Luciano demonstrou, que ele teve transparência na transição. O PPS é contra o governo incompetente, corrupto, Lula-Dilma.

Como o PPS fica em 2014, já que o partido tem sido um aliado do PSDB, mas o PSB pode entrar no páreo da disputa presidencial com Eduardo Campos?

O PPS trabalha com vários outros cenários além desses dois. E o partido não vai decidir isso agora. É precipitação imaginar que as coisas serão decididas agora. A situação de Eduardo Campos, por exemplo, ainda não está definida se ele será candidato. É vidente que o PPS só passa a admitir e analisá-lo como candidato se ele efetivamente se apresentar como alternativa ao governo federal que aí está. Um outro cenário é o da candidatura própria do PPS, alguns falam no meu nome. Mas é evidente que estamos no início da discussão. Esse é um dos cenários.

O senhor poderia entrar na disputa?

Sim. Mas como disse, ainda é muito cedo.

O senhor avalia que o senador Aécio Neves precisa assumir uma postura mais crítica ao governo federal e participar mais do debate nacional para entrar na disputa presidencial?

O Aécio foi muito bom governador de Minas Gerais. É um democrata. Tem competência para ser presidente da República. Quanto à atuação neste momento, em geral, o PSDB poderia ser uma oposição mais contundente, até porque a incompetência do governo e os níveis de corrupção são grandes demais para que se faça uma oposição um tanto quanto não aguerrida.

Alguns integrantes do PPS avaliam que o PSDB não faz uma oposição consistente e não tem um projeto alternativo para o país. Qual sua opinião sobre o desempenho dos tucanos?

Há um certo sentimento de indignação muito forte em relação particularmente à corrupção no governo Lula e Dilma que grande parte da opinião pública reclama muito da oposição. É um certo voluntarismo imaginar que a oposição pode fazer muito mais do que está fazendo. Então, há esse sentimento. Mas não é bem verdadeiro. Diria, por exemplo, que o PSDB faz uma boa oposição, mas poderia ser melhor. Poderia ser muito mais contundente, por exemplo, na denúncia da incompetência total do governo na gestão econômica. Isso já vem desde Lula. Piorou agora com Dilma.

Qual é a sua avaliação sobre a postura da oposição nacional hoje, incluindo aí o PPS, ao governo Dilma? Está faltando mais firmeza?

Em alguns aspectos na crítica econômica, o PSDB é um pouco mais crítico. Precisaríamos disso. Do ponto de vista geral, não. Lula, por exemplo, é hoje um cidadão acuado, com medo da imprensa. Tem haver com a atitude também da oposição, que cobra que ele esclareça todas as denúncias em relação a sua participação no mensalão, no Rosegate. A oposição tem cumprido aí o seu papel. Poderia ser melhor, há algumas falhas nessa questão da crítica econômica, mas de maneira geral tem cumprido. Tanto é verdade que o governo e Lula estão sentindo. E repito: Lula tem fugido da imprensa. Por quê? É só por conta do medo da imprensa ou pela atuação da oposição de cobrar. Estamos hoje (quarta-feira), inclusive, cobrando do Ministério Público que a Rosemary (Noronha) seja efetivamente investigada.

Como viu o resultado do julgamento do mensalão e as penas aplicadas a petistas?

O julgamento do Supremo Tribunal Federal já mudou efetivamente a cultura política brasileira, pelo menos no tocante de que poderosos estão acima da lei. Demonstrou que o Brasil avança no processo democrático, apesar de também termos visto, por outro lado, uma reação do PT até um tanto quanto sediciosa de tentativa de desmoralizar as instituições e os poderes da República. Mas houve um avanço. No geral estamos tendo um saldo positivo dessa atitude do Supremo no julgamento do mensalão de Lula, que teve esse aspecto punitivo. Quanto à questão das penas, aí a discussão é infindável, se foi insuficiente se não foi. Mas o importante é que houve a pena e que ela seja cumprida.

Lula deve ser investigado pelas novas denúncias feitas por Marcos Valério, que o acusou de saber do mensalão e ser o chefe do esquema?

Claro. É preciso entender que a denúncia não é a comprovação da culpa ou do dolo. A denúncia é a notícia de que houve um crime e precisa-se investigar para saber quem é o responsável. Quem deveria, inclusive, pedir a investigação é o próprio Lula e não nós da oposição. Aí dizem que ele (Valério) é um desqualificado. Até há bem pouco tempo ele era um homem de confiança e operacional, inclusive, daqueles interesses que o mensalão envolvia e dos interesses do próprio Lula, e ele está denunciando. Não é aceitar a denúncia tal como foi feita e responsabilizar Lula. Mas é investigar para até não responsabilizá-lo. E não é só a denúncia de Valério. Agora há a questão muito grave de Rosemary Noronha. A moça que trabalhou como secretária e que é amiga dele. Há um envolvimento claro, denunciado inclusive por um ex-vice-presidente do Banco do Brasil, de que ela era um pião importante junto à Presidência da República de interesses escusos e ilícitos praticados nesses bancos e em outras instituições e departamentos do governo. Essa moça vivia viajando com ele (Lula), inclusive clandestina. Isso só já basta para mostrar que algo de incorreto existia nessa relação.

Fonte: A Gazeta de Vitória (ES)

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