quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Aécio defende voto tucano contra Renan

Raquel Ulhôa

BRASÍLIA - Após sinalizar publicamente o desconforto do PSDB com a indicação do líder do PMDB, Renan Calheiros (AL), à presidência do Senado, o tucano Aécio Neves (MG) vai defender que a bancada do seu partido aprove, em reunião marcada para amanhã, posição conjunta contra a eleição do pemedebista.

Para demarcar o campo da oposição, Aécio levará à bancada a proposta de apoio a Pedro Taques (PDT-MT), já que o PMDB mantém a decisão de indicar seu líder.

Diante da movimentação de Aécio, Renan trabalha para tentar manter pelo menos metade dos dez votos dos senadores tucanos. Aliados seus dizem que o PSDB poderá perder sua vaga na Mesa Diretora (1ª Secretaria), se não votar no candidato do PMDB, que, pela regra da proporcionalidade, tem direito à vaga.

Os tucanos, no entanto, não acreditam que Renan queira iniciar sua gestão com uma relação conflituosa com a oposição.

Nome mais cotado para disputar a Presidência da República pela oposição, o senador mineiro deu declarações na segunda-feira pedindo que o PMDB indique um nome que "agregue todas as forças políticas do Congresso" e seja aceito por toda a Casa, e não apenas por sua bancada, para que o Senado "inicie uma nova fase".

A intenção foi mandar recado internamente (para a bancada tucana) e para o PMDB de que o PSDB respeita o direito do maior partido à indicação, pela regra da proporcionalidade. Mas não está confortável para votar em Renan. Seria uma oportunidade para o PMDB rever a escolha. Caso contrário, os tucanos estariam livres para tomar outro caminho.

Como não houve qualquer sinalização do PMDB nesse sentido, Aécio deu o passo seguinte. Está conversando com os colegas sobre a necessidade de a oposição "demarcar campo" e fechar uma posição contra a escolha de um senador cercado de polêmica, cujas atitudes recentes demonstrariam, na opinião dos tucanos, disposição de conduzir o Senado fazendo o jogo do governo.

Taques é um dos candidatos independentes que Renan enfrentará no plenário. O outro é Randolfe Rodrigues (PSOL-AP). Eles decidiram manter as duas candidaturas, para agregar mais votos. Há resistência do PSDB a Randolfe e do PSB a Taques. A ideia é que, mesmo insuficiente para derrotar Renan, a votação recebida por eles mostre a insatisfação da Casa.
O pemedebista reafirmou ontem sua candidatura a vários colegas de partido, pessoalmente ou por telefone, para afastar os rumores de que seu grupo já cogitaria lançar outro nome.

Sem conseguir entendimento entre os aliados Eunício Oliveira (CE) e Romero Jucá (RR), que disputam a vaga de líder, Renan marcou para amanhã, às 17h, a reunião da bancada para oficializar sua indicação. A proposta de dar a Jucá a liderança do Bloco da Maioria (PMDB, PP e PV) e a do PMDB a Eunício fracassou por questões regimentais. As conversas continuam hoje.

Segundo avaliação do seu grupo, apesar da denúncia apresentada pelo procurador-geral da República, Roberto Gurgel, ao Supremo Tribunal Federal (STF) contra ele e do incômodo crescente demonstrado por senadores de outros partidos com sua indicação, o líder ainda tem votos suficientes para ganhar no plenário.
Uma decisão da bancada tucana contra Renan não ameaçaria a vitória, de acordo com os cálculos do grupo, mas reduziria a "margem folgada" de diferença que era prevista. Além disso, seria uma ação política concreta contra ele.

Por enquanto, a bancada do PSDB está dividida. O líder, Álvaro Dias (PR), tem a mesma opinião de Aécio. Aloysio Nunes Ferreira (SP) ainda discutirá o assunto com os colegas, mas sua primeira opinião é que o partido deveria se abster na votação. Seria uma forma de manifestar a "inconformidade" com o processo de escolha do futuro presidente pelo PMDB, sem desrespeitar a proporcionalidade.

A partir de hoje, quando as bancadas partidárias começam a se reunir para tomar posição sobre a eleição da Mesa, será possível aferir melhor o impacto da denúncia de Gurgel e outras notícias negativas envolvendo Renan.

Na prática, a indicação do líder do PMDB divide quase todos os partidos da base, como PSB, PDT e PP - além do próprio PMDB, onde há dissidentes. Apesar do incômodo de petistas, o PT mantém seu apoio ao principal parceiro no governo.

Fonte: Valor Econômico

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