segunda-feira, 16 de julho de 2012

OPINIÃO DO DIA – Karl Marx: o concreto e o pensamento

O concreto é concreto porque é a síntese de múltiplas determinações, portanto, unidade da diversidade. Por essa razão, o concreto aparece no pensamento como processo da síntese, como resultado, não como ponto de partida, não obstante seja o ponto de partida efetivo e, em conseqüência também o ponto de partida da intuição e da representação. Na primeira via, a representação plena foi volatilizada em uma determinação abstrata; na segunda, as determinações abstratas levam à reprodução do concreto por meio do pensamento. Por isso, Hegel caiu na ilusão de conceber o real como resultado do pensamento que se sintetiza em si, aprofunda-se em si e movimenta-se a partir de si mesmo, enquanto o método de ascender do abstrato ao concreto é somente o modo do pensamento de apropriar-se do concreto, de reproduzi-lo como um concreto mental. Mas de forma alguma é o processo de gênese do próprio concreto.

Karl Marx (5/5/1918-14/3/1883). Grundrisse(1857-1858), pág.54. Boitempo Editorial, São Paulo, 2011.

Manchetes de alguns dos principais jornais do Brasil

O GLOBO
Eleições 2012 - Milícias ainda controlam redutos eleitorais no Rio
UE caçará sonegadores, que devem € 2 trilhões

FOLHA DE S. PAULO
Pedágio será cobrado em qualquer distância em SP
CPI vai indiciar governador de Goiás, diz relator
Senadora ameaça deixar o PSD e já elogia Dilma

O ESTADO DE S. PAULO
Governo quer reduzir área de floresta conservada
Cartão de crédito lidera calote dos brasileiros
PSB é o partido que mais cresce em número de candidaturas

VALOR ECONÔMICO


BRASIL ECONÔMICO
Governo abrirá novas concessões e lançará 'agenda de crescimento'
"O endividamento dos brasileiros não é ruim"
BB colhe os frutos da redução de juro

CORREIO BRAZILIENSE
R$ 1 trilhão só para pagar aposentados
Servidores começam a acampar na Esplanada

ESTADO DE MINAS
Advogados fora da lei
Copa de 2014 - Empresários temem faltar mão de obra

ZERO HORA (RS)
Reeleição é desafio de pelo menos 232 prefeitos gaúchos
Governo aposta em antiviral para evitar o agravamento dos casos.

JORNAL DO COMMERCIO (PE)
Ex-mulher diz que Collor usou magia negra

O que pensa a mídia - editoriais dos principais jornais do Brasil

http://www2.pps.org.br/2005/index.asp?opcao=editoriais

Entrevista - Fernando Henrique Cardoso : Mas onde foi parar o debate?

André Petry

WASHINGTON - Honrado com um prêmio equivalente a um Nobel, o ex-presidente diz que o Brasil continua no rumo mas reclama da apatia social e da falta de discussão política

Com seu proverbial bom humor, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso contou a uma plateia de 200 pessoas em Washington que só não aceitou ficar nos Estados Unidos nos anos 70, quando dava aulas no país, porque o convite não incluía uma cadeira de senador. “No Brasil, concorro e ganho”, brincou. Voltou e ganhou a cadeira. Aos 81 anos, FHC cumpriu uma carreira brilhante, que lhe rendeu, na semana passada, o prêmio Kluge, concedido pela Biblioteca do Congresso americano. Equivalente a um Nobel na área de humanas, o prêmio vem com um cheque de 1 milhão de dólares, que ele pretende partilhar com os netos para ensinar-lhes a fazer ação social. Depois da premiação, em seu hotel na capital americana, ele falou do mundo e do Brasil na entrevista a seguir.

No exterior, até o ano passado o Brasil era uma estrela mundial, o país do futuro ao qual o futuro finalmente chegou. Agora, deu uma virada. Houve exagero antes ou agora?

Houve exagero tanto antes quanto agora. O Brasil melhorou muito, mas não foi tanto assim. Faltou a percepção de que o PIB cresceu mas a sociedade continua com problemas. Não somos uma sociedade organizada, com democracia enraizada, acesso à educação e à saúde de boa qualidade. O mundo começou a olhar para o Brasil como se tudo estivesse resolvido. O exagero não se deu apenas em relação ao Brasil. Fiz uma visita recente à China, e lá eles fazem questão de insistir que são um país em desenvolvimento. Olhe que a China é o segundo PIB do mundo. Mas, efetivamente, é um país em desenvolvimento. Como o Brasil.

A mudança da percepção externa sobre o Brasil não é fruto do ativismo econômico do governo atual?

A mudança começou quando apareceram alguns sinais de que talvez o Brasil fosse se desviar do caminho anterior, com as intervenções tópicas do governo na economia. Depois, a balança comercial deixou de ser tão favorável. O sujeito que tem bilhões de dólares investidos no Brasil começa a ficar com receio. Mas a situação não é tão negativa quanto está sendo pintada. O governo tem obrigação de se ajustar à conjuntura. A economia política é política por um lado, mas não é propriamente ciência por outro. É uma navegação. Se tem uma ilha, desvia-se. Sem tem tormenta, reduz-se a velocidade. Só não pode perder o rumo. Agora, não vamos ignorar que o governo da presidente Dilma é mais voluntarioso no que diz respeito à sua relação com o mercado. É o comando do estado sobre o mercado, mas não é estatista. Tanto que acabou de fazer a concessão dos aeroportos. O que se percebe é que o DNA do governo atual é outro. O presidente Lula procurava disfarçar o seu DNA, se é que o tinha. A presidente Dilma é mais consequente com aquilo em que ela acredita. E ela acredita mais na regulação.

Há risco de o Brasil perder o rumo?

Não acredito. Falaram muito por causa da mudança cambial, mas é bobagem. Eu mesmo mexi no câmbio várias vezes. Já demiti presidente do Banco Central. O perigo está na tendência ao protecionismo. A Argentina tem tendência protecionista abertamente. O Brasil também, mas é topicamente. O protecionismo seria ruim para nós. Temos de aumentar a produtividade para poder baixar os preços e assim beneficiar a todos. Mas, quando se fecha o mercado, reduz-se a competição e, ao fazê-lo, reduz-se também o incentivo para as pessoas aumentarem a produtividade. Com o tempo, fica-se defasado. Nada disso é do interesse do Brasil.

Para manter o rumo, qual deve ser a prioridade do Brasil nos próximos anos?

O vento no mundo não sopra mais a nosso favor. Então, o desafio do governo da presidente Dilma é retomar algumas reformas e fazer o que o governo do presidente Lula não fez durante o bom momento do crescimento econômico, que é cuidar do investimento e da poupança. No vento a favor, Lula cuidou do consumo, não da produção, do investimento. A produtividade da nossa indústria perdeu em comparação com a de outros países. Mas não é a produtividade de dentro da fábrica. É de fora. São as estradas, o custo da energia, os aeroportos, o sistema tributário, a educação. Mais do que a possibilidade, a presidente Dilma tem a necessidade de olhar para a poupança e o investimento. Nosso futuro está aí.

A crise no capitalismo ocidental está ajudando a tornar o capitalismo de estado da China mais atraente?

Há muita insatisfação social nos países ocidentais e, daí, há um fascínio com o que se imagina que seja o outro lado. Mas a China tem um modelo complicado. Ali, deu-se a aliança do capitalismo de estado com as grandes corporações internacionais. O preço é menos liberdade. Não é um caminho para o Brasil. Nós somos mais ocidentalizados, estamos acostumados à liberdade. E PIB não é tudo. Nos anos 70, nosso PIB cresceu muito mas as pessoas não foram beneficiadas. Havia concentração de renda. Monopólios, públicos ou privados, concentram renda. Só ter grandes empresas concentra renda. É o perigo do Brasil de hoje.

Mas o Brasil não vive um processo de desconcentração de renda?

A transferência de renda saudável é para baixo, mas também temos a transferência para cima. O BNDES pega dinheiro do Tesouro e empresta a empresas com juros subsidiados. Quem paga o subsídio? Nós, os contribuintes. Dá cerca de 20 bilhões de dólares. A Bolsa Empresa está forte no Brasil. É provável que na década de 70, com grandes estatizações e grandes empresas, a renda tenha se concentrado. Agora, não será igual porque temos os dois movimentos: concentração para cima e desconcentração para baixo. O Brasil hoje é o país da Bolsa Família e da Bolsa Empresa, o que resultou na felicidade geral. Daí o apoio ao governo.

Isso é ruim?

Primeiro, a felicidade é quase geral. A classe média ficou de fora. Mas, com a prosperidade das bolsas, as pessoas perderam a motivação para debater. Não há mais debate. O debate político-partidário perdeu sua centralidade. Não é um fenômeno só brasileiro. A Europa vive isso, os EUA também, mas com menor intensidade. No nosso caso, isso decorre da desconexão entre o mundo institucional da política e a sociedade. Passou a haver uma relação direta do Executivo com o povo, pulando o Congresso. É uma tendência brasileira antiga, mas se acentuou. Toda hora dizem que não temos oposição no Brasil. Está errado. A oposição está dentro do Congresso, só que o Congresso não tem repercussão na rua. Os partidos saíram da sociedade e se aninharam no Congresso ou no governo. O partido com mais vínculo com o movimento social era o PT. Com o PT no governo, o movimento social virou cadeia de transmissão da vontade oficial. Perdeu vitalidade. O debate se deslocou para a mídia. É por isso que o governo acusa a mídia de ser oposição. Porque é a única instituição que fala e o povo ouve.

Como os partidos podem voltar a se reconectar com a sociedade?

Eles precisam tomar posição diante dos fatos correntes. Como têm medo de assumir posições, os partidos não falam nada. Legalização das drogas? Silêncio. Aborto? Silêncio. Relação do estado com a religião? Silêncio. Qual a melhor maneira de resolver a questão do transporte? Silêncio. São questões do cotidiano. Questões que levariam a população a se identificar com os partidos. A própria sociedade civil, antes vibrante e ativa, se encolheu. Sempre digo: se você não politiza, não acontece nada. Veja o mensalão. Se Roberto Jefferson não tivesse dramatizado e politizado, talvez o caso não tivesse a consequência que teve. Política requer que se tome partido, que se tome posição. Tem de dizer se está certo ou se está errado. A política é valorativa.

Se o debate político perdeu vigor no Brasil, mas também na Europa e nos EUA, pode-se falar em crise da democracia?

Fala-se nisso, mas não concordo. Ninguém quer não democracia. Mas é preciso ter um mecanismo pelo qual a população possa participar do processo decisório. Do debate, do antes. Só consegui fazer reformas porque houve muito debate e discussão. Agora, não. Quem debateu as quatro usinas da Petrobras? Quem debateu o trem-bala?

Se os réus do mensalão forem absolvidos pelo Supremo Tribunal, qual será o tamanho do desastre?

Não sou juiz e não sei qual deve ser a sentença. O que sei é que, se houver algo a ser corrigido, e for, será um marco histórico. Até hoje, o povo sente que gente importante pode fazer o que quiser e não paga o preço. Uma absolvição, se for percebida como algo por baixo do pano, vai referendar isso. É um julgamento histórico porque uma sociedade se forma de símbolos. Quando Lula foi eleito, preparei a transição mais civilizada possível. Entre outras razões, porque Lula era o primeiro líder popular sindical eleito presidente. Simbolicamente, é importante.

Faltou diplomacia brasileira na crise que resultou no afastamento do presidente do Paraguai?

Faltou diplomacia, mas não só brasileira. De todo mundo. Se eu pudesse ter interferido, aconselharia evitar o afastamento faltando dez meses para o fim do governo. A ação do Paraguai foi muito rápida, o que é politicamente inconveniente, mas não foi ilegal. Agora, grave também foi a entrada da Venezuela no Mercosul na ausência do Paraguai. Sou a favor da Venezuela no Mercosul. Mas ela tinha de ter cumprido o requisito básico de adotar a tarifa externa comum.

O Brasil está perdendo o foco na América do Sul ou perdendo influência?

Está perdendo influência. Antes, tínhamos uma influência não discutida, automática e não anunciada. No meu governo, houve várias crises no Paraguai. Lidamos com elas de maneira efetiva e discreta. O Peru e o Equador estavam em guerra. Ajudei muito na paz entre esses países, mas nunca anunciei isso. Agora, com Hugo Chávez na Venezuela, criou-se outro polo de influência. Tenho a impressão de que o Brasil prefere não se contrapor. É como se fôssemos da mesma família. Sei que ele é meu primo, meu primo é meio canhoto, eu preferia que ele não fosse, mas é meu primo. O Brasil fica um pouco tolhido de tomar posições para não ser percebido como alguém que saiu da família.

Há analistas dizendo que a relação entre estado e mercado será definida pelo que os Brics fizerem. O senhor concorda?

Ninguém vai transformar a Europa numa China, ou vice-versa. É preciso entender que há diversidade na cultura, na forma de organização política. A Rússia é uma plutocracia autocrática. Isso não se aplica ao Brasil, à Índia nem à China. A China é um mandarinato ilustrado com responsabilidade popular. Na minha visita ao país, fiquei bem impressionado com o debate na universidade. Eles estão voltando a falar em termos confucianos da virtude. O funcionário público, o mandarim, deve ser competente, fazer concurso e ter a virtude de servir o público. Na Rússia, não tem isso. No Brasil, o estado sempre foi muito importante, continua sendo e sempre será. Há diferenças. Nos EUA, fala-se em universalizar a saúde e eles entram em pânico. No Brasil, quem vai dizer que saúde gratuita é medida socialista? Não teremos um modelo só no mundo. Haverá vários. Os países árabes, islâmicos, não vão adotar comportamentos idênticos aos do Ocidente. Isso é ilusão do ocidentalismo e seu poder militar, que vinha para impor a cultura. Isso não dá mais. O desafio é como conviver com as diferenças.

O que seguirá unindo o mundo?

A noção de direitos humanos está voltando a ter peso. Sem perceber, estamos recriando a ideia de humanidade. Quando Hegel falava de humanidade. Marx dizia que, enquanto houvesse classe social, seria a classe. Só quando todos fossem iguais, poderíamos falar em humanidade. Agora, por causa da bomba atômica, do meio ambiente, é preciso pensar em humanidade. Gorbachev diz isso. Temos de pensar no conjunto, no que é universal e afeta a todos. Voltamos a ter de nos preocupar com os direitos que pertencem à humanidade. Temas como igualdade de homem e mulher, como tortura. O mundo terá de se organizar a partir de um núcleo de valores que afetem a humanidade, mas há que ter limite. Não podemos usar isso para impedir manifestações de diversidades culturais que são normais. Inclusive na política. O próprio mercado, hoje praticamente universal, sofre restrições diferentes aqui e ali. Vai continuar sofrendo. Esse é o desafio para o século XXI.

FONTE: REVISTA VEJA

Razão e ressentimento:: Wilson Figueiredo

No último Congresso da Central Única dos Trabalhadores, cujas cinzas ainda estão quentes da retórica do presidente de saída, o centro de gravidade política se deslocou da razão para o ressentimento. E, como não podia deixar de acontecer, a quem ouve bem do ouvido esquerdo não escaparia a oportunidade de fazer a citação de Karl Marx mais repetida: a História não gosta de vestir um episódio com os sinais exteriores de outro já passado. Errar ou acertar, uma vez é suficiente.

Ao abrir o Congresso da CUT, o presidente Artur Henrique começou pelo irrealismo de falar como se a entidade sindical fosse realmente a única central sindical brasileira. Há um punhado de centrais sindicais suficientes para dar musculatura política e distanciar dos interesses de classe dos operários o vício conhecido por peleguismo histórico, mal de nascença desde o Estado Novo, que deu o que tinha a oferecer com a intenção de controlar a energia de nova classe, assim que o Brasil começou a se industrializar.

Sem a ressalva de que central única quem tem é a vovozinha, o presidente Artur Henrique, já de saída poucos dias depois, aproveitou para limpas as gavetas da alma e despejou o mantra cuja autoria não é dele, mas é como se fosse, com a bravata de que “não vamos permitir o retrocesso, a volta dos tucanos, do PSDB, ao governo e aos governos (estaduais, claro)”. A proposta é politicamente indecorosa e, na visão do sindicalismo com responsabilidade democrática, seja de idéias quanto de ações, não pode ficar sem reparo para não trazer de volta a velha, mas lépida frase de Marx, segundo a qual a História também não gosta de errar duas vezes. A segunda é sempre acachapante, e de custo político mais elevado. Uma farsa.

O que se viu, antes de 1964, como contribuição involuntária, mas principalmente depois de 1988, não é para ser esquecido nem vingado, mas suficiente para evitar coincidências de palavras de ordem que se confundem com desordem. E servem de pretexto para reações iguais ou maiores e contrárias. A exibição de musculatura sindical fora do seu raio de ação suscita iguais e contrárias demonstrações de força política que se resolvem de forma mais adequada com saldo de votos. E não deixam de ser a munição apropriada à legítima defesa.

O que se destaca ao observador atento é menos o conteúdo restrito ao sindicalismo petista e mais a desatenção para com ouvidos capazes de ouvir e entender mais do que vem sendo dito. É aí que está a questão, e não o receio de que o sindicalismo de falta de resultados esteja apenas faltando com a verdade, mas a corrosiva suspeita de que possa estar mais interessado em confrontos de forças, e não apenas de votos. A idéia de barrar um partido que exerceu e exerce o poder (ao qual tem chegado pelo voto dos cidadãos), e sem dizer de que maneira, mas quando nada a despeito das liberdades democráticas, é uma janela aberta para o perigo de que muitos já parecem estar distantes.

A idéia da social-democracia representa espaço a ser ocupado pela classe média, porque aqueles que estão a caminho são testemunhas e, a cada dia, estão aprendendo com as liberdades num país que se dá bem com elas, mas ainda sujeito a raios e trovões. É também a primeira vez que um partido político (o PSDB) se propôs a ocupar o espaço entre a tradição liberal socialmente inflexível e a esquerda descabelada, que não convence como socialismo e muito menos democrático, para atender à demanda política da classe média, cada vez mais próxima de representar a maior fatia da opinião pública. É a mais sensível à indignação com as formas de corrupção praticadas como se o enriquecimento pessoal com dinheiro público fosse legítimo.

O novo presidente da CUT mostrou as cartas: perfilha as idéias e posições políticas de que Artur Henrique foi portador e porta-voz. E reforçou a linha peleguista com a promessa de que a CUT vai tomar, publicamente, posição política na eleição municipal e agir, à margem da lei, como partido político em tempo de eleição. Quem não aprende com a História está realmente condenado a repeti-la.

Wilson Figueiredo é jornalista

FONTE: JORNAL DO BRASIL

O imbróglio paraguaio:: Marco Antônio Tavares Coelho

O “affaire” Paraguai nasceu e vicejou no país mais atrasado da América do Sul, num mediterrâneo como seus habitantes modestamente se apresentam. Vejamos a evolução da novela. Primeiramente, aconteceu num país manietado por uma ditadura de décadas – a de Stroessener e seu partido, o colorado. Nas relações internacionais, depois de um infausto conflito com a Bolívia, na guerra do Chaco, tornou-se fiel amigo da Argentina, devido aos migrantes portenhos que subiam o caudaloso rio. Mais recentemente, ligou-se ao Brasil, que o inundou com centenas de agricultores e um acordo em torno de Itaipu, numa binacional que nos fornece energia e proveitos para o sócio.

Com a derrota dos seguidores de Stroessener, Fernando Lugo assumiu o palácio presidencial sem aglutinar apoio político consistente. Sacudido pela controvérsia ideológica e política que balança todo o globo, o governo de Assunção resolveu enfrentar desafios internos, inclusive a estrutura fundiária com poucos proprietários dominando terras férteis no interfluxo dos formadores do Prata.

Deu cobertura à luta dos “sem terra”, seguindo o modelo do MST brasileiro. Porém, no Paraguai essa questão possui uma característica particular, porque uma boa parcela dos “latifundiários” são produtores brasileiros que conseguiram aquelas terras de forma legal ou por “grilo” (uma questão em aberto).

Com isso, quando foi desmoronando o apoio a Lugo pelas forças tradicionais paraguaias (colorados e “blancos”), sobreveio o pedido de “impeachment” do presidente. O resultado foi uma derrota acachapante de Lugo na Câmara dos Deputados e no Senado, endossada por um pronunciamento da Corte Constitucional. Assim, a deposição de Lugo não violou a legislação do Paraguai.

Como o povo paraguaio reagiu diante dessa crise? O país não foi sacudido por movimentos populares de protesto e não houve nenhuma insubordinação dos militares. A resposta de Lugo, inicialmente, foi uma aceitação tácita de sua derrocada. E dele não se ouviu denúncia veemente desse “impeachment” e nenhum chamamento à resistência de seus patrícios.

No entanto, surgiu no exterior um movimento de apoio ao ex-bispo, promovido por forças na Venezuela, na Argentina, no Brasil e outros países sul-americanos, estimulando um repúdio ao chamado “golpe de Estado”, que acarretaria uma violação do regime democrático hoje defendido por acordos assinados pelos países da América do Sul. Para tanto, apresenta-se como argumento a rapidez em que votado na Câmara dos Deputados e no Senado o pedido de “impeachment”, o que teria impossibilitado a defesa de Lugo.

A improcedência de que teria havido no Paraguai um golpe de Estado é ressaltada por um dos mais conceituados juristas da USP – o professor Celso Lafer, ex-ministro das Relações Internacionais do Brasil - ao afirmar que a medida aprovada pelo Congresso do país vizinho foi adotada seguindo os preceitos de sua Constituição.

Os que afirmam ter acontecido um golpe de Estado apresentam como justificativa a inconstitucionalidade da medida contra Lugo. Na verdade, essa análise do “afaire” procura encobrir divergências que se aguçaram nos países situados na parte meridional do Novo Mundo.

Essa pressão internacional tem raízes curiosas. Para Chávez seu apoio enfático ao ex-bispo, derivou do fato de pretender eliminar a resistência do Paraguai à participação da Venezuela no MERCOSUL. A posição da Argentina deriva de contradições internas do embate direto de sua presidente com a oposição em seu país.

No Brasil, de saída houve cautela, porém, depois, Dilma Rousseff resolveu encampar a tese de que no país vizinho aconteceu um golpe de Estado. Com isso, para ela ali teria ocorrido a violação do princípio que assegura o regime democrático nos países da América do Sul. Tudo isso porque o lulismo estimula posições internacionais, que, usando a bandeira dos interesses populares e da luta contra o imperialismo, articula a superação dos regimes democráticos, com o total desrespeito aos direitos civis e políticos, notadamente a liberdade de imprensa.

Ademais, é patente o esforço de Lula em ajudar Chávez a sair de suas dificuldades resultantes de graves erros na economia venezuelana. Não foi Lula o patrono de um acordo da Petrobrás com o governo de Caracas a fim de participar na construção de uma refinaria em Pernambuco, acordo que tem dado sérios prejuízos à estatal brasileira em razão do não cumprimento dos compromissos da Venezuela?

Para espanto geral a controvérsia com o Paraguai evoluiu consideravelmente chegando-se ao ponto de medidas serem tomadas pelas autoridades do Brasil, da Argentina e do Uruguai contra o governo paraguaio, sem ouvir suas razões, suspendendo sua participação nas reuniões e decisões do MERCOSUL. E estabelecendo que tais medidas punitivas somente serão suspensas depois das eleições presidenciais no país vizinho.

Uma das razões dessa interferência nas questões internas do Paraguai foi comprovada pelo imediato estabelecimento da participação da Venezuela no MERCOSUL, sem a concordância de um dos membros do bloco.

Até agora o saldo é lamentável para o governo de Brasília. Do ponto de vista diplomático houve uma violação de tradicionais princípios proclamados pelo Itamaraty. Com toda razão afirmou Álvaro Dias, historiador e líder do PSDB no Senado, que o governo brasileiro fez coro ao equívoco de impor sanções à nação vizinha, numa postura que “atenta contra nossa Lei Maior, que preceitua que o Brasil rege suas relações internacionais pelos princípios, entre outros, da não intervenção e da autodeterminação dos povos”. (“Folha de São Paulo”, 30/6/12)

Agora como a presidente Dilma Rousseff e o Itamaraty vão sair desse imbróglio? Quando se esforçam para o Brasil ser admitido como membro do Conselho de Segurança da ONU, perderam uma boa oportunidade para nosso país se prestigiar na política internacional, porque interferiu claramente em assuntos domésticos de outro país.

Ademais, agravou uma profunda crise no MERCOSUL pois o Paraguai dificilmente se curvará diante da intervenção de governos estrangeiros em seus problemas nacionais. E Rousseff assumiu um relacionamento difícil com o povo do Paraguai, que não esquece os sofrimentos na guerra contra a Tríplice Aliança, enfrentando o Brasil, a Argentina e o Uruguai. A maioria dos paraguaios recorda que naquele lamentável conflito houve a perda de 75% da população masculina do Paraguai e 40% de seu território.

São Paulo, julho de 2012

Marco Antônio Tavares Coelho, ex-deputado federal do antigo PCB, escreveu, entre outros livros, A herança de um sonho.

Fonte: Política democrática & Gramsci e o Brasil

Eleições 2012 - Milícias ainda controlam redutos eleitorais no Rio

TRE cria força-tarefa, com polícias e Exército, para combater quadrilhas na campanha

Investigações da Secretaria de Segurança do Rio já identificaram a atuação de milicianos para se beneficiarem dos seus domínios territoriais na recém-iniciada campanha eleitoral. As ações vão de cobrança de pedágio aos que querem fazer campanha nessas áreas à proibição do ingresso de determinados candidatos. As denúncias sobre a atuação desses grupos criminosos, principalmente na Zona Oeste e na Baixada Fluminense, já começam a chegar ao Tribunal Regional Eleitoral. Para combater a ação das milícias em currais eleitorais, o presidente do TRE-RJ, Luiz Zveiter, criou uma força-tarefa, composta por representantes da Secretaria de Segurança, da Polícia Federal, do Comando Militar do Leste e da Polícia Rodoviária Federal. A primeira reunião do grupo acontece amanhã e, em pauta, estarão as ameaças relatadas por candidatos a prefeito e a vereador.

Voto sob o domínio do medo

Força-tarefa vai combater atuação de milícias e facções criminosas durante campanha eleitoral

Sérgio Ramalho, Marcelo Piu

Uma semana depois do início do período eleitoral, milícias e facções criminosas já articulam estratégias para se beneficiarem do domínio territorial. Só os paramilitares mantêm 184 áreas no estado, segundo levantamento da Secretaria de Segurança. Em comparação com as campanhas eleitorais anteriores, os grupos passaram a ser mais discretos na disputa por votos, mas não ficaram menos violentos ao exigir o pagamento de taxas aos interessados em panfletar em seus redutos. Prova disso é o cartaz rasgado no Conjunto Habitacional Dom Pedro I, em Realengo, na Zona Oeste, do qual restou apenas a moldura de madeira e parte do que parece ser um número de candidatura. Episódios como esse, somados às denúncias que chegam ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE) alertando para a existência de currais eleitorais em várias regiões, levaram o presidente do órgão, desembargador Luiz Zveiter, a criar uma força-tarefa para combater a atuação do crime organizado.

O grupo especial conta com representantes da Secretaria de Segurança, da Polícia Federal, do Comando Militar do Leste e do Departamento de Polícia Rodoviária Federal e fará a primeira reunião amanhã. Em pauta, ameaças relatadas por candidatos, como o deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL), que disputa a prefeitura do Rio e presidiu a CPI das Milícias na Assembleia Legislativa do Rio, e a vereadora Carminha Jerominho (PTdoB), filha do miliciano Jerônimo Guimarães, o Jerominho, que tenta a reeleição, mas foi impedida de fazer campanha no antigo reduto do pai. Além de Jerominho, estão presos, no presídio federal de Catanduvas, o irmão e o tio dela, Luciano Guinâncio Guimarães e Natalino Guimarães, condenados a dez anos por formação de quadrilha. Jerominho foi vereador e Natalino teve o mandato de deputado cassado. Os principais inimigos de Carminha são ex-aliados do pai: o ex-PM Ricardo da Cruz Teixeira, o Batman, também preso; e Toni Ângelo Aguiar, que desertou da PM. O Disque-Denúncia oferece R$ 1 mil por informações que o levem à cadeia.

- Não tenho medo. Não vou ficar acuada, mesmo que tentem me fazer desistir das eleições. Sei que existem covardes capazes de fazer perversidades com as pessoas - disse ela.

Basta percorrer Campo Grande, território disputado pelos grupos de Jerominho e Toni Ângelo, cuja principal fonte de lucro é o transporte alternativo, para perceber que o clima está tenso. Na Vila Bom Jardim, em Cosmos, de onde Carminha foi expulsa em 2008, quando era candidata a vereadora, ela continua não sendo bem-vinda:

- Na última vez que ela esteve aqui, nas eleições passadas, o pessoal arrancou os cartazes e os galhardetes dela. Carminha ainda não apareceu por aqui, mas se ela vier com o seu sapatinho de seda, vai acontecer o mesmo. É ela virar as costas para tirarem tudo. Os moradores querem apoiar quem faz algo pela comunidade - disse Jorge da Silva, presidente da associação de moradores.

A fim de evitar mal-entendidos, ele acrescenta logo que ninguém é proibido de entrar na favela para fazer campanha, mas a pintura no muro de um condomínio da prefeitura na Rua das Amendoeiras, em frente à Vila Bom Jardim, denuncia quem manda por lá. No desenho, há o símbolo do super-herói Batman -usado para identificar a área da milícia integrada por Ricardo da Cruz Teixeira - e, embaixo, a palavra bem-vindo. Segundo moradores, o desenho foi feito há um ano, quando desabrigados do Morro do Bumba, em Niterói, e da Favela de Acari foram morar nos condomínios da região:

- A milícia quis mostrar quem manda aqui porque havia gente de várias facções criminosas nos condomínios - contou um morador que pediu para não ser identificado.

Outro desenho do Batman foi feito na parede de uma casa em frente à sede da Associação de Moradores da Vila São Jorge, também em Cosmos. O presidente da associação, Dilson Arena, nega a influência de milicianos e diz que pichações são "brincadeira dos meninos".

Carminha chegou a protocolar as ameaças na Câmara dos Vereadores. A Secretaria de Segurança confirmou o fato e explicou que ela "alega risco de vida em razão de sua atuação política". O mesmo ocorreu com Freixo. Segundo a secretaria, as ameaças chegaram pelo Disque-Denúncia, enfatizando que tomasse cuidado em áreas sob influência de milicianos. Na última semana, o candidato apareceu cercado por PMs em Bangu e na Rocinha, um cuidado redobrado por parte da secretaria. O deputado confirma que candidatos a vereador por seu partido também foram abordados em favelas dominadas por milícias. Ele admite não se sentir seguro ao fazer campanha nesses locais:

- Não adianta o TRE pedir a proteção do Exército apenas no dia da eleição se, durante todo o período de campanha, esses grupos criminosos fazem o que querem - disse ele.

Com 12,9 mil moradores, o Conjunto Habitacional Dom Pedro I, em Realengo, é um exemplo de curral eleitoral das milícias. Segundo moradores, os paramilitares exigem o pagamento de uma taxa para permitir que políticos façam corpo a corpo no conjunto, que já foi reduto do tráfico de drogas.

A atuação dos milicianos não se restringe à Zona Oeste. Preso em agosto de 2009, acusado de chefiar o maior grupo paramilitar em atividade na Baixada Fluminense, o sargento PM Juracy Alves Prudêncio, o Jura, lançou como candidata a vereadora em Nova Iguaçu a mulher, Jeane Silveira Prudêncio (PTN). De uma cela no Batalhão Especial Prisional, onde cumpre pena de quatro anos, ele cuidou da candidatura. Jeane adotou o apelido do marido. Na eleição de 2008, Jura foi o segundo mais votado no município, com 9.335 votos. O miliciano, contudo, ficou sem a vaga porque seu partido à época, o PRP, não alcançou o quociente eleitoral. Em seguida, ele foi condenado por falsidade eleitoral pela inclusão de dados errados na prestação de contas.

Cientista político e juiz, João Batista Damasceno presidiu a 158 Zona Eleitoral, que abrange os bairros da Posse até Austin, áreas sob domínio de milícias, e diz não ter recebido qualquer denúncia de candidatos prejudicados à época. Um episódio relatado pelo juiz, contudo, mostra a influência exercida por paramilitares na região. Damasceno lembra que, ao percorrer as seções eleitorais, acompanhado por uma promotora e dois PMs designados para a sua segurança, encontrou um veículo com propaganda de Jura em frente a um ponto de votação:

- Enquanto eu decidia a providência a ser tomada, os policiais que nos escoltavam logo saíram em defesa do candidato, dizendo que Jura era da casa, um policial.

Em municípios com problemas, o Exército

Além dos milicianos, o TRE está de olho nas disputas em municípios-problema como Magé, reduto da família Cozzolino, que domina a região há mais de 30 anos. Uma dinastia política levada a ferro e fogo, com ações clientelistas e cenas dignas de filmes de gângsteres. Veio de lá a denúncia de que haveria um atentado à bomba em uma zona eleitoral no mês passado, o que motivou o presidente do TRE, Luiz Zveiter, a pedir ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), no último dia 2, a ajuda do Exército no combate ao crime organizado. Como reforço, a Divisão de Homicídio (DH) da capital vai atuar nos eventuais casos de assassinatos relacionados às eleições em Magé.

- O Exército não está vindo para suprir a carência da polícia. Pelo contrário, não queremos que os policiais saiam de sua área de atuação, do seu cotidiano, só para ajudar o tribunal. O Exército será um plus para manter a ordem nos locais de votação. Não vamos tirar PMs das UPPs - justificou Zveiter.

O GLOBO cruzou dados dos órgãos de inteligência da Secretaria de Segurança e do TRE e mapeou algumas áreas conflagradas, como as sujeitas à atuação de criminosos - sejam milicianos ou traficantes -, e cidades que recebem os milionários royalties do petróleo, onde a tensão eleitoral é enorme. Na capital, a Zona Oeste se destaca com os bairros Campo Grande, Santa Cruz, Bangu, Sepetiba, Guaratiba, Vila Kennedy, Gardênia Azul e Rio das Pedras dominados por milícias. Também constam na lista bairros da Zona Norte, como Água Santa; além dos municípios de Duque de Caxias e Nova Iguaçu. Há áreas de conflitos também no Complexo Petroquímico (Comperj), em Itaboraí; em Campos; e em Rio das Ostras.

- A população tem que saber que, quando estiver na cabine de votação, a consciência dela é a senhora de suas atitudes. O eleitor que se sentir desconfortável tem de procurar o presidente da mesa - aconselhou Zveiter.

FONTE: O GLOBO

Freixo conquista adesão de militantes petistas

Contrário a decisões de "cima para baixo", grupo reforça campanha do PSOL; Paes é multado por propaganda antecipada

Luiz Gustavo Schmitt

O candidato a prefeito do Rio pelo PSOL, Marcelo Freixo, ganhou ontem a adesão de militantes petistas durante caminhada na Avenida Atlântica, em Copacabana. Com bandeiras do PT, o grupo lançou a corrente Petistas com Freixo, descontentes com o processo da decisão do partido de apoiar Eduardo Paes (PMDB).

Segundo um dos militantes do PT e organizador do movimento, Tomaz Miranda, a ação é espontânea e de base. O apoio a Freixo reúne militantes de várias tendências petistas e independentes. A adesão do grupo engrossou a caminhada de ontem, que reuniu cerca de 200 participantes.

- O projeto de cidade que os petistas querem não é o do Eduardo Paes. Esse acordo que estão fazendo é por cargos e não para melhorar a cidade. O mesmo está acontecendo com relação ao PDT. Os brizolistas estão vindo para o meu lado - disse Freixo, durante a caminhada.

Os petistas distribuíram panfletos detalhando o movimento. Um blog foi criado para captar novas adesões: petistascomfreixo.blogspot.com.br. No manifesto, os petistas relatam que "acreditam que a política pode ser feita de forma diferente, com ética e com generosidade, com firmeza de princípios e com respeito à diversidade".

- Não houve um debate com os militantes. As decisões no PT vêm de cima para baixo, sem discutir com as bases - lamentou Miranda.

Aspásia se envolve em conflito no Jardim Botânico

O prefeito Eduardo Paes (PMDB), candidato à reeleição, e o ex-presidente Lula foram multados em R$ 5 mil pela Justiça Eleitoral, por propaganda antecipada.

A representação foi feita pelo PSDB, a pedido do candidato Otavio Leite, após a participação de Lula na inauguração do corredor de ônibus Transoeste, no dia 6 de junho. A via liga Santa Cruz à Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio

No evento, Lula disse que apoiaria Paes "com mais convicção" do que em 2008 e que "valeu a pena" pedir votos para ele na TV naquele ano. No processo, a defesa do ex-presidente nega as acusações e afirma que as mesmas têm base em reportagens descontextualizadas. O prefeito informou que já recorreu da decisão. Paes fez campanha ontem na feira de São Cristovão, acompanhado do senador Lindbergh Farias (PT-RJ).

Pela manhã, a candidata do PV, Aspásia Camargo, foi envolvida num conflito ao participar de movimento pela preservação do Jardim Botânico, contrário à permanência de residências na área do parque. Os moradores dessas casas, que também se manifestavam, quebraram galhardetes e bandeiras do grupo de verdes. Rodrigo Maia fez ontem caminhada em prol de área de lazer na Rua Dias da Cruz, no Méier.

FONTE: O GLOBO

Lula e Paes são multados por propaganda

Glauber Gonçalves

RIO - Depois de ser condenado pela Justiça Eleitoral por propaganda antecipada para Fernando Haddad, postulante petista à prefeitura de São Paulo, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi novamente autuado, agora por promover a candidatura do prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PMDB), à reeleição antes do prazo legal. Os dois foram multados em de R$ 5 mil cada por causa de declarações dadas durante a inauguração de uma obra pública.

No dia 6 de junho, em evento de lançamento de um trecho do sistema de ônibus expresso BRT Transoeste, Lula afirmou que apoiaria Paes com mais convicção agora do que em 2008 e chegou a dizer que pediria votos para o prefeito.

"Em 2008, eu era presidente da República, o Sérgio Cabral (governador do Rio) chegou com um cidadão que eu pouco conhecia pedindo para apoiá-lo. Eu confesso, por não conhecer, tinha dúvida, mas fui convencido pelo Sérgio Cabral que eu deveria apostar na figura. Hoje posso dizer para vocês que valeu a pena pedir votos para o Eduardo Paes. Farei isto outra vez agora em 2012 com muito mais convicção", discursou Lula na época.

Em 2005, enquanto exercia o mandato de deputado federal pelo PSDB, Paes figurou como um dos críticos mais ferrenhos do governo Lula, durante a CPI dos Correios.

Os advogados dos acusados tentaram invalidar a denúncia questionando as matérias publicadas pela imprensa na época da inauguração, com base nas quais foram feitas as denúncias. Os argumentos foram rejeitados pela juíza Ana Paula Pontes Cardoso, da 192.º Zona Eleitoral.

Recurso. Procurado, Paes informou, por meio da assessoria de sua candidatura, que seus advogados entraram com recurso contra a decisão. A representação foi apresentada pelo PSDB a pedido do deputado federal Otávio Leite, também candidato a prefeito do Rio. Ele comemorou a decisão, mas considerou a multa "irrisória".

O valor foi o mesmo estipulado em São Paulo no mês passado, depois que Lula deu uma longa entrevista ao apresentador Carlos Roberto Massa, o Ratinho do SBT. Ao lado de Haddad, o ex-presidente teceu uma série de elogios ao candidato petista, que foi ministro durante seu governo. "São Paulo precisa ter alguém que tenha o entusiasmo que ele teve cuidando da Educação do Brasil", disse Lula, na ocasião. A propaganda eleitoral só passou a ser permitida a partir do último dia 6.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

PSB é o partido que mais cresce em número de candidaturas

O PSB foi o partido que mais cresceu em número de candidatos a prefeito desde as últimas eleições municipais, segundo o EstadãoDados. Este ano, vai disputar uma em cada cinco prefeituras do País, 14% a mais que em 2008. No total , são 1.044 candidatos do partido socialista. O PT também cresceu. São 8% a mais do que em 2008, ultrapassando o PSDB em números absolutos. Mesmo com queda de 16%, o PMDB mantém o maior número de candidatos. O pior desempenho é do DEM, que perdeu 42% das candidaturas. O PSD estreia com mais de mil candidaturas

PSB apresenta o maior crescimento de candidaturas entre as grandes siglas

Amanda Rossi

Entre os grandes partidos, o PSB é que mais cresceu em número de candidatos a prefeito desde as últimas eleições municipais. Este ano, ele vai disputar uma em cada cinco prefeituras do País, 14% a mais que em 2008. No total, são 1.044 candidatos do partido socialista, 126 a mais que em 2008.

Levantamento do Estadão Dados no Tribunal Superior Eleitoral mostra também que o PT nestas eleições ultrapassou o PSDB no número de candidatos, ficando atrás apenas do PMDB, que mesmo recuando 16% em relação a 2008 continua tendo a maior base de candidaturas. O novato PSD ocupa a quarta posição nesse ranking.

A avidez do PSB na disputa municipal deste ano já gerou conflitos com o PT, seu aliado nacional, em pelo menos três capitais. Em Belo Horizonte, o atual prefeito Marcio Lacerda (PSB) vai enfrentar o ex-ministro Patrus Ananias (PT). Em Recife e Fortaleza, o PSB também sairá com candidatos próprios contra o partido da presidente Dilma Rousseff. Para dissipar o desconforto, Dilma se reuniu na semana passada com o presidente do PSB e governador de Pernambuco, Eduardo Campos, e recomendou que as eleições municipais não fossem confundidas com a aliança nacional entre os dois partidos. Após três horas de reunião, Campos anunciou que a paz estava selada.

A influência do PSB acontece com maior intensidade na região Nordeste do País. Mais da metade dos candidatos a prefeito do partido estão concentrados por lá, onde vão disputar uma em cada três cadeiras do Executivo municipal. A faixa de influência dos socialistas também se estende para o Sudeste, onde estão um quarto dos seus candidatos. Mas no resto do País sua presença ainda é tímida. Nas regiões Norte, Centro-Oeste e Sul, os candidatos da legenda estão na briga por apenas uma em cada dez prefeituras.

Devido ao crescimento, o PSB saltou do oitavo para o sexto lugar na lista de partidos com mais candidatos a prefeito. Ainda sim, ele dá mais apoio para chapas encabeçadas por outras siglas do que apresenta candidatos próprios. Apesar das rusgas com o PT, os socialistas são a maior fonte de apoio para os petistas. Embora o PMDB e o PT possuam o maior número de alianças (em mais de mil municípios), o PSB é o partido que mais dá apoio aos candidatos do PT nestas eleições - o PSB apoia os petistas em 413 cidades; o PMDB em 382 (números com base em 90% das informações do TSE consolidadas).

O PMDB, que tem a maior base municipal do País, continua sendo a principal força partidária na corrida pelas prefeituras. Mas o número de candidatos caiu 16% em relação a 2008. Este ano, serão 2.292 nomes peemedebistas, 440 a menos. Ainda sim, o número é quase 30% maior que o do PT, que ocupa o segundo lugar em quantidade de candidatos.

Virada e PSD. O resultado petista, no entanto, representa uma virada. Este ano, a sigla ultrapassou os tucanos, que perderam quase 200 candidatos em relação a 2008. A força do PSDB concentra-se em São Paulo, Minas e Paraná - todos governados por tucanos -, que detêm metade dos nomes do partido para as prefeituras. O PT é também o segundo que mais cresceu entre as grandes legendas, atrás apenas do PSB. Em 2012, são 124 candidatos a mais que nas últimas eleições, totalizando 1.789 - um aumento de 7%.

Nas suas primeiras eleições, o PSD é um fenômeno. Criado em 2011 pelo prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, o partido tem o quarto maior número de candidatos, atrás do PMDB, PT e PSDB. No total, são 1.094 nomes. A distribuição regional das candidaturas mostra que Kassab conseguiu costurar apoio principalmente fora do seu Estado. Quatro entre dez candidatos do PSD estão no Nordeste. No Sudeste, a sigla concorre a 12% das prefeituras.


Mais de 400 mil concorrem às vagas de vereador

Cerca de 430 mil candidatos vão concorrer às 57 mil vagas de vereador em 2012. É como se todos os moradores de Santos, no litoral paulista, resolvessem entrar em campanha em busca de um lugar nas Câmaras municipais do Brasil. O número representa um salto em relação às últimas eleições municipais, em 2008. Este ano, são 85 mil candidatos adicionais. Mais pessoas concorrendo também significa mais gastos de campanha. Na cidade de São Paulo, por exemplo, as legendas preveem gastar em média até R$ 2,7 milhões por cabeça em disputa.

O PMDB, partido com mais candidatos a prefeito, tem também o maior número de nomes para vereador: 41,5 mil. Em seguida, vem o PT, com 39,6 mil pessoas. Em relação a 2008, os petistas foram os que mais cresceram em número de candidatos a vereador, com um acréscimo de 24%. Em seguida, aparece o PSB, com 24,6 mil candidatos, aumento de 23%. A quantidade de nomes para vereador aumentou em quase todos os partidos, exceto no DEM, que perdeu 4,3 mil.

Democratas têm 42% menos candidatos

Os democratas vivem momentos difíceis. Em 2011, enfrentaram denúncias do chamado "mensalão do DEM" e viram parte dos seus quadros migrar para o PSD, criado pelo prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab. Já este ano, foram abalados pelo esquema do contraventor Carlinhos Cachoeira devido as suspeitas contra o ex-senador e ex-democrata Demóstenes Torres (sem partido-GO). Na última quarta-feira, Demóstenes tornou-se o segundo senador cassado da história. Não bastassem esses revezes, o DEM precisa lidar agora com o desfalque na corrida eleitoral.

O partido entra nas eleições municipais de 2012 com 42% menos candidatos a prefeito que em 2008. No total, são 729 nomes, a maioria nas regiões Sudeste e Nordeste. Se conseguir manter o resultado do último pleito municipal, quando elegeu quatro prefeitos a cada dez candidatos, o DEM vai fechar o ano com um resultado minguado: 291 prefeituras dentre as 5.566 possíveis do País.

A queda do DEM é a maior entre todas as legendas. A intensidade do declive fez os democratas despencarem do quarto para o nono lugar na lista de partidos com mais candidatos a prefeito. Agora, quem ocupa a quarta posição é o rival PSD, que vai disputar mais de mil prefeituras. O DEM também perdeu em número de vereadores. Este ano são 4,3 mil a menos.

Gangorra. Mas não é apenas o DEM que perdeu candidatos a prefeito. Entre os grandes partidos, a segunda maior queda é do PR, que diminuiu 24%. Também caíram PTB (20%), PDT (16%), PP (13%), além do PMDB (16%) e do PSDB (10%). Juntos, os sete partidos têm 1.900 candidatos a menos que nas últimas eleições municipais de 2008.

A descida foi compensada pelo surgimento do PSD e pelo crescimento do PSB (14%), do PT (7%), que somaram 1.340 candidaturas adicionais.

Também se destacaram os partidos menores de orientação de esquerda. Juntos PSOL, PSTU e PC do B vão disputar 121 prefeituras a mais este ano.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Enfraquecido, DEM estuda fusão com PMDB

Afastado do PSDB e com menos recursos de Fundo Partidário e tempo no horário eleitoral, partido aguarda resultado da eleição para definir futuro

Christiane Samarco

BRASÍLIA - O DEM, que em 2012 terá 42% menos candidatos a prefeito que em 2008, depende das eleições municipais para sobreviver. Se vencer em capitais como Salvador e Aracaju, e tiver bom desempenho em grandes cidades como Mossoró (RN), Vila Velha (ES), Feira de Santana (BA) e Caruaru (PE), estará salvo. Caso contrário, dirigentes do partido já admitem que a saída poderá ser a fusão com outro partido e a opção mais cogitada por sua cúpula hoje é o PMDB, e não o PSDB.

Tudo porque a parceria tradicional com os tucanos vai de mal a pior. Embora acusem o golpe de ver o novo PSD solapar metade de seus recursos no fundo partidário e de seu tempo de televisão no horário eleitoral, os dirigentes do DEM mantêm a esperança de que a legenda garanta sua existência nas urnas. Mas se o risco da fusão só é mencionado em conversas reservadas, o afastamento do PSDB nesta reta final da montagem das coligações é tratado abertamente.

Lideranças do DEM não escondem a insatisfação com o tucanato. Dizem que o PSDB fez um "papelão" com o velho aliado no Recife e em Fortaleza, onde as opções do partido para a prefeitura estão bem melhor posicionadas nas pesquisas do que os candidatos do PSDB. Eles não se conformam de os tucanos terem lançado Marcos Cals contra Moroni Torgan (DEM) na capital cearense. E, menos ainda, aceitam que o presidente do PSDB, Sérgio Guerra, tenha preferido se aventurar com a candidatura própria de Daniel Coelho, em vez de somar forças com Mendonça Filho (DEM) na corrida do Recife.

Candidato a prefeito do Rio contra o colega tucano Otávio Leite, o deputado Rodrigo Maia (DEM) afirma que não houve diálogo entre os partidos. Lembra que o afastamento do PSDB começou ainda em 2010.

"Nas duas outras capitais em que estamos juntos não houve aliança. O que aconteceu foi puro escambo", reclama. Segundo ele, o apoio do PSDB à candidatura do líder do DEM na Câmara, ACM Neto (BA), em Salvador, só se deu em troca da composição com o candidato tucano em São Paulo, José Serra. Os dirigentes da legenda não escondem a irritação com Serra que, diante do pleito do DEM de ter o posto de vice, não hesitava em afirmar que só decidiria após a definição do tempo de TV dos partidos.

E assim aconteceu. O PSD do prefeito Gilberto Kassab ficou com metade do tempo de TV do DEM e com a vice de Serra. Não fosse a determinação do DEM em fechar parceria com os tucanos para eleger Neto, a cúpula teria fechado aliança com o PMDB, de Gabriel Chalita.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Na Fenearte, oposição critica área de cultura em Recife

Três candidatos à PCR visitaram a feira de artesanato. Daniel e Mendonça aproveitaram para cobrar pagamento de cachês para artistas locais. Humberto rebateu

Bruna Serra

No último dia da Feira Nacional de Negócios do Artesanato (Fenearte) três dos principais candidatos à Prefeitura do Recife resolveram fazer seu teste de popularidade no evento do Centro de Convenções. Os prefeituráveis oposicionistas Daniel Coelho (PSDB) e Mendonça Filho (DEM) aproveitaram a oportunidade para trazer à tona um tema polêmico da gestão petista: o pagamento de cachê aos artistas locais. Embalados pelo clima cultural, ambos afirmaram receber queixas de artistas do Estado que acusam receber seus pagamentos mais de seis meses após terem realizado as suas apresentações na capital.

“Muitos músicos me procuraram recentemente para que denunciasse que ainda não receberam o cachê do Carnaval. Quer dizer, os artistas de expressão nacional que vêm se apresentar aqui recebem antecipadamente e os recifenses passam por essa situação?”, indagou Daniel, em provocação ao alardeado “modo petista de governar”. Na mesma linha, o pré-candidato democrata Mendonça Filho endossou as críticas do tucano e afirmou que, se eleito, criará pontos permanentes de apresentações culturais como casas de frevo e forró apoiadas pelo município.

“Não podemos desprestigiar os artistas populares. Passar seis meses para receber um cachê é uma falta de respeito. Vamos estimular as apresentações de ritmos pernambucanos, o que vai incentivar também o turismo e a geração de emprego”, destacou. O democrata percorreu a feira por quase duas horas e foi bastante assediado. Ouviu queixas, posou para fotos e visitou diversos estantes.

Último a chegar na Fenearte, Humberto Costa (PT), acompanhado do vice, João Paulo, também chamou a atenção. Os dois conversaram bastante com artesãos, tiraram fotos e conversaram com as pessoas. Questionado sobre as críticas adversárias, rebateu destacando as iniciativas do partido nas três gestões. “Fomos nós quem criamos o Carnaval Multicultural que é um sucesso, o Ciclo Natalino e o São João que está cada ano mais tradicional. Se há problemas de pagamento é nesta gestão, mas deve ser por questões de fluxo de caixa, complicada pela redução do repasse do Fundo de Participação dos Municípios e da arrecadação”, justificou. Procurada pelo JC para se pronunciar sobre o caso, a assessoria da PCR não respondeu aos contatos da reportagem.

Candidato do PSB, Geraldo Julio, dedicou o dia de ontem aos proporcionais. Passou o domingo frequentando inaugurações de comitês de candidatos de vários partidos. A coligação conta com mais de 400 nomes disputando uma vaga na Câmara. “São eles que vão levar o nosso nome e as nossas propostas aos quatro cantos do Recife nessa campanha”, afirmou o prefeiturável socialista, em sua peregrinação pelos bairros do Cordeiro, Nova Descoberta e Alto do Buriti. Hoje, Geraldo, Mendonça e Daniel participam dos eventos em homenagem a Nossa Senhora do Carmo, padroeira do Recife. Humberto fará reunião com as mulheres do PT.

FONTE: JORNAL DO COMMERCIO (PE)

Em São Paulo, 31% dos fiéis no ato votariam em candidato de pastores

Participantes admitem apoiar nas eleições nomes indicados por religiosos

Igreja Renascer, que comandou marcha e tinha mais seguidores presentes, não definiu apoio para prefeito

Rodrigo Vizeu

SÃO PAULO - O apoio dos pastores tem grande influência sobre o eleitorado evangélico, indica o Datafolha com base no público presente na Marcha para Jesus de anteontem.

Entre os participantes do evento, 31% afirmaram que o apoio dos pastores de sua igreja a um candidato a prefeito "com certeza" o levariam a votar nessa pessoa.

A influência dos líderes religiosos vai além, já que outros 34% dos entrevistados disseram que "talvez" escolham seu candidato a partir da indicação dos pastores.

No total, portanto, 65% dos que foram à marcha são direta ou parcialmente influenciados pelos comandos das igrejas na eleição.

A margem de erro da pesquisa Datafolha é de dois pontos percentuais para mais ou para menos.

Anteontem, na marcha, o apóstolo Estevam Hernandes, da Igreja Renascer, que organizou a caminhada, disse que "com certeza" as igrejas devem orientar seus fiéis sobre o melhor perfil de candidato.

"A igreja deve participar efetivamente através do voto popular", disse. "Dentro das convicções de cada igreja e daquilo que ela vê como melhor proposta, ela tem esse papel", completou.

No total, 60% do público presente era da cidade de São Paulo, 36% do interior do Estado e 4% de outras unidades da Federação.

Os fiéis da Renascer foram maioria -34% dos presentes- seguidos pela Assembleia de Deus, com 16%. Só 1% era da Igreja Universal do Reino de Deus.

A Renascer afirmou que ainda não definiu quem apoiará para prefeito de São Paulo. O principal tronco da Assembleia de Deus, que é a líder de adeptos entre as pentecostais na cidade, apoiará José Serra (PSDB).

O ministro Marcelo Crivella (Pesca), bispo licenciado da Universal, também defendeu a orientação política dos fiéis. "O povo pergunta ao pastor em quem votar", afirmou.

Ele disse ainda que é importante o envolvimento dos evangélicos na política, inclusive se candidatando, para promover os princípios das igrejas de uma vida focada em trabalho, família e oração.

Segundo Crivella, senador licenciado pelo PRB-RJ, o candidato a prefeito de São Paulo "mais próximo" dos evangélicos é Celso Russomanno (PRB).

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Aécio prepara discurso da campanha de Lacerda

Senador vai recorrer à tese do repúdio à interferência federal e de lideranças de outros estados na disputa local

Eduardo Kattah e Lorena Campos

Na disputa contra o PT, a campanha do prefeito de Belo Horizonte e candidato à reeleição, Marcio Lacerda (PSB), vai recorrer ao discurso do repúdio à interferência federal na capital mineira. A estratégia do ex-governador e senador Aécio Neves (PSDB), principal cabo eleitoral de Lacerda, é confrontar a nacionalização da campanha em Belo Horizonte com a tese de que o eleitor da cidade costuma rechaçar imposições de candidaturas.

Com atuação direta da presidente Dilma Rousseff, o PT lançou o ex-ministro e ex-prefeito Patrus Ananias após o rompimento da aliança com Lacerda, que envolvia os tucanos. A intenção de Aécio é explorar principalmente a movimentação do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, que interveio no PSD local determinando o apoio a Patrus. Nas hostes aecistas, a ação de Kassab vem sendo tratada como uma "vassalagem" do prefeito.

O PSD de BH é ligado a Aécio e na semana passada entrou na Justiça Eleitoral com um pedido de impugnação da coligação em torno do petista por ter incluído o partido - que também consta no pedido de registro de Lacerda.

A atuação de Dilma na campanha de Belo Horizonte causou surpresa entre os tucanos mineiros. A ideia de Aécio é tentar impor um plebiscito sobre a "interferência" na disputa municipal, tática que foi usada na campanha para o governo do Estado, em 2010, quando o tucano Antonio Anastasia derrotou Hélio Costa, candidato imposto para garantir o apoio do PMDB a Dilma. Para o senador tucano, os petistas terão enorme dificuldade para justificar a mudança de posição em relação a Lacerda. "Vou fazer a campanha da coerência", disse Aécio.

Caciques. A campanha de Patrus já conta com o engajamento dos caciques nacionais do PMDB. Hoje eles farão um ato de apoio ao ex-ministro. O vice-presidente da República Michel Temer desembarca na cidade acompanhado do presidente nacional da legenda, senador Valdir Raupp (RO), e do deputado federal Henrique Eduardo Alves, líder do PMDB na Câmara. "Já é uma manifestação de apoio da presidenta Dilma, do ex-presidente Lula e do vice-presidente Michel Temer, eles estão todos sintonizados com a nossa campanha", afirmou ontem Patrus.

Segundo o candidato, Dilma e o ex-presidente Lula ainda não têm agenda definida em Belo Horizonte. "A presença deles vai depender do acerto de agendas", disse.

Ontem, Patrus fez corpo a corpo com eleitores na periferia da capital e foi acompanhado pelo deputado federal Leonardo Quintão (PMDB), que abriu mão da candidatura à prefeitura em prol da aliança com o PT.

Durante a caminhada, Patrus evitou fazer críticas à gestão do atual prefeito e candidato à reeleição, Marcio Lacerda (PSB). "Não quero entrar em polêmica com meu adversário. No que depender de mim teremos uma campanha ética e programática."

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Valério pede ao STF foco nos 'protagonistas políticos'

Em memorial ao Supremo, defesa afirma que atuação do empresário no mensalão ganhou uma dimensão exagerada; documento cita Lula e ex-dirigentes do PT

Eduardo Kattah

A defesa do empresário Marcos Valério Fernandes de Souza, em memorial apresentado ao Supremo Tribunal Federal (STF), insiste na tese de que a atuação do chamado operador do mensalão ganhou uma "dimensão exagerada" no escândalo e o foco da mídia nas investigações foi deslocado para ele pelos "protagonistas políticos".

O documento de 146 páginas, com as alegações derradeiras da defesa de Valério, cita o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ex-ministros, dirigentes do PT, parlamentares e partidos da base aliada. "Quem não era presidente, ministro, dirigente político, parlamentar, detentor de mandato ou liderança com poder político, foi transformado em peça principal do enredo político e jornalístico, cunhando-se na mídia a expressão "valerioduto", martelada diuturnamente, como forma de condenar, por antecipação, o mesmo, em franco desrespeito ao princípio constitucional", diz o documento assinado pelo advogado Marcelo Leonardo e encaminhado ao STF no último dia 28.

Em setembro do ano passado, a defesa de Valério sustentou que a acusação da Procuradoria-Geral da República é um "raríssimo caso de versão acusatória de crime em que o operador do intermediário aparece como a pessoa mais importante da narrativa, ficando mandantes e beneficiários em segundo plano, alguns, inclusive, de fora da imputação, como o próprio presidente Lula".

Na época, Leonardo divulgou nota negando ter cobrado a inclusão do ex-presidente na denúncia do mensalão. Essa parte das alegações finais, porém, foi mantida no memorial encaminhado aos ministros do STF.

Valério será julgado pelos crimes de corrupção ativa, peculato, lavagem de dinheiro, formação de quadrilha e evasão de divisas. O advogado pede na peça a absolvição de seu cliente e alega que não há prova de que foram usados recursos públicos no caso. Afirma ainda que o mensalão - a compra de apoio político no Congresso - denunciado pelo ex-deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), também réu no processo, não ficou comprovado.

Foro. A defesa de Valério também contesta a competência do STF de julgar réus sem foro privilegiado. O advogado avalia que ainda cabe aos ministros decidir sobre a separação do processo na abertura do julgamento, pois apenas três réus possuem atualmente prerrogativa de foro.

"A jurisprudência deste Supremo Tribunal Federal tem determinado a separação de processo e julgamento, mesmo entre acusados de um mesmo crime em concurso de pessoas, quando um dos acusados tem foro por prerrogativa de função e outro não", destaca Leonardo.

Toffoli. Valério já pediu o impedimento do relator, ministro Joaquim Barbosa, mas a Corte não aceitou. Sobre Antonio Dias Toffoli, o advogado do réu acredita que o ministro não pode se declarar impedido pois já atuou no processo. "O ministro Dias Toffoli já julgou dois agravos regimentais nessa ação penal 470. Então ele já reconheceu-se habilitado a julgar", disse ao Estado.

Na introdução do memorial, a defesa de Valério acusa a mídia de condenar e depois criticar "o Poder Judiciário, pressionando-o para confirmar, rapidamente, as conclusões afoitas do processo midiático terrorista".

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

A Felicidade Nacional Bruta: Fernando Gabeira

Presidente Dilma Rousseff afirmou, no fim da semana, que uma nação não deve ser medida apenas pelo PIB, o Produto Nacional Bruto. Este foi um dos temas discutidos na Rio+20. Será que o PIB exprime bem o que se passa num país? Devemos contar também com o Índice de Desenvolvimento Social, outro indicador importante?

Alguns mais ousados querem introduzir o conceito de felicidade nacional como indicativo de um país. Inspiram-se no Butão, um pequeno país asiático, situado no Himalaia, que abandonou o conceito de PIB pelo da felicidade.

À primeira vista parece exótico, deixar de contar o progresso material e fixar-se nos diversos avanços sociais e na satisfação que o povo tem com os serviços do governo. Alguns teóricos, como Derek Bok, escreveram livros estimulando os governos para uma nova pesquisa sobre o bem estar.

Pesquisas nos EUA não faltam. E Derek Bok cita uma delas, comandada por Richard Easterlin, mostrando que apesar do crescimento material dos últimos 50 anos, o índice de felicidade não aumentou nos EUA.

O rei do Butão, Wanchuk, lançou, ao adotar o novo índice, o que chama de quatro pilares da Felicidade Nacional Bruta: boa governança e democracia desenvolvimento econômico estável e equilibrado, proteção ambiental e preservação da cultura.

Aqui no Brasil, norte-americana, Susan Andrews, trabalha com o tema da felicidade como indicador e fez algumas intervenções durante a Rio+20.

A dificuldade do pronunciamento de Dilma Rousseff é o momento político em que foi feito. Muitos jornais e observadores estrangeiros mencionam a modéstia do crescimento do PIB brasileiro, o menor dos BRICs, o bloco formado pelos países emergentes.

Outros afirmam que o Brasil crescerá menos que os 2% projetados para os Estados Unidos em crise.

A principal critica à Dilma será a de proclamar o orgulho pelo crescimento do PIB, em certos momentos de elevação do indicador, e subestimá-lo quando está em queda relativa.

Fica parecendo a fábula da Raposa e as Uvas. Mas apesar disso tudo, a presidente tocou num novo tema que procura responder de maneira não só material a importante pergunta: como estamos?

Falas presidenciais tendem a estimular debates. O da felicidade pode ser um deles. O outro é: até que ponto o crescimento material é importante para os outros fatores de bem estar?

Esta última questão a gente se coloca, às vezes, na vida particular. Agora, ela ganha a dimensão de um tema político.

FONTE: JORNAL METRO RIO

Sem lé com crê:: Ricardo Noblat

"A diferença é que não menti. Senador não deve mentir." (Demóstenes Torres, ex-senador, cassado porque mentiu)

Salvo a sedutora namorada do bicheiro Carlinhos Cachoeira, preso desde 29 de fevereiro último sob a acusação de ter montado uma quadrilha para explorar jogos ilegais, ninguém merecedor dos holofotes da mídia parece ter dito coisa com coisa na semana passada. Absurdo o descompasso entre o discurso e a realidade, entre o anunciado e a coerência.

Provocada por jornalistas, Andressa Mendonça, 30 anos, antecipou o que imagina fazer no dia em que Cachoeira foi solto; "Vou começar a defender a legalização dos jogos. Nada mais de acordo com o que conferiu projeção ao namorado. De resto, um tributo ao arriscado ramo de atividade que garante o conforto do casal.

Ingenuidade e transparência costumam ser boas companheiras. A verdade ganha com a parceria delas, Esperteza e malícia, vez por outra, assinam desastres inesquecíveis ou trapalhadas pitorescas. Da ingênua Andressa à esperta em treinamento Dilma: quem elegeu a senhora para suceder a Lula?

Sua Simpatia? Não foi, A paciência que os sábios transpiram no trato com os afoitos? Não foi. Sua oratória? Também não. Algo de mágico chamado carisma? Menos ironia, Noblat! A mulher é presidente! Sua cancha em disputar eleições? Jamais disputara uma antes.

Lula escolheu Dilma para manter aquecida sua cadeira. Mas quem a elegeu foi a satisfação da maioria dos brasileiros com os resultados da economia. Mais dinheiro no bolso e mais crédito na praça desidratam escândalos, desmoralizam a moral e fazem tábula rasa da ética.

E como é que Dilma, que por tantos anos celebrou o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), o indicador do conjunto de riquezas do país; como é que ela, ao ver o PIB ladeira abaixo, comete o atrevimento de dizer que o PIB não tem lá essa importância toda, importante é como cuidamos das nossas criancinhas?

Quer dizer: Pibão vale. Merece ser reverenciado. Pibinho não vale. Entra em cena o vinde a mim as criancinhas! Para quê? Para serem mais bem alimentadas com menos recursos? Aproxime-se para lá, dona Dilma! Respeito à inteligência alheia é bom e ainda tem quem goste.

De Dilma à senadora Kátia Abreu, ex-DEM do Tocantins, uma das estrelas do recém-criado PSD e autora da ameaça de abrir uma dissidência no partido que não é de direita, nem de esquerda, cem de centro, segundo seu fundador, Gilberto Kassab, prefeito de São Paulo: dissidência para quê, senadora?

Kátia apoiava a decisão do PSD mineiro de reforçar a candidatura à reeleição do prefeito Mareio Lacerda (PSB), de Belo Horizonte, o queridinho do senador Aécio Neves (PSDB). Aí Kassab, para agradar a Dilma, atropelou o PSD mineiro e mandou que apoiasse a candidatura a prefeito de Patrus Ananias, do PT.

Dezoito quilômetros, percorridos em 15 minutos de carro, separam a mineira Paraisópolis, cidade de 20 mil habitantes, da paulista São Bento do Sapucaí. Com cerca de 12 mil habitantes. No mais rico estado do país, o DNA do PSD é tucano. No segundo mais rico, começa a se tingir de vermelho. A ideia da dissidência não junta lé com cré.

O vice-presidente da República, Michel Temer, abriu as portas do PMDB para Kátia. Caso ela se mude para lá, terá deixado o PSD porque em Minas ele aderiu ao PT, Para cair no colo do PMDB, que governa o país aliado ao PT. Pensando bem, não faz sentido. Mas, pensando melhor, talvez faça,

Fez sentido Demóstenes culpar a imprensa pela cassação do seu mandato? Logo ela, que o apontava como o príncipe da decência? Mas a quem poderia culpar? Por ora, não faz sentido a CPI do Cachoeira reconhecer o seu fracasso. Deixou a Delta em paz? Em compensação, pôs para circular um campeão de audiência.

Nada a ver com conversas gravadas de Cachoeira. É um vídeo extraído do acervo da CPI que mostra uma atraente assessora do senador Ciro Nogueira (PP-PI), semicoberta por tatuagens, entregue aos cuidados de um assessor do senador Sérgio Petecão (PSD-AC). Cópias do vídeo custam uma nota.

FONTE: O GLOBO

Tribuna de desonra :: Melchiades Filho

Com a cassação de Demóstenes Torres, a oposição não perdeu apenas um congressista operoso e estridente. De certa maneira, perdeu todos eles.

A ruína do senador goiano pôs em xeque a linha de atuação parlamentar mais voltada aos holofotes, ao confronto imediato e explícito.

Deve demorar um tanto até os adversários de Dilma se sentirem de novo à vontade para ocupar os microfones do Congresso a fim de surfar em denúncias contra o governo e bater sem dó nos suspeitos.

Primeiro, porque o inquérito do Cachoeiragate ainda respira -como atesta o cerco da PF ao governador tucano Marconi Perillo (GO).

Segundo, porque a impostura do sujeito que desempenhava com brilho o papel de palmatória do mundo ficará, ao menos por algum tempo, viva na memória do eleitor.

Curiosamente foi o próprio cassado, no discurso de adeus, quem deu a senha. Não se desculpou por ter recebido dinheiro e presentes de Carlinhos Cachoeira, nem por ter utilizado o mandato para atender os interesses do empresário-contraventor. Penitenciou-se, isso sim, por ter agido como xerife da ética e sido implacável na cobrança de políticos atolados em escândalos.

Esse "não façam o que eu fiz" prenuncia, no mínimo, um certo esfriamento dos plenários.

O bloco PSDB-DEM-PPS, que já tinha saído fragilizado das urnas em 2010 e enfrentava dificuldades para se projetar nas comissões do Legislativo (vide sua impotência na CPI do Cachoeira), tende agora a se recolher também das tribunas.

Menos espaço para os verborrágicos, mais para os silenciosos: uma oposição que não se opõe, desinteressada em afrontar o Planalto e desgastá-lo pela crítica, que articula (ou simplesmente torce) pela fratura da coalizão dilmista, conformada com o fato de que o Brasil vive hoje uma democracia de partido único -o partido do governo.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

O futuro das crianças não pode mais esperar :: Marco Antonio Rocha

Como diz o povo, para baixo todo santo ajuda. A presidente Dilma sabe muito bem disso, haja vista a força que está fazendo para deter a sabotagem dos santos e empurrar a economia brasileira para cima. Por via das dúvidas, e prevendo que a descida da ladeira do Produto Interno Bruto (PIB) pode ser mais veloz do que o ministro Mantega supunha, já tenta desviar o assunto, minimizando sua importância: "Uma grande nação deve ser medida por aquilo que faz para suas crianças e adolescentes, não é o PIB", disse ela. Como quase sempre, o linguajar é um pouco capenga. Mas deu para entender.

Muitos economistas já se dedicaram ao trabalho de procurar um indicador melhor que o PIB para medir a marcha de uma economia nacional. Tentativas de montar um indicador da Felicidade Nacional Bruta (FNB) já consumiram muitas horas de pesquisas e calhamaços de papéis. O problema é que, de qualquer forma, elas exigem, de saída, a apuração do PIB, pois sem que a economia cresça de forma sustentada não se torna possível uma distribuição mais equitativa da renda produzida e, portanto, um aumento no nível de bem-estar geral.

De modo que, com o devido respeito, sra. presidente, se o PIB não cresce, ou se decresce, fica mais difícil para a Nação fazer mais e melhor por suas crianças, seus adolescentes, adultos em geral e idosos. Não esqueçamos de que, se estes vivem mal e porcamente, como ocorre em muitos recantos deste país, as crianças ficam sem futuro e, na verdade, como se vê nas ruas de qualquer cidade brasileira, passam a ser úteis no trabalho de mendicância de que muitos adultos lançam mão.

Mas, deixando de lado o despautério de achar que a medição e o comportamento do PIB não têm importância, tentemos analisar o que é que está acontecendo com ele, posto que dois anos atrás ia muito bem: o crescimento em 2010 foi de 7,5% - uma taxa "chinesa", segundo se disse então - e neste ano, pelo que tudo indica, não deverá chegar aos 2%. Isso vai reduzir a taxa média anual dos quatro anos de mandato da presidente Dilma para bem menos que a média anual do mandato do seu antecessor. A menos que nos próximos dois anos o PIB brasileiro dê um bom salto para cima.

Aí é que entra, de fato, a grande pergunta: esse recuo do PIB brasileiro é meramente episódico e poderia ser remediado a curto prazo?

Entre os fatores que levaram a esta situação, um deles é, sem dúvida, a retração da economia mundial, como, aliás, o governo já vem apontando. Mas há dois outros fatores que não têm sido analisados devidamente.

Um deles é o que poderíamos chamar de saturação. A melhoria de renda da população, a maior oferta de crédito e a redução das taxas de juros criaram, sem dúvida, uma bolha de demanda estimulada no final do governo Lula, que extravasou para o primeiro ano da sua sucessora. Agora, ao que parece, é que essa bolha começou a se esvaziar. De um lado, porque a chamada nova classe média, então surgida, já deve ter chegado ao limite dos seus desejos consumistas e da sua capacidade de endividamento. Além disso, o próprio encolhimento da atividade econômica e as notícias nada otimistas sobre o ritmo de crescimento do emprego levam as pessoas a pensar com mais atenção no futuro próximo e, por precaução, começar a fazer reservas, reduzindo suas despesas de consumo normais. Digamos, para resumir, que um ciclo de euforia econômica começa a ser encerrado e a velhíssima história dos sete anos de vacas gordas, seguidos de sete anos de vacas magras surge na cabeça de muitos consumidores, levando a um comportamento bem mais precavido que dois anos atrás.

Outro fator importante é de natureza estrutural. O Brasil conseguiu grande sucesso nas exportações de commodities - mercadorias primárias - nos anos recentes. Mas nas atividades manufatureiras não só não conseguiu sucesso algum, como vem tendo retração, com os produtos importados fazendo cada vez mais concorrência, internamente, aos produtos nacionais. A bolha de demanda a que nos referimos acima quase não beneficiou a indústria nacional, beneficiando, isso sim, as indústrias estrangeiras que viram no mercado brasileiro uma boia de salvação para o encolhimento de mercados que vieram enfrentando no resto do mundo.

O problema, portanto, da falta de produtividade e de competitividade da economia brasileira, sempre levantado, mas nunca atacado firmemente por nenhum governo, torna-se dramático nas atuais circunstâncias, uma vez que a base de uma economia madura, a indústria, não pode oferecer mais os empregos que vinha oferecendo e, ao contrário, diminui a oferta de postos de trabalho: 7 mil foram cortados em junho no Estado de São Paulo, o principal polo industrial, segundo a Fiesp-Ciesp.

É evidente a urgência em pôr mais gás na economia. O governo pode fazer isso elevando os investimentos públicos em infraestrutura. Mas está patinando. Não por falta de recursos, e, sim, por falta de capacidade gerencial e administrativa. Por outro lado, pode ajudar a melhorar a competitividade da indústria privada reduzindo encargos e impostos que a sobrecarregam, mas é incapaz de propor uma reforma fiscal. O futuro da crianças está, pois, à espera.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Reformas :: Aécio Neves

A vida pública, muitas vezes, nos reserva lições díspares e antagônicas.

Designado pelo presidente do Senado, José Sarney, tive a honra de representar o Congresso Nacional na cerimônia de concessão, pela Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos, do importante prêmio John W. Kluge ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

Como destacou o senador Cristovam Buarque, o prêmio equivale, em importância, a um Nobel no campo das ciências humanas. Não se trata de reconhecimento apenas ao sociólogo, ao pensador e à sua densa obra acadêmica, mas também ao líder que foi capaz de, à frente do país, criar bases para um novo patamar de desenvolvimento nacional.

Retornei à Brasília onde, na manhã seguinte, ocorreria a sessão de julgamento do processo de cassação do mandato do então senador Demóstenes Torres.

Sob o impacto de situações tão opostas, é inevitável a reflexão sobre o ambiente político e o conjunto das reformas adiadas, que o país reclama e que precisam ser feitas. Especialmente a reforma política, entendida no seu sentido mais amplo, mas também a dos próprios ritos legislativos.

São questões que devem ser enfrentadas com coragem, com a mesma responsabilidade e visão de futuro com que Fernando Henrique conduziu as reformas econômicas nos anos 90, deixando o precioso legado da estabilidade, que vem sendo preservado, independentemente de quem esteja no poder.

Precisamos de ampla reforma política que respeite a população, valorize os partidos e a sua capacidade de representação da sociedade, mas que também alcance os próprios processos legislativos.

Neste campo poucos avanços puderam ser anotados nos últimos anos. Permanecem à espera da vontade política do governo federal questões de fundo, situadas na raiz dos problemas, nas falhas evidentes de um sistema que envelheceu e não corresponde mais às necessidades de um país que se modernizou e quer continuar avançando.

Como, infelizmente, temos um Parlamento movido quase que exclusivamente pela vontade da maioria governista, e o governo, claramente, não deseja mudanças, têm sido inúteis as tentativas de garantir mais transparência e agilidade a matérias importantes para o país. A iniciativa que regulamenta o uso das medidas provisórias e que, apesar de aprovada no Senado, permanece paralisada na Câmara dos Deputados, é um exemplo.

A questão central é que o Palácio do Planalto não consegue se libertar das suas conveniências políticas imediatas para se concentrar nas políticas de Estado, aquelas que guardam o interesse público, preservam a grandeza das instituições e sobre as quais se constrói não um governo, mas uma nação.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO