segunda-feira, 25 de junho de 2012

OPINIÃO DO DIA – Luiz Werneck Vianna: um novo paradigma

A Carta de 1988, ao instituir os termos da democracia política no País, deu início a uma mutação em nossa vida republicana, ainda em andamento e não de todo percebida, qual seja a que se expressa na tendência de converter o constitucionalismo democrático em novo paradigma dominante no sistema jurídico-político, afetando as antigas primazias exercidas pelo Código Civil e o poder discricionário das esferas administrativas. A emergência dessa tendência - escorada por institutos próprios, entre outros, o Ministério Público, as ações civis públicas e as de controle da constitucionalidade das leis - modera, quando não inibe, o decisionismo de nossa tradição política.

Pode-se entender o assim chamado processo do "mensalão" como uma tentativa de reação anacrônica do conteúdo contra a forma, pois o que, na verdade, se intentava, embora por métodos nada republicanos, era insular a vontade política dos governantes, no suposto de que somente deles provinha a melhor interpretação dos interesses da Nação. A tentativa se frustrou, foi criminalizada e, agora, chega aos tribunais. Quanto à sorte do seu julgamento, a essa altura se trata de questão menor, confinada às artes dos especialistas em técnica jurídica, uma vez que, no que importa, a sociedade e suas instituições já demonstraram recusar aos governantes o monopólio para decidir sobre quais são os verdadeiros interesses da Nação. No mais, é como se dizia antes da invenção da ultrassonografia: nunca se sabe o que vai sair de barriga de mulher ou da cabeça de um juiz.

Luiz Werneck Vianna, professor-pesquisador da Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio. O 'mensalão' e a dialética entre forma e conteúdo. O Estado de S. Paulo, 24/6/2012

Manchetes de alguns dos principais jornais do Brasil

O GLOBO
Paraguai será suspenso do Mercosul até eleições
Número de visitantes 50% maior que o previsto
Bancos facilitam renegociação de dívida atrasada

FOLHA DE S. PAULO
Paraguai vai ser suspenso da Unasul e do Mercosul
Serra oficializa candidatura com ataque a Haddad
Presidente do STF cobra pressa na ação do mensalão

O ESTADO DE S. PAULO
Mercosul afasta Paraguai de reunião de cúpula e vê ruptura
Protesto contra os vizinhos
Serra sai da convenção sem definir vice
Fórum criado na Rio+20 vigiará compromissos
BC dos BCs alerta para alto endividamento do Brasil

VALOR ECONÔMICO
Casino recusa ideia de "fatiar" Pão de Açúcar
Paraguai será suspenso do Mercosul
Pacote deve reduzir a TJLP para até 5%
Perda de espaço revolta PT na Câmara

CORREIO BRAZILIENSE
Paraguai é punido após “ruptura democrática”
Ministra de Dilma viveu horror da tortura
Senado discute hoje destino de Demóstenes
A batalha para domar as letras

ESTADO DE MINAS
Ministra também foi vítima de tortura
Paraguai é suspenso pelo Mercosul

ZERO HORA (RS)
Lugo cria governo paralelo, e Mercosul afasta o Paraguai
Reta final do IPI menor para móveis e eletros

JORNAL DO COMMERCIO (PE)
Dia D para a candidatura do PT no Recife
Novo governo paraguaio sofre retaliações

O que pensa a mídia - editoriais dos principais jornais do Brasil

http://www2.pps.org.br/2005/index.asp?opcao=editoriais

Lugo cria governo paralelo, e Mercosul afasta o Paraguai

Presidente deposto ganha força com decisão dos países vizinhos de negar apoio a novo governante e ensaia contragolpe ao grupo que o tirou do poder.

Um país e dois governos

Lugo prepara administração paralela após ser fortalecido pelo afastamento do Paraguai do Mercosul e da União das Nações Sul-Americanas (Unasul) até as eleições presidenciais, em abril de 2013.

A reação foi mais lenta do que a ação daqueles que cassaram o mandato de Fernando Lugo e entronaram Federico Franco no poder no Paraguai. O processo de impeachment demorou 31 horas. Já Lugo levou quase 48 horas para ensaiar o contragolpe.

O ato inicial da resposta do presidente deposto será uma reunião de gabinete, às 6h de hoje, na sede do Partido Solidário, no centro de Assunção. Lugo e seus ministros irão instaurar, a poucos metros do Palácio de Los López, um governo de resistência, reconhecido como legítimo por Brasil, Venezuela, Argentina e Uruguai.

– Não se trata de um governo paralelo porque o governo paralelo é o que tem hoje no Palácio de los López – afirmou ontem a ZH Gustavo Codas, ex-administrador do Paraguai para Itaipu e um dos homens mais próximos do presidente deposto.

Há uma divergência entre os apoiadores de Lugo. Muitos acham que ele deveria ter resistido ao impeachment – que é tratado pelos aliados como "golpe parlamentar". E, assim, convocado o povo a sair às ruas. Na sexta-feira, apenas 5 mil pessoas foram à Praça das Armas, em frente ao Congresso. Assessores mais próximos de Lugo afirmam que, se o presidente resistisse, haveria um banho de sangue.

– Se tivesse convocado as pessoas a resistir e dito: "Não saio do palácio", teríamos uma convulsão – admite Codas.

Na noite de sexta-feira, Lugo aceitou o julgamento político, previsto na Constituição de 1992. Recuou. No sábado, as lojas do centro de Assunção reabriram. A capital vivia uma falsa sensação de que tudo estava normal. No Palácio de Los López, Federico Franco, presidente empossado, recebia o embaixador da Alemanha, Claude Robert Ellner, e o núncio apostólico, a mais alta autoridade do Vaticano no país, Eliseo Ariotti, como sinal de apoio.

Na manhã de domingo, Lugo falou aos jornalistas na frente de sua casa, na região de Lambare. O tom já era bem diferente do adotado na sexta-feira. Em um claro desafio ao governo de Franco, ele disse que irá à cúpula do Mercosul, nos próximos dias 28 e 29, em Mendoza, Argentina.

– Está totalmente claro que foi um golpe de Estado parlamentar contra a vontade popular, que elegeu Fernando Lugo presidente. Acompanhamos todo tipo de manifestação dos jovens, agricultores, trabalhadores – afirmou Lugo.

Os ativistas, que haviam recuado, voltaram às ruas. O ponto de convergência é a sede da TV Pública, fundada por Lugo e cujo principal programa, Micrófono Abierto, teve o sinal cortado quando telespectadores começaram a entrar no ar, por telefone, criticando o impeachment de Lugo. Ontem, no local, grupos organizaram protestos pacíficos. O sinal da emissora voltou a ser cortado justamente durante as manifestações.

Grupo de esquerda organiza resistência

Ao final da tarde, enquanto as negociações diplomáticas ganhavam força, estava sendo organizada a Frente para a Defesa da Democracia. Integrada por políticos de esquerda, o grupo organizava a resistência. Em sua casa, um dos dirigentes, Domingo Laíno, diretor para assuntos internacionais do Partido Liberal Radical Autêntico, mostrou a ZH a carta que pretende levar à reunião da Cúpula do Mercosul, na quarta-feira. Nela, Laíno pede à presidente argentina, Cristina Kirchner, a mediação de um encontro com os presidentes do Brasil, Dilma Rousseff, e do Uruguai, Pepe Mujica.

– O golpe provocou unidade que não existia entre as organizações sociais – disse Laíno.

Ao adotar uma postura mais contundente contra Franco, Cristina lidera a frente de oposição à saída de Lugo. Até ontem à noite, diversos países, entre eles o Brasil, chamaram seu embaixador de volta, para consulta.

– Vou obedecer à ordem de Brasília e prestarei esclarecimentos nesta segunda-feira ao Itamaraty e à presidente Dilma – disse Eduardo dos Santos, embaixador brasileiro, pouco antes de embarcar em Assunção.

A Venezuela tomou a decisão mais radical: o governo do presidente Hugo Chávez suspendeu o envio de todo o petróleo ao Paraguai. Ao final do dia, um comunicado vazado pela chancelaria argentina antecipava o isolamento, cada vez maior de Franco: "os presidentes da América do Sul decidiram afastar o Paraguai do Mercosul e da União das Nações Sul-Americanas (Unasul) até as eleições presidenciais no país vizinho, em abril de 2013". Uma das consequências pode ser o atraso em obras financiadas pelo Fundo de Convergência Estrutural do Mercosul, como no setor energético, em que injeta pelo menos US$ 400 milhões.

Dilma defende a sanção, mas deixará a Argentina tomar a frente desse processo. Isso porque o Brasil tem mais interesses econômicos e geopolíticos no Paraguai do que os argentinos.

Razões para a cautela brasileira

- Não interessa ao Brasil abrir uma frente de tensão política com o Paraguai, especialmente no campo político, por isso, o país atua com mais cautela e não condena com veemência o novo governo.

- O Paraguai poderia ser visto quase como um outro Estado brasileiro, em razão do grande porte de investimentos brasileiros em commodities agrícolas, na construção civil, no comércio e em bancos.

- Há cerca de 400 mil brasiguaios que vivem especialmente da produção de soja no Paraguai. Seus líderes são contrários a Lugo e pressionam o Brasil a reconhecer o novo presidente.

- O Brasil divide a administração de Itaipu e compra quase toda a parte que cabe ao Paraguai – que não utiliza todo o potencial da usina.

- A instabilidade do país é uma dificuldade adicional na tentativa de reduzir a entrada de armas, drogas e mercadorias do Paraguai ao Brasil.

- A embaixada do Brasil em Assunção é considerada uma das mais importantes para o Itamaraty entre as suas representações em todo o mundo, ao lado de Washington, nos Estados Unidos, e Buenos Aires, na Argentina.

FONTE: ZERO HORA (RS)

Presidente do STF cobra pressa na ação do mensalão

Presidente do STF cobra pressa na ação do mensalão.

Ministro cobra colega sobre risco de atraso no mensalão

Início do julgamento será adiado caso revisão do processo não seja entregue hoje

Presidente do STF advertiu por escrito Lewandowski, que reclama sofrer pressão para correr com o caso

Leandro Colon

O presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Carlos Ayres Britto, enviou ofício ao ministro Ricardo Lewandowski advertindo que ele precisa devolver hoje a revisão do processo do mensalão para que o julgamento comece no dia 1º de agosto.

Na prática, o presidente do STF cobra pressa do colega de corte para que o calendário do principal julgamento do ano seja obedecido.

Britto tomou essa iniciativa na noite de quinta-feira depois de tentar, sem sucesso, conversar com Lewandowski sobre o assunto naquele dia.

A atitude do presidente do Supremo, segundo ministros, é incomum no dia a dia da corte, mas se tornou necessária devido ao risco de atraso.

Lewandowski tem reclamado nos bastidores da pressão interna que sofre dos colegas para correr com o caso.

Prazos

A cobrança do presidente do STF deve-se aos prazos regimentais exigidos para que o julgamento comece no primeiro dia de agosto, já que a corte entra em recesso na semana que vem.

Se Lewandowski entregar a revisão hoje, a liberação do processo será publicada amanhã no "Diário Oficial da Justiça". Haverá então um prazo de 24 horas, até quarta, para que o procurador-geral da República e os 38 réus sejam comunicados.

Depois disso, o regimento determina 48 horas de intervalo para que tenha início o julgamento.

Ou seja, a tramitação encerraria na sexta e tudo estaria pronto para o dia 1º de agosto, quando o STF retorna aos trabalhos.

Agora, se Lewandowski, por exemplo, devolver o processo a partir de quinta-feira, o julgamento só começa depois de 6 de agosto.

Entra então a discussão da aposentadoria do ministro Cezar Peluso. Ele completa 70 anos no dia 3 de setembro, quando é aposentado compulsoriamente. Peluso já avisou interlocutores que deve parar dias antes.

Pressão

Pelo cronograma, haverá duas semanas para manifestação de defesa e da Procuradoria-Geral da República antes dos votos dos ministros.

Como não há tempo fixo para os ministros concluírem suas posições, qualquer atraso pode deixar o julgamento sem o voto de Peluso.

A corrida do STF contra o relógio foi revelada ontem pela coluna Painel, da Folha.

O cronograma de 1º de agosto foi acertado pelos ministros do STF no começo do mês, conforme sugestão do ministro Celso de Mello.

Lewandowski tem prometido entregar o processo até o fim de junho, mas evita se manifestar publicamente, principalmente depois das revelações de que setores do PT, liderados pelo ex-presidente Lula, têm trabalhado para adiar o julgamento para depois das eleições municipais.

O ministro Marco Aurélio Mello demonstrou ontem preocupação com o cumprimento dos prazos.

"Concordei com o calendário partindo da premissa de que o revisor tinha conhecimento e concordava, senão não teria somado meu voto aos demais. Por mim, já teríamos começado antes, mas dependemos do revisor", disse ele, que minimizou a pressão sobre Lewandowski.

"A intenção do ministro Britto foi de alertá-lo."

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

BC dos BCs alerta para alto endividamento do Brasil

Após anos de rasgados elogios, o informe anual do BIS, o Banco Central dos Bancos Centrais fez duras críticas à economia brasileira. O relatório avalia que o caminho escolhido pelo País pode levar a economia global a nova crise financeira, informa Jamil Chade. O BIS levanta a hipótese de que o endividamento já está em "nível perigoso" e precisa mudar com urgência.

BCs admitem que mundo fracassou ao lidar com a crise

BIS alerta que o mundo precisará de 20 anos para voltar a ter taxas de dívida que registrava antes de setembro de 2008

Jamil Chade

BASILEIA - O Banco de Compensações Internacionais, BIS na sigla em inglês (Bank for International Settlements), alerta para a desaceleração da economia mundial e denuncia o fracasso coletivo de governos em darem uma resposta à crise que já atravessa seu quinto ano.

Sem uma mudança radical na estratégia, a entidade alerta que o mundo precisará de 20 anos para voltar a ter a mesma taxa de dívida que registrava antes da quebra do Lehman Brothers, em setembro de 2008. Para a entidade, a ação tomada por americanos e europeus em injetar trilhões de dólares nas economias são apenas "medidas paliativas". Já a crise europeia está ainda distante de ver uma solução.

A avaliação é um atestado da incapacidade de BCs, governos e bancos em superar a crise que já entra em seu quinto ano. Hoje, o mundo afunda em dívidas, bancos vivem uma crise das mesmas proporções de 2008 e a economia está em recessão. "A confiança na recuperação econômica sofreu uma erosão", alertou anteontem Jaime Caruana, diretor-gerente do BIS. "A economia mundial vive um momento de fragilidade. Os problemas têm raízes profundas e exigem soluções fundamentais", disse.

Cinco anos depois da eclosão da crise financeira internacional, o cenário não mudou: os desequilíbrios continuam profundos, bancos estão alavancados de forma ameaçadora, a dívida pública explodiu e BCs estão sobrecarregados. Esse círculo vicioso afeta a todos e nenhuma das reformas prometidas pelo G-20 jamais entraram em vigor plenamente.

No passado, esse mesmo relatório do Banco de Compensações Internacionais já alertava que uma crise de grandes proporções estava por eclodir. Mas, num momento de pujança global, autoridades optaram por ignorar os sinais de alerta.

Legado. Agora, a avaliação tida como referência é clara: o legado da crise de 2008 ainda não foi superado e não existe, por enquanto, uma perspectiva de um crescimento sustentável.

"As metas de um crescimento equilibrado, políticas econômicas equilibradas e um sistema financeiro seguro nos eludem", diz o informe. O presidente do BC francês, Christian Noyer, confirmou o tom pessimista: "ainda não conseguimos criar um entorno financeiro estável".

Não por acaso, as previsões de recuperação deram lugar à constatação de que a crise não acabou. 2012 começou com alguma esperança. Mas a atividade econômica caiu no segundo trimestre, com uma recessão na Europa, problemas nos Estados Unidos e uma marcada desaceleração na China, Índia e Brasil.

Para superar a crise, o BIS faz três recomendações: os bancos precisam reconhecer suas perdas e recapitalizar, os governos precisam lidar com suas dívidas, assim como os setores privados.

Para o BIS, os BCs agiram de forma decisiva para evitar o que seria uma Grande Depressão. Mas alerta que aqueles que esperavam por soluções fáceis continuarão decepcionados, pois elas não existem.

Segundo ele, os BCs não podem dar uma solução a dívidas e não mede críticas à injeção de trilhões de dólares nos bancos, como forma de garantir liquidez, alertando que a medida apenas perpetua os problemas dos bancos. "Isso só faz ganhar tempo", disse Caruana.

Reformas. Mas governos terão de dar uma solução e a injeção seria a prova da incapacidade de governos em agir. Para Caruana, a falta de crescimento não é resultado de falta de estímulos. Mas sim falta de reformas. "Governos estão arrastando seus pés e ajustes estão sendo adiados", alertou.

Os BCs, segundo a entidade, não resolverá nada e toda essa injeção trilionária é apenas um "paliativo". A liquidez só voltará quando bancos forem saneados e isso só ocorrerá quando houver um novo modelo financeiro que limite o risco.

O único feito que os BCs conseguiram até agora foi incrementar o risco de uma nova crise. A ação os deixou vulneráveis, distorceu os mercados e afetou os emergentes. Pior, afetou sua credibilidade.

Retomada. Para voltar a crescer, a economia mundial ainda precisa dar uma solução ao desequilíbrio que apenas se aprofunda, com emergentes e Ásia acumulando reservas recordes.

Os governos asiáticos tem hoje US$ 5 trilhões em reservas, a metade do volume mundial. US$ 3 trilhões estão na China. Já o Brasil tem hoje reservas acima da própria Europa, com mais de US$ 360 bilhões. Na avaliação do BIS, só quando esta situação estiver resolvida é que outras economia voltarão a crescer.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Bancos facilitam renegociação de dívida atrasada

Os altos e resistentes índices de inadimplência no estão fazendo com que bancos, varejistas e operadoras de cartão ofereçam condições melhores para os clientes quitarem dívidas em atraso. O parcelamento pulou de três para 12 e até 24 meses. Multas e taxas têm sido zeradas. Na Suíça, representantes dos bancos centrais alertaram para o alto endividamento no país.

Em busca do crédito perdido

Ao renegociar dívidas atrasadas, instituições financeiras alongam prazos e zeram multas de clientes

Paulo Justus, Roberta Scrivano

A nova escalada da inadimplência e o aumento do endividamento das famílias levaram bancos, varejistas e operadoras de cartão de crédito a flexibilizar as condições para recuperar o crédito em atraso. Vale um pouco de tudo: de prazo mais longo para o pagamento até a extinção da cobrança de multa ou de outras taxas, num movimento que só encontra paralelo na época do Plano Collor, quando a economia entrou praticamente em colapso depois do confisco da poupança. A taxa de inadimplência das pessoas físicas chegou a 7,64% em abril deste ano, acima dos 6,12% registrado no mesmo mês do ano passado, mostram dados do Banco Central (BC).

Segundo profissionais de mercado, o parcelamento das dívidas, que antes era de no máximo três meses, passou a ser de 12 vezes na média. Mas há casos em que o alongamento chega a 24 meses. Os juros de mora, de 10%, chegam a ser zerados em alguns casos. A mesma regra funciona no caso das multas, que antes equivaliam a 2% sobre o valor do débito.

- Nem na crise de 2008 houve tanta boa condição, talvez porque a perspectiva era de melhora mais rápida na inadimplência naquela época - afirma Jair Lantaller, presidente do Instituto Igeoc, que reúne 18 das maiores empresas de recuperação de crédito do país.

Ele acrescenta que esse movimento ganhou corpo nos últimos dois meses, com as notícias de novo repique dos índices de inadimplência.

As condições da renegociação variam de banco para banco. No Banco do Brasil, por exemplo, até meados de abril era cobrada taxa de 3% ao mês na renegociação a título de mora. Agora, essa taxa é de 2,4% mensais, diz Rodolfo Scheidemantel Neto, gerente de reestruturação de ativos do banco estatal.

- Isso muda de cliente para cliente. Mas conseguimos colocar essa taxa menor na renegociação por causa da nova conjuntura econômica e dos menores patamares da taxa básica (Selic) - explicou Scheidemantel Neto.

Taxa reduzida para quem foi demitido

Na Losango, financeira do HSBC e que também faz o serviço de cobrança, as regras de renegociação estão mais flexíveis de dois meses para cá. Se o motivo do atraso é a perda do emprego, a empresa promete oferecer melhor prazo ou taxa menos salgada. Hilgo Gonçalves, executivo-chefe da Losango, explica que a intenção da financeira é cada vez mais "buscar uma solução para cada tipo de cliente".

- A política de reparcelamento de dívidas pode ser feita em até 24 meses. Como exemplo, podemos citar um consumidor em atraso de até 180 dias, que na Losango recebe desconto nos encargos de até 75% e o novo parcelamento em um prazo de até 18 meses com taxa de 1% ao mês - conta ele.

Um reflexo das melhores condições de renegociação é o aumento do índice de recuperação de crédito. De acordo com a Boa Vista Serviços, que administra o Serviço Central de Proteção ao Crédito (SCPC), os registros retirados (quitados) de seu cadastro cresceram 15,9% nos primeiros cinco meses do ano, enquanto a entrada de novos inadimplentes subiu 12% no período.

- Os números se inverteram neste ano. Em 2011, o número de inclusão nos registros foi maior que a retirada: cresceu 22,4%, enquanto a retirada de cadastro negativo teve alta de 18,4% - diz Flavio Estevez Calife, economista da Boa Vista Serviços.

Mesmo com facilidades extras, tudo indica que a queda da inadimplência será mais gradual neste ano do que em outros períodos. Diferentemente da crise iniciada em 2008, em que a inadimplência foi causada por uma abrupta escassez de crédito na economia e depois caiu rapidamente quando o fluxo financeiro retornou, o novo patamar de calote foi causado pela expansão, por vezes desordenada, do crédito. Tanto que o Ministério da Fazenda está desenhando um pacote de medidas que deve ser batizado de "reestruturação da inadimplência". Embora o Planalto não abra os detalhes, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, declarou em uma audiência no Senado na segunda quinzena de maio que ocorrerão alterações nos sistemas de portabilidade de crédito, o que ampliaria a concorrência entre os bancos e reduziria ainda mais as taxas.

- Muitas pessoas que não tinham condições de se endividar tomaram empréstimos, o que gerou a massa de inadimplentes em 2011 - diz Luiz Rabi, economista da Serasa Experian.

O presidente do Igeoc diz que, além da perspectiva de uma maior demora para a queda dos índices de inadimplência, o próprio fato de o número de pessoas com mais de uma dívida ter crescido criou uma espécie de corrida para conquistar o inadimplente.

- Uma pessoa que tem duas dívidas com condições diferentes vai dar preferência para quitar aquela que oferecer melhores termos - afirma.

Apesar do nível de inadimplência ter crescido, o calote medido pelo Banco Central ainda não chegou ao nível mais alto. A taxa que mede os empréstimos com mais de 90 dias em atraso da pessoa física, e que chegou a 7,64% em abril deste ano, ainda está distante do pico de 8,54% atingido no auge da crise econômica, em maio de 2009.

- Hoje, o spread bancário é calculado para cobrir uma taxa de até 11% de inadimplência. Por isso, há tanta gordura para se queimar sob a forma de melhores condições de renegociação - diz Altamiro Carvalho, economista da Fecomercio-SP, lembrando que a queda dos juros também favorece.

Entre as modalidades de crédito, a situação é grave no financiamento automotivo. Em abril, a inadimplência atingiu 5,86%, o maior nível da série histórica do BC, que começa em 2000.

- A inflação reduziu o poder aquisitivo e a inadimplência subiu, mesmo com o desemprego menor - diz Décio de Almeida, da Associação de Financeiras das Montadoras (Anef).

FONTE: O GLOBO

Perda de espaço revolta PT na Câmara

O grupo majoritário da bancada do PT na Câmara dos Deputados quer assumir o comando do partido nas eleições internas de 2013 com o objetivo pressionar o Palácio do Planalto a ampliar a participação do partido nos espaços e nas decisões do governo.

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, é um de seus principais alvos. Havia a expectativa de que a saída de Ricardo Flores levasse a Previ de volta à esfera de influência petista, o que não ocorreu. Credita-se a essa insatisfação, por exemplo, as recentes denúncias contra o BNB. O ministro da Indústria e Comércio, Fernando Pimentel, vê crescer sua cotação como o ministro capaz de destravar o governo, que esse grupo considera paralisado.

Fazenda alija sindicalistas e desagrada grupo majoritário do PT na Câmara

Caio Junqueira e Daniela Martins

BRASÍLIA - O grupo majoritário da bancada do PT na Câmara dos Deputados quer assumir o comando do partido nas eleições internas de 2013 com o objetivo pressionar o Palácio do Planalto a ampliar a participação dos partidos nas decisões do governo. Nesse sentido, as eleições municipais de outubro e, mais do que isso, a disputa pela presidência da Casa em fevereiro são considerados passos importantes para que esses parlamentares se firmem como uma relevante força política.

A principal característica desse grupo é a transversalidade das correntes internas petistas que aglutina. Há nele setores da majoritária Construindo um Novo Brasil (CNB), do presidente da Câmara, Marco Maia (RS), e do ex-presidente da legenda, Ricardo Berzoini (SP); a PT de Lutas e de Massas, do líder da bancada, Jilmar Tatto (SP); o Movimento PT, do líder do governo, Arlindo Chinaglia (SP); e a Mensagem ao Partido, do vice-presidente da CPI do Cachoeira, Paulo Teixeira (SP).

Juntos, desbancaram a hegemonia de outra ala da CNB na Câmara que vigorou na maior parte do governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Iniciada a era Dilma Rousseff, foram importantes no processo de imposição da cara do novo governo no Legislativo. O maior exemplo disso foram as derrotas de Cândido Vaccarezza (SP) no embate interno para presidir a Casa e, depois, quando foi preterido por Ideli Salvatti para a Secretaria das Relações Institucionais.

No entanto, o desinteresse de Dilma pela política e o alijamento não só do PT, mas da base em geral, do processo de tomada de decisões do governo e dos próprios espaços do Executivo no segundo e terceiro escalões fez com que esse grupo passasse a ser o receptor das críticas ao estilo da presidente, tão diverso do seu antecessor. A partir daí, foi um passo para passar a concordar com a maior parte dessas críticas. Hoje, a avaliação geral é de que o governo está parado e sua vitrine, o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), não anda porque as decisões, centralizadas, demoram a sair.

A insatisfação aumentou, contudo, depois que interesses petistas passaram a ser diretamente atingidos. O caso mais vistoso é o do Banco do Brasil, que acabou levando o ministro da Fazenda, Guido Mantega, a ser alvo preferencial, nos bastidores, dessa parte do PT. Com o aval de Dilma, ele intensificou a exclusão dos indicados de petistas históricos ligados ao sindicalismo bancário, como Berzoini; o tesoureiro do PT, João Vaccari; e o ex-secretário de Comunicação, Luiz Gushiken.

O grupo se uniu para protestar. A ira foi tamanha que Marco Maia chegou a abandonar sessão da Câmara em que seria votado o projeto que cria a previdência complementar do servidor público federal, prioritário para o Palácio do Planalto. Maia, porém, refuta essa acusação.

Semanas depois, a disputa no BB tomou proporções tamanhas que o Palácio decidiu substituir dois integrantes da cúpula do banco, o vice-presidente de governo do BB, Ricardo Oliveira, que vinha atuando, segundo petistas, contra o partido; e Ricardo Flores, então presidente da Caixa de Previdência dos Funcionários do Banco do Brasil (Previ), mais ligado ao PT. Havia a expectativa de que, com isso, houvesse uma repactuação de forças e retorno da influência partidária no banco. Só que não foi o que ocorreu.

Hoje, já estão em elaboração dossiês contra Mantega e seus indicados no BB. Fala-se até em uma "CPI do Banco do Brasil" para fragilizar, além dele, o presidente do banco, Aldemir Bendine. A artilharia aponta ainda para outras áreas de influência de Mantega, como o Banco do Nordeste (BNB). As denúncias contra o ex-presidente Jurandir Santiago, exonerado na semana passada após ser flagrado utilizando recursos do banco para benefício próprio, integram esse arsenal. Jurandir era indicado de Cid Gomes (PSB) e do vice-líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), adversário desse grupo petista. Mas foi avalizado por Mantega. Setores do PT asseguram que o ministro da Fazenda sabia das irregularidades de Santiago, mas nada fez para saná-las.

Desse modo, sob o argumento da inapetência técnica para gerir os tempos incertos que se vislumbram na economia, setores do PT só esperam a oportunidade para ajudar na queda de Mantega. Citam até um possível sucessor: o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Fernando Pimentel, petista ligado à burocracia interna da legenda.

No entanto, como não há qualquer sinal de que Dilma irá tão cedo atender a essa ala do PT e derrubar Mantega, o grupo estrutura um fortalecimento político para se cacifar ante suas reivindicações. Para as eleições de outubro, a meta é ocupar espaço com as poucas candidaturas já oriundas desse movimento. No Rio Grande do Sul, Marco Maia foi além e formou um grupo novo do PT, batizado de "Socialismo 21", que tem no deputado estadual Adão Villaverde, oriundo da CNB, seu candidato a prefeito de Porto Alegre. Em Belo Horizonte, o vice na chapa de Márcio Lacerda (PSB), deputado federal Miguel Corrêa (PT), também é ligado a esse grupo -e, não ocasionalmente, a Fernando Pimentel. No Recife, o secretário de governo de Pernambuco, Maurício Rands, ligado à Mensagem ao Partido, é outro em contato constante, assim como o governador da Bahia, Jaques Wagner.

Passada essa eleição, o grupo vai se voltar para a sucessão de Marco Maia. A expectativa é eleger algum deles, como Chinaglia, e colocar outro do grupo, como Tatto, na liderança do governo. Os argumentos para o rompimento do acordo com o PMDB de Henrique Eduardo Alves (RN) já estão elencados. Para ficar em alguns deles: é preciso verificar a "viabilidade" da candidatura; o acordo não envolve todos os partidos; o acordo é que PMDB e PT marcharão juntos, não necessariamente com uma candidatura pemedebista. Entretanto, o documento assinado em dezembro de 2010 pelos então presidentes das siglas, Michel Temer, pelo PMDB, e José Eduardo Dutra, pelo PT, é claro: petistas apoiarão um pemedebista no segundo biênio do governo Dilma.

A conquista definitiva seria substituir Rui Falcão na presidência do PT e fazer valer no governo os interesses contrariados. O próprio Marco Maia está disposto a cumprir esse papel. Só que há a percepção de que, sem o apoio do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do seu principal operador político, o prefeito de São Bernardo do Campo, Luiz Marinho, todo esse projeto cai por terra.

E aí é preciso estender o calendário político até 2014. A economia estará bem o suficiente para suportar a reeleição de Dilma, diante de um cenário partidário hostil a ela, tanto no PT quanto em seus aliados? Lula poderá utilizar esse movimento interno de modo a pavimentar seu retorno? Afinal, segundo um desses petistas diz: "Não há o PT de Dilma e o PT de Lula. Só há o PT de Lula".

FONTE: VALOR ECONÔMICO

Na festa de Serra, ataques a Haddad, Lula e PT

Na convenção que oficializou candidatura tucana em São Paulo, rival petista é chamado de inexperiente e mau gestor

Gustavo Uribe

SÃO PAULO . Com críticas exaltadas ao PT, sobretudo ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ex-governador José Serra foi oficializado ontem, em convenção municipal do PSDB, candidato à sucessão da prefeitura de São Paulo. Nos discursos aos cerca de três mil militantes, os líderes tucanos atacaram a gestão do governo federal na área da educação, a "falta de experiência" do pré-candidato petista, Fernando Haddad, ex-ministro da Educação e novato em campanhas eleitorais, e o que chamaram de "apetite avassalador" do PT, que, segundo eles, "obedece cegamente à vontade de seu dono", referência a Lula.

A cerimônia tucana teve as participações do governador Geraldo Alckmin (PSDB), do prefeito Gilberto Kassab (PSD) e dos senadores Aloysio Nunes Ferreira (SP) e Álvaro Dias (PR), além de dirigentes de PSD, PV, PR e DEM, siglas que compõem a coligação com o PSDB.

Em discurso duro, no qual elegeu a educação como tema principal, o candidato do PSDB defendeu a administração do atual prefeito e atacou o que chamou de "método gogó" das gestões petistas. Segundo ele, o governo federal prometeu, em 2007, construir 6,4 mil creches, mas, até fevereiro deste ano, entregou 221, "nenhuma em São Paulo". Serra disse ainda que, quando era prefeito, em vez de criar impostos, acabou com a taxa do lixo, criada na gestão da petista Marta Suplicy.

- Nesta campanha, vocês vão ouvir adversários falarem mal de São Paulo, que sequer a conhecem bem, que fizeram pouco ou nada por ela. Mas não passarão. Não estou aqui para brincar de governar, para experimentar ou para tentar fazer. Eu estou aqui para levar São Paulo pra frente - afirmou Serra.

As críticas ao pré-candidato do PT, um dos principais alvos dos ataques, foram capitaneadas pelo senador Aloysio Nunes Ferreira. Sem citar nomes, o parlamentar tucano chamou Haddad de um "candidato artificial", que "passeia como se fosse um urso amestrado, levado pela coleira". Segundo ele, para viabilizar a candidatura do PT, Lula "atropela" a democracia interna do partido e "não hesita em dilacerar as entranhas" da sigla.

As alfinetadas do parlamentar tucano sobraram também para a postura do PT às vésperas do julgamento do mensalão:

- Trata-se, em São Paulo, de barrar o apetite avassalador do PT, que não respeita nenhuma barreira, que não hesita em macular o Congresso Nacional com o mensalão. Não titubeia em tentar intimidar os ministros do Supremo Tribunal Federal. E se utiliza do Congresso Nacional, na CPI, para perseguir adversários políticos - disse Ferreira.

No mesmo tom, Álvaro Dias criticou a atuação de Haddad à frente do Ministério da Educação, que, segundo ele, deixa um legado de "mentira" e de "incompetência". O parlamentar tucano atacou a gestão dos recursos para as universidades federais e, no final de seu discurso, cometeu uma gafe. No papel de representante da direção nacional tucana, o senador paranaense trocou a sigla do PSDB pelo PMDB, que, no mesmo horário, realizava a sua convenção municipal na capital paulista. Alckmin também criticou Haddad, ao dizer que a capital paulista não é para "candidato do bolso de colete".

- São Paulo não é terra da rendição, mas terra da resistência. São Paulo não é terra do mandonismo, é terra da liberdade. São Paulo não é terra para candidato do bolso de colete, é terra do povo. José Serra é o candidato do povo - afirmou.

Esperado pela cúpula tucana, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso não compareceu ao evento, que contou com a participação do vereador Antonio Carlos Rodrigues (PR-SP), suplente da ex-prefeita Marta Suplicy no Senado. Ele discursou a favor de Serra. O PR, que integra a base do governo federal, anunciou no início do mês apoio ao PSDB na disputa paulistana.
- José Serra fez a maior revolução tributária na história da prefeitura de São Paulo. O PR não está aqui de graça, mas porque você é o melhor candidato que temos hoje - ressaltou o suplente de Marta.

O PSDB promoveu a sua convenção municipal ainda sem definição sobre o posto de vice. O presidente municipal do partido, Julio Semeghini, disse que o partido definirá um nome antes de sábado, data-limite para homologar as candidaturas. Os mais cotados são Alexandre Schneider (PSD) e Andrea Matarazzo (PSDB). Na cerimônia, o PSDB também divulgou o jingle da campanha de José Serra: uma versão do hit sertanejo "Eu quero tchu, eu quero tchá", da dupla João Lucas e Marcelo, cujo refrão é "eu quero Serra, eu quero é já!".

FONTE: O GLOBO

Sob as asas de Temer, PMDB terá candidato em SP após 16 anos

Felipe Frazão

Há 16 anos, o PMDB não lançava candidato próprio a prefeito de São Paulo. O último a tentar o cargo havia sido José Pinotti - que recebeu pouco mais de 100 mil votos e não passou do primeiro turno na disputa vencida por Celso Pitta em 1996.

A candidatura de Gabriel Chalita representa um projeto político do vice-presidente Michel Temer. Ele assumiu o controle do partido após a morte do ex-governador Orestes Quércia, no fim de 2010. Quércia só foi lembrado ontem nos discursos uma única vez: quando Chalita enumerou quadros do partido que governaram São Paulo.

Temer operou para Chalita trocar o PSB pelo PMDB, com a promessa de que ele seria candidato à sucessão de Gilberto Kassab (PSD). E fez o diretório municipal se autodissolver e dar plenos poderes a Chalita. A direção afastou quercistas ligados à gestão Kassab para não haver um racha na sigla. Tudo pelo sucesso eleitoral de Chalita, a quem Temer condiciona seu futuro político. Ao mesmo tempo que lança candidato, o vice de Dilma Rousseff tenta evitar rusgas com o PT - de olho nas eleições presidenciais de 2014.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

PSB prioriza projeto nacional no acordo em SP

Cúpula abre mão da vice na chapa de Haddad por aliança com PT na capital, considerada estratégica para as pretensões de Eduardo Campos em 2014

Christiane Samarco

BRASÍLIA - A cúpula do PSB isolou a deputada Luiza Erundina (PSB-SP), abriu mão de indicar o vice na chapa de Fernando Haddad e aceitou pagar o preço do desgaste do "vale tudo" na aliança com o PP do deputado Paulo Maluf (SP) em nome do projeto de poder do partido na sucessão presidencial. "A aliança está valendo porque a prévia de 2014 é agora e São Paulo é uma questão nacional, que não tem preço", diz o vice-presidente do PSB, Roberto Amaral, empenhado em derrotar José Serra (PSDB) na briga pela prefeitura.

Mais do que o pedido do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o que pesou na intervenção da direção do PSB para manter a parceria com Haddad foi a avaliação de que o enfraquecimento do PSDB em São Paulo, onde os tucanos são mais fortes, será útil em qualquer cenário. Serve ao plano A, de tomar do PMDB o posto de vice na chapa da reeleição da presidente Dilma Rousseff, e também ao plano B, de lançar o presidente do partido e governador Eduardo Campos (PE) candidato ao Palácio do Planalto.

Neste contexto, a aparente divergência de movimentos dos socialistas em São Paulo e no Recife, onde o PSB se distancia do PT para lançar candidato próprio na disputa municipal, retrata na verdade o projeto duplo de poder do partido. O próprio Roberto Amaral admite que a parceria com o PT paulistano é estratégica, mas não implica submissão antecipada ao projeto de reeleição da presidente Dilma.

"O que está decidido é que teremos eleições presidenciais daqui a dois anos e, seja qual for nosso comportamento lá na frente - em aliança com o PT ou com projeto próprio para presidente -, queremos evitar o retorno do neoliberalismo", afirma o vice-presidente nacional do PSB.

Aceno. Setores expressivos do partido defendem a tese de que, com Dilma forte para disputar o segundo mandato, o melhor caminho é manter a aliança com o PT, sobretudo diante da oferta já posta à mesa por Lula: a vaga de vice na reeleição. Um dirigente da legenda revela que Lula já teria avançado nas conversas com Eduardo Campos, acenando não só com a vice em 2014, mas também com o apoio à candidatura presidencial dele em 2018.

Mas outras lideranças do partido entendem que o melhor seria apressar uma candidatura presidencial mesmo com chances reduzidas de sucesso, para que Campos possa se reapresentar com mais chances em 2018.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Convenções em Vitória, Curitiba e Porto Alegre

Partidos lançam candidatos a prefeituras

Convenções partidárias oficializaram ontem os nomes de seus candidatos às prefeituras de Vitória, Curitiba e Porto Alegre. Na capital do Espírito Santo, PT e PSDB lançaram suas candidaturas. Ex-ministra da Secretaria de Políticas para as Mulheres, Iriny Lopes foi oficializada como candidata do PT, partido que governa a cidade há oito anos.

- Queremos governar uma cidade que enfrenta a questão da mobilidade urbana, que pensa a questão ambiental e se desenvolve sabendo que o morador precisa ter suas necessidades atendidas. É desafiador, mas assim devem ser as cidades do futuro: desafiadoras - disse Iriny.

O PSDB lançou o nome do ex-prefeito de Vitória Luiz Paulo Vellozo Lucas, que, como Iriny, destacou o desejo de "fazer uma cidade sustentável, verde".

- Quero fazer de Vitória a melhor capital do Brasil. O feijão com arroz é pouco para esta cidade - afirmou.

Em Curitiba, PDT e PV se uniram para formalizar a candidatura de Gustavo Fruet, presidente do PDT na cidade. Já o PMDB lançou o nome do ex-prefeito Rafael Greca, que venceu a disputa com o deputado estadual Stephanes Junior por 69 votos a 38.

Em Porto Alegre, o PT confirmou o nome de Adão Villaverde como candidato à prefeitura. O candidato a vice-prefeito na chapa será o Coronel Arlindo Bonete (PR).

FONTE: O GLOBO

Em Porto Alegre, candidato de Yeda vence disputa com Marchezan

Wambert Di Lorenzo derrotou por apenas três votos de diferença um dos principais líderes da sigla

Combalido por disputas internas, o PSDB da Capital definiu ontem – com apenas três votos de diferença – o nome do seu candidato à prefeitura de Porto Alegre. Com apoio da ex-governadora Yeda Crusius, o professor Wambert Di Lorenzo derrotou o deputado federal e presidente estadual do partido, Nelson Marchezan Jr., depois de uma semana marcada por embates públicos e acusações mútuas.

O racha refletiu-se nas urnas: Wambert obteve 56 votos e Marchezan, 53. Houve confusão. Às 17h, quando começou o escrutínio, a comissão eleitoral confirmou a contagem de 109 cédulas. Uma hora depois, ao anunciar o vencedor, corrigiu o número para 110.

Embora não altere o resultado, a indefinição irritou os defensores de Marchezan. Insatisfeita com a apuração, a advogada do deputado, Camila Tagliani, ameaçou pedir a recontagem das cédulas pela executiva nacional da sigla – o que pode ocorrer ainda esta semana.

– Queremos ter certeza de que não houve nenhum erro – disse Camila, rodeada por partidários exaltados.

Deputado se retira sem ouvir discurso do adversário

Indiferente ao burburinho, Wambert já discursava para os apoiadores. Fez questão de agradecer ao adversário e dizer que não representava "grupo A ou B". Não deixou, porém, de exaltar o governo de Yeda Crusius, que não participou da convenção. Em seguida, criticou a gestão do atual prefeito e candidato à reeleição José Fortunati (PDT), dizendo que Porto Alegre "está abandonada", e aproveitou para alfinetar a candidata Manuela D"Ávila (PC do B):

– Em que lugar do mundo o comunismo deu certo? Garanto que não será em Porto Alegre, porque nós vamos vencer.

Nos bastidores, correligionários ligados a Marchezan colocavam em dúvida a capacidade eleitoral do professor, classificado como "um desconhecido".

– Se ele fizer 2%, é muito. Vai ser um fiasco – disse um aliado de Marchezan.

Como se tivesse ouvido, Wambert usou os minutos finais do discurso para se defender da alcunha de "homem sem voto". Foi aplaudido.

– Não sou messias. Não vou mudar a vida de ninguém. Mas, juntos, sei que nós podemos fazer isso. Temos chances reais de ganhar e vamos ganhar – destacou o professor, que terá Marco Pinheiro (PRP) como candidato a vice-prefeito .

Marchezan, que diz ter sido vítima de um complô liderado por Yeda, saiu sem ouvir o desafeto. Por telefone, afirmou que, se o resultado for validado, irá respeitá-lo. Mas não prometeu mais do que isso.

– A ex-governadora venceu – reconheceu o parlamentar.

FONTE: ZERO HORA (RS)

Dia D para a candidatura do PT no Recife

Diretório nacional avalia hoje recurso de João da Costa, que pode se licenciar do partido.

João da Costa estuda se licenciar do PT

Prefeito tenta hoje o que pode ser a última cartada para tentar disputar a reeleição. Em caso de derrota, ele deve se licenciar do partido por tempo indeterminado

Bruna Serra

Preparado para o que deve ser sua última cartada na tentativa de conseguir viabilizar-se em seu partido como candidato à reeleição, o prefeito João da Costa chega hoje a Brasília para participar da reunião do Diretório nacional petista ciente de que são mínimas as chances de ser revertida a decisão da Executiva nacional, promulgada no dia 5 de junho, que nomeou o senador Humberto Costa como pré-candidato do partido às eleições municipais de outubro.

Ao contrário do que defendem alguns aliados mais radicais e até a própria base partidária, que vem respaldando a briga interna do prefeito, João da Costa não pretende recorrer à Justiça Eleitoral pelo direito ser candidato à reeleição. Mas também não deixará passar em brancas nuvens todo o desgaste a que foi submetido durante todos os seus quase quatro anos de gestão. A fim de manter distância do palanque de Humberto, o prefeito deverá se licenciar do PT por tempo indeterminado.

Assim, João da Costa não estará mais regido pelo estatuto partidário, o que o deixará à vontade para cuidar dos últimos meses de gestão e, principalmente, cruzar os braços quando o assunto for campanha eleitoral. Além disso, se ficar insatisfeito com a forma pela qual sua gestão será levada ao programa eleitoral de rádio e televisão, ele poderá, inclusive, subir no palanque adversário.

Ou seja, alguns dos capítulos mais dramáticos da novela que vive hoje o PT pernambucano ainda podem estar por vir, quando o juiz (eleitoral) apitar o início do jogo. Como disseram alguns comandantes nacionais do PT, a exemplo do próprio presidente nacional, Rui Falcão, por ser um militante histórico e orgânico no partido é que o prefeito não buscará levar a briga para fora das instâncias partidárias. Para quem pensou que fosse simples lhe tirar do jogo eleitoral, João da Costa está disposto a fazer, até o último dia de campanha, o PT se arrepender de ter lhe tirado da partida.

Decisão

A reunião de hoje do Diretório nacional petista que – ao menos na instância partidária – deve alijar de uma vez por todas João da Costa da disputa no Recife está prevista para começar às 10h. Diferentemente do que estava inicialmente previsto, o prefeito deve ter o direito de usar a palavra no encontro, mas não deve conseguir mudar sua situação. O colegiado que integra o Diretório é formado por 84 membros, mas é improvável que todos participem da reunião.

FONTE: JORNAL DO COMMERCIO (PE)

Em Recife, oposição ainda em compasso de espera

Paulo Augusto

Após um fim de semana de reuniões, os quatro principais partidos de oposição no Estado – DEM, PSDB, PMDB e PPS – ainda não se entenderam sobre como vão entrar na disputa pela Prefeitura do Recife, faltando menos de uma semana para o prazo-limite para realização de convenções partidárias (sábado, 30). Estão de acordo com a certeza de que se forem quatro pré-candidaturas será difícil fazer frente a Humberto Costa (PT) e Geraldo Júlio (PSB). Acreditam que uma ou, no máximo, duas candidaturas será o ideal, para que os votos não fiquem pulverizados. A questão é: quem vai abrir mão da candidatura?

Nos bastidores, se comenta que, entre os quatro pré-candidatos – Raul Henry (PMDB), Mendonça Filho (DEM), Daniel Coelho (PSDB) e Raul Jungmann (PPS) –, o tucano e o democrata são os que mais dificilmente vão abrir mão da disputa. Daniel vem trabalhando seu nome desde o ano passado e o PSDB acredita que chegou o momento de o partido ter candidato. Já Mendonça é o que vem demonstrando o melhor desempenho nas pesquisas de intenção de voto. É improvável que abra mão da disputa. Em prol da unidade, por sua vez, não deve ser difícil convencer Jungmann a sair da disputa. A dúvida está em relação a Raul Henry.

Na semana passada já foi especulado que o peemedebista poderia sair do páreo – fato que ele negou veementemente. Entretanto, essa vem se mostrando uma possibilidade cada vez mais concreta. O que os demais oposicionistas não sabem é, em se confirmando sua retirada, quem ele apoiaria. Se Daniel, Mendonça ou mesmo Geraldo Júlio.

FONTE: JORNAL DO COMMERCIO (PE)

PV lança Aspásia Camargo à prefeitura do Rio

Candidata defende regularização fundiária nas favelas e diz que coalizão de Eduardo Paes é grande demais para governar

Cristina Tardáguila

O PV oficializou ontem a candidatura da socióloga Aspásia Camargo à prefeitura do Rio. Em discurso de cerca de uma hora no auditório da Universidade Cândido Mendes, no Centro, a ex-vereadora e atual deputada estadual anunciou que suas metas são a regularização fundiária nas favelas, a mobilidade urbana e uma cidade mais sustentável:

- A linha mestra da minha candidatura será a regularização fundiária, que já começou no morro do Cantagalo. O indiano Muhammad Yunus, pai do microcrédito, e o peruano Hernando de Soto já mostraram que é possível fazer isso, que já há programas de regularização sendo aplicados mundo afora. Estamos dormindo no Rio, fazendo demagogia. Não podemos deixar que a cidade ultrapasse São Paulo no problema do trânsito e precisamos levar adiante a Agenda 21, na qual trabalhei por cinco anos e que foi retomada na Rio+20.

Aspásia lembrou ser a única mulher candidata à prefeitura e alertou para a suposta dificuldade que o prefeito Eduardo Paes terá, se reeleito, para governar com uma coalizão tão grande.

- Paes conta com o apoio de 19 partidos e já tem quase 15 minutos de TV, enquanto eu tenho um minuto. Mas pobre do prefeito que se elege apoiado por 19 partidos. Com tanta gente no balaio, a carroça não anda. Fica tão pesada, com tantos interesses contraditórios, que não anda.

Participaram do evento o deputado federal Alfredo Sirkis (PV-RJ), que, apesar de ter cochilado durante o discurso de Aspásia, disse que ela é "uma opção de qualidade para a prefeitura", e o jornalista Fernando Gabeira, que hesitou em posar para fotos junto à candidata. Em 2008, ele perdeu a eleição para Paes pela diferença de apenas 50 mil votos.

- Essas eleições são importantes - disse Gabeira, na saída do evento. - O Rio acaba de passar por uma conferência internacional que mostrou as qualidades da cidade, mas também a vulnerabilidade do Rio, sobretudo com relação à mobilidade urbana. Se não solucionarmos isso, os eventos no futuro estarão comprometidos.

FONTE: O GLOBO

Mais novidades na sucessão à prefeitura de Niterói no pleito 2012

Comte Bittencourt confirma que está na disputa
Soraya Batista

Jorge Roberto Silveira só define posição na próxima terça-feira e Comte aguarda decisão para anunciar sua pré-candidatura. PT compõe chapa com PV, apoiado pelo PMDB da cidade

A semana foi movimentada para o cenário político de Niterói. O deputado estadual Rodrigo Neves (PT), pré-candidato à Prefeitura de Niterói, teve definido o nome do vice de sua chapa, o ambientalista Axel Grael (PV), inaugurando uma nova parceria entre os dois partidos. O PMDB, que já havia anunciado apoio ao candidato, abriu mão de fazer a indicação em favor de Grael. Enquanto isso, a base aliada do governo continua à espera de uma posição do prefeito Jorge Roberto Silveira, que deverá anunciar na terça-feira se vai ou não disputar as eleições municipais.

O anúncio do nome de Axel para compor a chapa de Rodrigo já era esperado há algumas semanas. Apesar do PMDB ter a preferência na indicação do vice, o partido, junto com o PT, decidiu escolher o ambientalista para fortalecer a chapa, já que não havia nenhum nome de peso na legenda.

“Eu não tenho dúvida que com o Axel para vice a vitória se torna, sem dúvida alguma, uma realidade ainda mais concreta, não para o Rodrigo ou Axel, mas para o povo e a cidade de Niterói”, disse o candidato do PT.

A escolha de Axel também marcou o rompimento de uma aliança antiga entre o PV e o PDT. De acordo com o presidente do diretório municipal do partido verde em Niterói, Eurico Toledo, não existia mais debate com o governo, devido à indefinição do prefeito de vir ou não como candidato. O PV ocupa atualmente a Secretaria de Meio Ambiente, mas deve entregar a pasta nesta segunda-feira. Com a legenda, outros dois partidos se unem à aliança com o PT: o PL e o PTdoB, que atualmente ocupa a Subsecretaria do Programa Viva Idoso.

Surpresas – Enquanto a semana foi de decisões para o PT, para o PDT foi de surpresas e indecisão. Na segunda-feira, o Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro (TRE-RJ) acatou o pedido do Ministério Público (MP) e tornou o prefeito inelegível por oito anos. Segundo a sentença, ele não teria cumprido a determinação da Justiça Eleitoral, que obrigava a retirada de placas e cartazes que faziam referência a obras na cidade e também por um suposto abuso de poder. Jorge Roberto recorreu da decisão.

Na terça-feira, o prefeito se reuniu com os presidentes dos diretórios municipais dos partidos aliados para acertar apoio a um candidato indicado por ele, no caso de não disputar a reeleição. Na quinta-feira, Jorge teve encontro com os vereadores da base de sustentação do governo, porém apesar de ter prometido anunciar se iria ser pré-candidato, o prefeito adiou sua decisão para terça-feira.

No caso de uma possível desistência de Jorge o candidato mais provável para vaga de cabeça de chapa é o do deputado estadual Comte Bittencourt (PPS). O nome do deputado já apareceu em conversas entre o prefeito e os partidos aliados. Comte confirmou que está na disputa, porém ressaltou que “devemos esperar o Jorge tomar a decisão dele”.

O nome do deputado estadual Felipe Peixoto (PDT) também foi mais uma vez alvo de comentários, já que o prefeito se reuniu com ele para novamente convidá-lo a ser o vice de Comte, pedido outra vez recusado. Após a reunião, Felipe desabafou na internet que a população só deve vê-lo na disputa em 2016.

Renúncia – Outra mudança foi a desistência do deputado estadual Edino Fonseca (PR) de disputar a sucessão municipal em Niterói. Segundo o presidente do diretório municipal do partido, Augusto Nunes, Fonseca teria desistido da candidatura porque a aliança estadual PR-DEM não se repetiu no âmbito municipal. Sem essa aliança, Edino teria pouco mais de dois minutos de TV, tempo inviável em uma candidatura majoritária.

FONTE: O FLUMINENSE

As Vitrines - Chico Buarque

Maluf venceu!:: Ricardo Noblat

Lula está ruim da cabeça. Foi visitar Maluf em casa. Eu podia ir, mas ele não." (Sérgio Guerra, presidente do PSDB)

Que baita hipocrisia, essa, de criticar Lula só por ele ter selado com um aperto de mão o apoio do deputado Paulo Maluf (PP) a Fernando Haddad, o candidato do PT a prefeito de São Paulo. O que Lula fez de original? Como Maluf sobreviveria tanto tempo na política se não tivesse quem lhe estendesse a mão oferecendo ajuda ou pedindo socorro?

O senador Alfredo Nascimento (PR-AM) acabou "faxinado" por Dilma do Ministério dos Transportes sob a acusação de ter fechado os olhos a malfeitos. José Serra apertou a mão dele outro dia para celebrar a adesão do PR à sua candidatura a prefeito de São Paulo. Nascimento será muito diferente de Maluf? E o PR dele, do PP de Maluf?

Pontifica na Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano de São Paulo um afilhado político de Maluf. O cargo foi dado ao PP para recompensar seu apoio ao governo de Geraldo Alckmin. Por antecipação, Dilma cedeu a Maluf uma secretaria do Ministério das Cidades pelo serviço que ele prestará à candidatura Haddad.

Nas últimas décadas, Maluf foi tratado como a Geni da música de Chico Buarque de Hollanda: "Joga pedra na Geni! Joga pedra na Geni! Ela é feita pra apanhar! Ela é boa de cuspir! Ela dá pra qualquer um! Maldita Geni!". O tratamento só mudava às vésperas de eleições. "Vai com ele, vai Geni! (...) Você pode nos salvar! Bendita Geni!"

Maluf venceu. Talvez tenha faltado a Lula a exata dimensão do seu gesto de, contrariando ordens médicas para que permanecesse em casa, ir ao encontro de Maluf e trocar afagos com ele diante de fotógrafos. Para Maluf, que o exigiu, o gesto foi uma espécie de "mea culpa" dos políticos que sempre fingiram abominá-lo.

Em 1985, nos estertores da ditadura militar, Maluf encarnou o mal a ser esmagado. De um lado havia Tancredo Neves pelo PMDB, ex-governador de Minas Gerais, o candidato a presidente da República de todas as forças que se opunham ao regime. Do outro, Maluf, o candidato do regime que imaginava ganhar uma sobrevida.

Os dois candidatos travaram a peleja do bem contra o mal usando as mesmas afiadas armas. A mais eficiente: dinheiro para a compra de votos de deputados e senadores que formariam o Colégio Eleitoral destinado a escolher o sucessor do general-presidente João Figueiredo. A segunda mais eficiente: cargos para saciar o apetite dos eleitores.

Ficou registro do jogo pesado protagonizado por Tancredo e Maluf? Em termos. Quer dizer: ficou registro dos instrumentos de corrupção utilizados por Maluf para tentar se eleger. O processo de santificação de Tancredo quase se completou com a sua morte sem ter tomado posse do cargo de presidente. O cargo sobrou para o vice, José Sarney.

Aconteceu o que desde então? Quem mudou? Maluf? Dele se poderá dizer, com excesso de boa vontade, que supostamente mudou um tiquinho para melhor — à parte a roubalheira, é claro. Poucos políticos concorreram a tantas eleições como ele. Ganhou muitas, perdeu muitas. Ajustou-se à nossa democracia de fachada.

Quem mudou de verdade? Os políticos. Esses malufaram em grande estilo. Maluf segue na dele. Está onde sempre esteve. Pensa como pensava. Vale-se das mesmas práticas que lhe asseguraram mandatos. Em resumo: venceu o padrão de política que ninguém melhor do que ele representou tão bem nos anos 80.

O PT expulsou deputados que em 1985 votaram em Tancredo para presidente. De tão puro, o partido se recusara a participar da eleição indireta. O PT expulsou Erundina em 1992 porque ela aceitou ser ministra do governo de união nacional do presidente Itamar Franco, o sucessor do deposto Fernando Collor.

O encontro carinhoso de Lula com Maluf começou a ser desenhado quando Lula bebeu Romanée Conti na companhia do marqueteiro Duda Mendonça e, depois, justificou o mensalão como algo que todo partido faz. Nunca se ouviu Maluf dizer que seus companheiros de ofício seriam obrigados a engoli-lo um dia. Pois assim aconteceu.

FONTE: O GLOBO

Lula e a conseqüência maior do que a causa:: Wilson Figueiredo

O ex-presidente Lula acredita piamente ter sido dotado de poderes especiais e não faz cerimônia em apelar às fontes impuras de votos, enquanto desce a ladeira rumo ao terceiro mandato que lhe foge ao alcance.Considerando que a história não providencia a reparação que esperava receber em vida, Luiz Inácio atravessou a última fronteira _ que vem a ser o respeito aos cidadãos - sem considerar o que sua interferência introduziu na sucessão municipal de São Paulo, com a assinatura conjunta, dele e de Paulo Maluf, como avalistas de Fernando Haddad Uma parceria com sotaque árabe, sem nada a ver com a esquerda.

Não foi bom sinal o modo estabanado com que Lula deu um chega-pra-lá na candidatura Martha Suplicy a prefeita de São Paulo, para abrir espaço ao politicamente desastrado ex-ministro da Educação. A conseqüência foi pior do que a causa. Como as pesquisas não reconheceram no pretendente a capacidade de elevar além de 3% a intenção dos eleitores de elegê-lo prefeito de São Paulo, o ex-presidente Lula – por conta própria e risco alheio – não fez cerimônia. Bateu à porta de Paulo Maluf, encolhido politicamente pelas razões que a razão não desconhece, e acertaram um ajuste que parecia bom para ambos: a comunicação do apoio de Maluf e os votos de seus eleitores seria feita numa visita de Luiz Inácio Lula da Silva - com toda pompa e circunstância, como se viu no ato – a Paulo Maluf, posto em recesso remunerado em sua casa. Dito e feito.

O imprevisto foi a ocorrência do choque entre a escolha da candidata a vice-prefeito, Luiza Erundina, e, por parte de Lula, a aceitação da exigência de Maluf, para salvar a aparência do que lhe dizia respeito, de receber em casa a visita do candidato e do seu padrinho. O andaime construído por Lula, com material de procedência duvidosa, não agüentou o peso político do arranjo. Sem mais aquela, num rompante de indignação ética, a companheira de chapa de Haddad retirou sua candidatura e, para marcar posição e limitar o efeito negativo do ato, confirmou sua participação na campanha, mas sem pisar no palanque em que esteja Maluf.

Não se conhece o efeito da ressalva ética sobre o artífice da confusão, mas pode-se avaliar que não deve ter havido senão pelo avesso. Como de hábito, Lula nem se dignou a oferecer suas razões particulares. A própria Erundina enquadrou o episódio da visita, ao lancetar o tumor e garantir que podiam contar com ela na campanha, desde que garantida a completa autonomia crítica em relação a Paulo Maluf. A impressão é que, desta vez, Lula foi longe demais, e não teve como voltar. Moralmente, sem ter o que dizer, ficou devendo. Ela se retirou do episódio com saldo para olhar nos olhos os eleitores e os adversários. Lula terá de usar óculos escuros para se poupar dos efeitos da claridade.

Duas lições já foram extraídas do episódio: uma, singularíssima, é que Maluf vai para a margem humorística da nossa história menor, por ter sido mais esperto e embrulhado Lula para consumo dos seus adversários tradicionais. Outra, que permitiu a Erundina voltar ao palco e faturar lição de ética política às custas de quem se acha acima do bem e do mal por considerá-los eleitoralmente supérfluos.

A lição de moral política veio tarde, mas a tempo de mostrar que a democracia pode ser vulnerável mas não está perdida enquanto houver quem se disponha a dizer palavras apropriadas em momentos que merecem ser aproveitados. Não se trata de recuperar aquele Lula que começou lá atrás e já não é o mesmo quando está de saída, empurrado pelas circunstâncias e necessidades que ele deve considerar luxo supérfluo.

Também se pode medir o efeito histórico dos episódios negativos pelo outro lado. Quem vai capitalizar politicamente o retorno de Paulo Maluf, que fez Lula engolir o que dizia com sotaque de esquerda e se ajoelhar em penitência por um punhado de votos, foi Luiza Erundina. Uma lição exemplar de moral política. Sem alarde e em demonstração de respeito ao eleitor, desistiu do convite para ser vice–prefeita de São Paulo, pela questão ética implícita numa candidatura incapaz de manter-se de pé sem o apoio em ombros alheios.

Wilson Figueiredo é jornalista

FONTE: JORNAL DO BRASIL

Papéis do divórcio :: Melchiades Filho

Se Lula não tivesse saído em socorro de José Sarney e ajudado a esterilizar o escândalo dos atos secretos, a presidência do Senado teria caído nas mãos do PSDB em 2010, em plena campanha eleitoral. Imagine como a oposição teria explorado a denúncia de que o comitê dilmista produziu dossiê criminoso sobre o candidato tucano.

Não houvesse fechado acordo para reabilitar Fernando Collor, Lula enfrentaria, 20 anos depois do impeachment, dificuldades para achar outro nome disposto a se infiltrar na CPI do Cachoeira com o único propósito de atacar a imprensa.

Se o Planalto não tivesse disparado a ordem para abafar os múltiplos processos de corrupção e salvar o mandato de Renan Calheiros, provavelmente hoje o PMDB não estaria inteirinho na coalizão federal.

Todos esses movimentos tiveram propósito e sucesso. Na estratégia hegemonista de Lula, o custo de acolher ex-adversários é irrisório.

Até porque os abraços de Lula não raro sufocam. Vale lembrar que os sarneyzistas estão sendo aos poucos desalojados de seus redutos no setor elétrico federal, que o bunker collorido na Petrobras acaba de ser desmontado e que Renan está prestes a perder o comando da estatal de transporte de combustíveis.

Nada mais natural, portanto, que o ex-presidente não se incomode em afagar em público o ex-"sem vergonha" e ex-"trombadinha" Paulo Maluf, a fim de garantir 95 segundos a mais na propaganda diária de TV dos petistas em São Paulo. Nada mais natural, também, que ele não mostre nenhum pingo de arrependimento após a péssima repercussão -e até faça piada disso.

O episódio deixou claro, mais uma vez, que existe um divórcio entre a "realpolitik" e o eleitor, hoje entregue à apatia ou à aversão. Cabe esclarecer, porém, que esse divórcio interessou muito a Lula. Foi um trunfo para o PT, mais organizado e ligado ao Estado, crescer sozinho.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

A desonestidade dos políticos::Renato Janine Ribeiro

No Brasil, quando falamos em desonestidade dos políticos, entendemos que eles são corruptos e roubam dinheiro público. No Reino Unido, entende-se que eles - ou ele, um modelo em especial, Tony Blair - mentem à sociedade. No Brasil, o descontentamento se expressa em postagens mal escritas e em artigos repetitivos nos jornais. Na Inglaterra, o protesto resultou em literatura - e da boa. Conheço três livros a respeito, dos quais dois foram transpostos para o cinema. São "O Fantasma", de Robert Harris, publicado em 2007 e depois filmado por Polanski (como "O Escritor Fantasma"), e "A Pesca do Salmão no Iêmen" (2006), de Paul Torday, que virou o filme que acaba de estrear em nosso país, com o impossível nome de "Amor impossível", dirigido por Lasse Hallström.

Falta ir para o cinema o melhor desses bons livros, "The Uncommon Reader", de Alan Bennett (2007). O autor imagina que a rainha Elizabeth começa a ler e isso muda sua vida, tornando-a mais crítica dos fatos e ao mesmo tempo, talvez, uma pessoa melhor. O título é um jogo de palavras. Na Inglaterra, "common" é o plebeu. Por isso, a Câmara dos Comuns é eleita pelos plebeus, os não nobres, a maioria esmagadora da sociedade. A rainha é a mais "uncommon" das pessoas, porque está no auge da nobreza - mas a rainha leitora também se torna uma pessoa incomum, porque começa a pensar por si mesma. Daí que, no final do livro, ela observe que seu décimo primeiro-ministro, o governante marqueteiro, tem auxiliares ignorantes e que se orgulham disso. Nenhum deles tem cultura. Todos somente se preocupam em marketing.

Esse é o ponto comum das críticas a um primeiro-ministro que aparece nos três livros com outros nomes ou mesmo sem nome, mas porta os traços de Tony Blair. Ele não dá importância à verdade dos fatos, mas à sua aparência. Tudo vale, se puder ser aproveitado politicamente. De certa forma, isso já aparecia num bom filme que exalta Blair, que é "A rainha" (2006). Elizabeth II era apresentada no seu pior momento, quando ela e o marido não compreenderam o amor popular pela princesa Diana e, em vez de se associarem à enorme dor popular, esconderam os príncipes recém-órfãos. Blair, chamando Diana de "princesa do povo", soube capitalizar o sentimento popular. Mas em "A rainha", Stephen Frears mostra Blair como o líder que usa sua habilidade política para, na última cena, canalizar o apoio do povo - e da monarca - para a mais que necessária reforma na educação.

Numa chave mais leve, "Simplesmente Amor" (2003) apresenta um premier, representado por Hugh Grant, que se apaixona pela empregada do palácio e, por esse amor, também enfrenta o presidente dos Estados Unidos, que quer possuir a moça e, metaforicamente, o Reino Unido. É um filme agradável, uma comédia romântica. Mas ainda é um filme da lua de mel com Blair - a quem sugere que, afastando-se da liderança norte-americana, ele seria uma pessoa decente.

Esse Blair - que também conseguiu o acordo de paz na Irlanda do Norte, um feito mais que elogiável - desapareceu. Em "O Fantasma", ele se esconde nos Estados Unidos, para fugir ao ódio de seu povo e talvez também à justiça de seu país. É até suspeito de ser agente norte-americano, traidor portanto de sua pátria. Em "Uncommon reader", ele oscila entre a falta completa de cultura e a manipulação mais desbragada das pessoas. Em "Amor impossível", só está interessado em imagens que rendam dividendos políticos. A história é a mais cômica das três: um rico xeique iemenita se dispõe a pagar a fortuna que for necessária para criar e pescar salmões no Iêmen - um país que não tem a água nem a temperatura adequadas para criar esses peixes típicos de lugares frios. O governo britânico, desejoso de mostrar uma cooperação bem sucedida com um país árabe, seja qual for, obriga um cientista a entrar nesse projeto absurdo. E a assessora de imprensa do premier não recua diante de nenhum expediente para conseguir notícias favoráveis à imagem do governo.

Agora, a questão que cabe é: por que os britânicos convertem seu descontentamento com um governo que acabou mal em boa literatura, e nós não? Nos Estados Unidos o ótimo Philip Roth faz algo parecido, com a crônica, bem em filigrana, dos anos neoconservadores em seu país. Isso aparece no fundo de seus livros, como quando ele menciona o processo movido contra Clinton devido a seu romance com uma estagiária. Mas ignoro uma produção literária ou mesmo artística em outros países que se compare ao modo como os britânicos transformam os anos de seu descontentamento em literatura.

Como ficamos nós? Do período de FHC, restaram as tiras poéticas de Luís Fernando Veríssimo, "As cobras", dizendo que o então presidente estava se descuidando do "social" (que despencava da árvore, caía num rio etc.). Da gestão Lula, nada. Um escritor notável, que é João Ubaldo Ribeiro, não perdeu ocasião de atacá-lo em sua coluna nos jornais, mas suas crônicas não se alçam ao nível de seus romances, não indo além do plano de algum comentador habitual. Por que não temos uma literatura que trate, com qualidade, da nossa política? Sei que não é fácil. Parece que nos acostumamos mais ao discurso semi-difamador, em vez de nos dispormos a um texto criativo. Curiosamente, os romances britânicos que mencionei são muito críticos. Condenam Blair sem piedade, mesmo que nunca mencionem seu nome. São ferozes com o marketing político que, aliás, hoje é uma prática quase unânime no mundo. Só que eles criticam bem. São sofisticados. Dá prazer lê-los. Ficarão, creio eu, nas estantes dos livros que vale a pena ter, mesmo daqui a décadas.

Renato Janine Ribeiro é professor titular de ética e filosofia política na Universidade de São Paulo.

FONTE: VALOR ECONÔMICO

(Des)confiança :: Aécio Neves

Na profusão de dados sobre a economia, muitas vezes não se dá a necessária atenção a informações importantes, como as recentes pesquisas da Fundação Getúlio Vargas e da CNI, que pontuam a estagnação do Brasil e a descrença dos empresários da indústria.

A Sondagem de Investimentos da Indústria, da FVG, realizada em abril e maio, revela que a desconfiança atingiu o seu maior patamar desde 2009, quando a crise econômica e financeira mundial vivia o seu período mais agudo.

O Índice de Confiança do Empresário da Indústria, medido pela CNI, atingiu o seu menor nível desde dezembro -e caiu em 21 dos 28 setores pesquisados, principalmente nos segmentos de média e alta intensidade tecnológica e de maior valor agregado.

Ainda mais grave é descobrir o que está por trás desses índices. Com ênfase, eles apontam o que o governo finge não ver -que os efeitos da crise mundial chegaram ao país e se intensificam a cada dia. Sinalizam, igualmente, que o pirotécnico conjunto de medidas anunciadas fracassa em seu objetivo de conter a crise e estimular a economia, mesmo no curto prazo.

Explicitam, ainda, que no cenário atual não há espaço para bravatas e nem condescendência com diagnósticos equivocados, como os que tentam atribuir as dificuldades do país a questões conjunturais passageiras, ignorando olimpicamente a sua conformação estrutural.

Irrefutáveis, os números indicam que caminhamos para uma taxa de crescimento do PIB inferior aos pífios 2,7% de 2011. Por que?

Além da crise internacional, falta competência à política econômica em curso, pautada em ações pontuais e paliativas, para garantir competitividade à indústria frente aos seus concorrentes globais.

Também aqui os números são contundentes: dados da CNI, referentes a 2011 e que só se agravaram neste primeiro semestre, mostram que de cada cinco produtos vendidos no Brasil, 20% foram produzidos no exterior, o maior percentual desde 1996; e que 21,7% dos insumos utilizados pela indústria também vieram de fora.

É o resultado da inércia governamental diante de um cenário absolutamente hostil à competitividade da indústria nacional, submetida a uma carga tributária recorde no mundo, a encargos previdenciários superiores à média de países como os EUA, México, Alemanha, França e Reino Unido, entre outros gargalos que penalizam a produção.

Já passou a hora de percebermos que o presente e o futuro são faces indissociáveis da mesma moeda.

O país que seremos é o que estamos construindo. Vencer a crise que se agrava -e não perder outras oportunidades de desenvolvimento- requer reconhecer os problemas e enfrentá-los com realismo e coragem. Aqui e agora.

Aécio Neves é senador (PSDB-MG)

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Rio, sem mais:: José Roberto de Toledo

Durante a Rio+50, os participantes desfrutam uma temperatura entre 21ºC e 27ºC, em pleno inverno de 2042. Isolados em ambientes refrigerados, os poucos que assistiram à Rio+20, três décadas antes, não se dão conta dos dois graus a mais de temperatura. A grande maioria não tem nem como comparar. Acompanha a conferência através de seus avatares virtuais, a milhares de quilômetros de distância.

Para os que estão lá pessoalmente, pegar uma praia não é opção. A chuva é tão insistente que beira os 100 milímetros por mês - uma média que, relatam os mais velhos, era comum apenas nos meses de verão. Os paulistas, quando pegam a ponte-aérea (o trem-bala é ainda um projeto), dizem estar indo para a terra da garoa.

Trinta anos atrás, o noticiário a respeito da cúpula internacional sobre desenvolvimento sustentável pouco espaço ganhara na mídia estrangeira. Agora, chega às manchetes (um anacronismo ainda em uso) dos jornais que restaram. O aquecimento global não é mais uma hipótese em busca de confirmação, nem preocupação exclusiva dos que eram chamados de abraçadores de árvores. A pecha caiu em desuso, pela falta do que abraçar.

A rápida mudança do clima transforma o mapa econômico e epidemiológico. Áreas antes próprias à agricultura viraram pista de "sandboard". Doenças ditas tropicais infestam as zonas temperadas da Europa e Estados Unidos. Os mosquitos transmissores se adaptam às temperaturas cada vez mais altas. Com demanda dos ricos, a indústria farmacêutica, enfim, decide investir numa vacina contra a malária.

No Brasil, a Rio+50 disputa espaço com o noticiário catástrofe. As manchetes são para a seca inclemente no Nordeste. As chuvas estão 35% mais raras do que eram na época da Rio+20. A estiagem emenda o verão ao inverno, ano após ano. Na média, a temperatura no interior da Bahia, de Pernambuco e do Ceará subiu quase três graus em 30 anos. A vegetação da caatinga cede espaço a um grande areal - "uma oportunidade para o turismo de aventura", diz a propaganda oficial.

A quatro meses da vazante máxima, o Amazonas está no nível mínimo da história; as cidades, isoladas por fios d"água que não suportam a navegação. Os veículos anfíbios vendidos ao governo como solução do problema atolam no lodaçal em que se transformaram rios e igarapés. Desde que a chuva diminuiu em 1/3 no espaço de uma geração, chovem ideias progressistas para a região. Um candidato promete o PALF: Programa de Asfaltamento dos Leitos Fluviais.

(...) É 2092. A Rio+100 é cancelada. Chuvas torrenciais fazem desabar encostas e morros sobre o asfalto. As praias foram engolidas pelo oceano. Na maré alta, a avenida Atlântica é reivindicada pelo próprio. A Riotur tentar compensar o prejuízo vendendo a cidade como a Veneza do século 22, já que a original submergiu há décadas.

Em São Paulo, o calor abafado e úmido é definido, saudosamente, como "amazônico". O Tietê há muito saiu de sua calha e recuperou as várzeas do entorno. Em comum com a época da Rio+20, só a poluição do rio, que mais um governador promete limpar até o fim do mandato. De passagem pela São Paulo alagada, um carioca das antigas respira fundo e comenta: "Pelo cheiro, esta sim é a Veneza do século 22".

Na caatinga brasiliense, dois deputados paraguaios - um colorado e um liberal, os dois partidos que se alternam no poder desde o impeachment relâmpago de um presidente-bispo que era considerado um pai por muitos conterrâneos - prosseguem na sua missão de reconhecimento, cortando o território de sul a norte. Após atravessar o que antigamente era chamado de Chaco/Pantanal, chegam a Brasília. Visitam as ruínas do Estádio Nacional - exemplar da arquitetura copalina, que dominou as obras públicas pré-2014. Reza a lenda que só uma partida foi jogada no seu gramado.

Antes de seguirem para a savana amazônica - uma enorme reserva de caça que vai de Sarneyrama ao novo Estado de Tapajós - os paraguaios consultam arquivos digitais para entender a radical mudança da paisagem brasileira. O colorado lê o documento oficial da Rio+20, "O futuro que nós queremos", e conclui: "Eles não eram muito ambiciosos".

O liberal descobre outro texto divulgado à época da conferência. O relatório do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas previa chuvas decrescentes no Norte-Nordeste, e muito mais precipitação no Sul-Sudeste. "Tá tudo aqui." Ao que o colorado replica: "Ninguém leu. Se leu, não acreditou".

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO