quarta-feira, 20 de junho de 2012

OPINIÃO DO DIA - Dora Kramer: abusos

Digam com sinceridade o senhor e a senhora se, na essência, há diferença entre a pose de Lula ao lado de Maluf e Haddad agora e dos atos de defesa que, como presidente, assumiu em prol de protagonistas de escândalos?

Não estamos diante de nenhuma novidade. O que vemos é resultado do acúmulo de abusos cometidos nas barbas de uma sociedade que aceita tudo e ainda bate palmas.

Não reage nas urnas aos exotismos cada vez mais exóticos dos partidos que não se distinguem mais no mérito de suas propostas nem fazem questão de disfarçar a sanha em que se lançam a um vale tudo desmoralizante por um minuto a mais na televisão.

Pior que isso só a falsidade dos indignados de ocasião. Onde estavam nos últimos anos enquanto um presidente da República usava repetidas vezes do argumento do "todo mundo faz" para amenizar efeitos de denúncias que envolvessem qualquer um que pudesse lhe propiciar ganhos políticos?

Onde estavam quando esse mesmo presidente zombava da Justiça, menosprezava as instituições, desqualificava o Congresso com uma ofensiva de cooptação explícita como nunca se viu?

Alguns quietos, outros na linha de frente da defesa da política das "mãos sujas". Ora, uma aliança do PT com Maluf em São Paulo é mais um entre tantos outros atos de pragmatismo exacerbado e mistificação de resultados que fazem as normas da casa.

Está demais? Sem dúvida, mas já faz muito tempo que se passou da conta.

Dora Kramer, jornalista. ‘Quanto vale o show’. O Estado de S. Paulo, 19/6/2012

Manchetes de alguns dos principais jornais do Brasil

O GLOBO
Até Vaticano consegue esvaziar o documento final da Rio+20
E no G-20, o "Inexorável da Silveira"
Erundina sai, mas PSB e PT seguem com Maluf e Lula
Justiça, enfim, abre processo contra aloprados
TCU divulga lista de 7 mil inelegíveis

FOLHA DE S. PAULO
Rio+20: Crise posterga as principais decisões da conferência
PT perde Erundina e gera crise após se aliar a Maluf
Mundo vive a crise do "Inexorável da Silveira", diz Dilma

O ESTADO DE S. PAULO
Foto de Lula com Maluf faz Erundina desistir de ser vice
Brasil festeja acordo na Rio+20, mas sofre críticas
Petrobrás quer combustível 15% mais caro
Código Penal: Desafio aos tabus

VALOR ECONÔMICO
Acordo final posterga as decisões para 2015
Baixa meta para emissões de transportes
Inadimplência volta a crescer em maio
Erundina desiste e põe em crise aliança PT-PSB

CORREIO BRAZILIENSE
Delegado é preso no DF e delegada, afastada
CNJ apura ameaça de morte a juiz que prendeu Cachoeira
O mistério sobre os torturadores de Dilma
Maluf? Para Erundina, a hora é de sair
Justiça aceita denúncia contra nove "Aloprados"
Superfaturamento nas diárias do Senado na Rio+20
Canhedo lidera o ranking da dívida trabalhista no país

ESTADO DE MINAS
A vitória da impunidade
Um nome, um mistério
Rio+20: Texto final passa com pendências

ZERO HORA (RS)
Juro cai, mas bancos têm tarifas mais altas

JORNAL DO COMMERCIO (PE)
Transposição cada vez mais lenta
Juiz valida lista de eleitores da prévia do PT
Erundina retira nome da chapa em São Paulo

O que pensa a mídia - editoriais dos principais jornais do Brasil

http://www2.pps.org.br/2005/index.asp?opcao=editoriais

Foto de Lula com Maluf faz Erundina desistir de ser vice

Ex-prefeita se rebelou em razão da exposição pública de uma aliança que ela chamou de "constrangedora"

A deputada Luiza Erundina (PSB) desistiu de ser vice na chapa de Fernando Haddad (PT) à Prefeitura de São Paulo. Ela se rebelou depois que o ex-presidente Lula apareceu com o deputado Paulo Maluf para selar com o PP uma aliança que ela chamou de "constrangedora". Em reunião com a cúpula do PSB, Erundina teria dito que o problema não era a coligação em si, mas a "forma" como ela foi conduzida, referindo-se à exposição pública. "Ela disse que não se calaria, que não retiraria nenhuma das afirmações que fez", disse o presidente do PSB, Eduardo Campos. O PT avalia que a exposição de Haddad na TV e uma rápida escolha do novo vice vão abrandar a crise na campanha.

Erundina desiste de ser vice de Haddad e culpa forma como PT acolheu Maluf

Julia Duailibi, Fernando Gallo, Christiane Samarco e Eduardo Bresciani

A deputada e ex-prefeita Luiza Erundina (PSB) desistiu ontem de ser vice na chapa do pré-candidato Fernando Haddad (PT) à Prefeitura de São Paulo. A decisão ocorreu um dia após o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ir à casa do deputado Paulo Maluf, um adversário histórico, a fim de chancelar o apoio do PP aos petistas nas eleições. Com Erundina fora da sucessão, Haddad pode agora convidar o PC do B para ocupar a vaga da vice.

Erundina foi irredutível ao anunciar sua decisão em reunião em Brasília com o presidente nacional do PSB, o governador de Pernambuco Eduardo Campos, e outros dirigentes do partido.

Anteontem, depois de Lula e Haddad posarem para fotos ao lado de Maluf em São Paulo, a deputada afirmou que não aceitaria mais a aliança. A deferência de Lula a Maluf foi mal recebida por Erundina, que chegou a comentar com amigos a repercussão negativa nas redes sociais.

De acordo com participantes do encontro de ontem, ela disse que o problema não foi o acordo com Maluf, mas "a forma" como ele foi conduzido pelos petistas.

Erundina chegou a Brasília com a decisão tomada. Adversária histórica de Maluf, que foi seu sucessor na prefeitura paulistana, ela deixou claro que a sua permanência na chapa petista seria fator permanente de instabilidade política, pois não recuaria "um milímetro" dos ataques que já fizera a Maluf durante toda a sua carreira política.

"Ela disse que não se calaria, que não retiraria nenhuma das afirmações que fez", disse Campos ao relatar a conversa. A deputada, porém, mesmo fora da chapa de Haddad, fará campanha para o petista nas eleições.

"Desconforto". Logo depois que a aliança PT-PP foi tornada pública, na sexta-feira, Erundina passou a se diz "desconfortável" em fazer campanha ao lado de Maluf. Descartava, porém,a desistência. "Vou manter a decisão (de ficar na chapa), porque é decisão partidária", disse anteontem à Rádio Brasil Atual, instantes antes da divulgação da foto com Lula, Haddad e Maluf. Minutos depois de a imagem circular, ela mudou o discurso: "Se for por nomes, meu partido tem outros a indicar. Eu pessoalmente não vou aceitar. Vou rever minha posição", afirmou à Veja.com.

A aliança PT-PP foi fechada para garantir tempo de televisão a Haddad, ainda desconhecido da maior parte do eleitorado. A coligação vai garantir 1min35s em cada um dos dois blocos na propaganda eleitoral deste ano. Foi a primeira vez que os petistas receberam o apoio do PP no primeiro turno em São Paulo - nas disputas de 2002 e 2004, a coligação foi realizada no segundo turno.

Petistas alegam nos bastidores que Erundina foi avisada por Haddad e pelo vice-presidente do PSB, Roberto Amaral, sobre a iminência de coligação com o PP, antes mesmo de ela definir se aceitava o convite do PT.

Erundina foi chamada para integrar a chapa de Haddad na semana passada, por meio de um emissário de Lula, o vereador petista Carlos Neder. Em nenhum momento Erundina falou com o ex-presidente, que também não foi, na semana passada, ao evento em que seu nome foi lançado como vice, por estar se recuperando de intervenção cirúrgica.

A presença de Lula na casa de Maluf foi uma exigência de última hora imposta pelo deputado do PP para fechar a aliança com Haddad. O deputado chegou a ameaçar postergar o acordo, caso o ex-presidente não referendasse pessoalmente a união.

Vice. Sem alternativa a altura a oferecer, o PSB transferiu ao PT a responsabilidade de indicar o vice. "Uma expressão maior no PSB de São Paulo, como a Erundina, só tem uma", disse Campos.

A decisão da deputada deflagrou uma corrida contra o tempo no PT. Haddad telefonou ontem para Orlando Silva (PC do B), ex-ministro do Esporte, para abrir discussões sobre a indicação. Os dois devem conversar sobre o assunto nos próximos dias.

"Na verdade, ainda não tem uma aliança. Estamos conversando, trabalhamos com a hipótese de alguns cenários, e a possibilidade de participar da chapa majoritária é um fator decisivo", declarou Silva. Para o presidente do PC do B, Renato Rabelo, o partido trabalha agora para ter o apoio do PT em Porto Alegre, onde tem como candidata à prefeitura a deputada Manuela D"Ávila.

O próprio PT começou a trabalhar para pavimentar um eventual acordo com o PC do B, que já trabalham como o nome da deputada estadual Leci Brandão.

Esperança. A decisão do presidente nacional do PSB de abrir mão da vice com a saída de Erundina da chapa ainda não é referendada pelo PSB municipal. Os dirigentes locais do partido falam em tentar manter o posto.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

'Desistência é golpe na imagem da candidatura'

Historiador ressalva que militância, com espaço reduzido na sigla, pode ficar desanimada com a saída de Luiza Erundina

Gabriel Manzano

A saída de Luiza Erundina (PSB-SP) da chapa petista "é um golpe na candidatura de Fernando Haddad", afirma o historiador Lincoln Secco, autor de A História do PT. Se ela sai "cobrindo-se com o manto da indignação ética", então "a candidatura Haddad representa o quê?"

Mas o historiador alerta que a aliança do PT com o deputado Paulo Maluf (PP) - razão da saída de Erundina - não chega a surpreender. Pois "o PT vem desanimando sua militância desde os anos 1990, quando iniciou sua caminhada para tornar-se um partido da ordem, uma legenda meramente parlamentar". Essa militância, observa, "tem hoje um espaço muito reduzido dentro do partido".

Como o sr. avalia a decisão de Luiza Erundina de abandonar a candidatura Fernando Haddad?

É um golpe na imagem da candidatura de Haddad. Depois de aceitar ela decide sair, cobrindo-se com o manto da indignação ética. Ora, se ela encarna essa indignação ética, então a candidatura Haddad é o quê? É também um golpe contra o próprio partido dela, que se viu obrigado a abrir mão da candidatura a vice.

Qual o tamanho desse episódio nas mais de três décadas de existência do PT?

Não é novidade que o PT tenha apoio de políticos de direita. O vice na chapa de Lula, em 2002, e depois em 2006, era José Alencar, um empresário tido como direitista. E cabe lembrar que a Erundina apoiou essa chapa nas duas ocasiões. A propósito, ela própria desafiou o PT, ao qual pertencia, quando aceitou ser ministra de Itamar Franco nos anos 1990. Naquele momento, o PT era oposição.

A militância petista não se sente hoje um pouco órfã?

O PT vem desanimando sua militância desde os anos 1990. Aos poucos, ele foi se tornando um partido da ordem, meramente parlamentar. Abandonou suas origens, marcadas pela força dos movimentos sociais. Mas o partido tem um patrimônio que, desde a chegada de Lula ao poder, ele vem gastando. Ainda tem muito a gastar. Esse eleitor não vê alternativas à sua volta.

Ou seja, a militância perdeu seu papel?

Ela tem hoje um espaço muito reduzido no partido. É basicamente formada por funcionários, militantes profissionalizados que são dependentes de deputados e vereadores, uma burocracia partidária.

E o papel de Lula nisso tudo?

Surpreende-me que ele tenha voltado a fazer a "pequena política" dentro do petismo, coisa que tinha abandonado em 1989. Agora, o método que Lula empregou viola os métodos tradicionais da história do partido. Isso pode lhe custar caro.

Acredita que Erundina, aos 77 anos, foi embora porque preferiu cuidar de sua biografia?

É difícil dizer. Os políticos, em geral, vão até o fim da vida pensando no poder. A trajetória dela é a de uma política que passou de uma esquerda radical para posições moderadas.

Mas preservou a imagem de uma resistência a alianças.

Ela foi eleita para a Prefeitura numa época em que as alianças do PT eram muito restritas. Só os partidos comunistas a apoiavam. E o que ela fez, na ocasião, foi empenhar-se em ampliar esse leque de alianças.

Eram alianças com forças ideologicamente mais próximas.

O critério essencial para o PT, nesse tema, sempre foi outro: ele quer é a hegemonia - ou seja, ser o cabeça de chapa. Não importava tanto quem o estava apoiando.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Erundina sai, mas PSB e PT seguem com Maluf e Lula

A deputada Luiza Erundina (PSB) formalizou a decisão de não ser mais vice de Fernando Haddad (PT) na campanha para a prefeitura de São Paulo. Segundo dirigentes petistas e socialistas, ela sabia, quando indicada, que o PT costurava apoio com o PP de Paulo Maluf, mas decidiu abandonar a chapa após a divulgação da fotografia de Haddad ao lado de Lula e do ex-prefeito. O presidente nacional do PSB, Eduardo Campos, liberou o PT para a escolha do novo vice, mas afirmou que indicaria, se solicitado, outro nome de seu partido.

"Não tenho plano B", diz Haddad

Insatisfeita com a aliança do PT com Maluf, Erundina abandona a chapa para a prefeitura de SP

Júnia Gama, Fernanda Krakovics, Luiza Damé e Sérgio Roxo

BRASÍLIA e SÃO PAULO - Mesmo sob pressão de dirigentes de seu partido, a deputada federal Luiza Erundina (PSB) formalizou ontem sua decisão de sair da chapa do petista Fernando Haddad na eleição para a prefeitura de São Paulo, devido à aliança do PT com o PP de Paulo Maluf. Mais do que a aliança, que já era de seu conhecimento, segundo dirigentes do PSB, Erundina não gostou da superexposição da fotografia de Haddad, Maluf e o ex-presidente Lula selando o acordo.

O gesto de Erundina surpreendeu Haddad, que admitiu ontem não ter um "plano B" para a vaga de vice e caiu como uma bomba na militância petista, que se empolgara com a dobradinha. Haddad pretende aguardar a decisão do PCdoB, que deve anunciar apoio à sua candidatura, para escolher um novo nome. A deputada estadual Leci Brandão (PCdoB) passou a ser cotada. O PSB, que manteve o apoio ao petista e até prometeu participação de Erundina na campanha, estuda indicar a deputada federal Keiko Ota, mas sabe que terá dificuldade para emplacá-la, diante do desgaste causado pela crise.

Erundina não apareceu em público para formalizar sua decisão. O anúncio foi feito no final da tarde, em Brasília, pelo presidente nacional do PSB e governador de Pernambuco, Eduardo Campos, após uma reunião-relâmpago, de cerca de 20 minutos, dos dirigentes com Erundina.

- A Erundina só não vai estar na chapa. Ela ajuda mais na campanha estando fora, porque assim não vai se fazer desse episódio, a coligação com o PP, uma crise durante toda a campanha. Mas ela vai participar 24 horas da campanha se for preciso - disse Campos, insistindo que a permanência de Erundina como vice seria um ponto permanente de instabilidade.

Isso porque, acrescentou Campos, ela teria reafirmado "em caráter irrevogável" sua posição em relação a Maluf. No encontro, Erundina repetiu que o deputado do PP representa o "atraso e a falta de ética" e que seria constrangedor dividir uma campanha com ele.

Campos comunicou a Haddad que o PT poderia ficar à vontade para escolher o novo vice, mas que faria nova indicação se assim os petistas desejarem. No entanto, reconheceu que não tem outro nome à altura de Erundina, ex-prefeita de São Paulo:

- Uma expressão como Erundina no PSB de São Paulo, com a história política dela, só tem uma. Gostaria de ter várias Erundina no partido, mas não tenho.

"Digamos que não foi útil ao PT"

Anteontem à noite, Haddad anunciara que procuraria Erundina para uma conversa. Mas uma ligação de Eduardo Campos mudou seu ânimo.

- Particularmente, não gostei da decisão - disse Haddad. - Não tenho plano B.

Embora tenha afirmado que respeita os sentimentos de Erundina, Haddad não deixou de alfinetá-la. Disse que, na última sexta-feira, quando foi anunciada a chapa, as negociações com o PP já estavam avançadas:

- Já se sabia que era forte a inclinação do PP de anunciar apoio à minha candidatura. Não foi algo de surpresa para as pessoas - disse Haddad, que defendeu a aliança com o PP de Maluf. - Como um partido que apoia o governo Dilma pode não servir para nos apoiar no plano municipal? Não faz o menor sentido do ponto de vista da democracia moderna.

Já o presidente do PT, Rui Falcão, foi comunicado pelo vice-presidente do PSB, Roberto Amaral:

- Lamento. Ela seria uma pessoa importante para a campanha, mas respeito a decisão dela - disse Falcão, usando os mesmos argumentos de Haddad para justificar a aliança com Maluf. - Temos participação do PP no governo federal desde o início do governo Lula. Eleição municipal é assim. Temos uma aliança com o PP. Não queremos fulanizar o debate político.

O vice-presidente Michel Temer, que estava no exercício da Presidência da República, evitou, num primeiro momento, comentar a decisão de Erundina. Mas o peemedebista acabou elogiando a atitude da deputada:

- Erundina é uma deputada com opiniões muito consolidadas. (A saída) É louvável, como sempre foram louváveis as posições da Erundina. É um pessoa de opiniões firmes e expressa essa opinião e toma atitudes em função dessa opinião - disse Temer. - Digamos que não foi útil ao PT.

Na reunião que selou sua saída da chapa de Haddad, Erundina chegou com a decisão tomada, sem espaço para recuo, apesar do apelo de Eduardo Campos. A atitude de Lula, de tirar fotos com Maluf, desagradou à toda a cúpula do PSB, não somente a Erundina. Segundo um dirigente do partido, com aquela foto Lula teria quebrado todos os princípios com a luta política que Erundina representaria na chapa. O partido avaliou como desnecessária a ida de Lula à casa de Maluf.

- O PP estava à deriva, não precisava de um a esforço tão grande do PT para que Maluf apoiasse Haddad. Lula fez uma grande bobagem - disse ao GLOBO um dirigente do PSB.

Ex-presidente do PT, o deputado Ricardo Berzoini (SP) admitiu que estar de braços dados com Maluf é difícil:

- Militantes do PT também vão demorar a compreender, mas não podemos ter Maluf na base do governo federal e escondê-lo em São Paulo.

FONTE: O GLOBO

PT perde Erundina e gera crise após se aliar a Maluf

Socialista abandona vice de Haddad em protesto contra aliança com o ex-prefeito

Um dia após o encontro que selou o apoio de Paulo Maluf (PP) ao PT na disputa pela Prefeitura de São Paulo, a deputada Luiza Erundina (PSB), em protesto, deixou o posto de vice na chapa de Fernando Haddad.

Ela disse que não aceitava pedir votos com Maluf.

Erundina sai e agrava crise na campanha de Haddad

Ex-prefeita abandona vice em protesto contra aliança do PT com Maluf

PSB aceita saída e se mantém na coligação; pré-candidato defende união com PP e ouve cobrança de militante

Deputada Luiza Erundina (PSB) em ato em que foi anunciada aliança com Haddad (PT)

Bernardo Mello Franco, Diógenes Campanha, Márcio Falcão e Catia Seabra

SÃO PAULO, BRASÍLIA - Um dia depois da feijoada que selou o apoio do deputado Paulo Maluf (PP-SP), o pré-candidato do PT a prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, perdeu a sua vice. A deputada Luiza Erundina (PSB-SP), 77, abandonou ontem a chapa em protesto contra a aliança com o ex-rival.

A decisão agrava a crise na campanha petista, que passou a enfrentar cobranças de sua própria militância e terá que correr em busca de um substituto para a ex-prefeita.

Em reunião com a cúpula do PSB em Brasília, Erundina disse que não aceitava a ligação com Maluf, a quem acusou de corrupto e aliado da ditadura militar.

Ela reclamou das fotos do ex-prefeito ao lado de Haddad e do ex-presidente Lula, que articulou o acordo para ampliar o tempo de TV de seu afilhado em 1min35s.

Lula e o presidente do PSB, Eduardo Campos, deram aval ao rompimento. Disseram a aliados que a permanência da vice causaria mais problemas a Haddad que sua saída.

"Se ela permanecesse, seria crise todo dia. Ela seria sempre questionada sobre a presença de Maluf. Seria um ponto permanente de instabilidade", afirmou Campos.

A ex-prefeita disse ao portal G1 que deixa a chapa, mas vai "continuar apoiando a candidatura" de Haddad.

O petista acompanhou o encontro à distância e soube do desfecho por telefone. Ele lamentou a saída de Erundina, mas disse que ela já sabia da negociação com Maluf ao ser anunciada como sua candidata a vice, na sexta-feira.

"Estou muito confortável com o telefonema do Eduardo [Campos], embora lamente a decisão da companheira Erundina", afirmou Haddad. "Eu não gostei. Gostaria que ela permanecesse."

Ele disse não se arrepender da aliança com o ex-prefeito e repetiu o argumento de que o PP integra a base de apoio ao governo Dilma Rousseff.

"Como um partido que apoia o governo federal pode não servir para nos apoiar no plano municipal? Não faz o menor sentido do ponto da democracia moderna."

Antes de se reunir com Erundina, Campos consultou Haddad sobre a hipótese de retirar a indicação da vice. O petista disse que desejava a permanência dela e pediu ao aliado que a convencesse de aceitar o acordo com o PP.

A ex-prefeita ficou irredutível e reconheceu que sua permanência causaria novos problemas à campanha.

Haddad disse não ter um "plano B" para substituir a socialista. Só descartou um vice do PP de Maluf. À noite, eram cotados o advogado Pedro Dallari e a deputada Keiko Ota, ambos do PSB. Corria por fora o ex-jogador Marcelinho Carioca, suplente de deputado pela sigla.

O PC do B, que indicou a deputada estadual Leci Brandão, será consultado.

O vereador Juscelino Gadelha (PSB) lamentou a saída de Erundina, mas disse que a posição dela foi minoritária no partido. "Vamos fazer campanha com o Maluf, sem problema nenhum."

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Intelectuais ligados a PT se calam sobre aliança

Acadêmicos não fazem comentários sobre acordo entre Maluf e Fernando Haddad

Rodrigo Vizeu e Bernardo Mello Franco

SÃO PAULO - Intelectuais ligados ao PT silenciaram ontem sobre a aliança com o deputado Paulo Maluf (PP-SP) na eleição paulistana e as críticas que culminaram com a saída de Luiza Erundina da vice na chapa de Fernando Haddad.

Secretária da gestão Erundina na prefeitura (1989-1992), a filósofa Marilena Chauí se negou a falar: "Não vou dar entrevista, meu bem. Não acho nada [da aliança]. Nadinha. Até logo".

Também egresso da equipe de Erundina e hoje no governo federal, o economista Paul Singer defendeu a candidatura de Haddad, mas disse que não se manifestaria sobre o apoio de Maluf.

"Não tenho interesse em tornar pública qualquer opinião. Vai ficar entre mim e mim mesmo", afirmou.

Também não quiseram fazer comentários os intelectuais Antonio Cândido, Gabriel Cohn e Eugênio Bucci.

Já o sociólogo Emir Sader, da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), disse não ver novidade no apoio, uma vez que o PP é da base aliada federal.

"O fundamental é derrotar a "tucanalha" em São Paulo. Eu posso gostar ou não do Maluf, mas vou fazer campanha para o Haddad do mesmo jeito", disse.

No Twitter, ele criticou a saída da deputada do PSB da chapa: "A Erundina sabia do apoio do Maluf quando aceitou ser candidata a vice. Então, por que aceitou?"

TEMPO DE TV
O professor de sociologia da USP Ricardo Musse, que participa da elaboração do programa de governo de Haddad, disse que o tempo de TV do PP é relevante e que não tem importância a foto com o aperto de mão entre Maluf e o ex-presidente Lula, ao lado do pré-candidato do PT.

"É um espetáculo midiático que dura 24 horas", disse.

Musse argumentou que pelo menos desde 2002 o PT abriu o arco de alianças. "Maluf e [Fernando] Collor apoiaram Lula e apoiam Dilma. Não vi nada de inusitado."

Fundador do PT e fora do partido desde o mensalão, o advogado Hélio Bicudo disse que o partido "se deteriorou".

"Vejo com naturalidade [a aliança]. Aqueles que são iguais, que têm o mesmo estofo, se cumprimentam", afirmou Bicudo, que foi vice-prefeito na gestão de Marta Suplicy (2001-2004) e apoiou o tucano José Serra para presidente em 2010.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Justiça, enfim, abre processo contra aloprados

Quase seis anos depois do escândalo dos aloprados, nove envolvidos viraram réus e vão responder por lavagem de dinheiro e formação de quadrilha. Nas eleições de 2006, eles foram flagrados com mais de R$ 1 milhão para comprar um dossiê.

Justiça aceita denúncia contra nove aloprados

Petistas são acusados de negociar falso dossiê contra Serra, em 2006; investigações não provam ocorrência de crime eleitoral

Anselmo Carvalho Pinto

CUIABÁ . Quase seis anos depois do escândalo dos aloprados, o Ministério Público Federal denunciou, no último dia 15, nove pessoas por envolvimento na negociação de um falso dossiê contra o então candidato ao governo de São Paulo, José Serra (PSDB), na eleição de 2006. A denúncia foi recebida pela Justiça no mesmo dia, mas só ontem foi divulgada. As investigações, no entanto, não conseguiram chegar à origem de todo o dinheiro usado para a compra do dossiê e nem provar a ocorrência de crime eleitoral.

Gedimar Passos, Valdebran Padilha, Expedito Veloso, Hamilton Lacerda, Jorge Lorenzetti e Osvaldo Bargas, todos ligados ao PT, vão responder por crimes contra o sistema financeiro nacional, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha.

O caso veio à tona no dia 15 de setembro de 2006, quando a Polícia Federal prendeu o policial aposentado Gedimar Passos e o empreiteiro Valdebran Padilha, portando R$ 1.168.000 e US$ 248,8 mil, no hotel Ibis em São Paulo.

O dinheiro seria entregue aos empresários Luiz Antônio e Darci Vedoin, chefes da "máfia das ambulâncias". Em troca, a família Vedoin entregaria um dossiê contra Serra e concederia uma entrevista à revista "Istoé" com acusações ao tucano.

A grande dúvida na época das investigações, a origem do dinheiro, não foi desvendada na fase de inquérito e nem pelas novas diligências requisitadas pelo Ministério Público Federal. "Nem todas as respostas àquelas indagações foram obtidas, sobretudo no que se refere à origem integral dos recursos apreendidos", diz um trecho da denúncia.

As investigações conseguiram rastrear apenas parte das cédulas apreendidas com Valdebran. Uma fatia do dinheiro integrava um lote de R$ 15 milhões adquiridos pelo Banco Sofisa junto a uma agência do Commerzbank de Miami.

Com quebra do sigilo bancário, as investigações concluíram que o Sofisa fez uma operação de crédito com a corretora Dillon S/A, do Rio de Janeiro, que por sua vez revendeu os dólares para a Vicatur Câmbio e Turismo, de Nova Iguaçu (RJ).

O dinheiro foi da Vicatur para os aloprados por meio de diversos saques, realizados em nomes de laranjas, totalizando, "não por coincidência", conforme a denúncia US$ 248,8 mil, o mesmo montante em dólares apreendido com os aloprados no Hotel Ibis.

Fernando Manoel Ribas Soares, Sirley da Silva Chaves e Levy Luiz da Silva Filho também foram denunciados. Os dois primeiros eram sócios da Vicatur e o terceiro confessou ter arrecadado assinaturas de laranjas para os boletos de compra de dólares, em troca de R$ 2 mil, a pedido de Sirley, sua cunhada. Os três foram denunciados, mas o MPF ainda estuda pedir a suspensão do processo em relação a eles, algo permitido na legislação por se tratar de crime de menor poder ofensivo.

Apesar de entender que o dossiê iria favorecer a campanha eleitoral do então candidato petista ao governo de São Paulo, senador Aloizio Mercadante (PT-SP), os procuradores não enxergaram crime eleitoral. "Verifica-se a ausência de prova quanto à saída de recursos do caixa de campanha eleitoral, bem como a comprovação da existência de caixa dois", escreveram os procuradores. "Tal afirmação não passa de presunções, o que é insustentável para oferecimento de denúncia".

A família Vedoin não foi denunciada. Para o Ministério Público, as condutas de Luiz Antônio e Darci não podem ser enquadradas como crime, uma vez que a atuação se resumiu a negociar informações que eles mesmos possuíam. Só haveria crime, na opinião do MPF, se a família exigisse vantagem financeira de algum candidato do PSDB para não divulgar informações prejudiciais a ele. Neste caso, o crime seria o de extorsão.

FONTE: O GLOBO

Governo aumenta liberação de emendas parlamentares

Dos R$ 602 milhões empenhados neste ano, mais da metade foi liberada pelo Planalto nas últimas 2 semanas

Eugênia Lopes

BRASÍLIA - A pouco mais de três meses das eleições, a presidente Dilma Rousseff aumentou em 23,5 vezes o volume de empenho de emendas de parlamentares ao Orçamento. Os redutos eleitorais de parlamentares da base aliada foram os mais beneficiados com a promessa de liberação de verbas.

Na primeira semana de junho, o governo se comprometeu a liberar R$ 14,4 milhões de verbas de emendas. E entre os dias 8 e 15, o Planalto mandou empenhar R$ 324,3 milhões. Pelo levantamento feito pelo DEM no Sistema Integrado de Administração Financeira (Siafi), o governo federal empenhou até a semana passada R$ 602,2 milhões em emendas - o equivalente a 2,89% do total prometido pelo Planalto para este ano.

O empenho é a reserva do dinheiro para posterior liberação. Ele garante que a verba será paga à prefeitura e base eleitoral do deputado ou senador para tocar obras e projetos sociais. Pela legislação, o governo federal é proibido de liberar emendas nos 90 dias que antecedem as eleições. Este ano, esse prazo começa a contar a partir de 7 de julho.

Principal parceiro do governo no Congresso, o PMDB foi o partido mais privilegiado com empenhos: R$ 10,8 milhões, nos primeiros 15 dias de junho. Sétima bancada da Câmara, com 30 deputados e quatro senadores, o PSB do governador Eduardo Campos (PE) vem em seguida: vai receber R$ 4,9 milhões. Detalhe: o empenho foi feito depois que o partido bateu o martelo no apoio à candidatura do petista Fernando Haddad à Prefeitura de São Paulo. Já os parlamentares do PT foram beneficiados com o empenho de R$ 4,8 milhões de suas emendas.

Oposição. Os três partidos de oposição - DEM, PSDB e PPS - praticamente não tiveram emendas empenhadas. O DEM não teve a promessa de nem um centavo sequer de liberação de emenda de seus parlamentares em junho. Os tucanos conquistaram ínfimos R$ 1,8 mil, enquanto o PPS teve R$ 349,8 mil. "Os partidos de oposição foram discriminados no empenho de emendas. Quiseram castigar a oposição em ano eleitoral", reclamou o deputado Felipe Maia (DEM-RN).

Para o líder do PT na Câmara, Jilmar Tatto (SP), as críticas da oposição são exageradas. "O que existe, às vezes, é uma dificuldade operacional", disse. Ele afirmou que o fato de as emendas serem empenhadas não significa que as verbas serão utilizadas até as eleições, em 7 de outubro. "Mesmo com o empenho pouca coisa dá para fazer este ano."

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Em Porto Alegre, candidato de Yeda ameaça tirar Marchezan do páreo

Partido será última legenda de expressão nacional a definir sua candidatura em Porto Alegre

Juliana Bublitz

Rachado e fragilizado por embates internos, o PSDB será o último partido de relevância nacional a definir seu candidato à prefeitura de Porto Alegre. Marcada para domingo, a convenção da sigla na Capital acirra ânimos e promete dividir os 129 membros com poder de voto. No meio da briga, está a ex-governadora Yeda Crusius.

Desde o início do ano, em função das rusgas, o PSDB patina para emplacar uma candidatura. A indecisão levou o DEM, que chegou a declarar apoio aos tucanos, a integrar a chapa do prefeito José Fortunati (PDT).

Na origem da crise, está a guerra declarada entre os dois pré-candidatos, o professor Wambert Di Lorenzo, apoiado por Yeda, e o deputado Nelson Marchezan Jr., que se diz perseguido pela ex-governadora.

– Virou um briga pessoal. Duvido muito que os derrotados se rendam aos vencedores, e isso inevitavelmente vai acabar enfraquecendo o partido – lamenta o presidente do diretório municipal Mario Manfro.

Nos bastidores, a rixa entre os dois grupos vêm ganhando mais expressão do que a campanha para a prefeitura. Os apoiadores de Marchezan acusam Yeda – possível candidata a deputada federal em 2014 – de estar usando Wambert para enfraquecer o parlamentar. Com isso, ele teria a visibilidade reduzida junto ao eleitorado.

– No fundo, ela quer deixar o caminho livre para se eleger em 2014 – diz um integrante do diretório municipal.

Indignados, os aliados de Wambert rejeitam a hipótese e garantem que o escolhido, filiado há 22 anos à legenda, não é um mero fantoche.

– A candidatura foi indicada pelo Movimento Franco Montoro, que nasceu no PSDB gaúcho. Ele está longe de ser uma marionete. Tem brilho próprio – destaca o secretário-geral da Juventude do PSDB, Ramiro Rosário.

Em viagem, Yeda não foi localizada para comentar o assunto, mas já havia contestado o papel de suposta mentora da candidatura de Wambert. A negativa, porém, não convence Marchezan, que diz estar preparado para enfrentar a oposição. Apesar disso, seus apoiadores temem uma derrota.

– Não temos dúvidas de que o deputado é o mais indicado para a vaga e o mais preparado, mas parece que, infelizmente, essa opinião é minoritária – avalia o vereador Luiz Braz.

FONTE: ZERO HORA (RS)

Juiz valida lista de eleitores da prévia do PT em Recife

Sentença não afeta anulação da primária do Recife pela Executiva Nacional. Raul Henry já admite reavaliar candidatura.

PT: juiz valida lista da prévia

PT x PT -  João da Costa comemora decisão apontando que não houve fraude na prévia na qual derrotou Rands. Mas PT mantém Humberto

Bruna Serra

Faltando menos de uma semana para o julgamento do recurso que o prefeito João da Costa impetrou junto ao Diretório Nacional do PT, na tentativa de reverter a pré-candidatura do senador Humberto Costa a prefeito do Recife, uma decisão interlocutória, concedida ontem pelo juiz da 3ª Vara Cível da Capital, Francisco Julião, veio para prolongar o pitoresco enredo vermelho.

No início da noite de ontem, o magistrado decidiu manter a decisão liminar concedida há exatamente um mês pelo colega Nilson Nery, considerando que a lista de 33 mil filiados aptos a votar, apresentada pela Executiva municipal para a prévia petista, estava correta.

Na prática, a decisão judicial não tem, necessariamente, influência política e o senador permanece como o pré-candidato do partido nas eleições de outubro. “O juiz não validou a prévia e nem muito menos essa decisão interfere nas instâncias partidárias. Nada mudou”, assegurou o advogado do senador, Eduardo Coelho.

O processo movido na véspera da prévia, que aconteceu no dia 20 de maio e na qual João da Costa derrotou o deputado Maurício Rands, voltou à tona porque o ex-presidente do PT Dilson Peixoto entrou nos autos como terceira parte interessada, pedindo a anulação do processo, sob o argumento de que a prévia já havia sido anulada pelo partido. O pedido, no entanto, também foi negado e a ação movida pelos oito presidentes de zonais ainda terá o seu mérito julgado. Dilson também pode recorrer da decisão num prazo de 10 dias.

O acontecimento, porém, constrange o Diretório nacional do PT, que após dois dias de auditoria apontou falhas na condução da prévia e barrou a candidatura de João da Costa. Também se coloca como mais um empecilho para a malfadada unidade partidária, já que Rands, o ex-deputado João Paulo e o próprio Humberto afirmaram que a vitória por 533 votos de João da Costa havia sido fruto de “fraude”. “Fico feliz que tenha ficado claro que não houve nenhuma fraude. Vamos agora aguardar o julgamento do recurso (ao Diretório). Mas ficou provado o que eu sempre disse, que ganhei nas urnas, pela vontade dos filiados”, comemorou o prefeito.

O Diretório nacional, contudo, não costuma ver com bons olhos filiados que buscam soluções para imbróglios partidários na justiça. Ontem, Francisco Rocha, Rochinha, dirigente histórico do partido, condenou o posicionamento do prefeito. “Se fosse ele também não aceitaria a situação política colocada e iria recorrer. Mas nas instâncias partidárias, nunca no Judiciário”, ponderou. A expectativa do dirigente é que 90% dos 84 membros do Diretório compareçam ao julgamento do recurso do prefeito.

FONTE: JORNAL DO COMMERCIO (PE)

Em Recife, Raul Henry (PMDB) reavalia a candidatura

Débora Duque

O provável ingresso do PSB na disputa pela Prefeitura do Recife começa a produzir efeitos na oposição. Ao mesmo tempo em que se tornou consensual, entre as principais lideranças, a necessidade de haver uma redução do número de candidaturas do bloco – hoje, com quatro –, alguns pré-candidatos passaram a reavaliar sua permanência no pleito majoritário. Um deles é o deputado federal Raul Henry (PMDB).

Publicamente, ele já disse estar disposto a colocar sua candidatura na “mesa” e “zerar” o processo de preparação para a campanha, em nome da unidade do bloco oposicionista. Em encontro com aliados, o peemedebista não tem escondido sua preocupação com o “abalo” político que a nova “cartada” do governador Eduardo Campos (PSB) pode acarretar ao seu projeto majoritário.

Ele já alertou, inclusive, sua equipe de campanha sobre as chances de haver uma “mudança” no cenário. No núcleo que se reúne, sempre às segundas, com Raul, há integrantes que defenderam, anteontem, o recuo do prefeiturável. Uma das avaliações é de que não seria estratégico para o peemedebista capitanear um enfrentamento com possível candidato socialista, tendo em vista o processo de reaproximação que está em curso entre os dois principais líderes do PSB e PMDB no Estado, Eduardo e o senador Jarbas Vasconcelos. Entre os partidários de Raul, há inclusive quem sugira o alinhamento imediato com o governador.

Embora uma futura aliança entre as duas legendas nunca tenha sido descartada pelo próprio Raul, ele tem procurado afastar a possibilidade dessa composição acontecer já nesta eleição. O argumento é de que uma reaproximação política desta envergadura necessitaria de tempo para ser assimilada pelo eleitorado e poderia causar prejuízos a “imagem” cultivada pelo peemedebista.

Uma das saídas que estão sendo apontadas pelos próprios membros do partido seria a retirada de sua candidatura, mas com a permanência no palanque da oposição. Fora da linha de frente da campanha, ele evitaria o duelo direto com o lado socialista, mas deixaria o PMDB numa posição confortável para selar uma aliança com o PSB após a eleição.

Somado ao fator PSB, também estariam contribuindo para a reavaliação do ingresso de Raul na disputa o resultado da última pesquisa JC/IPMN, em que apareceu em quarto lugar, e o problema de saúde que, na semana passada, acometeu Jarbas, e poderia distanciá-lo ainda mais da campanha.

Questionado, Raul alegou que seria “incoerente” propor a reabertura do diálogo na oposição e não admitir a possibilidade de rever sua participação na disputa. Vale ressaltar que as hesitações coincidiram com os dias que sucederam à presença do vice-presidente da República Michel Temer (PMDB) no aniversário de Raul. Na ocasião, Temer reafirmou o apoio da cúpula nacional do partido à candidatura do aliado, mas insinuou que sua consolidação ainda dependia de “ajustes locais”.

FONTE: JORNAL DO COMMERCIO (PE)

Em Niterói, prefeito desiste da reeleição

Um dia depois de ser considerado inelegível para as próximas eleições, o prefeito de Niterói Jorge Roberto Silveira (PDT) desistiu da reeleição e vai anunciar apoio ao deputado estadual Comte Bittencourt (PPS), segundo um dos presentes à reunião de ontem com os presidentes dos partidos da base aliada.

Comte Bittencourt tinha abdicado da disputa na semana passada, depois que o presidente nacional do PDT, Carlos Lupi, declarou que não aceitava abrir mão de candidatura própria do partido na cidade.

Jorge Roberto tenta convencer o deputado estadual Felipe Peixoto (PDT) a ser vice na chapa encabeçada por Bittencourt. O pedetista já descartou essa hipótese e preferiu não comentar o assunto antes do encontro com o prefeito.

Na segunda-feira, o Tribunal Regional Eleitoral considerou o prefeito Jorge Roberto Silveira inelegível para as próximas eleições. A condenação foi por propaganda eleitoral antecipada e, se mantida, o atual mandatário de Niterói terá o direito político cassado pelos próximos oito anos.

FONTE: O GLOBO

Tarde em Itapuã - Vinicius de Moraes + Toquinho

Farsa histórica:: Merval Pereira

A foto que incomodou Luiza Erundina e chocou o país, do ex-presidente Lula ao lado de Paulo Maluf para fechar um acordo político de apoio ao candidato petista à prefeitura paulistana (o nome dele pouco importa a essa altura), é simbólica de um momento muito especial da infalibilidade política de Lula.

Sua obsessão pela vitória em São Paulo é tamanha que ele não está mais evitando riscos de contaminação como o que está assumindo com o malufismo, certo de que tudo pode para manter ou ampliar o seu poder político.

O choque causado por esse movimento radical pouco importará se a vitória vier em outubro. Mas se sobrevier uma derrota, a foto nos jardins da mansão daquele que não pode sair do país porque está na lista dos mais procurados pela Interpol será a marca da decadência política de Lula, que estará então encerrando um largo ciclo político em que foi considerado insuperável na estratégia eleitoral.

Até o momento, as alianças políticas com Maluf eram feitas por baixo dos panos, de maneira envergonhada, como a negociação em que o PSDB paulista fechava um acordo com o PP em busca de seu 1m30s de tempo de propaganda eleitoral.

A própria Erundina disse, candidamente, que o que a incomodara foi o excesso de exposição do acordo partidário.

Maluf, do seu ponto de vista, agiu com a esperteza que sempre o caracterizou, mas com requintes de crueldade.

Ao exigir que Lula fosse à sua casa para selar o acordo, e chamar a imprensa para registrar o momento glorioso para ele e infame para grande parte dos petistas, ele estava se aproveitando da fragilidade momentânea do PT, que tem um candidato desconhecido que precisa ser exposto ao eleitorado para tentar se eleger.

Lula, como se esse fosse o último reduto eleitoral que lhe falta controlar, está fazendo qualquer negócio para viabilizar a candidatura que inventou.

Já se entregara ao PSD do prefeito Gilberto Kassab, provocando um racha no PT talvez tão grande quanto o de agora, e acabou levando uma rasteira que já prenunciava que talvez o rei estivesse nu.

Agora, quem lhe deu a rasteira foi uma dupla irreconciliável, que Lula tentou colocar no mesmo saco sem nem ao menos ter se dado ao trabalho de conversar antes: Luiza Erundina, que um dia foi afastada do PT por ter aceitado um ministério no governo de coalizão nacional de Itamar Franco, agora se afasta do PT malufista.

E Maluf, que vinha minguando como força política, viu a possibilidade de recuperar a importância estratégica em São Paulo no pouco mais de um minuto de televisão que o PP detém por força de lei.

A sucessão de erros políticos que Lula parece vir cometendo nos últimos meses - a escolha de Haddad, o encontro com Gilmar Mendes, a CPI do Cachoeira, o acordo com Maluf - só será superada se acontecer o que hoje parece improvável, uma vitória de Fernando Haddad.

No resto do país, o PT está submetendo os aliados a seus interesses paulistas, fazendo acordos diversos para garantir em São Paulo uma aliança viável.

A foto de Lula confraternizando com Maluf tem mais um aspecto terrível para a biografia do ex-presidente: ela explicita uma maneira de fazer política que não tem barreiras morais e contagiou toda a política partidária, deteriorando o que já era podre.

As alianças políticas entre Lula, José Sarney, Fernando Collor e Maluf colocam no mesmo barco políticos que já estiveram em posições antagônicas fazendo a História do Brasil, e hoje fazem uma farsa histórica.

Em 1989, José Sarney era presidente da República depois de ter enfrentado Paulo Maluf no PDS. Ante uma previsível vitória do grupo de Maluf derrotando o de Mario Andreazza, Sarney rompeu com partido que presidia, ajudou a fundar a Frente Liberal (PFL) e foi vice de chapa de Tancredo.

Na campanha presidencial da sucessão de Sarney, Lula disse o seguinte dos hoje aliados Sarney e Maluf: "A Nova República é pior do que a velha, porque antigamente era o militar que vinha na TV e falava, e hoje o militar não precisa mais falar porque o Sarney fala pelos militares e os militares falam pelo Sarney. Nós sabemos que antigamente se dizia que o Adhemar de Barros era ladrão, que o Maluf era ladrão. Pois bem: Adhemar de Barros e Maluf poderiam ser ladrão (sic), mas eles são trombadinhas perto do grande ladrão que é o governante da Nova República, perto dos assaltos que se faz".

Na mesma campanha, Collor não deixou por menos: chamou o então presidente Sarney de "corrupto, incompetente e safado".

Durante a campanha das Diretas Já ,Lula se referiu assim a Maluf: "O símbolo da pouca-vergonha nacional está dizendo que quer ser presidente da República. Daremos a nossa própria vida para impedir que Paulo Maluf seja presidente".

Maluf e Collor tinham a mesma opinião sobre o PT até recentemente. Em 2005, quando Maluf foi preso e Lula festejou, e recebeu a seguinte resposta: "(..) se ele quiser realmente começar a prender os culpados comece por Brasília. Tenho certeza de que o número de presos dá a volta no quarteirão, e a maioria é do partido dele, do PT".

Já em 2006, em plena campanha presidencial marcada pelo mensalão, Collor disse que foi vítima de um "golpe parlamentar", do qual teriam participado José Genoino e José Dirceu, "enterrados até o pescoço no maior assalto aos cofres públicos já praticado nessa nação".

E garantiu: "Quadrilha quem montou foi ele (Lula)", citando ainda Luiz Gushiken, Antonio Palocci, Paulo Okamotto, Duda Mendonça, Jorge Mattoso e Fábio Luiz Lula da Silva, o filho do presidente.

São muitas histórias e muita História para serem esquecidas simplesmente porque Lula assim decidiu.

FONTE: O GLOBO

Lula malufou para Maluf lular ::José Nêumanne

Há nos afagos entre o ex-governador Paulo Maluf (PP-SP) e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT-SP), sob os olhares embevecidos de Fernando Haddad, mais filustria do que possa perceber nossa vã filosofia. Mas, por incrível que pareça, há também muita sintonia. Ou, como reza o título do romance famoso de Goethe, Afinidades eletivas. Como? - perguntará o leigo desabituado aos vaivéns da política, que o ex-governador de Minas e banqueiro Magalhães Pinto comparava com a mutação das imagens formadas pelas nuvens no céu. Ele mesmo comprovou sua metáfora fundando o PP com seu principal adversário mineiro, Tancredo Neves - um, ex-UDN, outro, ex-PSD -, aparentemente inconciliáveis. Os mais ingênuos dirão que não há traços ideológicos comuns entre o PT de Lula e o PP atual, que conta entre seus mais fortes dirigentes com um sobrinho do presidente que foi sem nunca ter sido, como a Viúva Porcina, Francisco Dornelles, também aparentado do caudilho gaúcho Getúlio Dornelles Vargas. Ora, ora, mas quem está interessado em ideias? Na política contemporânea contam cargos na máquina administrativa pública e segundos no horário da propaganda eleitoral gratuita no rádio e na TV. O PP ficou com um cargo; o PT, com mais 95 segundos para vender seu peixe fora d"água ao eleitorado escaldado, como sempre o foi o paulistano.

Maluf nunca deixou de ser o que dele dizia Lula nos tempos em que encarnava o furibundo João Ferrador, personagem das greves do ABC lideradas por ele nos jornais dos metalúrgicos nos anos 70 e 80 do século 20: um "filhote da ditadura". Prefeito nomeado pelos militares para administrar a maior cidade do País, o ricaço descendente de libaneses ganhou de seus admiradores a imagem do realizador, tocador de obras. O símbolo desse gestor que faz mais é o horrendo Minhocão, sem o qual hoje o trânsito paulistano não fluiria. Seus detratores, entre os quais os petistas que estão no poder federal e os tucanos que governam o maior Estado da Federação, o rotularam como símbolo da malversação do ensebado dinheiro do Zé Mané, que paga impostos e quase nada recebe em troca do Estado. Essa moeda de duas faces, não necessariamente excludentes nem sequer opostas, poderia ter a inscrição "rouba, mas faz" do velho Adhemar.

Mas Lula está longe de ser o demônio execrado pelos malufistas de antanho como um perigoso inimigo do mercado e da democracia, um sindicalista subversivo que liderava grevistas furiosos no ABC e se deixou, depois, politizar por antigos guerrilheiros que queriam mudar o sinal de uma ditadura de direita por outra de esquerda. Mais longe ainda está o PT, que o sindicalista fundou, de sua imagem original de partido ideológico comprometido com a mudança de "tudo o que está aí". Atolado até o pescoço num pântano de corrupção e desmandos em administrações municipais, estaduais e federal, o partido se deixou levar pelo canto da sereia da conciliação de seu principal líder e ocupou o bote salva-vidas ao lado de Jader Barbalho, Severino Cavalcanti e... Maluf.

Para sobreviver no campo minado da política partidária brasileira, Lula trocou os piquetes do ABC pelo toma lá dá cá franciscano, superando os aliados que combateu antes de cingir a faixa presidencial. Para tanto adotou, sem pejo, a retórica dos cultores da velha realpolitik tupiniquim. Nisso o milionário da madeireira foi um mestre valioso para o aplicado estudante egresso do miserável semiárido nordestino. Se não o superou em cinismo, tarefa reconhecidamente hercúlea, cultiva a caradura com eficiência ainda maior. Pilhado em algum passo em falso, aplica fintas que nem Mané Garrincha foi capaz de incluir em seu amplo repertório. E com muito mais credibilidade do que as tentativas de drible que seu mais recente aliado tem repetido para tirar o pé das armadilhas dos repórteres maledicentes e dos promotores incansáveis que vasculham as contabilidades de suas gestões. O dono do PP já foi muitas vezes alcançado pelos braços longos da lei, mas nessas ocasiões, até agora, escapou desse abraço escorregando como bagre ensaboado para o amplo território da impunidade do país da Justiça lerda e vesga. O senhor do PT lança mão de súditos que assumiram bandalheiras que chegaram pertinho de seu gabinete palaciano e se tem saído com habilidade de invejar Arsène Lupin, protagonista de populares folhetins policiais. Posto diante das evidências de que, no mínimo, não ignorava o que faziam seus auxiliares na fraude dita "mensalão", saiu-se com a patacoada tornada dogma de fé de que tudo não passara de "intriga da oposição".

É notório - e não deixa de ser ridículo - o truque chinfrim de marketing de Maluf de se apropriar de quase tudo o que pareça plausível de ter sido obra dele desde a posse de Tomé de Souza como governador-geral. Lula foi adiante em esperteza e criatividade ao criar o próprio slogan, "nunca antes na história deste país". Maluf sabia que nunca precisaria comprovar afirmações duvidosas. Lula construiu o próprio mito de forma a nem sequer ser questionado a respeito.

Maluf foi beneficiário do arbítrio. E Lula tornou-se dirigente sindical atendendo ao anseio de parte dos militares que topavam tudo para impedir a influência de Leonel Brizola, herdeiro presuntivo do inimigo número um das casernas, Getúlio Vargas, no aparelho sindicalista que o caudilho de São Borja forjou. Com as greves, o esperto sobrevivente da pobreza do semiárido passou a simbolizar o ideal do povo brasileiro cultivado pela esquerda que ganharia nas urnas a guerra perdida na tentativa de tomar o poder com as armas. Maluf foi escorraçado dos palácios e virou uma aposta perdida de volta da direita ao topo.

Neste ambiente em que governabilidade justifica barganha e pouca vergonha se confunde com pragmatismo, Lula malufou para Maluf lular, enfurecendo os tucanos que perderam a chance de preceder o PT no afã.

José Nêumanne, jornalista, escritor, editorialista do Jornal da Tarde

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

O PT no seu pior labirinto:: Rosângela Bittar

Se ganhar São Paulo, as dores cessarão, tramas fortes cerrarão as principais fissuras, instalando-se a expectativa de seguir adiante com o poder conquistado. Mas se perder, o PT carregará o estado febril de hoje para o pós-eleitoral e dificilmente logrará recompor suas forças para a complicada vida dos dois anos seguintes, o que fará do imponderável uma certeza.

Tudo, hoje, no PT, é extremo, da preocupação com o julgamento do mensalão e as possíveis condenações à interminável sucessão de erros, nos últimos dois meses, do comandante in pectore do partido, Luiz Inácio Lula da Silva.

Creem os benevolentes amigos que o ex-presidente parece ter uma similitude entre seu comportamento e aquele de fase lendária de Ulysses Guimarães, então presidente da Câmara, do PMDB e da Constituinte, quando, acometido de uma dosagem inadequada do medicamento lítio, falava sem freios. Lula está passando essa imagem aos seus próprios subordinados petistas, vai falando, vai fazendo, decisões em demasia, com uma ideia na cabeça e um índice de popularidade nas mãos, atropelando gregos e troianos. Embora tudo já tenha merecido o devido destaque, o caráter ilimitado das trapalhadas, com resultados negativos visíveis para o PT, renovam as preocupações.

Articulações de Lula resultam em fraturas

Com facilidade relaciona-se, em hostes petistas, três, quatro, dez erros políticos cometidos pelo antecessor de Dilma Rousseff, que peca sempre por excesso. Antes, José Dirceu, seu fiel executivo nesse quesito, formava as alianças, compunha o PT, acalmava os revoltosos, explicava a filosofia do pragmatismo do momento e o poder, no fim do túnel, a justificar os meios. Agora cabe a Lula mais que a figuração, é o ex-presidente quem sai a campo e embrenha-se em problemas.

Em Sergipe, Ceará, Pernambuco, já estão notórias as imposições que fez ao PT, desfazendo prévias, remontando coligações, destituindo e nomeando candidatos. Nessa pré-campanha passou por cima de Luizianne Lins, de Marcelo Déda, de João da Costa, e não se sabe se o candidato às eleições municipais, seja do PT ou de um dos partidos aliados, nessas capitais, será aquele que no momento o ex-presidente quer. Transitou como um trator no Nordeste, não se evidenciou ainda sua mão de ferro no Sul, mas espera-se que chegue lá a qualquer momento.

São Paulo, entretanto, é uma evidência de sua capacidade de provocar fraturas e fazer a terra arrasada.

Lula abusa do seu prestígio, é como se define no PT o voluntarismo do ex. A intervenção que fez foi um desastre, cindiu o partido e está longe de conseguir as condições para reunificá-lo.

Primeiro, ali haveria uma prévia entre quatro candidatos. Depois, com um pequeno toque, o ex-presidente tirou do caminho os dois que considerava mais fracos, Jilmar Tatto e Carlos Zarattini, dizendo a eles que o momento era para profissionais e não para fazer campanha de apresentação para daqui a quatro anos. Mandou uma funcionária do instituto que leva o seu nome avisar a Marta Suplicy, senadora da República, que o governo precisaria dela mais no Senado que na Prefeitura de São Paulo, portanto deveria ser afastar também.

Marta agradeceu mas não saiu. Aí Lula reforçou a ordem dando a missão à presidente Dilma. A presidente falou que precisava muito de Marta no Senado mas não ofereceu ministério. Com o apelo, Marta retirou sua candidatura a prefeita, mas saiu do episódio absolutamente melindrada.

Essa parte do enredo da candidatura do PT paulista é conhecida, mas não se tinha a dimensão do efeito das decisões de Lula sobre Marta. São marcas profundas.

A senadora passou a fazer ironias, mandou o candidato gastar sola de sapato, não compareceu ao lançamento de sua candidatura, resistiu ao cerco, inclusive quando apelaram ao seu ex-marido, e multiplicou por dois, com a aliança do PT com Paulo Maluf, o desdém que expressou quando Lula tratava de articular-se com Gilberto Kassab.

Marta já está fazendo algumas brincadeiras com a situação do PT na capital. Quando Lula, no lançamento de Fernando Haddad como candidato, mencionou os injustiçados do PT, entre eles Erenice Guerra, a subchefe da Casa Civil, ex-amiga íntima de Dilma, flagrada em tráfico de influência no palco de atuação mais próximo ao presidente, não só Marta, mas um grande número de petistas, não conteve a perplexidade.

Mais um registro da ilimitada capacidade de bagunçar o cenário foi o de Lula, no 'Programa do Ratinho', dizendo que se Dilma não quiser se candidatar à reeleição ele assume o encargo. O fato detonou de vez o delicado equilíbrio que vinha sendo preservado entre o PT de Dilma e o PT de Lula, e a presidente passou a ser alertada para o fato de que Lula está tentando antecipar sua sucessão, embaralhando mais ainda as cartas partidárias.

A maioria de suas interferências mais atrapalhadas, do ponto de vista do PT, teve o PSB do governador pernambucano Eduardo Campos no meio da articulação, e todos os ventos nesse partido, seja em direção a Lula, seja a Dilma, correm para 2014.

O que houve ontem, com a troca de Erundina no cargo de vice de Haddad, por causa da aliança com Paulo Maluf, foi apenas mais um episódio em que o ex-presidente não mediu consequências porque agiu, como sempre, sem ater-se às mudanças nas condições do tempo e da temperatura.

Fora das eleições, o ex-presidente está sendo considerado também algoz de boa parte do PT, principalmente do que se encontra no governo, ao lado de Dilma, enquanto age para tentar salvar seus amigos. Criou a CPI para atrapalhar o julgamento do mensalão, mas pegou a Delta, de profunda parceria com o governo federal, que pode ser atingido. A CPI como manobra diversionista do maior escândalo de corrupção no governo petista não funcionou, mas teve efeito contrário ao apressar o julgamento que até então poderia 'descoincidir' do período eleitoral, evitando prejudicar o maior partido do país. Agora todos temem os resultados do julgamento no Supremo Tribunal Federal, principalmente com o partido em luta eleitoral. A condenação está sendo, como nunca o fora, muito considerada no PT

FONTE: VALOR ECONÔMICO

O PT e Hosny Mubarak:: Vinicius Torres Freire

Ser petista em SP era, pelo menos, opor-se às ideias assemelhadas ao malufismo; não mais

Hosny Mubarak, um dia ditador do Egito, era ontem motivo de controvérsia nas manchetes eletrônicas da mídia internacional. Estaria "clinicamente morto"? "Totalmente" morto (isto é, morto e desligado da tomada)? Estaria mesmo vivo?

Que estivesse vivo era difícil de acreditar. A gente sabia que Mubarak era uma, digamos, múmia-viva faz tempo, um morto-vivo, sem alma, um fantasma que assombrava os egípcios.

Nestes dias de passamento final do ditador egípcio, as pessoas que ainda se ocupam de política no Brasil também discutiam ainda e talvez de uma vez por todas se o PT está clinicamente morto, totalmente morto, putrefato ou se está vivo demais. Vivaldino.

Sim, o debate surgiu devido à aliança de Fernando Haddad, candidato petista a prefeito de São Paulo, com Paulo Maluf e seu partido.

Apesar de procurado pela polícia no resto do mundo civilizado, francamente Maluf não difere lá muito da maioria dos tipos que lideram os partidos aliados do PT.

Em certos aspectos, Maluf, a cúpula do PMDB, os "capi" dos partidos da "base aliada", mensaleiros de escol, não são muito diferentes de gente que tomou a cúpula do PT a partir de meados dos anos 1990. A diferença, até agora, ao menos, está na ambição monetária, por assim dizer. Os casos documentados do pessoal do PT são mais modestos.

Mas mesmo as pessoas que pertencem ao minúsculo bloco restante da esquerda que merece levar esse nome já dão de barato que a coalizão liderada pelo PT e o PT estão cheios de adeptos da mensalagem e de variantes mais ou menos ambiciosas de amigos da liberalidade com o dinheiro público.

A discussão que sobrou, se tanto, é sobre os aspectos "simbólicos", "políticos", "culturais", ou, sabe-se lá, de o PT, em especial em São Paulo, em especial se tratando do PT de Haddad, chancelar o malufismo.

Parece ocioso, mas não custa lembrar o que foram um dia o malufismo e o PT.

Ser petista em São Paulo era, pelo menos, no mínimo, se opor ao pacote básico da assinatura malufista.

Isto é, era se opor à ditadura militar e seus restos. Maluf governou São Paulo por indicação da ditadura e foi o último candidato da Arena, o partido dos ditadores, a presidente pelo Colégio Eleitoral, contra Tancredo Neves.

Maluf banalizou a ideia de que polícia boa é polícia que mata. Implantou um projeto urbanístico que destroçou a cidade de São Paulo para sempre. É autoritário, no mínimo, sexista ("estupra mas não mata"), um populista de extrema direita, para resumir a sua opereta-bufa (pois tem trejeitos mussolinianos).

Sim, política é colocar as mãos na lama. Sim, além de levar uma secretaria no governo federal, Maluf não deve apitar no governo paulistano, caso Haddad vença. Sim, não importa muito que Haddad seja ou tenha sido um intelectual da extrema-esquerda (teórica) uspiana. Sim, Haddad não se equipara a Nicolas Sarkozy fazendo média com os fascistas do Front National.

Na prática, parece que nada disso tende a fazer muita diferença. Parece. Mas fica a impressão de que certas coisas, embora "clinicamente mortas", ainda não haviam sido desligadas da tomada. Haddad e Lula puxaram o fio.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Desafio ao Estado:: Dora Kramer

De um lado, a transferência - "por exposição junto à criminalidade" - do juiz Paulo Augusto Moreira Lima da 11.ª Vara Federal em Goiás para instância distante do processo.

Moreira Lima foi o responsável pela decretação da prisão de Carlos Cachoeira, pela autorização à Polícia Federal para interceptar telefonemas de suspeitos de integrar a quadrilha e pediu afastamento devido a ameaças diretas e indiretas a si e sua família.

A procuradora Léia Batista, que atua no caso pelo Ministério Público de Goiás, também se sente ameaçada e pediu ao Conselho Nacional de Justiça que tome providências para garantir-lhe a segurança.

De outro lado, as decisões do juiz Tourinho Neto, do Tribunal Regional Federal da 1.ª Região (Distrito Federal e Goiás, entre outros Estados), que provavelmente têm fundamentação jurídica não obstante deem margem a questionamentos por parte de seus próprios pares.

Tourinho Neto tem sido generoso com a defesa de Cachoeira: determinou cancelamento de depoimento do réu na Justiça, deu voto como relator a favor da ilicitude das escutas da PF e decretou a libertação do acusado que só continuou preso por força de mandado decorrente de outro inquérito policial.

No meio disso, uma CPI bamba, perdida em minúsculas picuinhas de natureza partidária e, se não se cuidar, em via de entrar para o rol dos suspeitos.

Por ação, omissão ou interpretação condescendente sobre a higidez do Estado de direito, se acumulam sinais de que o bando pode ser bem-sucedido nas investidas para obstruir a ação da Justiça e celebrar contente a impunidade no final.

Evidencia-se também o caráter mafioso da organização criminosa alvo de três inquéritos policiais, um processo judicial em curso e uma comissão parlamentar de inquérito composta por deputados e senadores.

Por que falar em máfia? Porque é do que se trata: empresa de fins criminosos que busca dar feição legal aos negócios mediante infiltração no Estado e cooptação de agentes públicos e privados. Movimenta-se com desenvoltura nos subterrâneos das instituições e usa de violência.

Nos contornos até agora conhecidos da rede montada por Carlos Augusto de Almeida Ramos, cuja qualificação como mero "contraventor" soa amena, faltava o fator violência.

Não falta mais. O juiz Moreira Lima, no ofício em que denuncia as pressões à presidência do Tribunal Regional Federal da 1.ª Região, fala em "homicídios" cometidos pela quadrilha por ele investigada.

A própria existência dessas ameaças remete ao caso da juíza Patrícia Acioli, assassinada por sua atuação em processos envolvendo policiais integrantes de milícias no Rio de Janeiro.

Evidente, pois, que a CPI que investiga o esquema Cachoeira e suas ramificações está diante de algo grande.

Tão grande que a comissão só tem um caminho: suspender as tentativas de proteger esse ou aquele grupo e retomar os trabalhos na próxima semana com a seriedade, compreendendo o que se passa debaixo de seu nariz.

Ou faz isso e prossegue nas investigações para valer apesar dos pesares que porventura venham a pesar sobre parlamentares, governadores, prefeitos, empresários e quem mais esteja envolvido, ou a comissão de inquérito terá sido cúmplice.

Qualquer recuo a partir de agora pode significar o acobertamento de ações do crime organizado dentro do Congresso Nacional e uma gravíssima agressão às instituições.

O que está em jogo é a autoridade do Estado, desafiada quando funcionários públicos são ameaçados no exercício de quaisquer funções, mais ainda se estas dizem respeito a apuração de crimes contra o poder público e nas entranhas dele.

Não é o juiz quem tem de se afastar em nome de sua segurança, mas o Estado que precisa lhe garantir a vida, prender os autores das ameaças e assegurar condições para o desbaratamento dessa máfia.

Qualquer coisa diferente disso equivale a transferir aos bandidos um poder de decisão que não lhes pertence e pôr de antemão o juiz (ou juíza) substituto sob suspeita ou risco de morte.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

O futuro que teremos:: Fernando Rodrigues

Há um tremendo clima de conformismo nos corredores do Riocentro em relação ao teor do documento final da Rio+20. Nunca esperou-se muita coisa. A profecia se autocumpriu.

O texto saiu fraco. Comedido. Passará a partir de hoje pelo crivo de chefes de Estado e de governo presentes à Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável.

Os diplomatas brasileiros no comando do processo de redação ficaram aliviados só pelo fato de conseguirem concluir o documento. Comemoraram. Até ontem de manhã, havia risco de nem haver uma declaração final.

Um exemplo de como a declaração da Rio+20 foi desidratada ao osso: ficou para 2014 a definição das fontes de financiamento de programas e políticas de desenvolvimento sustentável da chamada economia verde -para usar o jargão do evento.

Decidiu-se também pela criação de um comitê cuja missão será encontrar soluções e dinheiro. É a velha fórmula de empreendimentos mal gerenciados. Quando não se sabe nem se quer resolver um problema, monta-se um grupo de trabalho.

Entre outras explicações na apresentação do documento final, diplomatas brasileiros disseram que o texto é "rico em potencialidades". O ministro Gilberto Carvalho, que tem sala dentro do Palácio do Planalto, completou: "Não era a intenção do Brasil assumir um papel de vanguarda isolada".

Com essas potencialidades e a abdicação de liderar um processo de maneira mais arrojada, o Brasil volta à sua vocação histórica há vários séculos. Somos novamente o país do futuro. O título do documento ajuda. É "O futuro que queremos". Poderia ser, como na anedota ouvida no Riocentro, "O passado que sempre tivemos".

É uma pena. Mas em meio à atual crise econômica mundial, o resultado da Rio+20 deve ser matizado. Afinal, poderia ser pior.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Deixando o tempo dizer que futuro queremos :: Sergio Abranches

Os negociadores brasileiros conseguiram um feito notável, em menos de quatro dias de negociação: convencer os europeus a aprovarem o documento da Rio+20, sem alienar o apoio de países do G77/China; agradar aos Estados Unidos, à União Europeia, à China e à Venezuela ao mesmo tempo. A construção teve seu preço: trocaram conteúdo por um documento de consenso.

O que ganharam com a remoção dos vetos tiveram que conceder em substância, ambição e ações concretas.

O negociador dos Estados Unidos, Todd Stern, concordou com o ministro Antonio Patriota: ninguém saiu inteiramente satisfeito das negociações. Mas admitiu que, em uma conferência dessa amplitude, foi o melhor possível. A ministra dinamarquesa do Meio Ambiente, Ida Auken, disse que o documento dá uma direção mais clara para o mundo enfrentar o desafio da sustentabilidade. Um negociador brasileiro disse que a União Europeia criou os momentos de maior risco de impasse insuperável. Não é pouco ter conseguido convencê-los a aprovar o resultado final.

Que fórmula política é capaz de transformar insatisfação em apoio? Uma operação com três elementos-chave. O primeiro, a decisão inflexível de ter um documento fechado a qualquer custo, para ser entregue aos chefes de Estado e de governo na abertura da Rio+20. "O documento está fechado", disse Todd Stern, na abertura de sua única entrevista coletiva. "Não há mais possibilidade de reabrir o documento", disse Janez Potocnik.

"O documento está fechado em definitivo, para adoção, pelos chefes de Estado", disse o ministro Antonio Patriota.

Segundo, transferir conflitos certos no presente para um futuro ainda incerto, trocando decisões concretas por processos de negociação. Foi o que aconteceu com as três questões mais espinhosas da reunião: objetivos de desenvolvimento sustentável; meios de implementação desses objetivos (financiamento, tecnologia e capacitação) e governança para o desenvolvimento sustentável.

O comissário europeu, Janez Potocnik, disse que o melhor resultado das negociações foram os processos decididos para definir os objetivos de desenvolvimento sustentável e o quadro institucional da ONU para o meio ambiente, embora preferisse que o Pnuma fosse transformado em agência com plenos poderes. A ministra Ida Auken ressaltou que a parte do texto na qual há maior comprometimento dos países é a que determina o caminho para os objetivos e as metas de desenvolvimento sustentável, com um cronograma estabelecido.

Todd Stern disse que há um roteiro claro para as negociações futuras. Não há garantias de que, até 2015, o clima para tomar essas decisões melhore, todos reconhecem. Mas "organizou- se a burocracia das negociações", disse um ambientalista insatisfeito com o resultado.

Terceiro: equilibrar ganhos e perdas entre os principais grupos em confronto. Ninguém se sentiu perdedor, porque conseguiu evitar que entrassem no documento pontos aos quais se opunha fortemente e manter no texto o que considerava mais importante, ainda que sem a força desejada.

Assim se faz o milagre da multiplicação de apoios e subtração de vetos: um limite temporal para as conversas; deixar que o tempo seja o senhor das soluções; acomodar todos os interesses, ainda que à custa de substância e decisões de relevância imediata. Agora, os chefes de governo poderão confraternizar, posar para a foto da assinatura da declaração do Rio sobre o futuro que queremos e se dedicar a reuniões bilaterais, diante do celebrado sucesso do multilateralismo. Na Rio+20, a história terminou antes de a conferência começar.

Sergio Abranches é cientista político

FONTE: O GLOBO

Na retranca:: Míriam Leitão

O momento mais difícil dos últimos dias para o Itamaraty foi quando a União Europeia ameaçou, na segunda-feira, não levar o documento aos níveis superiores, o que significava sair das negociações. O momento de maior alívio para a diplomacia brasileira aconteceu ontem, ao meio-dia, quando o documento foi aprovado. A estratégia foi tirar o que incomodasse qualquer grupo. A soma dos vetos desidratou o texto O Futuro que Queremos.

A partir de hoje começa a reunião dos chefes de Estado, e o texto está fechado. A comissária europeia para a Ação Climática, Connie Hedegaard, desabafou no Twitter: "Riomais20, muito "tomam nota" e "reafirmam" e pouco "decidem" e "se comprometem"." De fato, dos 20 primeiros parágrafos, cinco começam com "reconhecemos", e seis, com "reafirmamos".

Na entrevista coletiva, as autoridades brasileiras repetiram com palavras diferentes o mesmo recado. "Foi possível assegurar o não retrocesso", disse a ministra Izabella Teixeira, do Meio Ambiente. "Depois de uma longa batalha confirmamos os princípios do Rio", disse o ministro Antonio Patriota, referindo-se à conferência de 20 anos atrás. O embaixador Figueiredo também comemorou ter sido possível "preservar e não retroceder". O negociador André Corrêa do Lago disse que foi "possível reiterar e não ir para trás".

Some essas declarações e você entenderá o que houve. O Brasil jogou na retranca. O importante passou a ser reafirmar o que foi estabelecido há 20 anos. Assim, o futuro que queremos ficou com a cara do passado que tivemos.

E não fomos felizes no passado. O Brasil, como já disse aqui, desmatou em 20 anos uma área equivalente a São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo somados. A China mais que duplicou as emissões dos gases de efeito estufa. Estados Unidos, Brasil, China, Índia não assinaram o Protocolo de Kioto e isso aumentou as muitas falhas do único acordo de redução de emissões já assinado. Depois de 15 Conferências das Partes, o mundo não tem um novo acordo global de emissões dos gases de efeito estufa. O acordo de proteção da biodiversidade não impediu o desaparecimento de inúmeras espécies.

O Itamaraty teve medo de que a reunião fracassasse por não fechar o documento. O Brasil é que propôs a reunião. Na época, a proposta foi mal recebida por muitos. Vários países disseram que o ciclo das grandes conferências da ONU já havia se esgotado. A insistência e a articulação do Brasil, da qual participaram ONGs internacionais, levaram à aprovação do encontro.

O Brasil trabalhou para evitar que esta fosse uma espécie de COP-17 e meia, ou seja, não quis que fosse sobre a questão climática. Se as duas últimas reuniões, de Cancún e Durban, fossem mais bem sucedidas, aqui poderia ser o local da assinatura do tão sonhado acordo global das emissões dos gases de efeito estufa. Por isso, o Brasil manobrou para evitar essa estrada interditada e propôs que o tema fosse "desenvolvimento sustentável". Negociou para que a reunião estabelecesse objetivos de desenvolvimento sustentável e decidisse qual órgão passaria a comandar a questão ambiental na ONU. Parecia uma trilha, mas reuniões preparatórias foram uma sucessão de impasses. Na quarta-feira da semana passada, os delegados se debruçaram sobre um documento apenas 30% fechado. Ontem, o Itamaraty se congratulava por estar com ele 100% aprovado.

Para isso teve que abandonar a ideia de transformar o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) na agência ambiental da ONU. Os Estados Unidos vetaram a agência porque têm medo de interferência em sua política interna. A União Europeia queria muito que o Pnuma ganhasse poderes de agência. A solução foi pôr no documento que o órgão será fortalecido. Em vez de ter apenas 52 membros, será universal. Terá mais dinheiro e pode ser promovido. A que e quando, o documento não diz.

O fundo de US$ 30 bilhões que seria criado desapareceu. Agora há apenas a decisão de criar uma comissão de especialistas intergovernamentais, que vai até 2014 estabelecer mecanismos financeiros para garantir recursos. O que atrapalhou aqui foi a insistência da China, com Brasil e Índia, de manter intocado o princípio das "responsabilidades comuns porém diferenciadas". Esses países não querem pagar o preço de terem crescido. Fica mais absurdo no caso da China, a maior chaminé do mundo.

Seriam lançados aqui no Rio os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Ficou assim: os chefes de Estado reconhecem a importância de ter objetivos. Vai se constituir um grupo de trabalho na próxima assembleia da ONU, que fará um relatório para a reunião do ano que vem.
Houve um momento nos últimos dias de tensas e longas negociações que o Brasil dava como certo que haveria um acordo sobre oceanos que permitiria a negociação de legislação sobre águas territoriais. Estados Unidos e Venezuela ficaram contra. Foi a mais exótica aliança da reunião.

O Brasil recolheu os vetos, avançou para o passado e confirmou a Rio 92. A diplomacia brasileira diz que foram lançadas pontes para decisões futuras. Resta torcer pelas pontes. Hoje começa a reunião dos chefes de Estado. O Brasil comemora o fato de que há um texto aprovado sobre a mesa.

FONTE: O GLOBO