sexta-feira, 13 de abril de 2012

OPINIÃO DO DIA – Roberto Freire: operação abafa

Por mais que o PT imagine minimizar e até ofuscar o escândalo do mensalão do Lula com a CPI do Cachoeira, é uma ação fadada ao insucesso, porque aquele é um processo que está para ser julgado no Supremo Tribunal Federal.

Não tem porque o PT ficar imaginando que o Supremo vai abdicar de ser um poder da República. A CPI será instrumento de investigação dos tentáculos do crime organizado nas instituições e particularmente nas relações promíscuas dos poderes executivos brasileiros com empresas privadas, a partir, inclusive do governo federal, Não adianta o esforço do presidente do PT para tentar mobilizar a má consciência do país porque o mensalão vai ser julgado.

FREIRE, Roberto, deputado federal e presidente do PPS, no Portal do partido, 12/4/2012

Manchetes de alguns dos principais jornais do Brasil

O GLOBO
Supremo libera aborto de fetos sem cérebro
Base cede, e CPI prevê ampla apuração
Agnelo já admite ter encontrado bicheiro
Mantega contra-ataca os bancos

FOLHA DE S. PAULO
Supremo libera aborto de fetos sem cérebro
Criação de CPI do Cachoeira preocupa Dilma e divide petistas
Argentina estuda estatizar petroleira YPF, afirma jornal
Por juros menores, governo sobe o tom contra bancos

O ESTADO DE S. PAULO
Por 8 votos a 2, STF libera aborto de fetos sem cérebro
Mantega critica bancos privados por juro alto e falta de crédito
Escândalos antigos voltarão à tona na CPI do Cachoeira
Greve em estádios preocupa Fifa
Cúpula das Américas debaterá uso de drogas

VALOR ECONÔMICO
Pacote para portos traz concessões e reforma na gestão
Pela primeira vez, CUT será presidida por um bancário
Usinas eólicas geram menos que o previsto
Caixa concentra a venda de título imobiliário para FGTS

CORREIO BRAZILIENSE
"Essa crise é do DEM e do PSDB", diz Agnelo
STF libera aborto de fetos sem cérebro
Bancos privados cedem e começam a reduzir os juros
Renda máxima para o Fies é de R$ 12,4 mil

ESTADO DE MINAS
Uma cãmara na mão e o bafômetro na outra
Participação surpresa para se defender
União investirá R$ 2,8 bi em 107 mil moradias

ZERO HORA (RS)
Decisão do Supremo reaquece discussão sobre aborto no país
De caçador a caça
O primeiro corte em banco privado

JORNAL DO COMMERCIO (PE)
STF autoriza aborto de fetos sem cérebro
Humberto será relator do caso Demóstenes
Suape terá terminal açucareiro

O que pensa a mídia - editoriais dos principais jornais do Brasil

http://www2.pps.org.br/2005/index.asp?opcao=editoriais

Base cede, e CPI prevê ampla apuração

Após o impasse da véspera, líderes da base governista cederam e incluíram, na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) sobre as atividades de Carlinhos Cachoeira, a investigação de agentes privados ligados ao bicheiro. Apesar de ter conseguido um acordo que prevê ampla apuração, a oposição diz contar com a pressão da opinião pública, já que será minoria na CPMI. Parte dos governistas reagia à inclusão de agentes privados entre os alvos da comissão por temer que a investigação chegue à Delta, construtora que tem bilhões de reais em contratos no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e com governos estaduais comandados por aliados. Com o acordo fechado ontem, começou a coleta de assinaturas necessárias para a instalação da CPMI e o início dos trabalhos, previsto para a próxima semana

Acordo prevê investigação ampla em CPI

Requerimento inclui agentes privados que tenham ligação com Cachoeira; oposição pede que opinião pública pressione

Isabel Braga, Maria Lima, Paulo Celso Pereira e Cristiane Jungblut

Tentáculos da contravenção

BRASÍLIA. Líderes da base governista e da oposição chegaram ontem a um acordo em relação ao texto do requerimento para a criação da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investigará o bicheiro Carlinhos Cachoeira e sua relação com políticos e empresas. Assim, as assinaturas começaram a ser coletadas, e a expectativa é que a CPMI comece a funcionar em, no máximo, duas semanas.

O texto acordado permite uma investigação ampla, incluindo agentes públicos e privados citados ou envolvidos nas práticas criminosas de Cachoeira. Os aliados governistas, no entanto, tentarão ter o controle da investigação, para impedir que a oposição crie constrangimentos para o governo. A oposição reconhece que o trabalho só avançará com apoio público:

- Teremos seis parlamentares titulares contra 24 do governo. Por isso, precisaremos da opinião pública para avançar - disse o líder do DEM, ACM Neto.

Apesar de a CPI ter 180 dias para funcionar, o PT tem dito que pretende fazer um trabalho rápido - até porque em julho o Congresso começa a ficar esvaziado devido à campanha eleitoral.

Uma das grandes preocupações de petistas e peemedebistas é sobre o alcance das investigações nas empresas, especialmente a Delta, que tem bilhões de reais em contratos no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e nos governos de estados comandados por integrantes da base aliada, especialmente o Rio.

Entre os nomes que devem integrar a CPMI estão o do líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros, e o ex-líder do governo, Romero Jucá (PMDB-RR). Outros nomes da base cotados são: os deputados Iris Araújo (PMDB-GO) e Luiz Pitiman (PMDB-DF); e os senadores Gim Argello (PTB-DF), Ciro Nogueira (PP-PI), Wellington Dias (PT-PI) e José Pimentel (PT-CE).

A oposição decidiu indicar um espécie de tropa de choque. Os escolhidos serão os de maior experiência em investigações. Dois deputados já foram escalados: Ônix Lorenzoni (DEM-RS) e Carlos Sampaio (PSDB-SP). O PSDB espera ainda ficar com sub-relatorias da comissão.

Ontem, o senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) protestou no plenário contra o texto do requerimento da CPMI. O PSOL também reclamou que não foi consultado sobre o acordo e criticou a dubiedade do texto em relação a investigação de agentes públicos e privados com a rede de Cachoeira.

O partido, no entanto, pode assegurar uma vaga de suplência. O líder do PSDB no Senado, Álvaro Dias, avisou que conversará na próxima semana com o DEM para discutir a possibilidade de cederem uma dessas vagas para Randolfe e outra para o senador Pedro Taques (PDT-MT).

A ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti, foi alertada na terça-feira à noite sobre o alcance que pode ter a CPI.

- Esse é um caso atípico de CPI. Geralmente, a gente não sabe onde ela acaba. Mas essa, a gente não sabe nem onde começa - ironizou o petista Jorge Viana (AC).

FONTE:O GLOBO

Escândalos antigos voltarão à tona na CPI do Cachoeira

A CPI do Cachoeira, que deve ser instalada na próxima semana, promete ressuscitar escândalos do governo Lula e pode esbarrar no financiamento ilícito de campanhas eleitorais. Ontem, o senador Demóstenes Torres, um dos alvos da investigação, apareceu de surpresa no Conselho de Ética

CPI vira "vale tudo" e pode ressuscitar caso Waldomiro, caixa 2 e mensalão

João Domingos

BRASÍLIA - A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Cachoeira, que deve ser instalada no Congresso na próxima semana, promete ressuscitar escândalos do governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em especial o que atingiu Waldomiro Diniz, o ex-assessor da Casa Civil na gestão de José Dirceu, e pode esbarrar novamente em um tema delicado a todos os partidos políticos: o financiamento ilegal de campanhas eleitorais.

Apesar de o requerimento de instalação da CPI dizer que ela deve "investigar práticas criminosas do senhor Carlos Augusto Ramos, desvendadas pelas Operações Vegas e Monte Carlo, da Polícia Federal" - o que significaria um espaço temporal de 2009 para cá -, o entendimento dos partidos de oposição, que será minoria na comissão, é de que todos os fatos correlacionados podem ser tratados. A Vegas, concluída em 2009, investigou negócios ilícitos de Cachoeira, que pressionava o Congresso pela legalização dos jogos de azar. A Monte Carlo aprofundou as investigações sobre a rede de negócios do "empresário" Cachoeira.

"O Supremo Tribunal Federal decidiu que as CPIs podem fazer as investigações nesses casos, independentemente de espaço temporal", disse o líder do PSDB na Câmara, Bruno Araújo (PE).

O PT, por sua vez, pretende utilizar o espaço da CPI para punir algozes do governo Lula, em especial o senador Demóstenes Torres (sem partido-GO), cuja relação de proximidade com o contraventor Cachoeira ficou clara em diálogos flagrados pela Polícia Federal. Demóstenes foi um parlamentar extremamente atuante, sobretudo na CPI dos Correios, que se debruçou sobre o episódio do mensalão no governo Lula. O Supremo vai julgar, provavelmente neste ano, os 38 réus do caso mensalão.

A amplitude das investigações também alcançaria em cheio figuras tarimbadas da oposição, como o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), alvo do PT na CPI. Perillo já admitiu ter um relacionamento pessoal com Cachoeira e disse que todos os políticos de Goiás tinham ligações com o contraventor pelo fato de ele ser um empresário.

A janela de oportunidade aberta pela própria base governista para a oposição vasculhar malfeitos no governo do ex-presidente Lula e até mesmo da presidente Dilma Rousseff já preocupa o Palácio do Planalto.

O texto da CPI negociado ontem prevê que poderão ser investigados "agentes públicos e privados" ligados ao esquema de Cachoeira. Ou seja, elos do contraventor com administrações públicas, como as de Goiás e do Distrito Federal, que já vieram à tona, serão explorados. O Estado publicou ontem reportagem mostrando que os grampos indicam a rede de influência da construtora Delta no governo do DF, administrado pelo petista Agnelo Queiroz, negociada por aliados de Cachoeira.

Waldomiro e mensalão. Em fevereiro de 2004 uma fita amplamente divulgada mostrou o então assessor parlamentar da Casa Civil Waldomiro Diniz pedindo propina para Cachoeira. Na época, o contraventor mostrava interesses nas máquinas de apostas das loterias administradas pela Caixa Econômica Federal. O caso culminou na investigação de financiamento de campanha pelo jogo do bicho e caixa 2.

Além de ressuscitar o episódio, a oposição quer pelo menos fazer barulho novamente sobre o mensalão. Pretende procurar algum tipo de ligação entre Cachoeira e o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares, denunciado pelo Ministério Público como um dos idealizadores do mensalão. Delúbio é réu no Supremo. Assim como Cachoeira, Delúbio é de Goiás.

"Isso que é chamado de mensalão, e que nós, petistas, repudiamos e afirmamos que não existiu, tem sua própria rotina. Será julgado pelo STF. Se quisermos falar desse episódio, temos de tratar de financiamento de campanha, e não de ocupação da máquina do Estado, como queria o Cachoeira. Mensalão é caixa 2, é outra coisa", justificou o líder do PT na Câmara, Jilmar Tatto (SP).

Alvo. A oposição já elegeu como seu alvo prioritário na CPI o governador petista Agnelo Queiroz e vai insistir na suspeita de cobrança de fatura por parte da Delta Construções por supostas doações eleitorais não registradas. "O governador de Brasília terá de explicar isso na CPI", disse o deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP), um dos dois titulares dos tucanos da Câmara na comissão parlamentar.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Várias nomeações no DF passavam pela Delta

Empreiteira indicava aliados para cargos-chave no governo e o esquema de Cachoeira, ligado à empresa, tinha acesso privilegiado a documentos, diz PF

Fábio Fabrini, Alana Rizzo

BRASÍLIA - Depois de abastecer a campanha do governador Agnelo Queiroz (DF), como indicam os grampos da Polícia Federal, a Delta Construções atuou no governo do petista indicando ocupantes para cargos-chave, para manter sua influência na administração.

Dona de 70% da coleta de lixo em Brasília, a empresa apresentou, via emissários, lista de nomes ao secretário de Governo, Paulo Tadeu, e emplacou seus aliados no Serviço de Limpeza Urbana (SLU), órgão que tem a função de fiscalizá-la.

Paralelamente, a empreiteira acionava arapongas para levantar informações de "inimigos" na administração, com o objetivo de provocar sua demissão.

Segundo conversas interceptadas pela Polícia Federal na Operação Monte Carlo, a organização do contraventor Carlinhos Cachoeira, ligada à empreiteira, tinha acesso privilegiado a documentos do governo, como as nomeações, antes que elas saíssem no Diário Oficial do DF.

O interesse da empreiteira era alocar "amigos" nos cargos de comando do SLU, especialmente as Diretorias de Limpeza das regiões administrativas. São elas as responsáveis por pagar pelos serviços de varrição e recolhimento de entulho. Até o fim de 2011, as medições eram feitas por estimativa. Com aliados nessas funções, a Delta tinha como garantir que o cálculo lhe seria favorável.

Num dos grampos, de 31 de março de 2011, o sargento Idalberto Matias, o Dadá, conversa com um funcionário da Delta sobre o envio de relação de nomeados a Paulo Tadeu, numa negociação intermediada pelo então chefe de gabinete do governador Agnelo Queiroz, Cláudio Monteiro: "O Marcelão vai levar para o Cláudio Monteiro, para resolver esse negócio aí, levar para o Paulo Tadeu, tirar esse pessoal aí e botar o pessoal que a gente pediu".

Horas antes, Marcelo Lopes, o Marcelão, ex-assessor da Casa Militar do governo, explicava a Dadá que João Monteiro, na época diretor-geral do SLU, negociaria indicações com Paulo Tadeu: "O João Monteiro vai lá no Paulo Tadeu para resolver o negócio da nomeação". Dois dias depois, Dadá disse a Lopes que aliado seu "botou a mão" no CD com as nomeações.

Desafetos. O engenheiro Cláudio Abreu, então diretor regional da Delta no Centro-Oeste, acionou Dadá para que investigasse desafetos no Distrito Federal. Um dos alvos era Pedro Luiz Rennó, gestor de um dos contratos da empresa no SLU. Em abril de 2011, Abreu cobrou de Dadá num telefonema: "Você tem de pegar o tal Pedro, filmar esse cara fazendo roubalheira. É isso o que você tem de me dar".

Procurado pelo Estado, o secretário Paulo Tadeu informou, por sua assessoria, que nunca teve reuniões com Marcelo Lopes ou João Monteiro para tratar de nomeações. Em nota, a Delta alegou desconhecer o teor dos relatórios da PF e assegurou jamais ter solicitado qualquer pesquisa sobre a vida de qualquer pessoa.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Delta é empreiteira n 1 do PAC

Para ministra, denúncias sobre empresa têm que ser investigadas

Maiá Menezes, Cássio Bruno e André de Souza

RIO e BRASÍLIA. Citada nos grampos da Operação Monte Carlo, a empreiteira número um do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) recebeu, no ano passado, R$ 884,4 milhões da União. O volume de recursos do governo federal para a Delta Construções cresceu 1.417%, de 2003 até 2011, em valores corrigidos pelo IPCA.

De 1 de janeiro até anteontem, a Delta recebeu R$ 156,8 milhões - dos quais R$ 156 milhões destinados às obras do PAC. Em 2007, 2009 e 2011, a Delta foi a principal empreiteira do programa mais emblemático dos governos Lula e Dilma. O Departamento Nacional de Transportes (Dnit) é o principal cliente no governo: recebeu R$ 138,5 milhões este ano.

A ministra do Planejamento, Miriam Belchior, disse ontem que as denúncias envolvendo a Delta Construções, maior empreiteira do PAC, têm de ser investigadas.

- Isso vai ser investigado. De qualquer maneira, qualquer irregularidade terá de ser corrigida, como a gente sempre faz cada vez que elas são identificadas - disse a ministra, após cerimônia de assinatura de convênios do programa Minha Casa Minha Vida.

Com cerca de 300 contratos no setor de construções em 23 estados do país e no Distrito Federal, a Delta cresceu 533% apenas no governo Sérgio Cabral (PMDB), no Rio, segundo o Sistema Integrado de Administração Financeira para Estados e Municípios (Siafem). Em 2007, a empresa teve empenhos de R$ 67,2 milhões, enquanto, em 2010, ano em que Cabral foi reeleito, o montante chegou a R$ 554,8 milhões, sendo R$ 127,3 milhões (22%) sem licitação.

Em 2011, a Delta recebeu do governo Cabral R$ 358,5 milhões, sendo R$ 72,7 milhões (20%) sem passar por concorrência pública. Este ano, já são R$ 138,4 milhões empenhados. Os valores do Siafem não incluem as obras do Maracanã, onde a Delta faz parte do consórcio. O projeto foi orçado em R$ 859,9 milhões. Relatório do Tribunal de Contas da União (TCU) apontou indícios de irregularidades no processo de licitação para a Copa do Mundo de 2014.

A empreiteira, que surgiu em Recife, na década de 60, chegou ao Rio de Janeiro no governo Anthony Garotinho, em 1999. Desde então, mantém relações com políticos de vários partidos. Nas últimas eleições, a Delta doou R$ 2,3 milhões aos comitês do PT e do PMDB - R$ 1.150.000 para cada partido.

Em 2011, primeiro ano do mandato do governador Agnelo Queiroz, os gastos do governo do Distrito Federal com a Delta aumentaram 453%. Passaram de R$ 16,1 milhões em 2010 para R$ 89,3 milhões no ano seguinte. A maior parte - R$ 88,9 milhões - saiu do Serviço de Limpeza Urbana (SLU) e correspondeu a 57% dos desembolsos totais da estatal.

Gravações da Polícia Federal (PF) mostram que em janeiro do ano passado, no começo do governo Agnelo, o ex-diretor regional da Delta para o Centro-Oeste Cláudio Abreu ligou para o sargento da reserva da Aeronáutica Idalberto Matias, o Dadá, para conversar sobre nomeação para o comando do SLU. Abreu e Dadá são dois dos principais integrantes da organização do bicheiro Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, preso pela Polícia Federal em fevereiro.

A Delta também conseguiu contratos milionários com o governo de Goiás. Foram R$ 47,4 milhões pagos em 2010, valor que subiu um pouco em 2011, para R$ 48, 5 milhões. Segundo a PF, a Delta transferiu dezenas de milhares de reais para empresas de fachada controladas por Carlinhos Cachoeira.

Procurada, a Delta não se manifestou.

FONTE: O GLOBO

Sobre cachoeiras e cascatas :: Roberto Freire

A direção nacional do Partido Popular Socialista (PPS) e sua bancada na Câmara dos Deputados apóiam integralmente a abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) no Congresso Nacional para apurar a atuação e influência do contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira.

Em nossa avaliação, a instalação de uma CPI mista, composta por deputados e senadores, terá mais condições de apurar o funcionamento de toda a rede criminosa comandada pelo empresário, preso durante a operação Monte Carlo da Polícia Federal.

A CPI não deve apenas se concentrar no envolvimento de deputados e senadores com Carlos Cachoeira, como parece ser a intenção do governo de Dilma Rousseff. Precisa ir além para esmiuçar toda a ramificação de sua organização nos governos federal, estaduais e municipais. Para o PPS, a apuração também deve centrar foco nos relacionamentos de Cachoeira com o mundo empresarial.

Além disso, há fortes indícios da atuação da organização criminosa de Carlinhos Cachoeira no financiamento de campanhas eleitorais, outro ponto a ser investigado pela CPI. De nossa parte, reafirmamos ainda nossa firme vigilância com relação aos atos da administração federal e de quaisquer outros governos ou parlamentares envolvidos em denúncias de irregularidades ou que pratiquem atos contrários ao interesse público.

À medida que novas informações são publicadas pela imprensa, sinto que por trás dessa enxurrada de ilícitos o que estamos paulatinamente vendo desnudar-se é o Estado preso à lógica mafiosa. A Operação Mãos Limpas realizada nos anos 80 na Itália já demonstrou até onde pode ir o conluio entre agentes do Estado e o crime organizado.

Não nos esqueçamos de que desde assassinato do prefeito Celso Daniel, em Santo André, bem antes da eleição de Lula, passando pela denúncia do "mensalão" em seu primeiro mandato, uma "sofisticada organização criminosa especializada em desviar recursos públicos" - como foi definida pelo Procurador Geral da República -, o que estamos assistindo é a mesma lógica mafiosa instalar-se no centro da estrutura do Estado no Brasil com grandes e pequenos agentes.

Enquanto não aprofundarmos a investigação das relações entre "crime organizado" e Estado, estaremos muito longe de compreender o fenômeno da lógica mafiosa que no Brasil encontrou um terreno fértil para crescer à sobra de um Legislativo e Judiciário lenientes e um Executivo acolhedor de tais práticas.

É a lógica mafiosa do Estado que se instalou no país que devemos mirar, com o apoio das investigações da Polícia Federal e imprensa, mesmo que grande parte da sociedade ainda continue míope para a verdadeira questão que estamos enfrentando: a relação incestuosa entre Estado e crime organizado.

Enquanto isso, um assessor do Palácio do Planalto informou ao governo ter conversado, em 2010, com um dos principais aliados do empresário Carlinhos Cachoeira para tratar do apoio do senador Demóstenes Torres, à candidatura presidencial de Dilma Rousseff.

Nunca o Brasil necessitou tanto de uma Operação Mãos Limpas, como agora.

Roberto Freire, deputado federal (SP) e presidente do PPS

FONTE: BRASIL ECONÔMICO

Cada farinha no seu saco

O maior desejo do PT é transformar o escândalo do mensalão em conto da carochinha. O segundo maior é fazer colar na sociedade a impressão de que todas as forças políticas são iguais e nivelam-se por baixo. São estas as teses que o partido de Lula, Dilma e José Dirceu irá tentar fazer prosperar na CPI do Cachoeira.

Desde que veio a público, em maio de 2005, o mensalão assombra o PT. Feita por um dos maiores aliados dos petistas à época, a revelação de que o governo Lula funcionava à base da compra descarada de votos no Congresso desnudou a aura de moralidade que, por anos, acompanhara o partido.

Anos de investigações e um devastador parecer da Procuradoria-Geral da República acabaram por revelar em detalhes o funcionamento da "organização criminosa", com a participação de dezenas de próceres petistas. Mas, para o PT, isso nunca passou de uma "conspiração" das elites, da mídia, da oposição.

O partido sempre contemporizou com os acusados, deu-lhes apoio institucional e cargos de relevância no governo. Jamais puniu quem quer que fosse. Compactuou, recorrentemente, com os que se locupletaram com o dinheiro sujo, vindo, inclusive, dos mesmos jogos de azar de Carlinhos Cachoeira.

Mas a principal preocupação dos petistas, vocalizada, principalmente, pelo ex-presidente Lula, sempre foi fazer prosperar na sociedade a tese de que o mensalão foi uma "farsa", uma desimportante operação de contabilidade paralela de contas de campanha eleitoral. Nesta estratégia, interessa, especialmente, atrapalhar, postergar e azucrinar o julgamento do caso no STF, previsto para ocorrer neste ano.

O PT espera usar a CPI do Cachoeira neste seu estratagema, como ficou muito claro ontem, mais uma vez, com o discurso de Rui Falcão, presidente do partido. Para ele, a comissão servirá "para apurar esse escândalo dos autores da farsa do mensalão", informou O Globo. Não: a CPI cuidará de investigar como gente do mundo político se relacionou com - e, em alguns casos, se vendeu a - um contraventor cujas ligações com os petistas são íntimas desde a época do mensalão.

Senão, vejamos: até agora, afora o envolvimento do senador Demóstenes Torres, prontamente expurgado pelo DEM dos quadros da oposição, são petistas ou seus aliados os principais implicados na teia de corrupção tecida pelo bicheiro baseado em Goiás.

O mais graúdo destes envolvidos é o governador petista do Distrito Federal. Aliás, ligar o nome de Agnelo Queiroz, agora alcunhado "01", a escândalos já se tornou redundância. Hoje, os jornais - com destaque para a Folha de S.Paulo - publicam farto material com suspeitas de que sua desgovernada gestão é alimentada por propina paga por uma empreiteira.

A mesma empresa, a Delta Construções, é, também, a maior beneficiária do PAC e foi a empresa que mais recebeu recursos do governo federal nos últimos três anos: R$ 2,43 bilhões desde 2009, segundo O Estado de S.Paulo. Surgem, daí, indícios de que as portentosas cifras que acompanham o programa podem servir para algo distinto da construção de obras, que, de resto, nunca ficam prontas mesmo.

Na lista de petistas muito enrolados, há também auxiliares de Agnelo e um assessor direto da ministra Ideli Salvatti, outro nome do governo do PT que rima com escândalo e que terá, agora, de explicar no Congresso a compra suspeita de lanchas fantasmas. E há, ainda, o deputado comunista e ex-delegado Protógenes Queiroz.

Não custa lembrar que esta animada ponte aérea PT-Cachoeira é ativa há muito tempo. O contraventor quase conseguiu emplacar a legalização dos jogos de azar no país: a proposta foi defendida pelo Planalto lulista em 2004 e só foi abortada depois que Cachoeira protagonizou vídeo em que é achacado por Waldomiro Diniz, assessor de José Dirceu na Casa Civil.

Está evidente que o PT pretende manobrar a CPI do Cachoeira e embaralhar o jogo do mensalão. É um escárnio que o partido cujo governo afogou-se em seguidos casos de corrupção ao longo dos últimos anos pretenda acuar a oposição, fazendo dela o suposto alvo das investigações. É o PT fazendo o que mais gosta: juntar no mesmo saco farinhas que não se misturam.

Fonte: Instituto Teotônio Vilela

Vapor de Cachoeira não navega mais :: Fernando Gabeira

O vapor de Cachoeira do verso de Caetano Veloso é uma lembrança nostálgica de um navio que ligava Salvador ao Recôncavo Baiano. Lançado em 1819, um grande feito para a época, o vapor de Cachoeira não volta nunca mais. Já o de Carlinhos Cachoeira apenas sofreu uma avaria. Pode voltar em forma de submarino ou qualquer embarcação anfíbia.

O vapor de Cachoeira tinha muitos dos defeitos e mais poder que alguns partidos políticos. Tinha bancada parlamentar, acesso e contatos no governo, preenchia cargos e influenciava a promoção de coronéis da Polícia Militar. Os fragmentos de gravações indicam também que Cachoeira tinha algo mais do que os partidos pequenos: um esquema de informação próprio que vazava escândalos para a imprensa, com a esperança de moldar imagens na opinião pública.

Pode-se argumentar que, ao contrário dos partidos, Carlos Cachoeira não tinha um programa. Não havia nada escrito porque não precisava. Programas, dizia o velho Brizola, também podem ser comprados. Cachoeira nunca se interessou em comprar um. Mas é exatamente a prática cotidiana no vácuo de propostas políticas reais que torna o partido de Cachoeira um novo tipo de ator no cenário nacional. A forma como articulou a bancada de Goiás, suprapartidariamente, é inédita. O projeto de regulamentação da loteria que lhe interessava partiu de um senador, foi relatado por um deputado e ainda dependeria da supervisão de Demóstenes Torres.

Num único momento parlamentar, senti a bancada goiana atuar em conjunto. Foi para derrubar um projeto de Eduardo Jorge e meu que proibia o amianto no Brasil. Era um movimento contrário ao que penso, mas não posso negar seu caráter democrático nem a preocupação legítima com os interesses de seus eleitores. Goiás tem mina de amianto em Minaçu e os deputados temiam o desemprego e o declínio econômico na cidade.

Não se conhece, fora de Goiás, a extensão da influência de Cachoeira. A verdade é que nenhum órgão de imprensa foi lá conversar com as pessoas, sentir a atmosfera, indagar sobre as forças típicas do Estado. Confesso que tenho mais perguntas que respostas. Um esquema tão intrincado e complexo merece um estudo maior, que só a íntegra das gravações pode esclarecer - ou, ao menos, indicar pistas.

E o Demóstenes, hein? É a pergunta que todos fazem na rua, resignados com o peso do argumento de que todos os políticos são iguais, até mesmo os que incluem a dimensão ética em sua atuação parlamentar. O desgaste que ele produziu na oposição é arrasador. Não se limita ao célebre "são todos iguais". Avança para outra constatação mais perigosa: se os críticos são como Demóstenes, toda a roubalheira denunciada por eles não passa de maquinação. A sincera constatação popular "são todos iguais" torna-se um dínamo para múltiplas conclusões políticas. A mais esperta delas é: logo, são todos inocentes.

Depois de tudo o que Demóstenes fez, a partir do fragmentos ouvidos, eram inevitáveis as mais variadas repercussões no cotidiano político, em ano de eleição.

O esquema, no conjunto, precisa ser conhecido e pode ser iluminado por uma CPI. Carlos Cachoeira tinha influência nos governos de Goiás e de Brasília, detinha um poder regional. Era bem mais que um bicheiro. Apresentá-lo assim, desde o início, não combinava com o tipo clássico consagrado pela ficção: camisa aberta no peito, colar de ouro, mulatas deslumbrantes, amor à sua escola de samba. Cachoeira, além dos negócios legais, já usava a internet como ferramenta. Organizava loterias federais, disputava a bilhetagem eletrônica no transporte coletivo e mantinha um site de jogos, hospedado na Irlanda.

Ele usa muito melhor os instrumentos do seu tempo do que os bicheiros tradicionais, com seus anotadores sentados em caixotes, esperando a chegada da polícia em nova campanha contra o jogo do bicho, dessas que sempre morrem na próxima esquina, ou na próxima manchete. Os bicheiros sempre desconfiaram da legalização porque tinham medo da pesada concorrência que as novas circunstâncias trariam.

Empresário da era eletrônica, Cachoeira tinha um partido sem programa e decidiu legalizar seu negócio de forma que bicheiros tradicionais nem sequer sonhavam: escrevendo a lei, mobilizando a sua bancada, cuidando da tramitação, dos detalhes formais, garantindo a supremacia no futuro.

Cachoeira tem negócios clandestinos e legais. A maneira como se organizou para tocá-los é típica do pragmatismo de muitos partidos políticos: buscar a proximidade com o governo. Sua proposta era deslocar Demóstenes para o PMDB e aproximá-lo do Planalto. Houve algumas conversas sobre isso nas eleições de 2010. Para Demóstenes seria a morte política por incoerência, talvez mais suave que o atropelamento súbito pelos fatos.

Apesar de sua prisão e da desgraça de Demóstenes, Cachoeira continuou desdobrando a tática de aproximação. Tanto ele como Demóstenes escolheram advogados que, além de sua competência, são amigos íntimos do governo. Uma escolha desse tipo nunca é só técnica. É também política. Representa uma bandeira branca de quem não busca conflitos e anseia por uma saída controlada para um escândalo que ameaça governos do PSDB e do PT.

Leis são como salsichas, é melhor não ver como são feitas. Essa célebre frase atribuída a Bismarck é uma constante na crítica aos Parlamentos. Em caso de um escândalo de intoxicação alimentar, é importante saber como foram feitas. Se Carlinhos Cachoeira foi capaz de criar suas leis, aprovando-as no âmbito estadual e levando-as à esfera nacional, o que não podem outros grupos poderosos e articulados?

Essa vulnerabilidade da democracia, de um modo geral, se torna uma inquietação alarmante no caso singular do Brasil. O momento aponta para a desaparição dos partidos programáticos e abre o caminho para os núcleos de todo tipo, principalmente o partido de tirar partido.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Criação de CPI do Cachoeira preocupa Dilma e divide petistas

A criação de uma CPI para investigar o empresário Carlinhos Cachoeira e suas relações com políticos preocupa Dilma Rousseff e provoca racha no PT.

O temor da presidente é que aliados insatisfeitos usem a comissão para pressionar o governo. Entre os petistas, há divergência quanto ao apoio declarado pelo partido a CPI

CPI do caso Cachoeira preocupa Dilma e divide bancada do PT

Presidente ficou contrariada ao saber de reunião em que ministros e a cúpula do partido decidiram apoiar investigação

Temor é que comissão vire palco de aliados insatisfeitos; PT e PMDB devem assumir postos de controle

Catia Seabra, Natuza Nery e Andreza Matais

BRASÍLIA - A criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito para investigar o empresário Carlos Cachoeira e suas relações com políticos começou a preocupar a presidente Dilma Rousseff e rachou o PT, seu partido.

Petistas disseram à Folha que a presidente não gostou de a CPI ter sido anunciada durante sua viagem aos EUA, nem da participação de alguns de seus principais ministros em reunião na semana passada que tratou do tema.

Na ocasião, petistas como Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral), Ideli Salvatti (Relações Institucionais) e Gleisi Hoffmann (Casa Civil) se encontraram com a cúpula do partido e decidiram apoiar a investigação.

A adesão do PT à CPI foi incentivada pelo ex-presidente Lula com o objetivo de fragilizar a oposição no ano do julgamento do mensalão, escândalo que abateu toda a cúpula do partido em 2005.

Segundo petistas, Dilma proibiu seus ministros, porém, de se manifestar sobre CPI logo que retornou de Washington, anteontem.

Ela também manifestou desagrado com a ideia da CPI como uma revanche ao mensalão. Tanto que reprovou o depoimento do presidente do partido, Rui Falcão, segundo quem é necessário usar a CPI para desmascarar os autores "da farsa do mensalão".

Ontem, ele afirmou que não vinculava uma investigação à outra.

Faca no pescoço

A disposição de Dilma, porém, é de não impor obstáculos à instalação da comissão, prevista para terça, sob o argumento de que não há como detê-la agora.

O temor do governo é que aliados insatisfeitos usem a CPI como palco para colocar a "faca no pescoço" do Planalto, convocando ministros e quebrando sigilo de pessoas como Olavo Noleto, assessor da Presidência -que admitiu ter conversado com um aliado de Cachoeira.

Em reunião ontem em Brasília do comando do PT, ficou definido que o partido tentará controlar os postos-chave da CPI. Apesar disso, cinco petistas recusaram ser relatores da comissão.

O mais cotado ontem era o ex-líder do governo na Câmara, Candido Vaccarezza (PT-SP), ou o deputado Hugo Leal (PSC-RJ). Para a presidência, o PMDB escolheu o senador Vital do Rego (PB).

Apesar de reclamação de petistas à atuação pró-CPI de dirigentes da sigla, a nota oficial da executiva nacional conclama a militância a defender" a comissão. Questionado se tinha consultado Dilma, Falcão afirmou que citou a reunião com os ministros.

Para além do discurso oficial, petistas avaliam que contratos do Executivo com a Delta, citada nas investigações como próxima à Cachoeira, podem ser alvos da CPI.

Essa preocupação já teve efeito ontem, com a exclusão do nome da construtora do requerimento de criação da comissão. O texto final fala apenas em investigar "agentes públicos e privados" e, além da Monte Carlo, cita uma investigação anterior da PF sobre Cachoeira, a Vegas.

Petistas trabalharam por essa inclusão sob o argumento de que os indícios que ela reúne são danosos à oposição.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

PT associa 'setor da mídia' a criminosos e defende regulação

Partido afirma que relações reveladas pelo caso Cachoeira comprovam "urgência" de medidas de controle da imprensa

Em evento ontem no Planalto, no entanto, a presidente Dilma Rousseff defendeu a liberdade de imprensa

Catia Seabra, Márcio Falcão

BRASÍLIA - O PT vai usar a instalação da CPI do Cachoeira para voltar a investir contra a mídia. A disposição está expressa em documento divulgado ontem pela cúpula do partido.

Redigido pelo comando petista, o texto cita a investigação do esquema de Carlos Cachoeira, acusado de exploração do jogo ilegal, a pretexto de voltar a cobrar a fixação de um marco regulatório para os meios de comunicação.

"Agora mesmo, ficou evidente a associação de um setor da mídia com a organização criminosa da dupla Cachoeira-Demóstenes, a comprovar a urgência de uma regulação que, preservada a liberdade de imprensa e livre expressão de pensamento, amplie o direito social à informação", diz a nota.

Mesmo sem dar nomes, o alvo primário do PT é a revista "Veja". Em grampos já divulgados do caso, um jornalista da publicação tem o nome citado por membros do grupo do empresário.

A revista já publicou texto informando que Cachoeira era fonte de jornalistas, inclusive do chefe da sucursal de Brasília, Policarpo Júnior, e que não há impropriedades éticas nas conversas.

Integrantes da Executiva do PT e congressistas do partido defendiam que a "Veja" fosse investigada na CPI.

O cálculo político petista inclui o raciocínio segundo o qual o bombardeio sobre mídia e oposição poderá concorrer na opinião pública com o julgamento do mensalão -o esquema de compra de apoio político ao governo Lula descoberto em 2005, que deve ser apreciado pelo Supremo Tribunal Federal neste ano.

O próprio presidente petista, Rui Falcão, falou que a CPI deve investigar "os autores da farsa do mensalão".

Há a intenção de questionar reportagens sobre o mensalão usadas como prova judicial. A estratégia é tentar comparar a produção de reportagens investigativas, que naturalmente envolvem contato de jornalistas com fontes de informação de várias matizes, a práticas criminosas.

Para tanto, segundo a Folha apurou, réus do mensalão como o ex-ministro José Dirceu instruíram advogados a buscar menções à revista e à mídia nas apurações da PF sobre o caso Cachoeira. Dirceu vai a evento no final de semana sobre regulamentação da mídia em Fortaleza.

O movimento do PT contrasta com discurso da presidente Dilma Rousseff. Ontem, em cerimônia do Minha Casa, Minha Vida, ela defendeu a liberdade de imprensa.

"Somos um país que convive com a liberdade de imprensa, somos um país que convive com a multiplicidade de opiniões, somos um país que convive com a crítica."

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

PT decide concentrar ataques em Demóstenes

Resolução aprovada ontem pelo comando da sigla fala em "impedir operação abafa"

Bruno Borghossian

Após anunciar apoio à criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar as ligações políticas do contraventor Carlinhos Cachoeira, o PT declarou que pretende concentrar seus ataques no senador Demóstenes Torres (sem partido-GO) e nos meios de comunicação.

Em uma resolução aprovada ontem em Brasília, o comando nacional petista afirma que deve impedir uma "operação abafa" em torno de Demóstenes e expor "a associação de um setor da mídia" com Cachoeira.

"Cabe ao PT impedir que se consume uma operação abafa em torno do envolvimento do senador Demóstenes Torres com a organização criminosa comandada pelo notório Carlos, alcunhado de Carlinhos Cachoeira", diz o texto.

A resolução menciona o suposto envolvimento de Cachoeira com o governador goiano, Marconi Perillo (PSDB), mas não cita o governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT).

Apesar de acusar a imprensa de tentar ocultar as acusações feitas a Demóstenes, o documento elaborado pela executiva nacional petista cita gravações realizadas pela Polícia Federal que foram divulgadas por jornais, revistas e emissoras de televisão nas últimas semanas.

"As gravações divulgadas até o momento envolvem o próprio governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), bem como apontam estreitas ligações entre o meliante Cachoeira e veículos de comunicação", afirma.

"Farsa do mensalão". O texto segue o tom de um vídeo gravado pelo presidente nacional do PT, Rui Falcão, divulgado anteontem. Sem citar nomes ou partidos, ele afirma que a CPI deve investigar "os autores da farsa do mensalão", a quem chama de "falsos moralistas".

"A bancada do PT na Câmara e no Senado defende uma CPI para apurar esse escândalo dos autores da farsa do mensalão", afirma Falcão. "É preciso que a sociedade organizada, movimentos populares, partidos políticos comprometidos com a luta contra a corrupção, como é o PT, mobilizem-se para impedir a operação abafa, e para desvendar todo o esquema montado por esses criminosos, falsos moralistas que se diziam defensores da moral e dos bons costumes."

O presidente do PT afirma que a investigação deve "apurar todos os vínculos desse senador (Demóstenes) e de políticos de diferentes partidos com o jogo do bicho, com o contrabando e com informações privilegiadas de operações policiais".

Na resolução divulgada ontem, o PT cita a suposta "operação abafa" em torno de Demóstenes para cobrar a regulação dos meios de comunicação.

"Ficou evidente a associação de um setor da mídia com a organização criminosa da dupla Cachoeira-Demóstenes, a comprovar a urgência de uma regulação que, preservada a liberdade de imprensa e a livre expressão de pensamento, amplie o direito social à informação", diz o texto.

O documento também defende o funcionamento da Comissão da Verdade e a aprovação da proposta que criminaliza a homofobia, "paralisada por fortes pressões fundamentalistas".

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Brejeiro (Ernesto Nazareth) - Conjunto Época de Ouro

Sem controle:: Merval Pereira

Antes mesmo de começar, a CPI Mista sobre as atividades do bicheiro Carlinhos Cachoeira já está provocando seus estragos. O ex-delegado Protógenes Queiroz, que personifica na Câmara o justiceiro implacável contra a corrupção, foi apanhado num grampo da Polícia Federal no papel de amigo de fé do ex-sargento da Aeronáutica Idalberto Matias de Araújo, vulgo Dadá, o principal operador do bicheiro.

Como nesse caso as atividades legais se misturam com as ilegais, assim como o assessor palaciano Olavo Noleto, subchefe de Assuntos Federativos da Secretaria de Relações Institucionais, alegou negociações políticas para explicar sua conversa com um braço-direito de Cachoeira, também Protógenes disse que sua relação com Dadá era "profissional".

Por "profissional" entenda-se o submundo do crime organizado, onde Dadá, que hoje está na cadeia, pontificava como o principal homem encarregado pelo esquema do bicheiro pelas escutas telefônicas.

Dadá, aliás, andou envolvido no esquema de escutas do escritório eleitoral da candidata Dilma Rousseff no Lago Sul de Brasília, levado por Amaury Ribeiro Junior, o autor do livro "Privataria tucana", que Protógenes também quer investigar em outra CPI.

Quer dizer, Protógenes poderá ser alvo de investigações de suas próprias CPIs, assim como Demóstenes está sendo vítima de sua dupla atuação política, misturando o lado legal com o ilegal.

Também o PT viu confrontada sua intenção ao apoiar a CPI quando tentou reduzir sua abrangência, querendo retirar dos fatos determinados a serem analisados as empresas públicas e privadas, deixando apenas as relações de Cachoeira com os políticos para serem investigadas.

Essa tentativa de "redução de danos" mostra bem quais são as intenções do PT ao apoiar a convocação da CPI. Para pegar o governador tucano Marconi Perillo, um desafeto de Lula, eles abrem mão do também governador petista Agnelo Queiroz, numa análise de custo-benefício que seria favorável se pudessem restringir o chamado escopo das investigações.

Um dos principais alvos dessa tentativa de blindagem é a construtora Delta, a empreiteira que se tornou a responsável pela maioria das obras do PAC no governo Dilma, mas que tem perto de R$ 4 bilhões em repasses desde o governo Lula.

Mais de 80% desse total são contratos do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), do Ministério dos Transportes, órgão envolvido em denúncias diversas de corrupção no governo da presidente Dilma, o que por si só indica o potencial de desgaste que essa empreiteira leva consigo para a CPMI.

O governador do Rio, Sérgio Cabral, amigo do empresário Fernando Cavendish, dono da Delta, é outro que não está nada satisfeito com a existência da CPI.

Também o presidente do PT, Rui Falcão, teve que recuar diante da repercussão negativa de sua disposição declarada de usar a CPI do Cachoeira para rebater o que classificou de "farsa do mensalão".

Aliás, essa tática escancarada pelos blogueiros governistas parece ter se tornado um verdadeiro "tiro no pé".

Ao se vangloriarem de estarem "melando" o mensalão, esses governistas nada mais fazem do que revelar o temor que têm do julgamento do Supremo Tribunal Federal.

Mas, mesmo embaraçado com a evidência de má-fé política na condução da CPI, Falcão insiste que existe "uma grande pressão" para que se julgue o mensalão "num prazo curto", como se isso fosse criticável.

A ironia involuntária do presidente do PT, pois o processo já leva nada menos que sete anos, fez lembrar uma frase célebre de Getulio Vargas, que classificou de "curto espaço de tempo" os 15 anos em que governou, de 1930 a 1945.

Na outra ponta da mesma crise, a reunião do Conselho de Ética do Senado para o processo de cassação do mandato do senador Demóstenes Torres (sem partido) mostra como aquela Casa também sofre do "vício da amizade", conforme definição do ex-corregedor da Câmara Edmar Moreira, também sem partido, o "deputado do Castelo".

O senador Demóstenes, apesar de ser hoje pouco mais que um zumbi a vagar pelas passagens secretas do Congresso, com receio de ser visto, sente-se em condições de questionar a burocracia do Conselho de Ética, pois conhece o regimento melhor do que ninguém.

Demóstenes participou pela manhã da reunião, aparecendo de repente, qual um fantasma, para assustar seus companheiros, e disse que provará sua inocência, e a tática de constrangê-los parece ter dado resultado.

Nada menos que cinco senadores recusaram-se a assumir o cargo de relator do processo: Lobão Filho, do PMDB, alegou questões de "foro íntimo". Seu pai, o ministro Edson Lobão, já declarara que "esse negócio de julgar seus pares é muito complicado".

O mesmo ocorreu com os senadores Gim Argello, do PTB, Cyro Nogueira, do PP (esse recusou por telefone, nem se deu ao trabalho de comparecer), Romero Jucá e Renan Calheiros, ambos do PMDB.

O jeito foi fazer um sorteio, e o petista Humberto Costa acabou tendo que pegar o abacaxi.

Para um Congresso que decidiu abrir uma CPI por razões diversas, menos buscar uma correção de rumos, convenhamos que o roteiro está perfeitamente dentro do previsível.

FONTE: O GLOBO

Prejuízo social clube:: Dora Kramer

Onde havia a dúvida, o presidente do PT, Rui Falcão, instituiu a certeza: a defesa enfática da criação da CPI para investigar a rede de traficâncias do contraventor Carlos Augusto Ramos, vulgo Cachoeira, não pode ser tomada como um retorno do partido às lides da ética na política.

Significa, antes, uma tentativa de socializar desde já os prejuízos decorrentes do julgamento do processo do mensalão. De onde se conclui que o PT não faz as pazes com a legalidade, mas apenas volta a se utilizar da bandeira sob a qual fez carreira.

Até quarta-feira essa era apenas uma ilação. Uma versão corrente entre adversários de governo ou oposição, tornada oficial por Falcão em um vídeo divulgado na internet pedindo apoio para a investigação "do escândalo dos autores da farsa do mensalão".

Um recibo com certidão firmada em cartório. Tão completamente explícito que até petistas mais ajuizados manifestaram contrariedade. Entre eles o senador Jorge Viana, que foi ao ponto: "Ela (a CPI) não pode estar vinculada ao tema mensalão, pois esse é um problema que nós no PT temos uma versão e o Brasil tem outra".

Questão que caberá o Supremo Tribunal Federal resolver dizendo de que lado está a razão. Sem a interferência de ensaios canhestros de desvio de foco ou atos de pressão, cujo primeiro resultado é a exposição pública dos propósitos baixos do partido.

Ordens de Lula, sedento que está o ex-presidente de desmoralizar personagens e ações-chave no desmonte da imagem proba do PT? É o que consta e o que faz sentido, partindo-se do princípio de que Rui Falcão não lançaria mão de uma ofensiva tão escancarada sem um forte muro de arrimo a escorá-lo.

Aliou-se à defesa da tese difundida pelo réu mor do processo, José Dirceu, e saiu "denunciando" a existência de uma "operação abafa", organizada pelos meios de comunicação para impedir as investigações sobre as relações da rede Cachoeira com o mundo político em geral, com um órgão de imprensa em particular (a revista Veja) e, se possível, resvalar no Judiciário melhor ainda, na perspectiva dos que são vistos como "autores da farsa do mensalão".

Um truque conhecido, esse de partir para a ofensiva usando armas com sinal trocado a fim de aplicar vacina nas próprias mazelas.

Se possibilidade real de CPI passou a existir, se a rede de traficâncias está se revelando ampla e profunda, se personagens são desmascarados e negócios suspeitos vêm à tona é justamente por ação dos meios de comunicação.

Um ato categórico de acobertamento quem cometeu foi Rui Falcão ao citar nominalmente apenas os adversários, Demóstenes Torres (ex-DEM) e Marconi Perillo (PSDB), deixando de lado o petista Agnelo Queiroz.

A manobra de construção de um atalho que leve a uma derivação de curso deu certo uma vez com a história engendrada pelo então ministro da Justiça, hoje advogado de Cachoeira, Márcio Thomaz Bastos e contada por Lula. Na condição de presidente da República, não teve pejo em confessar crime eleitoral para tentar na ocasião como agora socializar e, assim, neutralizar o prejuízo.

Agora está ainda mais à vontade como eminência parda e militante da causa de fortalecer a tese de que o esquema de desvios e fraudes montado para financiar campanhas partidárias e, assim, cooptar uma base aliada substancial no Congresso, foi pantomima inventada por inimigos municiados por bandidos.

Ora, se foi mesmo uma farsa para que tanto esforço. Melhor deixar que a Justiça a desconstrua com a força dos fatos. Difícil que ministros do Supremo se deixem engambelar, preferindo referir-se nas impressões que na precisão das provas.

O mirabolante plano dado a conhecer por Rui Falcão parece partir do pressuposto de que o PT tem gordura para queimar dada a força política de Lula e a popularidade da presidente Dilma Rousseff.

É um lado da história. O outro é que se a oposição está no osso isso significa que tem muito menos a perder do que quem detém o poder. Risco por risco, com a CPI o do governo é maior.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Clima de CPI:: Eliane Cantanhêde

A capa da Folha de ontem confirma o clima de CPI.

Na manchete, "Gravação da PF indica pagamento de propina no DF", sobre suposto envolvimento do governo petista com o esquema Cachoeira, aquele que está em todas.

Logo abaixo, em "Câmara convoca Ideli para explicar compra de lanchas" e "Governo paulista suspende compras da PM sob suspeita". Ao lado, em "Roseana usa jato de empresário para viagem oficial aos EUA".

É uma avalanche (ou cachoeira) de desvios, favorecimentos, negócios escusos, ligações perigosas entre público e privado. A sensação do leitor/eleitor é a de que o mundo está de cabeça para baixo, enquanto o Congresso usa a CPI do Cachoeira como manobra política, sem o propósito real de investigar e punir.

A pergunta que não quer calar é: a quem interessa a CPI? Ao Planalto? Aos governistas? À oposição? A nenhum deles, só a nós, jornalistas, e a você, eleitor, leitor, ouvinte e telespectador, que carrega uma robusta carga tributária nas costas.

O PMDB quer uma CPI para assistir de camarote -ou melhor, na presidência da comissão- o desespero do PT e da oposição. Já caíram na rede e nas gravações um governo do PT (o do DF) e um do PSDB (Goiás), um senador do DEM e deputados de diferentes siglas.

É como se Cachoeira tivesse concluído, em algum momento da vida, que tudo se compra, todos têm um preço. E saiu por aí comprando empresas, negócios, jogos, governos, parlamentares, promotores, assessores de vários níveis, agentes da polícia e da Receita. Almas e consciências. Fora o que ainda não se sabe...

Ainda bem que, acima desse submundo, há um mundo real em que o Brasil avança. As grávidas de fetos anencéfalos não serão mais submetidas à escolha entre uma tortura medieval de nove meses e a fogueira penal. E a lei seca está voltando.

A CPI aproximaria esses dois mundos, melhorando a realidade. Mas... a quem interessa mesmo?

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Dilma busca aliados para enfrentar a banca:: Maria Cristina Fernandes

Minutos depois de ser empossado, em 27 março de 2006, no Ministério da Fazenda, Guido Mantega ligou para o secretário-executivo da Pasta, Murilo Portugal. Queria conversar sobre o posto que assumiria. "Não tenho o que conversar porque estou demissionário", disse-lhe Portugal que, até aquele momento, havia sido o segundo de Antonio Palocci no ministério.

Ao desligar, Mantega relatou o telefonema sem esconder a contrariedade, compartilhada pelos colegas de governo que estavam ao seu lado. Entre eles, a então ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff.

Mantega continua no mesmo lugar e Portugal virou presidente do sindicato dos bancos. A trombada pública aconteceu ontem, quando Mantega subiu o tom para reagir às condições do sistema financeiro para a redução do spread, mas a rota de colisão começou a ser traçada cinco anos atrás, quando Dilma Rousseff ajudaria a remontar a equipe econômica do governo Luiz Inácio Lula da Silva depois da saída de Palocci.

A crise de 2008 imbicaria novamente a curva de juros para cima, reduzindo a marcha da colisão no segundo mandato de Luiz Inácio Lula da Silva.

Com a posse de Dilma, porém, a rota estava traçada e foi publicamente exposta pela presidente da República: a política monetária é a vantagem comparativa do Brasil num mundo que já derrubou os juros e ainda não tirou o pé da lama.

A curva descendente do Copom, a redução dos juros cobrados pelos bancos públicos e a subida de tom do ministro da Fazenda, Guido Mantega, com a Febraban são apenas a confirmação do norte perseguido por Dilma Rousseff desde que começou a ter ingerência para além dos megawatts.

O que só agora começa a ganhar contornos claros é que a presidente, frequentemente criticada por inabilidade, monta uma ampla aliança política para isolar o sistema financeiro na guerra do spread.

Essa aliança passa pela recuperação do poder dos Estados com a troca do indexador de suas dívidas e o afrouxamento das condições em que incentivos tributários estaduais podem vir a ser concedidos. É a reversão de um processo iniciado duas décadas atrás com a implantação do Real.

Para conter a explosão de demandas - e de sua face monetária, a inflação - trazida pela Constituição de 1988, a estabilidade da economia neutralizou a política.

O país vinha do trauma do impeachment, que abortou o mandato de Fernando Collor, o único governador de Estado eleito para a Presidência da República desde a redemocratização.

Foi aquela crise política que abriu caminho para um plano de estabilidade monetária que esvaziou a federação. Teve como pressupostos o Fundo de Estabilização Financeira (FEF), que daria origem à DRU e canalizaria recursos de Estados e municípios para o Tesouro nacional, a Lei de Responsabilidade Fiscal, o acordo da dívida e a privatização dos bancos estaduais.

Com os cofres esvaziados, dívidas a pagar, limites rígidos para contrair novas e proibidos de usar recursos fiscais para atrair empresas, os Estados foram desprovidos de poder político na mesma velocidade em que cresceu sua dependência da União.

A subversão dessa ordem não está em jogo e tampouco se corre o risco de as finanças estaduais voltarem a ser a casa da mãe joana. Até porque o governo federal não parece estar interessado em abrir mão da concentração de recursos políticos e fiscais gerada pelo esvaziamento dos Estados.

O que está em curso, com a discussão da troca do indexador das dívidas estaduais e municipais e o afrouxamento das condições em que incentivos tributários podem ser concedidos pelos Estados, é a recuperação dos governadores como atores políticos capazes de engrossar o setor produtivo no cabo de guerra com o sistema financeiro.

Reabilitados no seu poder de conceder incentivos e investir na infraestrutura de seus Estados, os governadores podem voltar a ser interlocutores das federações industriais e sindicatos que ao longo dos últimos anos têm batido um bumbo surdo na toada do desenvolvimento.

A aliança é reforçada também pela posse em julho do primeiro presidente bancário da história da CUT. Em entrevista a Raphael Di Cunto, publicada hoje no Valor, Wagner Freitas diz que a investida contra o spread bancário será a principal bandeira da entidade sob sua presidência.

Até o senador Aécio Neves (PSDB-MG), principal liderança do partido que operou a lógica da federação subordinada, hoje diz que a União virou rentista dos Estados e reclama de juros superiores àqueles pagos pelas empresas ao BNDES.

Pelo teor das propostas feitas pelo sindicato dos bancos, está claro que esta é uma guerra que requer aliados até da oposição. Entre as condições para que o spread seja reduzido há muitas que dependem do Congresso e outras tantas que enfrentariam infinitas batalhas judiciais, como a exigência de que a previdência complementar dos correntistas entre como garantia do crédito.

Muitas dessas garantias são de difícil execução e os bancos sinalizam que, sem elas, não há redução de spread à vista. Enquanto isso, como os juros efetivamente já estão caindo, não é difícil para o governo convencer a opinião pública de que a diferença entre o custo de captação e o de empréstimo vai para um bolso que não é o do correntista.

Vitor Belous, leitor do blog Casa das Caldeiras (www.valoronline.com.br), é um exemplo do campo fértil para o discurso do governo. O leitor comenta a alegação de inadimplência para a formação do spread: "As instituições emprestam mais do que a renda mensal do cliente comporta, ultrapassando 30% do comprometimento mensal do tomador. Os bancos pregam em seus informes publicitários o uso consciente do crédito, mas a realidade dentro das agências é outra, bater metas".

Dilma, com os aliados que tem, é bem-sucedida na imagem de que combate a corrupção. É de se supor que também seja capaz de angariar apoio da opinião pública ao isolar quem pinta de vermelho as contas correntes. Na pior das hipóteses, já conseguiu que a banca, agora, se disponha a conversar.

FONTE: VALOR ECONÔMICO

Crônica de uma asfixia anunciada :: Rogério Furquim Werneck

Nos últimos 20 anos a carga tributária da economia brasileira foi multiplicada por 1,5. Passou de 24% para 36% do PIB. Um aumento de nada menos que 12 pontos percentuais do PIB. Não há hoje no mundo outra economia emergente relevante com carga tributária tão alta quanto a do Brasil. E o pior é que a carga continua a aumentar. Só no ano passado, o salto foi da ordem de 1,5% do PIB.

"A elevação sem fim da carga tributária vai acabar sufocando o crescimento econômico do país." Tal advertência vem sendo repetida ad nauseam há muitos anos. E, no entanto, a maior parte da opinião pública tem reagido a esse prognóstico com a fleuma de quem toma conhecimento de que o sol está em inexorável processo de esfriamento. A percepção típica tem sido a de que a advertência aponta para um problema importante a ser enfrentado no futuro distante, quando, de fato, passar a merecer atenção.

A má notícia, para quem tinha tal percepção do problema, é que o futuro chegou. A elevação sem fim da carga tributária está, afinal, sufocando o crescimento da economia brasileira. Não da economia como um todo. Por enquanto, o que vem sendo claramente sufocado é o dinamismo de boa parte da indústria de transformação. Até mesmo Brasília parece ter-se dado conta disso.

Com o anúncio do pacote da semana passada, o governo reconheceu de forma cabal que muitos segmentos da indústria já não têm mais condições de arcar com a parte que lhes cabe na carga tributária que vem sendo imposta à economia. O agronegócio, a mineração e a extração de petróleo continuam tendo perspectivas promissoras. E, apesar de toda a voracidade da extração fiscal, a produção de serviços, resguardada da concorrência externa, vem conseguindo manter o crescimento. Parte da indústria, contudo, exposta à concorrência das importações, vem perdendo competitividade a olhos vistos, depauperada pela tributação exagerada e pelo custo Brasil despropositado, decorrente, em grande medida, da deficiência com que os três níveis de governo se desincumbem dos papéis que lhes cabem na oferta de serviços públicos e na expansão da infraestrutura.

O problema é que o governo mostra total despreparo para lidar com os desafios de uma agenda de redução efetiva da carga tributária. Porque, simplesmente, não contava com isso. Muito pelo contrário, vinha apostando todas as fichas na possibilidade de manter a arrecadação crescendo bem acima do PIB, para que o gasto público pudesse continuar em rápida expansão, em consonância com seu projeto político.

O que mais impressiona nesse despreparo é a negligência com que o governo trata possibilidades concretas de redução de carga tributária. Nas últimas semanas, voltaram a ganhar destaque as queixas da indústria contra a brutal carga tributária que recai sobre energia elétrica e serviços de telecomunicação. A reação do governo federal tem sido a de alegar, mais uma vez, que há muito pouco o que a União possa fazer a esse respeito, já que a maior parte do problema decorre das alíquotas extorsivas de ICMS com que os estados taxam tais insumos.

No entanto, ao mesmo tempo em que vem fazendo tais alegações, o governo vem negociando com os governadores a adoção de novas regras de indexação das dívidas dos estados com a União. Como era fácil prever, a abertura dessa caixa de Pandora já deu lugar a um festival de propostas irresponsáveis de renegociação das dívidas estaduais, como bem ilustra o projeto que ganhou corpo no Senado. Mas, apesar do risco de perda de controle da renegociação, tudo indica que o governo vai mesmo oferecer aos estados um pacote de bondades, com redução dos encargos das suas dívidas com a União. O que parece inexplicável, contudo, é que até agora não tenha havido a mais vaga menção à possibilidade de que a redução desses encargos esteja de alguma forma vinculada à diminuição das absurdas alíquotas de ICMS cobradas pelos estados sobre energia elétrica e telecomunicações. Como se isso pouco importasse ao governo federal. E não fosse crucial para o país.

Rogério Furquim Werneck é economista e professor da PUC-Rio.

FONTE: O GLOBO

Voluntarismo financeiro:: Celso Ming

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, mostrou nesta quinta-feira que o governo pode endurecer seu jogo com os senhores do dinheiro. Desta vez, expôs seu descontentamento com a falta de determinação dos banqueiros em derrubar o spread (diferença entre o que pagam pelos recursos e o que cobram nos empréstimos).

Por disposição de ofício, banqueiro não gosta de parecer brigão. Prefere trabalhar na moita, passando a impressão de que está de bem com todos, mesmo quando o governo Dilma dá sinais de que se prepara para entrar em rota de colisão com o setor. Para o governo, banqueiros estão na contramão em dois objetivos de política econômica.

O primeiro deles é a repentina redução de interesse dos bancos privados em ampliar operações de crédito, justamente num momento em que a atividade econômica ficou mais fraca. Ou seja, para o governo, os bancos não colaboram na execução de uma política anticíclica.

Os bancos privados se mostram menos interessados na expansão do crédito até mesmo nos segmentos em que as garantias são de melhor qualidade, como o do financiamento de veículos, na medida em que conta com a proteção proporcionada pelo estatuto da reserva de domínio. (Se deixa de pagar suas prestações, o credor tem de entregar seu veículo ao banco, um processo relativamente rápido.)

Entendem que, depois da rápida escalada que durou dez anos, em que avançou de 26,8% para 48,8% do PIB, o mercado de crédito se estreitou. Esse estrangulamento pode ser aferido hoje pelo aumento dos índices de inadimplência – de 5,8%, no início de 2011, para os atuais 7,6%. Entre perder mercado e perder rentabilidade, os bancos preferem perder mercado. Por isso, parecem menos propensos a atender o governo nesse quesito.

A segunda fonte de descontentamento do governo Dilma com os bancos é um problema crônico: são os juros escorchantes cobrados no crédito, que conspiram contra o interesse do governo de derrubar os juros e os custos de produção da economia.

Para atacar essas duas fontes de descontentamento, o governo mobilizou os bancos oficiais, hoje com cerca de 44% do mercado nacional de crédito. Quer que Banco do Brasil e Caixa Econômica atuem mais agressivamente no crédito, seja expandindo suas operações, seja derrubando os juros cobrados dos tomadores.

A decisão de chamar para a briga demonstra certa fraqueza do governo. Sempre que apela para o voluntarismo ou para falsas quedas de braço, produz mais espuma que substância. É preciso, também, atacar as condições técnicas que mantêm os spreads bancários na altura em que estão.

Por outro lado, acionar os bancos oficiais para tentar acirrar a concorrência num setor que opera com altos níveis de cartelização leva o risco de criar distorções. Quando criou e depois manteve a Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP) a juros artificialmente baixos, o governo montou o monopólio do BNDES regado com recursos (fundings) oficiais e matou o mercado de financiamento de longo prazo (exceto pelo crédito habitacional).

E é esse o risco que correm os segmentos de crédito de curto prazo.

CONFIRA

Falta de resposta. Também nos Estados Unidos o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) vem emitindo dólares com o objetivo de desobstruir o crédito sem, no entanto, obter grande sucesso.

Desinteresse. Na crise, os bancos temem expandir suas operações de crédito com medo da incapacidade dos clientes de honrar o pagamento da dívida. Os consumidores, por sua vez, relutam em tomar mais crédito, porque já estão excessivamente endividados e também assustados com o risco de perder o emprego. E as empresas também se afastam do crédito, porque o desemprego alto aponta para consumo mais fraco.

Atraso. Isso significa que já não basta uma enorme oferta de recursos para que o crédito imediatamente responda. Isso sugere que, em época de crise, mesmo uma política monetária expansionista opera com atraso maior do que em tempos normais. É o que o Banco Central do Brasil já vinha dizendo em seus documentos.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Desânimo na feira mundial:: Vinicius Torres Freire

Comércio global vai crescer menos em 2012, sinal de que os tempos bicudos ainda não ficaram para trás

A economia mundial melhora. O que isso quer dizer? Cresce algo mais, na média, dos que nos anos de colapso, e a quanto custo: trilhões despejados pelos bancos centrais, uns trilhões em dívidas novas de governos, dinheiro doado a bancos e grossos investidores. Na média, melhora mesmo devido à China e vizinhos, à Índia e não muito mais.

Porém, a Organização Mundial do Comércio mandou avisar que o comércio mundial emperra.

A OMC disse que o volume de comércio deve crescer menos de 4% em 2012, ante os 5% de 2011.

Mas o crescimento do comércio vinha acelerando. Era a globalização, ou um aspecto dela, certo?

No último ano bom do boom do início do século, 2007, o comércio mundial crescera 7%. No colapso de 2008, desacelerou para 2,8%, em parte devido à mordida da recessão, em parte devido abrupto desaparecimento do crédito, cortesia da inépcia e da bandalha da finança mundial. Em 2009, houve feia regressão, queda de 12%, recuperada pelo crescimento de 14% de 2010.

Ou seja, o comércio mundial quase não cresceu entre 2008 e 2010.

Os tropeços de 2011 ocorreram em quase toda parte. No Japão, grande ator do mercado mundial, as exportações praticamente não cresceram, dado o desastre do tsunami e a decorrente desorganização das cadeias produtivas. Na China, também prejudicada pelos problemas no Japão, o ritmo do aumento de exportações baixou a um terço da velocidade de 2010. Nos Estados Unidos, caiu pela metade.

Logo, a desaceleração de 2011 poderia ser atribuída em parte a motivos pontuais, não recorrentes. Em parte, também os sustos europeus desanimaram empresários e consumidores, reduzindo o crescimento em outras partes do mundo, por aqui no Brasil inclusive.

Em 2012, o mundo vai ter de encarar os prejuízos provocados por uma recessão europeia da qual ainda não se sabe o tamanho, embora não pareça radical, "tudo o mais constante" e desde que não ocorra naufrágio da armada espanhola.

A China, aparentemente, vai crescer um pouco menos que em 2011, mas não lá muito menos. O clima nos Estados Unidos despiora, sujeito a mudanças no decorrer do período. Mas, recorde-se, no ano passado discutia-se a hipótese de uma nova recessão americana. Os "emergentes", Brasil inclusive, devem andar um pouquinho mais rápido que no ano passado.

Logo, é de se perguntar pelos motivos da mediocridade do crescimento do comércio mundial (aliás, note-se que a OMC diz que há risco pesado de o comércio mundial crescer ainda menos que os 3,7% que prevê para 2012).

"Protecionismo"? Pode ser. Mas o fato é que, na média, a economia mundial vai crescer mesmo menos que em 2011. A grande draga será a Europa, mas os latino-americanos, na média, vão ter um desempenho pior neste ano.

Para piorar, em tese ou em teoria, um ritmo menor no comércio implica um ritmo também menor no aumento da eficiência econômica. Comércio serve também para reduzir custos, certo?

Não, não se trata de anunciar catástrofe, nem parece haver alguma à vista. Mas de temperar as euforias que vêm dos povos dos mercados, que muita vez nada têm a ver com a vida real.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Preço do dinheiro:: Míriam Leitão

Os dois bancos públicos se dizem preparados para tomar cliente dos bancos privados. O Banco do Brasil vai mandar SMS para quem ultrapassar o limite do cheque especial, ou usar o crédito rotativo por longo período, para convidar a refazer seu crédito a taxas menores. A Caixa Econômica dará juros ainda mais baixos quanto maior for o relacionamento com a instituição. Eles já estão sendo procurados por clientes do setor privado.

Entrevistei ontem na GloboNews o vice-presidente de Gestão Financeira e Relações com Investidores do Banco do Brasil, Ivan de Souza Monteiro, e o vice-presidente de Finanças e Mercado de Capitais da Caixa Econômica Federal, Márcio Percival Alves Pinto. Os dois garantem que não temem a formação de bolhas nem o risco de perda de rentabilidade das instituições. Informam que além da renegociação de dívidas por juros mais baixos e prazos maiores estão oferecendo aos clientes educação financeira para orientar os investimentos.

Essas medidas têm a vantagem de disparar uma competição maior entre os bancos, através de taxas de juros menores - ontem mesmo o HSBC também anunciou cortes. Por outro lado, há o risco de que as empresas públicas sejam usadas para atender às políticas de governo e venham a ter prejuízo, que acabará sendo coberto pelo contribuinte, como já aconteceu no passado.

Os dois vice-presidentes dos maiores bancos públicos do país garantem que não estão correndo risco, que tudo foi analisado há muito tempo e que o processo de redução de taxas tem sido contínuo desde 2008.

- A conjuntura internacional é de juros negativos, e aqui dentro o regulador tem reduzido também as taxas básicas de juros para níveis historicamente baixos. O desafio hoje é como manter o crescimento, manter os empregos, e o crédito ajudará nisso - diz Ivan Monteiro.

- Nessa situação nova, em que temos uma crise lá fora e uma situação de tranquilidade aqui dentro, não se pode manter taxas de juros que são incompatíveis com todos os outros determinantes, como a Selic, os juros futuros, a perspectiva do país, a composição da dívida pública - afirma Márcio Percival.

O vice-presidente da Caixa contou que com a oferta mais abundante e a custos menores aos clientes a CEF conseguiu sair de 6% do mercado, em 2008, para 12%, agora, e deve terminar o ano em 14%. Ivan Monteiro, do BB, diz que o banco tem 20% do mercado e sempre foi líder entre funcionários públicos:

- A livre opção bancária para funcionários públicos criou um desafio. O movimento que estamos fazendo agora é também para defender nossa base de clientes.

O grande truque nessas reduções de taxas do BB será a convocação de clientes para sair das modalidades mais caras de crédito, trocando-as por opções mais baratas. Quem estiver há dois meses usando mais do que 50% do seu limite de cheque especial, ou estiver há dois meses não pagando integralmente o cartão de crédito, será chamado para receber empréstimo. Transforma a dívida mais cara em crédito mais barato, de 3%, e refinancia em 24 meses.

Na Caixa, os juros do cheque especial já caíram de 7% para 3,5% e podem chegar a 1,35% dependendo da intensidade do relacionamento com o banco.

- Em vez de foco na rentabilidade do produto, estaremos de olho na rentabilidade do cliente para o banco - disse Márcio.

A Caixa não mexeu no produto em que é líder, o crédito imobiliário. Segundo Márcio Percival, é porque os juros desse produto são administrados e já bem baixos. No final do mês, a instituição fará um grande leilão de imóveis que além de taxas diferenciadas terá até uma novidade: serão imóveis mobiliados.

Os dois dirigentes recusam a ideia de que isso é incentivo ao endividamento excessivo que pode levar à formação de bolhas como as que arruinaram outras economias.

- O endividamento das famílias está em apenas 22% da renda. Isso é um nível baixo. A gente pode pensar em bolhas quando os ativos estiverem se valorizando muito acima da renda - afirma Márcio.

Lembrei que isso ocorre nos imóveis. Ele admitiu que certos segmentos desse setor precisam mesmo ser olhados com bastante atenção.

Os dois bancos aumentaram a base de clientes e participação no mercado desde a crise. Mas estiveram envolvidas em episódios problemáticos. O BB comprou o Banco Votorantim, que estava com dificuldade de se financiar no auge da crise, e no final de 2011 exibiu dados de alta inadimplência na carteira de automóveis. A Caixa se envolveu em um caso mais complicado: comprou uma participação no Banco PanAmericano, que depois revelou ter um enorme rombo.

- Aquilo foi caso atípico, foi fraude. Deu um choque grande no sistema e afetou a imagem da instituição, mas não teve repercussão financeira negativa - diz Percival.

A verdade é que a Caixa pagou R$ 740 milhões por um banco quebrado e depois teve que fazer aportes bilionários na instituição. Caixa e BB negam, claro, que tenham reduzido juros a mando da presidente Dilma. Alegam que vinham derrubando as taxas e captando mais clientela desde a crise, quando os bancos privados se retraíram. Apesar de falarem a mesma língua, no intervalo da gravação, seus assessores correram para cochichar instruções a cada um dos entrevistados. Ao fim do programa, eles foram cercados por funcionários do estúdio querendo detalhes das novas taxas. Sinal do apelo que tem essa proposta de queda do preço do dinheiro.

FONTE: O GLOBO