sábado, 31 de março de 2012

OPINIÃO DO DIA – Gramsci: intelectual e não intelectual

Quando se distingue entre intelectuais e não intelectuais faz-se referência, na realidade, somente à imediata função social da categoria profissional dos intelectuais, isto é, leva-se em conta a direção sobre a qual incide o peso maior da atividade profissional específica, se na elaboração intelectual ou se no esforço muscular-nervoso. Isto significa que, se se pode falar de intelectuais, é impossível falar de não-intelectuais, porque não existem não-intelectuais. Mas a própria relação entre o esforço de elaboração intelectual–cerebral e o esforço muscular-nervoso não é sempre igual; por isso, existem graus diversos de atividade especificamente intelectual. Não há atividade humana da qual se possa excluir toda intervenção intelectual, não se pode separar o homo faber do homo sapiens. Em suma, todo homem fora de sua profissão, desenvolve uma atividade intelectual qualquer, ou seja, é um “filosofo”, um artista, um homem de gosto, participa de uma concepção do mundo, possui uma linha consciente de conduta moral, contribui assim para manter ou para modificar uma concepção do mundo, isto é, para suscitar novas maneiras de pensar.

GRAMSCI, Antonio (22/1/1891//27/4/1937). Cadernos do Cárcere, v.2, p. 52-3. Civilização Brasileira, 4ª Edição. Rio de Janeiro, 2006.

Manchetes de alguns dos principais jornais do Brasil

O GLOBO
DEM hesita em expulsar Demóstenes
Importação de gasolina bate recorde
Agora, tiroteio da Copa é entre Blatter e Miriam Belchior

FOLHA DE S. PAULO
Senador atuou em prol de acusado de contravenção
Stepan Nercessian recebeu R$175 mil de Cachoeira
Empresa que fez doação ao PT de SC não poderia estar em licitação

O ESTADO DE S. PAULO
Ex-ministro petista critica "malfeito" no caso da Pesca
Sob pressão DEM já discute expulsão de Demóstenes
Blatter: Queremos ação, não só palavras
UE amplia o "muro" anticrise para € 800 bi
Defesa da Indústria

CORREIO BRAZILIENSE
48 anos procurando respostas...
DEM pronto para expulsar Demóstenes
Itamaraty acaba com discriminação

ESTADO DE MINAS
Geisel admitiu que Herzog foi morto por militares
14º e 15º salários: Regalia não é paga em outras capitais

ZERO HORA (RS)
Fundo de 700 bilhões de euros reforça luta contra crise na Europa
DEM discute expulsão de Demóstenes

JORNAL DO COMMERCIO (PE)
Carro americano na Fiat de Goiana
Blatter bate forte no Brasil

O que pensa a mídia - editoriais dos principais jornais do Brasil

http://www2.pps.org.br/2005/index.asp?opcao=editoriais

Ex-ministro petista critica "malfeito" no caso da Pesca

Sucessor de Ideli Salvatti na Pesca, o deputado petista Luiz Sérgio classificou de "malfeito" a ação do ministério de cobrar dinheiro para o PT de Santa Catarina de uma empresa contratada pelo governo federal, como revelou ontem o Estado. A Intech Boating, que forneceu por R$ 31 milhões lanchas-patrulha para a pasta e doou R$150 mil ao comitê do PT que bancou parte da candidatura de Ideli ao governo catarinense em 2010. O Tribunal de Contas da União considera o contrato suspeito. A petista é hoje ministra de Relações Institucionais. "Não é função de ministério arrecadar dinheiro para candidaturas ou partidos", disse Luiz Sérgio. Segundo ele, as lanchas estavam paradas havia mais de um ano quando assumiu o ministério. "É evidente que isso demonstra que houve erro."

Doação de empresa que vendeu lanchas é "malfeito", diz ex-ministro da Pesca

Luiz Sérgio diz que contrato para comprar lanchas foi um erro evidente e critica o próprio partido

Marta Salomon

BRASÍLIA - Sucessor de Ideli Salvatti no Ministério da Pesca, o deputado petista Luiz Sérgio classificou nesta sexta-feira, 30, de "malfeito" a ação da pasta de cobrar dinheiro para o PT de Santa Catarina de uma empresa contratada pelo governo federal. A Intech Boating, que forneceu por R$ 31 milhões lanchas-patrulha para o ministério, doou R$ 150 mil ao comitê financeiro do PT, que bancou 81% dos custos da candidatura de Ideli em 2010 ao governo de Santa Catarina, como revelou com exclusividade o Estado. O contrato das lanchas é considerado suspeito pelo Tribunal de Contas da União (TCU). A petista, hoje, é titular da pasta de Relações Institucionais.

"Em relação à iniciativa do ministério de buscar contribuições, minha posição é contrária a isso. Não é função de ministério arrecadar dinheiro para candidaturas ou para partidos", disse o ex-ministro da Pesca, a quem coube dar destino à maior parte das 28 embarcações compradas. As lanchas-patrulha estavam estragando, sem uso, num caso de desperdício de dinheiro público investigado pelo TCU. O Ministério da Pesca optou por doar a maioria à Marinha.

Questionado se enxergava corrupção no caso, Luiz Sérgio optou pelo vocabulário adotado pela presidente Dilma Rousseff. "Eu diria, como a nossa presidente tem feito, que é um malfeito." Luiz Sérgio ficou no cargo apenas seis meses, após perder o posto de articulador político do governo para a ministra Ideli Salvatti, em junho do ano passado.

Na quinta-feira, 29, o dono da Intech Boating, José Antônio Galízio Neto, afirmou ao Estado que a doação ao partido havia sido feita em 2010 a pedido do ministério. "A solicitação veio pelo Ministério da Pesca, é óbvio. E eu não achei nada demais, porque eu estava trabalhando para o governo, faturando naquele momento R$ 23 milhões, R$ 24 milhões, não havia nenhum tipo de irregularidade", disse, mudando em seguida de versão e apontando um político local, "um vereador ou candidato a deputado, uma coisa assim", como o responsável pelo pedido de doação ao PT.

Irregular. O negócio que resultou em doação para o comitê petista contém irregularidades, segundo auditoria aprovada pelo TCU na quarta-feira. O relatório afirma que a licitação foi dirigida para a Intech Boating, sediada em Santa Catarina, base política dos ministros Altemir Gregolin e Ideli Salvatti. Além disso, ainda de acordo com o tribunal, as lanchas foram compradas sem necessidade e superfaturadas.

Nesta sexta-feira, o dono da Engetec - empresa desclassificada "sem justificativa adequada" da licitação das lanchas, segundo o TCU - confirmou a interpretação do tribunal. César Thomé Filho contou que a Engetec reduziu o preço proposto pela Pesca de R$ 1,6 milhão para R$ 1 milhão. Apesar de atender aos pré-requisitos do edital, perdeu o negócio.

Contratada, a Intech teve o preço das lanchas aumentado por vários "aditivos" contratuais. Entre os motivos estava até dar manutenção às embarcações sem uso. A Intech nega ter sido favorecida com o contrato e qualquer superfaturamento.

Ao final da auditoria do TCU, 19 das 28 lanchas estavam sob a guarda do fabricante ou não haviam entrado em operação. Outras quatro estavam avariadas ou com operações suspensas.

Compradas pelo Ministério da Pesca sem que a pasta tivesse competência para fiscalizar a pesca irregular, 11 das 28 lanchas-patrulha começaram a ser doadas para a Marinha em novembro de 2011. Na quinta-feira, ainda restavam quatro embarcações no estaleiro da Intech Boating.

Erro. "Quando cheguei (ao ministério), havia mais de um ano que esses equipamentos estavam parados. É evidente que isso demonstra que houve um erro, um equívoco em como a questão foi encaminhada", disse Luiz Sérgio, sobre a ação dos ministros do PT. Altemir Gregolin encomendou as lanchas. Ideli pagou parcela pendente de R$ 5,2 milhões do contrato.

Luiz Sérgio deixou duas das lanchas aos cuidados do Instituto Estadual do Ambiente do Rio (Inea), sua base política. Uma delas estava ancorada numa marina privada, deteriorando-se.

Oposição pede investigação do caso

O líder do PSDB no Senado, Álvaro Dias (PR), afirmou ontem que vai pedir à Comissão de Ética Pública da Presidência que investigue o uso indevido da máquina pública pelo Ministério da Pesca. O tucano cobra que a comissão adote procedimentos para esclarecer se houve desonestidade na operação. Ele disse que também não descarta pedir, futuramente, a convocação de Ideli Salvatti para ir ao Congresso esclarecer o caso."

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Ideli evita imprensa; PT sai em defesa da ministra

Em evento na capital, ex-ministra da Pesca e hoje titular da pasta de Relações Institucionais não quis dar entrevista

Daiene Cardoso

Na berlinda por causa das licitações suspeitas das lanchas-patrulha, a ministra de Relações Institucionais da Presidência, Ideli Salvatti - que foi titular do Ministério da Pesca -, evitou a imprensa ontem ao participar do seminário Governança Metropolitana - Desafios, Tendências e Perspectivas, promovido na capital paulista pelo Instituto Lula e pela Fundação Perseu Abramo.

Nada de anormal. Coube a dirigentes petistas defenderem a ministra. "Ideli não tem a ver com os acontecimentos", afirmou o presidente nacional do PT, deputado estadual Rui Falcão (SP). "Ela não era ministra. Ela teve sua campanha em grande parte bancada pelo diretório (catarinense), o que é normal", disse ele. O PT de Santa Catarina recebeu uma doação da empresa que produziu lanchas-patrulha para o Ministério da Pesca.

Como o Estado revelou na edição de ontem, após ser contratada para construir lanchas-patrulha de mais de R$ 1 milhão cada para o Ministério da Pesca, a empresa Intech Boating foi procurada para doar R$ 150 mil ao comitê financeiro do PT de Santa Catarina.

O comitê financeiro do PT catarinense, de acordo com a reportagem, bancou 81% dos custos da campanha a governador em 2010 e a candidata do partido era Ideli, atual coordenadora política do governo e ex-ministra da Pesca.

Contradições. Para Falcão, Ideli não pode ser culpada pela doação feita pela Intech Boating. Na avaliação de Falcão, há contradições na entrevista do dono da Intech, José Antônio Galízio Neto, que "ora fala que foi procurado pelo ministério e ora fala que foi procurado por um candidato", descreve. "É preciso entender o que se passou, mas certamente a ministra não tem a ver nem com a doação nem com o destino da doação."

Ideli não falou com a imprensa na chegada e saiu evitando os jornalistas. De acordo com Falcão, a ministra não pôde atender aos pedidos de entrevista porque tinha um compromisso.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

'Doar dinheiro assim não é normal; é corrupção'

Empresário que perdeu concorrência na venda de lanchas diz que negócio foi dirigido para beneficiar a Intech Boating

BRASÍLIA - Desclassificado do leilão para o fornecimento de lanchas ao Ministério da Pesca - contrato que, segundo auditoria do Tribunal de Contas da União (TCU), foi feito "sem justificativa adequada" -, o dono da Engetec, Cesar Thomé Filho, diz não ter dúvida de que o negócio foi dirigido para beneficiar a Intech Boating, que faturou R$ 31 milhões.

Em entrevista por telefone ao Estado, ontem, ele especula que o dinheiro doado pela Intech ao PT de Santa Catarina saiu do preço superfaturado das lanchas. "É corrupção", diz. / M.S.

O TCU diz que a licitação para a compra das lanchas-patrulha foi dirigida para a Intech Boating.

Não tenho a menor dúvida disso. A descrição técnica (do edital) era a embarcação da Intech, sem tirar nenhum parafuso. Outra característica curiosa: a licitação aconteceu na véspera do Natal de 2009, época em que ninguém fica procurando nada. Quando cheguei a Brasília, fui a um gabinete bem em frente ao do ministro. Já estava sentado o dono da Intech. Ele perguntou o que eu estava fazendo ali, com cara de surpresa. Fizeram uma sabatina comigo, eu senti que havia já algum interesse de que eu não participasse (da concorrência). Daí pediram um intervalo para o almoço. No elevador, esse rapaz da Intech fez uma sugestão. Eu me fiz de desentendido.

Que tipo de sugestão?

Para fazer uma parceria. Se você fala isso, significa que há um acordo para manter o preço lá em cima, e cada um faz a metade. Quando voltamos, começamos o pregão. O preço era R$ 1.670.000 para cada barco. Era uma licitação milionária. Eu cheguei a R$ 1.049.500 (por lancha). Quando me declararam vencedor, foram levantar alguma coisa para me desclassificar. A exigência que fizeram não justificava a desclassificação. Depois eu soube que houve uma majoração do preço. Numa manobra, o preço subiu. Eu ficaria tranquilo se não tivesse havido essa majoração depois. Ele (o representante da Intech) tinha por obrigação fazer por aquele valor.

O sr. participa de licitações. Acha normal um órgão de governo pedir doação para campanha eleitoral, como ocorreu com a Intech, que doou ao comitê do PT em Santa Catarina?

Olha, isso nunca aconteceu comigo. Não é normal, todo mundo sabe que isso é corrupção. O cara vai doar um dinheiro baseado no quê? Baseado num sobrepreço que ele pôs. Não vai tirar dinheiro do bolso para dar. Não é louco de jogar dinheiro fora.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Fornecedora da Pesca doou a comitê do PT

No ano em que Ideli disputou governo de SC, partido pediu R$ 150 mil a empresa que tinha contrato com ministério

Michel Filho

BRASÍLIA e SÃO PAULO. A fornecedora de lanchas-patrulha para o Ministério da Pesca, a Intech Boating, doou para o comitê financeiro da campanha do PT de Santa Catarina, em 2010, R$ 150 mil no mesmo dia em que passou a ser fiel depositária de seis dos 28 equipamentos comprados de forma irregular. A empresa ficou com a guarda das seis lanchas, adquiridas pelo ministério apesar de o órgão não ter atribuição de fiscalizar a pesca ilegal, porque não havia sequer definição do local onde deveriam ser entregues.

Ao detalhar irregularidades na licitação e no planejamento das compras, o Tribunal de Contas da União afirmou que apenas três lanchas estavam em operação no segundo semestre do ano passado. A Intech Boating é de Santa Catarina, estado do ex-ministro Altemir Gregolin, citado na auditoria como um dos responsáveis pelas compras irregulares. Em entrevista ao jornal "O Estado de São Paulo", o proprietário da empresa, José Antônio Galízio Neto, afirmou que o pedido de doação teria partido do próprio ministério, que despejou R$ 31 milhões nos cofres da empresa, entre 2009 e 2011, de acordo com dados do Portal da Transparência. Parte dos pagamentos ocorreu depois que a atual ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, assumiu o Ministério da Pesca, em 2011. Salvatti disputou e perdeu a eleição para o governo de Santa Catarina, em 2010.

Ontem, ao falar ao GLOBO, José Antônio Galízio Neto negou que tenha partido do ministério o pedido, mas admite que foi procurado pelo PT para fazer doação eleitoral, por seus negócios com o governo.

Em São Paulo, Ideli Salvatti se negou a comentar o fato:

- Um beijo no coração - disse ela ao encerrar sua participação no seminário "Governança Metropolitana - Desafios, Tendências e Perspectivas", realizado pelo Instituto Lula em São Paulo, e sair sem falar com a imprensa, mesmo prometendo que daria entrevista

Mais cedo, em nota, a ministra negou qualquer tipo de relação com a Intech Boating. A Secretaria de Relações Institucionais (SRI) sustentou que os recursos não foram para a campanha de Ideli, mesmo que a maior parte do dinheiro utilizado na corrida ao governo do estado tenha saído do comitê financeiro do PT. Ainda alega que o contrato foi assinado em 2009, quando Ideli exercia mandato no Senado.

A doação de R$ 150 mil ocorreu em 13 de setembro de 2010, data em que o Ministério da Pesca assinou com a fornecedora o termo de compromisso para que a mesma mantivesse no depósito seis das 28 lanchas. Em 10 de dezembro de 2010, outro termo de compromisso foi assinado para que a empresa ficasse com outras 10 lanchas, todas já contratadas e com regular fluxo de pagamento.

Em nota, o Ministério da Pesca não comentou se há ou não relação entre a doação ao PT e os contratos com a empresa. Afirma ainda que as 28 lanchas estão com destinação, sendo que11 delas foram repassadas, em parceria, à Marinha.

FONTE: O GLOBO

Oficiais dizem que governo e mídia acirram revanchismo

Militares usam loja maçônica para comemorar a "Revolução de 1964"

O general Rocha Paiva afirma que "houve sim tortura" durante o regime militar, mas que agora "há muito mais"

Lucas Ferraz

BRASÍLIA - Um grupo de militares da reserva e civis, mulheres, crianças se reuniram na quarta-feira para lembrar a "Revolução de 31 de março de 1964" -nome que dão ao golpe que instalou a ditadura militar (1965-1984) no país.

O encontro, que ocorre todo ano em Brasília ou no Rio, teve como debate principal a Comissão da Verdade, grupo governamental que investigará violações aos direitos humanos no regime.

A criação da comissão tem acirrado a disputa entre esquerda e direita sobre a memória sobre a ditadura.

Nas rodas de conversa, os militares criticaram a mídia e a presidente de Dilma Rousseff -que participou da luta armada contra o regime- por considerarem a Comissão da Verdade uma revanche.

O grupo Ternuma (Terrorismo Nunca Mais) foi o convidado para organizar uma palestra sobre a comissão e o golpe. O coronel reformado Carlos Alberto Brilhante Ustra foi um dos mais cumprimentados da noite.

Ex-comandante do DOI-Codi (centro de repressão do Exército) de São Paulo, Ustra é acusado de torturar presos políticos, o que ele nega: "Não vou falar nada, meu filho".

Em sua palestra, o general da reserva Luiz Eduardo Rocha Paiva usou uma apresentação em Powerpoint para defender a "revolução". Usando uma caneta laser, exaltou o salto econômico do período: "Éramos a 46ª economia do mundo e passamos, com a revolução, para a 8ª posição".

E falou da tortura: "99% das denúncias de tortura eram mentirosas". Depois, concluiu: "Houve sim tortura, mas agora, sob o regime democrático, há muito mais".

O evento terminou com Paiva e colegas prometendo lutar "contra mais essa grande injustiça", a Comissão da Verdade. A plateia aplaudiu.

FOLHA DE S. PAULO

Amorim: 'Somos contra qualquer violência'

Ministro da Defesa evita polêmica ao falar da ditadura

BRASÍLIA. Um dia após o tumulto entre apoiadores e opositores do golpe militar de 1964, na Cinelândia, no Rio, e três dias depois de a Organização dos Estados Americanos (OEA) ter notificado o governo brasileiro para apurar a morte do jornalista Vladimir Herzog, ocorrida durante o regime militar, o ministro da Defesa, Celso Amorim, evitou entrar em polêmica. O golpe de 1964, que depôs o presidente civil João Goulart e deu início a uma ditadura de 21 anos, faz aniversário hoje.

- Somos contra qualquer violência. Somos a favor de que haja sempre liberdade de expressão, desde que pacífica e respeitosa - afirmou o ministro, ao ser questionado sobre o tumulto ocorrido na última quinta-feira no Rio de Janeiro, após o encontro de dois atos: um para comemorar os 48 anos do golpe no Clube Militar, e outro que pedia a punição para os crimes da ditadura.

Na terça-feira, o governo brasileiro recebeu notificação da Corte Interamericana de Direitos Humanos da OEA, que abriu investigação para apurar se houve omissão do Brasil ao não punir os responsáveis pela tortura e pelo assassinato do jornalista Vladimir Herzog, em 1975, durante o regime militar. Indagado sobre a notificação, o ministro respondeu:

- Não sei. Não recebi ainda. Isso é pelo Itamaraty.

As declarações foram dadas após solenidade comemorativa dos 40 anos do Hospital das Forças Armadas, em Brasília, quando também houve cerimônia de troca de direção da unidade.

FONTE: O GLOBO

Geisel admitiu que Herzog foi morto por militares

Documento histórico revela: general disse em entrevista a pesquisadores que Exército foi responsável direto pela morte do jornalista.

Mortes à sombra dos quepes

Em trechos inéditos de um depoimento histórico, o ex-presidente Ernesto Geisel defende a tortura e confirma que o Exército matou Vladimir Herzog e o operário Manuel Fiel Filho

Carlos Franco

A poucos dias do anúncio dos nomes da Comissão da Verdade responsáveis por desvelar os segredos guardados nos porões da ditadura militar (1964-1985), um pouco das histórias escondidas pela repressão foi trazido à luz por uma entrevista concedida em 1993 pelo general Ernesto Geisel ao Centro de Documentação e Pesquisa (CPDOC) da Fundação Getulio Vargas (FGV). Quarto presidente a ocupar o Palácio do Planalto depois do golpe de 31 de março de 1964, o "Alemão" confirmou que o regime à época não só praticava a tortura, como foi o responsável direto pelas mortes do jornalista Vladimir Herzog, em 1975, e do operário Manuel Fiel Filho, em 1976. Geisel chegou a confirmar aos historiadores Maria Celina D"Araújo e Celso Castro que, ao contrário da versão oficial difundida à época, Fiel Filho foi, sim, morto por militares: "Num fim de semana, ele (o então comandante do Exército em São Paulo, general Ednardo D"Ávila Mello) não estava em São Paulo e mataram o operário".

O material recolhido pelos pesquisadores, e que deve ser analisado pela Comissão da Verdade, reúne mais de 36 horas de gravações que traçam um panorama da história recente do país. Parte já foi publicada no livro Dossiê Geisel, mas vários trechos permanecem inéditos — como a confissão do assassinato de Fiel Filho pelo Exército. Maria Celina diz ao Estado de Minas que, mais importante do que os depoimentos dos comandantes militares coletados pela instituição — que encerram um ciclo até porque muitos morreram —, é avançar na reconstituição dos aparelhos de terror do Estado.

"Os militares, inclusive Geisel, defenderam a repressão, mas o regime de terror de Estado teve participação ativa da mídia e de empresários. Essa é a história que falta levantar. Espero que a Comissão da Verdade avance nesse sentido", pressiona Celina. Geisel, explica ela, tentou driblar e desmantelar a esquerda e a extrema direita durante o seu governo. "Teve êxito no primeiro combate, pois a esquerda se desmantelou, mas a extrema direita se manteve ativa e operante até o atentado no RioCentro, em 30 de abril de 1981, durante o show do 1º de Maio", esclarece. Faltaria ouvir, portanto, empresários que estão vivos e podem esclarecer o funcionamento das masmorras.

"A sociedade que participou dessa repressão precisa e deve ser ouvida, como ocorreu na Alemanha pós-Hitler e como ocorre hoje na Espanha em relação à ditadura de Franco." Celina está convencida de que, assim, a história será resgatada e de que a anistia estará em xeque e poderá ser revista. "O governo do general João Baptista Figueiredo foi o governo dos órgãos de inteligência e o texto da Lei de Anistia levou em conta essa realidade. "A historiadora não vê esse resgate da memória como sinal de revanche, mas como dever de Estado, em nome da verdade histórica.

Falta de comando Maria Celina contou que não se surpreendeu na manhã de 1993, quando Geisel defendeu a tortura, porque "o fez em nome da corporação, do Exército". Descendente de alemães, o general, que nasceu em Bento Gonçalves (RS) em 3 de agosto de 1907, teve formação luterana e guardava profundo respeito à hierarquia. Ao defender a tortura, tratou de dizer que um grupo de militares aprendeu as táticas na Inglaterra durante o governo de Juscelino Kubistchek de Oliveira e que, para evitar mal maior, a tortura se justificava. A confissão, dita em tom seco, tenta justificar a prática ainda negada pelos militares, e será alvo da revisão histórica da Comissão da Verdade. "Acho que a tortura em certos casos torna-se necessária, para obter confissões", defendeu Geisel aos pesquisadores.

O general, apesar de manter a visão corporativa da tropa, disse a historiadora, não se recusou a falar de temas cruciais, como as mortes, durante o seu governo, do jornalista Vladimir Herzog e do operário Manuel Fiel Filho. Atribuiu os dois enforcamentos nas dependências da repressão em São Paulo à ausência de comando e diz que o general Ednardo D"Ávila Mello, do II Comando Militar em São Paulo, teria abandonado a tropa para atender a convites da alta sociedade de São Paulo. "Ele ia passear no fim de semana, fazendo vida social, e os subordinados dele, majores, faziam o que queriam. Ele não torturava, mas, por omissão, dava margem à tortura."

Confissões da caserna

Os depoimentos de generais, almirantes, brigadeiros, coronéis e tenentes tomados pelos pesquisadores do CPDOC/FGV deram origem aos livros Visões do golpe: a memória militar sobre 1964; Os anos de chumbo: a memória militar sobre a repressão e A volta aos quartéis: a memória militar sobre a abertura, todos coordenados e organizados por Maria Celina com Celso Castro e Gláucio Soares. Já trechos do depoimento do general Ernesto Geisel deram origem ao Dossiê Geisel, livro editado pela FGV, que está esgotado. Apenas para pesquisadores, a FGV franquia o acesso aos depoimentos fonográficos e à transcrição completa do depoimento do general, morto em 1996. O testamento em que fala abertamente da vida pessoal e militar e de suas impressões sobre o Brasil e a política foi revisado, página por página, pelo próprio general até 1996, quando morreu em 12 de setembro, vítima de câncer. A filha, Amália Lucy Geisel, também historiadora, foi quem deu aval para a FGV divulgar o documento.

FONTE: O ESTADO DE MINAS

Instituto Herzog apoia OEA e cobra nomes da Comissão da Verdade

Entidade defende apuração do caso para que se identifiquem responsáveis pela morte do jornalista no DOI-Codi

Fernanda Yoneya

O Instituto Vladimir Herzog manifestou apoio à decisão da Comissão Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA) de investigar a morte do jornalista Vladimir Herzog, ocorrida no DOI-Codi de São Paulo em 1975. A notificação da decisão foi recebida pela delegação brasileira na OEA, em Washington, e a denúncia foi entregue na terça-feira.

"A decisão de investigar o assassinato de Vladimir Herzog merece o apoio de todos aqueles que propugnam a democracia, a liberdade de expressão e os direitos humanos", diz o texto publicado ontem no blog do instituto. "Essa decisão é mais uma demonstração da importância dos protestos contra esse assassinato e do valor desses protestos para a História recente do País e para seu futuro, pois foi a partir deles que começou a ruir a ditadura, para dar lugar ao regime democrático que hoje vivemos."

O texto lembra que outros países que sofreram ditaduras já foram objeto de processos semelhantes da comissão - o próprio Brasil foi condenado pela Corte pelo desaparecimento de militantes na Guerrilha do Araguaia.

"O caso emblemático do assassinato de Vladimir Herzog, por agentes da ditadura, já foi reconhecido pela Justiça, pela União e no âmbito da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos da Secretaria Nacional de Direitos Humanos. No entanto, ainda não foi investigado para determinar quais foram esses agentes, quais seus nomes, quais seus cargos", diz o texto.

"É pela ausência desses esclarecimentos que a decisão da CIDH se reveste de importância ainda maior, na medida em que traz renovado impulso à necessidade de imediata nomeação dos integrantes da Comissão da Verdade e início de sua atuação."

A Secretaria de Direitos Humanos, responsável por coordenar a resposta brasileira no caso, recebeu a notificação da OEA na quinta-feira e a enviou para apreciação da Advocacia-Geral da União.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Elis Regina & Tom Jobim - "Aguas de Março"

A luta pela memória :: Luiz Sergio Henriques

A instituição da Comissão Nacional da Verdade, mediante diploma legal sancionado em novembro de 2011, com o objetivo de examinar violações dos direitos humanos num largo período de tempo entre 1946 e 1988, tem o poder de fazer com que encaremos um difícil passado de ferro e fogo, torturas e desaparecimentos, concentrados, obviamente, no regime inaugurado em 1964, com marcado recrudescimento a partir de 1968.

Dizer que assim se luta contra "a morte da memória nacional" é, evidentemente, um bom argumento, que se impõe por si só. Muito particularmente, existem ainda mortos sem sepultura: são os "desaparecidos", uma categoria trágica que macula a História política não só do Brasil, mas de países vizinhos que também passaram pelo mesmo ciclo de regimes militares e contestação ora armada, ora pacífica - e, neste último caso, muitas vezes programaticamente pacífica, diga-se de passagem. Manda a verdade admitir que entre nossos vizinhos a tragédia foi incomensuravelmente maior: a violência organizada a partir do Estado, como no caso da Argentina, foi mais concentrada no tempo e se cifra na ordem de milhares de oponentes mortos, em comparação com as poucas centenas de desaparecidos brasileiros.

Mas as marcas do autoritarismo na vida de um país - e até na vida de cada pessoa - não se deixam reduzir à contagem do número de mortos: de fato, a existência de um só prisioneiro político, cujas circunstâncias de morte e respectiva ocultação de corpo nos sejam desconhecidas, deveria ser motivo de escândalo e mobilização de democratas de todos os matizes, inclusive daqueles de orientação conservadora ou mesmo de direita - uma orientação, de resto, que se insere legitimamente em regimes constitucionais democráticos com todos os foros de cidadania, hoje e sempre.

Está nas mãos da presidente da República - uma ex-presa política de um grupo da esquerda armada, submetida a tortura depois da prisão - a indicação dos sete integrantes da Comissão Nacional da Verdade. Pelo fato de ser uma comissão "nacional", o pressuposto é de que esses integrantes não incorporem nenhum espírito de facção ou de parte, mas, ao contrário, de algum modo respondam a todas as forças constitucionais da sociedade política e a todas as expressões e forças livremente atuantes na sociedade civil.

Pode ser uma tarefa dificílima no contexto da dialética torcida em que se trava a luta política entre nós, e daí, talvez, a relativa demora na indicação. Na verdade, a presidente tem de encontrar nomes equivalentes ao que foram, moral e politicamente, alguns dos "grandes velhos" da República, como, para citar exemplos do passado recente, Alceu Amoroso Lima, Barbosa Lima Sobrinho e Raymundo Faoro. Ou ainda, para homenagear sentidamente um brasileiro de exceção, dom Paulo Evaristo Arns.

A comissão se quer não só "nacional", mas também da "verdade". Aqui cabe aludir a um delicado problema: sem fazer concessão excessiva ao relativismo, sabe-se que, na democracia, as narrativas são necessariamente plurais e abertas à contribuição de uma multiplicidade de atores. A democracia, decididamente, não é um grande monólogo; antes, pressupõe a diversidade de falas, cada uma delas com maior ou menor capacidade de convencimento (de universalização). Por isso, em algum momento, não, obviamente, no terreno criminal, mas no terreno da política, colocar-se-á novamente uma questão espinhosa para o conjunto das esquerdas: por que a "militarização da política" se revelou uma tentação irresistível para tantos agrupamentos, com o respectivo respaldo dos seus intelectuais e de toda uma cultura difusa que pregava a "crítica das armas" e desprezava as "armas da crítica", ou seja, a luta nos espaços legais que nunca deixaram de existir?

Em outras palavras, por que, afinal, a resistência democrática e a esquerda armada representaram fenômenos diferentes e até antagônicos, na medida em que bem se pode argumentar que aquela crítica das armas contribuía, a despeito das melhores intenções, para o endurecimento do próprio regime que se queria combater? Não se trata só de uma questão pragmática, derivada do fato de que assim se escolhia, para travar a "forma superior de luta", um terreno em que o adversário era por natureza mais forte e jamais deixaria de ser, pela própria força das coisas. Trata-se também de uma questão de princípio: que tipo de sociedade nova se pretendia alcançar pelos meios da "violência revolucionária"? Como transformar a mudança social - em benefício do conjunto da população - em mera questão de homens e armas ou de assalto violento ao poder?

A conjuntura aberta pela próxima constituição da Comissão Nacional da Verdade pode ser não apenas uma ocasião de lançar luz sobre um infeliz passado recente e resgatar documentos e testemunhos indispensáveis para localizar combatentes desaparecidos ou mesmo as circunstâncias do seu desaparecimento - uma tarefa, aliás, cuja dimensão simbólica faz emudecer a linguagem e o comportamento típicos das ideologias da guerra fria. Haverá de ser, ao mesmo tempo, uma oportunidade para que as diferentes esquerdas elaborem - ou, em alguns poucos casos, reelaborem - uma cultura de paz que não seja instrumental, mas se incorpore aos valores universais que devem defender em toda e qualquer circunstância.

Nesse caminho, velhas e novas incoerências poderão ser suplantadas em sentido positivo. Descobriremos, talvez surpresos, que a vida democrática é simultaneamente frágil e resistente. Mesmo nos seus pontos mais frágeis, ainda assim é o mecanismo mais poderoso até hoje estabelecido para refrear, institucionalizar e dar um desfecho progressista às tensões e violências que, ao que parece, sempre estão, e continuarão a estar, de tocaia nas sociedades humanas.

Tradutor, ensaísta; é um dos organizadores das obras de Gramsci no Brasil

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Encontro adiado:: Míriam Leitão

Parece uma maluquice que, quase 50 anos depois do golpe militar que fechou o Congresso, suspendeu direitos constitucionais, prendeu, cassou, exilou, torturou, matou e ocultou cadáveres, ainda seja preciso explicar que isso não se comemora. Nas divergências dos últimos dias o país mostrou os equívocos nascidos do silêncio. A democracia confundiu não punir com não saber. Assim, adiou um encontro inevitável.

Não foi a Comissão da Verdade que trouxe um conflito velho de volta à mesa. Ele sempre existiu, e se nunca apareceu foi pela antiga mania nacional de achar que o melhor caminho para evitar uma fratura é fingir que ela não existe. A questão jurídica que fique entregue à Justiça; outra completamente diferente é a busca dos fatos e circunstâncias das mortes de pessoas que estavam nas mãos do Estado.

Rubens Paiva desapareceu quando estava dentro de instalações do I Exército, no Rio; Vladimir Herzog foi morto quando estava dentro do II Exército, em São Paulo. Passaram-se 41 anos do primeiro fato; 36 anos do segundo fato. A ditadura acabou há 27 anos. O país ainda não encontrou tempo para repor os fatos históricos, corrigir versões canhestras dadas à época, quando a imprensa foi silenciada, e de fazer uma reflexão madura sobre esses, e tantos outros, fatos trágicos.

Congelado pelo silêncio, o debate voltou como se o Brasil tivesse entrado num túnel do tempo. Uma discussão que não ocorre no momento certo não se desenvolve e, portanto, não pode ser superada. É espantoso que o Brasil tenha tentado contornar por tanto tempo o incontornável trabalho de entender cada um dos inúmeros eventos sobre os quais a ditadura impôs sua versão, omitiu fatos e ocultou documentos.

Que os militares da reserva se reúnam num clube com suas ideias emboloradas e as exponham para sua plateia de convertidos, ou comprometidos, é exercício da democracia e da liberdade de expressão que negaram ao país nas duas décadas que o governaram. O que está errado não é que eles em seus pijamas mantenham suas convicções. O erro é que os que na democracia têm comandado as Forças Armadas permanecem com a mesma versão delirante dos fatos e a transmitem aos seus subordinados numa reprodução inaceitável de um conjunto de valores perigoso para a democracia.

O silêncio de quem está com a farda não engana ninguém. Assim que se aposentam, usam a liberdade que recebem para expor as mesmas velhas ideias. Nunca houve autocrítica. Não é um clube de velhinhos de um lado e um Exército atualizado do outro. Quando o assunto é o que houve entre 1964 e 1985, jovens oficiais, que nada têm a ver com aquele tempo, estão sendo ensinados que as Forças Armadas livraram o Brasil de perigos e não cometeram erros.

O que leva jovens militantes para a porta do Clube Militar é o acinte de tantos anos depois ainda comemorarem o que deveria ser repudiado. Os militares da ativa durante anos na democracia celebraram a data de 31 de março dentro dos quartéis e não foram impedidos. Deveriam ter sido impedidos de fazerem isso há mais tempo. A celebração de qualquer fato histórico é um momento de renovação e afirmação de um conjunto de valores e convicções. Nesse caso, o que estava sendo celebrado e confirmado foi o que produziu uma tragédia no país. Não se conserta cabeça torta dos militares formados na lógica daquele tempo, mas a democracia deveria ter impedido, há mais tempo, que dentro das Forças Armadas esses mesmos pensamentos fossem impunemente reproduzidos.

Os comandantes têm repetido aos seus comandados a sua versão da história. Por serem instituições hierarquizadas, não são contestados. Essa versão continua sendo apresentada como verdade nos cursos internos das escolas de comando. Ensinam aos jovens nos colégios militares os mesmos disparates.

Quando os governos civis fingiram que não viam as celebrações - em nome de não reabrir um velho conflito - estavam permitindo que novas gerações fossem formadas na convicção de que as Forças Armadas estavam certas quando assaltaram o poder em 1964. Para uma república tantas vezes interrompida por surtos autoritários é uma displicência inaceitável. A omissão dos governos democráticos atrasou avanços institucionais e a integral submissão dos militares ao poder civil.

Manter comemorações, explícitas ou veladas dentro dos quartéis, equivale a permitir nos Estados Unidos a defesa dentro do governo da política de segregação racial; ou na África do Sul a defesa do Apartheid; ou na Alemanha os ideais do nazismo. Pode haver nos Estados Unidos, África do Sul ou Alemanha quem defenda essas aberrações. Mas nenhum desses três países admitiria que esses ideias fossem defendidos dentro de órgãos governamentais.

É bem possível que a Comissão da Verdade não chegue aos fatos, que documentos destruídos ou levados para as suas casas pelos militares envolvidos nos crimes cometidos pela ditadura nunca apareçam. Mas o Congresso decidiu que a Comissão fosse criada e ela precisa fazer seu trabalho. Não é instância de punição. É de busca da informação. Se isso reabre velhas feridas, produz conflitos no Centro do Rio, troca de farpas em artigos de jornal não é problema com o qual seus integrantes devam se preocupar. Ainda que tarde o Brasil busca informações. E o país não pode se constranger nesse esforço. O silêncio nunca foi o melhor remédio para as divergências. O debate amadurece convicções e permite a superação dos traumas nacionais.

FONTE: O GLOBO

Afinal, o que quer o Brasil?:: Fernando Rodrigues

Por dever de ofício, acabo indo a recepções para autoridades estrangeiras aqui em Brasília. Numa delas, bem recente, havia deputados suecos. Um deles pergun tou, secundado pelos demais: "Afinal, o que quer o Brasil?".

Não entendi. O sueco detalhou. Queria saber qual é "o objetivo do Brasil na arena global". Disse ter conhecimento do potencial do país e da atual fase de crescimento. "Mas não está claro para mim por que a Suécia deveria dar apoio ao Brasil no plano internacional".

E prosseguiu: "O Brasil quer fazer parte do Conselho de Segurança da ONU. Mas para quê? Vejo o Brasil como um país que parece querer ser amigo de todos internacionalmente. Quando você é amigo de todos, não consegue o respeito nem o apoio necessário".

Uma mulher, também deputada sueca, quis saber por que o Brasil insiste em não condenar países que não defendem os direitos humanos. Citou Cuba. Os suecos, como se sabe, não são o que se pode chamar de conservadores. A crítica não continha nenhum viés ideológico.

Os parlamentares suecos visitaram ministros em Brasília. Um deles relatou: "Perguntei a todos sobre os objetivos da política externa brasileira. O máximo que consegui ouvir foi que a política externa do Brasil visa a garantir o crescimento do país. É um objetivo doméstico. É difícil conseguir apoio de outros países só para benefício próprio".

Lembrei-me dessa conversa por causa da viagem de Dilma Rousseff à Índia. O foco da presidente no cenário internacional tem sido quase 100% sobre o crescimento do país. Não é ruim. Mas é pouco para ser protagonista mundial.

Para terminar, um dos suecos arrematou, sem dó: "O Brasil tem de escolher. Deseja ser apenas um país ou uma nação? Uma nação coloca uma alma na sua política externa. Não entendi ainda qual é a alma da política externa brasileira".

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Uma história de conflitos:: Merval Pereira

A comemoração da presidente Dilma, diretamente da Índia, apontando a aprovação da Lei Geral da Copa como uma prova de que a crise institucional entre o Executivo e o Legislativo só existia "na imprensa", pode ser precipitada.

Há quem veja na rápida reorganização dos partidos da coalizão governamental não o dedo de uma coordenação eficiente com a distribuição de verbas aos parlamentares, mas um recado do Legislativo de que a crise só existe porque a presidente Dilma não sabe lidar com seus aliados.

Nunca a frase "a crise viajou", cunhada pelo então senador Fernando Henrique Cardoso para criticar o presidente José Sarney, foi tão usada pelos parlamentares.

As crises entre o Legislativo e o Executivo brasileiros estão registradas na nossa História, confronto que parece permanente, desde o Império, talvez reforçado pelas características parlamentaristas de nossa Constituição de 1988.

Como temos historicamente um Executivo "imperial" e um Legislativo forte, o choque parece inevitável.

Como exemplos da força do Legislativo, alguns políticos apontam que nunca foi possível ao Executivo impor decisões ao Legislativo, e, sempre que isso foi tentado, um dos dois poderes acabou submetido, ou o presidente caiu (Getulio, Jânio, Collor) ou o Congresso foi fechado, como no regime militar.

O cientista político Sergio Abranches cunhou o termo "presidencialismo de coalização" para caracterizar as necessárias relações entre o Executivo e o Legislativo, e o jurista Pontes de Miranda, no primeiro volume dos "Comentários à Constituição de 1946", já chamava nosso sistema pluripartidário de "presidencialismo de codecisão", que herdáramos da Europa e dos Estados Unidos.

Mas ambos imaginavam negociações políticas em torno de programas partidários, e não fisiológicas como se registram hoje.

O historiador José Murilo de Carvalho, da Academia Brasileira de Letras e professor emérito da UFRJ, acha que, ao longo de nossa História independente, as relações entre Executivo e Legislativo nunca foi unívoca, com alternância entre hegemonia do Executivo, hegemonia do Legislativo e diversos graus intermediários de conflito.

O cientista político da Fundação Getulio Vargas do Rio Octavio Amorim Neto diz que, do ponto de vista histórico, o novo arcabouço institucional estabelecido pela Constituição de 1988 melhorou as condições gerais de efetividade do Executivo, apesar de todos os defeitos da Carta.

Não à toa, diz ele, o que se tem observado desde 2006 - isto é, desde que Lula reorganizou suas relações com os partidos para dar conta da crise do mensalão - são duras fricções entre aliados eventualmente mal coordenados, e não necessariamente crises entre o Executivo e o Legislativo.

O historiador Marco Antonio Villa, professor da Universidade de São Carlos, diz que desde 1985 o Executivo passou a comprar apoios no Legislativo, e por isso ele chama esse "modelo" de "presidencialismo de transação, de negócios, e negócios nada republicanos".

Para José Murilo de Carvalho, o Primeiro Reinado (1822-1831), graças ao Poder Moderador da Constituição e ao caráter autoritário do imperador, foi de predomínio do Executivo.

Na Regência (1831-1840), com governante eleito e sem o Poder Moderador, o Legislativo dominou a cena, a ponto de levar Feijó à renúncia.

No Segundo Reinado (1840-1889), sob Pedro II, caminhou-se lentamente para o parlamentarismo, mas ainda debaixo da sombra do Poder Moderador.

Na Primeira República (1889-1930), o Executivo foi amplamente hegemônico frente ao Legislativo. "O federalismo da nova Constituição conferiu grande poder aos governadores, mas a política dos estados de Campos Sales, substituta do Poder Moderador, fez com que o contrapeso dos estados se reduzisse a uns cinco com os quais o presidente tinha que negociar."

Já Marco Antonio Villa acha que no Império não tivemos esse conflito entre Executivo e Legislativo, pois desde 1847, com a criação da Presidência do Conselho de Ministros, o primeiro-ministro era sempre do partido majoritário.

Quando isso não ocorria, a Câmara era dissolvida, e convocadas novas eleições, que davam, inevitavelmente, maioria ao chefe do governo.

Na Primeira República, na sua opinião, não ocorreu este tipo de confronto entre Executivo e Legislativo, pois os parlamentares estavam submetidos ao chefe de governo via mandatários estaduais.

De 1930 a 1945, na definição de José Murilo de Carvalho, tivemos "tempos revolucionários e autoritários", o Congresso pouco mais fez do que elaborar a Constituição de 1934, de curta vigência.

"Um Executivo forte e centralizador domou até mesmo os governadores, com o auxílio de um terceiro poder moderador, as Forças Armadas."

Marco Antonio Villa chama de "breve período democrático (pero no mucho)" o de 34-37, quando ressalta que Getulio governou como quis, principalmente após a revolta comunista de novembro.

"Aprovou de tudo, até que os parlamentares autorizassem a prisão dos próprios colegas", comenta Villa.

Para José Murilo de Carvalho, as coisas começaram de fato a mudar a partir de 1945, quando a relação entre os dois poderes passou a ser conflituosa e instável até 1964.

A ditadura (1964-1985) reimplantou o predomínio de Executivo, voltando o conflito após a Constituição de 1988. Portanto, analisa José Murilo, com a exceção da Regência e dos períodos democráticos pós-1945, "a regra foi o predomínio do Executivo, com ou sem poder moderador".

O cientista político Octavio Amorim Neto diz que, desde a queda do Estado Novo em 1945, as relações entre Executivo e Legislativo no Brasil foram marcadas, até recentemente, por grandes crises.

"Basta lembrar que quase todos os presidentes que não conseguiram formar ou manter uma maioria parlamentar não lograram terminar seus mandatos".

Lula, em 2003-2006, é a primeira exceção, lembra Amorim Neto. "Ainda assim, o ano de 2005 se caracterizou por uma grave crise política cuja origem se encontra na má organização da base de apoio do chefe de Estado na Câmara dos Deputados e que quase o levou à lona". (Continua amanhã)

FONTE: O GLOBO

Em greve, usina entra em operação

Hidrelétrica de Santo Antônio dá início à geração comercial e operários votam na segunda-feira proposta de retorno ao trabalho

Nilton Salina,

PORTO VELHO - A usina de Santo Antônio, em construção no Rio Madeira, iniciou ontem a geração comercial, nove meses antes do previsto no contrato de concessão. Duas turbinas capazes de produzir 71,6 MW cada uma, o suficiente para atender 350 mil residências, já estavam funcionando em regime experimental há algumas semanas, mas a partir de ontem passaram a alimentar o Sistema Interligado Nacional.

Parte dos 15 mil trabalhadores da usina que estão em greve há 11 dias pode voltar ao trabalho na próxima semana. Uma proposta de acordo feita ontem pelo Tribunal Regional do Trabalho (TRT) de Rondônia e Acre, já aceita pelo consórcio responsável pelas obras, estabelece 7% de reajuste para quem ganha até R$ 1.500 e 5% para quem recebe acima deste valor, além de pagamento dos dias parados. A proposta será votada na segunda-feira em assembleia dos trabalhadores.

A greve começou dia 9, entre funcionários da empresa Enesa, responsável pela instalação das turbinas de Jirau. Em seguida, o movimento teve adesão de trabalhadores da Camargo Corrêa, contratada pela Energia Sustentável do Brasil. O Sticcero pede reajuste salarial de 30%.

De acordo com nota divulgada pelo, nas alegações pedindo o fim da greve, o Consórcio Construtor Santo Antônio relatou que o movimento poderia provocar graves consequências para a cidade de Porto Velho, para comunidades ribeirinhas e para trabalhadores alojados no canteiro de obras, por causa dos riscos de sabotagem à geração de energia elétrica. Essas foram algumas das razões que levaram a Justiça a determinar o fim da greve.

Inicialmente, a decisão judicial não foi cumprida pelos trabalhadores, e por isso o TRT convocou ontem uma reunião para tentar um acordo entre os consórcios responsáveis pelas obras das usinas de Santo Antonio e Jirau e o Sindicato dos Trabalhadores na Indústria da Construção Civil do Estado de Rondônia (Sticcero).

Em decisão liminar, o juiz federal do Trabalho Francisco Montenegro Neto proibiu o Sticcero de impedir o acesso de funcionários ao canteiro de obras da Usina Jirau e de fazer ameaças a quem deseja trabalhar. Ele fixou multa diária de R$ 100 mil pelo descumprimento e prisão para o presidente do sindicato ou qualquer um que impeça o cumprimento da decisão.

Segundo o TRT, representantes do consórcio responsável pela usina Jirau alegaram estar impedidos de exercer as atividades porque o Sticcero está impedindo a entrada e a saída de operários. Anteontem, a Força Nacional de Segurança e a Polícia Militar de Rondônia tiveram de intervir para acabar com os piquetes.

Tumulto. No dia 20, funcionários da usina de Santo Antônio também pararam em solidariedade aos trabalhadores de Jirau. Eles também reivindicam reajuste de 30%. Na quinta-feira, um grupo ligado ao Sticcero depredou ônibus de empresas terceirizadas e iniciou a destruição de alojamentos e do refeitório. A confusão foi contida pela Força Nacional de Segurança e pela PM de Rondônia.

O Consórcio Construtor Santo Antônio informou que cerca de 97% dos trabalhadores retornaram ao trabalho quinta-feira. Diante de um princípio de tumulto, o consórcio dispensou os trabalhadores.

Até o fim do ano a hidrelétrica deve colocar 12 turbinas em geração comercial. Em janeiro de 2016, a energia gerada será suficiente para atender a 40 milhões de consumidores.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Para governo, greves em hidrelétricas não comprometem prazos

Na terça-feira será instalada uma comissão permanente tripartite para negociar condições de trabalho nessas obras

Eduardo Rodrigues

BRASÍLIA - As greves que afetam a construção das usinas de Belo Monte, Jirau e Santo Antônio não devem comprometer os prazos de entrada em operação, avaliou ontem o secretário de Planejamento e Desenvolvimento Energético do Ministério de Minas e Energia, Altino Ventura Filho. Tampouco há preocupação quanto ao suprimento de energia no País.

"Esse tipo de evento (greve) não necessariamente compromete o andamento das obras, mesmo porque os cronogramas dessas usinas já foram antecipados, uma vez que os consórcios ganham mais se entregarem a energia em um tempo menor", afirmou Ventura Filho à Agência Estado. "Além disso, o crescimento da economia brasileira tem sido menor que o previsto, portanto a demanda energética também diminui."

Na segunda-feira, deverá ser publicada no Diário Oficial da União uma portaria assinada pelo ministro da Secretaria Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, instalando uma comissão permanente tripartite composta por representantes do governo, trabalhadores e empresas para negociar as condições de trabalho. A primeira reunião está prevista para terça-feira, no Palácio do Planalto.

Essa comissão faz parte das ações previstas no Compromisso Nacional para Aperfeiçoamento das Condições de Trabalho na Indústria da Construção, lançado pelo governo no início de março. Já assinaram termos de adesão ao compromisso os responsáveis pelas obras das hidrelétricas de Jirau, Santo Antônio e Belo Monte, em Rondônia. Com a comissão, o governo pretende melhorar as condições de trabalho e mediar a resolução de conflitos nas três hidrelétricas e em outras obras.

Efeitos. Segundo o Ministério de Minas e Energia, as greves por enquanto não prejudicam a entrega de energia dessas usinas nos próximos anos. Mas o secretário pondera que, se os movimentos se arrastarem por muito tempo, aí sim seus efeitos poderão começar a ser sentidos na produção. "A expectativa é de que se chegue a um entendimento o mais breve possível. O ministério não participa diretamente das negociações, mas acompanha o processo de perto."

De acordo com Ventura Filho, o ministério foi convidado para apresentar uma exposição sobre a importância dessas usinas para o suprimento energético do País nesta década, durante a reunião da comissão tripartite, na semana que vem. "Metade da energia necessária para os próximos dez anos virá das hidrelétricas e 63% desse total já está contratada."

Licenciamento. O secretário afirmou que o ministério também está acompanhando o desenrolar da situação da usina de Teles Pires, cujas obras foram suspensas nesta semana depois que decisão da Justiça Federal de Mato Grosso invalidou a licença ambiental do empreendimento. "Modificações no projeto serão feitas, se forem necessárias. Os atores envolvidos nesse processo devem chegar logo a um entendimento."

Colaborou Rafael Moraes Moura

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Mais protestos no segundo dia de paralisação em Belo Monte

Os cerca de 5 mil trabalhadores das obras da usina ocuparam o local; pela manhã, ônibus foram impedidos de sair

Fátima Lessa

CUIABÁ - Vários protestos marcaram o segundo dia de greve dos trabalhadores do Consórcio Construtor Belo Monte (CCBM) responsável pelas obras da usina que está sendo erguida na Volta Grande do Rio Xingu, Altamira do Pará.

Cerca de 5 mil trabalhadores se concentraram em frente à Concha Acústica. A situação é tensa. Policiais ocupam pontos estratégicos da obra, inclusive o prédio Espaço da Norte Energia, para evitar depredação. No início da manhã, ônibus foram impedidos de seguir viagem.

Os trabalhadores reivindicam o cumprimento de acordos com os responsáveis pelo consórcio. A greve começou dois dias depois da morte do operário da empresa terceirizada Dandolini e Peper, Orlando Rodrigues Lopes, no Sítio Pimental, canteiro de obra onde estão sendo construídos os canais.

O corpo foi velado em Altamira, onde o trabalhador morava, e sepultado ontem. Em nota, o consórcio informou que tomou as providências de apoio à família e nos órgãos legais.

Entre as reclamações dos trabalhadores constam aumento salarial, redução dos intervalos entre as baixadas (visita dos trabalhadores a suas famílias) de seis para três meses, a não redução do pagamento e solução de problemas com comida e água. A falta de segurança também é destacada pelos trabalhadores.

As obras da usina de Belo Monte estão distribuídas em cinco canteiros: Sítio Pimental, Sítio Belo Monte, Sítio Porto e acessos a 27 quilômetros de Altamira, e Sítio Canais e Diques.

Decisões. O Ministério Público Federal, por meio do procurador regional da República da 1.ª Região, Odim Brandão Ferreira, questionou a decisão que, por 2 votos a 1, vencida a relatora Selene Almeida, negou o direito de consulta prévia aos índios no caso da hidrelétrica de Belo Monte no ano passado. O MPF entrou com embargos de declaração, um tipo de recurso judicial no qual se busca esclarecer omissões ou obscuridades no texto da decisão contestada.

Em 28 de março, a juíza federal de Mato Grosso Célia Regina Ody Bernardes declarou inválida a licença de instalação da usina Teles Pires, na divisa de Mato Grosso com o Pará e suspendeu todas as obras, "em especial as detonações de rochas naturais que vêm ocorrendo na região do Salto Sete Quedas", local considerado sagrado pelos índios Caiabis, Mundurucus e Apiacás.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Acordo pode pôr fim à greve nas usinas do PAC na segunda-feira

Propostas, no entanto, ainda precisam ser aprovadas em assembléias

Geralda Doca

BRASÍLIA. A greve nas obras das três grandes usinas do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) na Amazônia pode acabar no começo da próxima semana. Ontem, em audiência de conciliação mediada pela justiça trabalhista de Porto Velho (RO), representantes dos sindicatos de trabalhadores e das construtoras (Camargo Corrêa, Enesa e Odebrecht) fecharam um acordo coletivo para o retorno às atividades nas hidrelétricas de Santo Antônio e de Jirau, no Rio Madeira. Falta agora a aprovação da proposta pelas assembleias dos trabalhadores, marcadas para a manhã de segunda-feira.

Em Belo Monte (no Rio Xingu, no Pará), o consórcio responsável pelo empreendimento se comprometeu a avaliar as reivindicação dos trabalhadores, desde que eles retornem às obras.

Pelo acordo firmado entre as partes no Tribunal Regional do Trabalho (TRT), da 14 região, as construtoras de Jirau e Santo Antônio vão reajustar os salários em 7% para quem ganha até R$ 1.500 e acima disso, em 5%, já no contracheque de abril. As cestas básicas subirão de R$ 170 para R$ 220 para quem recebe salário até R$ 1.500.

Haverá uma negociação para resolver o pagamento dos dias parados já descontados dos salários dos trabalhadores. Eles podem ser totalmente abonados em folha suplementar ou compensados em parte.

- A comissão dos trabalhadores avalia que a proposta pode ser aprovada pelas assembleias - disse Claudio da Silva Gomes, presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores da Construção Civil e da Madeira (Conticom).

Negociações em Belo Monte somente com fim da greve

Em Santo Antônio, a greve completou ontem 23 dias, e em Jirau, 11. Cruzaram os braços nas duas obras 40 mil trabalhadores.

Em meio a indícios de atraso nas obras e com trabalhadores parados, o consórcio responsável pela usina de Santo Antônio informou que duas das 12 turbinas entraram em funcionamento ontem. A assessoria disse que não há qualquer relação com a paralisação e que foi "apenas coincidência", já que as duas turbinas estavam em teste desde dezembro. O PAC previa inauguração em 30 de abril.

O consórcio de Belo Monte informou que o sindicato dos trabalhadores e a empresa começaram a negociar a pauta de reivindicação da categoria e, por isso, os operários de um dos canteiros voltaram às atividades ontem cedo. Já os cerca de 1.200 trabalhadores do canteiro Pimentel decidem o fim da greve na segunda. A paralisação completou ontem três dias.

Os operários de Belo Monte querem reajuste salarial e da cesta básica, redução do intervalo para visita aos familiares em outros estados de seis meses para três meses, e equiparação salarial. Os consórcios responsáveis pelas três obras somente darão prosseguimento às negociações se a greve acabar.

FONTE: O GLOBO

Lula vai a capitais acertar candidaturas

Ex-presidente vai atuar como "bombeiro" em áreas de atrito para o PT

Gustavo Uribe

SÃO PAULO. Em um retorno à linha de frente das articulações políticas para as eleições municipais deste ano, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva já estrutura para os próximos meses, com a ajuda da direção do PT, um cronograma de viagens às principais capitais brasileiras. O périplo, que deve ter início em maio, faz parte de esforço do PT para fechar alianças regionais e acertar os ponteiros em locais onde a legenda tem dificuldades na composição de palanques.

Em encontro na última semana com o presidente nacional do partido, Rui Falcão, o ex-presidente mostrou disposição em atuar como "bombeiro", resolvendo insurgências locais e intervindo em rachas municipais. Em evento na manhã de ontem, ele informou que o ex-presidente - que ainda está em tratamento em consequência do câncer de laringe - deve retornar às articulações políticas em meados de abril.

- Ele tem dito que não pode ter uma agenda alucinante como era antes e vai dosar o ritmo de participações na campanha eleitoral. Há ainda um período de recuperação física. Pelo que ele falou, provavelmente em meados de abril é que vai ter condições de participar de viagens. Ele vai definir conosco uma lista de prioridades para participar dessas campanhas eleitorais - afirmou Falcão.

O comando petista defende como prioridades, no périplo do ex-presidente, Belo Horizonte, Porto Alegre e Recife, capitais onde a capacidade de articulação do ex-presidente seria bem-vinda neste momento. Em Belo Horizonte, o PT local decidiu apoiar a candidatura à reeleição do prefeito Márcio Lacerda (PSB), mas não aceita a participação do PSDB na aliança. Em Recife, por sua vez, o PT ainda está dividido entre as candidaturas de Maurício Rands e João da Costa. Em Porto Alegre, o PT optou pela candidatura de Adão Villaverde, mas o ex-presidente Lula já se disse simpático tanto ao apoio à reeleição de José Fortunati (PDT) quanto à candidatura de Manuela d"Ávila (PCdoB).

FONTE: O GLOBO

Lula quer ajudar Dilma a mudar pastas

Ex-presidente disse que vai auxiliar sucessora a negociar, com aliados, dança das cadeiras no ministério para evitar danos a Haddad em SP

Vera Rosa, Julia Duailibi

BRASÍLIA, SÃO PAULO - De volta à cena política, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva confidenciou a amigos estar disposto a ajudar a presidente Dilma Rousseff "no que ela precisar" para terminar a reforma ministerial e impedir o apoio de partidos aliados, como o PR e o PDT, ao candidato do PSDB à Prefeitura de São Paulo, José Serra. "Eu não vou ficar de pijama", disse Lula.

O ex-presidente estará em Brasília em 25 de abril, para ver a estreia do documentário Pela Primeira Vez, de Ricardo Stuckert, sobre a posse de Dilma. O PT já prepara um ato político para que Lula possa fazer um agradecimento público aos que torceram por sua saúde. Ele ficou cinco meses em tratamento contra um câncer na laringe.

"Disseram que a Dilma precisava de mim para tudo, mas passei cinco meses fora e as coisas aconteceram", afirmou Lula, segundo o senador Walter Pinheiro (PT-BA). "Agora estou renascido e quero voltar a contribuir com o governo."

Em visita ao Campo Limpo, zona sul de São Paulo, Haddad disse que não é a hora de Lula ou de a senadora Marta Suplicy entrarem na campanha e minimizou as críticas da ex-prefeita à pressão do PT. "Espero que não (que Lula não entre agora na campanha). O presidente Lula está se recuperando. Você quer colocá-lo 12 horas do meu lado na periferia de São Paulo? Discordo. Ele está num momento de recuperação", afirmou.

Preocupado com a candidatura de Fernando Haddad, Lula deve aparecer ao lado do afilhado em 14 de abril, na inauguração de um Centro Educacional Unificado (CEU), em São Bernardo do Campo. Marta, ausente da campanha até agora, fará ali sua estreia ao lado do candidato.

A iniciativa de dar um empurrão em Haddad, reunindo no palanque Lula e Marta, partiu do prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho (PT). O CEU será batizado com o nome da mãe da ex-primeira-dama Marisa Letícia. "Antes eu quero tirar uns dias de férias, descansar e pescar", disse Lula ao senador Jorge Viana (PT-AC), na quinta-feira. "Mas acho que ele está mais disposto a pescar uns votinhos. De voto ele é bom, mas de pescador só tem as histórias", brincou Viana.

Dirigentes do PT já avisaram Lula que a demora de Dilma em concluir a reforma ministerial está contaminando a campanha de Haddad. O pré-candidato ainda não fechou aliança com nenhum partido da base do governo.

Marta. O desabafo feito por Marta contra as cobranças para declarar apoio a Haddad exibiu não só as divergências no PT como acendeu o sinal amarelo no comando da campanha. Na quarta-feira, contrariada com as pressões do partido, a senadora disse ao Estado que "Haddad tem que gastar sola de sapato". "Além disso, as alianças farão diferença. O restante é conhecer os problemas da cidade e conquistar a militância. Ninguém pode substituir nem fazer isso pelo candidato."

"Ela vai gastar sola e vai dividir o custo do sapato com Haddad", ironizou o deputado Edinho Silva, presidente do PT paulista.

"Marta expressa um sentimento de quem fala com o coração e diz o que pensa na lata. Só que a preocupação não deve ser com a Marta, e sim com a política de alianças para sustentar a candidatura Haddad", disse o líder do PT na Câmara, Jilmar Tatto.

"Estamos em pré-campanha, estamos num momento de elaboração de propostas, de plano de governo", declarou Haddad. "O mesmo raciocínio que vale para ele (Lula) vale para a prefeita Marta. Não tenho sequer notícia de que tenha havido qualquer pressão", afirmou. "(Marta) É uma companheira de grande valor." / Colaborou Daiene Cardoso

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

'Haddad precisa ser pego pela mão', provocam tucanos

Após Lula chamar Serra de "candidato de ontem", parlamentares miram baixa popularidade de Haddad e problemas no ministério

Christiane Samarco, Gustavo Porto

BRASÍLIA, BARRETOS - Em resposta à provocação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que chamou o ex-governador José Serra de "candidato de ontem com propostas de anteontem", tucanos alfinetaram o ex-ministro Fernando Haddad, pré-candidato do PT à Prefeitura de São Paulo ainda pouco conhecido pelo eleitorado paulistano. O petista ainda amarga baixos índices nas pesquisas de intenção de voto, enquanto Serra aparece na liderança.

Aliados do ex-governador, que decidiu disputar pela quarta vez a Prefeitura, reconhecem que a eleição tende a ser um embate entre PT e PSDB. Por isso, os tucanos miram seus ataques diretamente a Haddad e preferem deixar de lado Lula, que passou por exames que confirmaram a eliminação de um tumor na laringe, diagnosticado no fim de outubro.

"O candidato do PT não tem muita história para contar em São Paulo e precisa ser pego pela mão para poder subir", atacou o senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP). "O Lula fica querendo provocar o Serra porque não confia no taco do pupilo dele."

Maior expoente do grupo serrista no Senado, o tucano disse que o problema de Lula é ter "um candidato cujas ideias não se conhecem e cujas realizações têm o padrão de qualidade das trapalhadas do Enem, patrocinadas por ele mesmo no Ministério da Educação".

Para Aloysio, o ex-presidente está querendo "chamar o Serra para a briga", mas não se pode perder o foco de que a disputa é contra Haddad. "O Lula é esperto, mas o truque dele é velho e o Serra não nasceu ontem para cair nesta armadilha."

Padrinhos. O senador participou ontem de evento em Barretos (SP), no qual também estava o ex-líder do PSDB na Câmara, Duarte Nogueira. Os parlamentares reconhecem que tanto o apoio de Lula quanto o da presidente Dilma Rousseff vão ajudar o candidato petista na capital, mas procuraram demonstrar tranquilidade em relação à força dos padrinhos de Haddad na disputa eleitoral.

"Não sei até que ponto o candidato do PT vai conseguir decolar, mas a tendência, com o apoio do Lula e da presidente Dilma, é de polarização", avaliou Aloysio. "O Haddad é um desconhecido e continuará sendo até 15 de agosto, quando começa o horário eleitoral gratuito na televisão. O Lula está fazendo tudo para dar um gás ao candidato porque sabe que até o início da propaganda eleitoral será um deserto para o Haddad", afirmou Nogueira.

O deputado também diz apostar que a candidatura do peemedebista Gabriel Chalita, assim como a de outros membros de partidos da base, como PC do B e PDT, traça um cenário mais favorável aos tucanos. "Há um questionamento da viabilidade da candidatura do Haddad dentro da própria base, e essa base está dividida", afirmou Nogueira. "Já Serra tem o apoio do PSD, do Democratas, do PR e pode ter do PPS", concluiu o deputado, que é pré-candidato à Prefeitura de Ribeirão Preto.

O deputado Walter Feldman (PSDB-SP) foi o único a lamentar o comportamento do ex-presidente. "Com toda a experiência acumulada neste período e depois da doença grave que teve, cercado pela torcida de todos para que se recuperasse logo, o que se esperava de Lula é que atingisse a maturidade que estamos colhendo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso", afirmou o deputado.

Na avaliação de Feldman, o ex-presidente perdeu a chance de voltar à cena "com a sabedoria que se esperava dele". Em vez disso, prosseguiu o tucano, Lula optou pela fórmula da "esperteza do Macunaíma". "O Haddad virou filhote do Macunaíma temperado com a malícia de Maquiavel. Mas isto é compreensível, porque a candidatura dele só pode sobreviver nesse velho estilo, amparado na matreirice na malandragem", considera Feldman.

O tucano lembrou que há três anos ouve Serra falar no grave processo de desindustrialização do Brasil, apontando para a realidade atual antes de qualquer pessoa falar do problema. "Isso sim é sinal de modernidade e compreensão das questões econômicas, políticas e sociais do Brasil, que Lula rebateu dizendo que era discurso eleitoral."

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

MG: De mãos dadas com o inimigo

Em apenas um terço das cidades mineiras que elegeram prefeito e vice filiados ao PT e PSDB a dobradinha não deu certo. Em algumas a parceria continua, mas em legendas diferentes

Bertha Maakaroun

Ao mesmo tempo em que as cidades de Machado e de Poços de Caldas, no Sul de Minas, se preparam para juntar num mesmo palanque o PT e o PSDB, duas em cada três cidades mineiras que em 2008 elegeram chapas de petistas e tucanos para as prefeituras irão repetir as dobradinhas. Ubá e Martins Soares, na Zona da Mata, Bom Repouso e Itamonte, no Sul, Belo Oriente no Vale do Rio Doce, Bocaiúva, no Norte, Leme do Prado, no Vale do Jequitinhonha, e Congonhas, na Região Central, são exemplos de boa convivência onde os dois partidos se uniram não só para derrotar adversários tradicionais. A união teve, sobretudo, objetivos práticos: ampliar a interlocução política com os governos do estado e federal, aumentando os canais para convênios e programas, entre outros projetos para o repasse de verbas.

Em um terço das 24 cidades governadas por petistas e tucanos a parceria fracassou. Alguns casos foram bem específicos. Em Cordisburgo, na Região Central, o prefeito José Maurício Gomes (PT) e o seu vice Joaquim Ildeu Santana, fundador do PSDB na cidade, governaram juntos com sucesso. Tanto que Ildeu Santana será o candidato a prefeito de José Maurício, hoje no exercício do segundo mandato consecutivo. Mas Ildeu não está mais no PSDB. "O grupo político do ex-deputado federal Tatico tomou o PSDB na cidade. O nosso vice teve de deixar a legenda", afirma José Maurício. Ildeu se filiou ao PSB.

Igual situação ocorreu em Vieiras, na Zona da Mata. O PSDB rompeu com o PT e o vice-prefeito Wenceslau de Figueiredo deixou o partido. "Vou disputar a reeleição com o mesmo vice, agora filiado ao PSB", avisa o prefeito Waldinei Chicareli de Andrade (PT). "Os tucanos quiseram deixar o governo para se unir aos democratas", acrescenta.

Em Manhumirim, PSDB e PT estão rompidos depois de longa lua de mel. O prefeito Ronaldo Lopes Correa (PT) está no segundo mandato. O vice Sebastião Tristão Ribeiro (PSDB) considerou que não estava sendo valorizado e puxou uma dissidência no PSDB. Dois vereadores tucanos ficaram na oposição e um grupo que optou por continuar no governo deixou o PSDB. "Não vamos manter a aliança com o PSDB", afirma o prefeito Ronaldo Lopes Correa.

Já em Guapé, no Sul de Minas, o prefeito Nelson Alves Lara (PT) está no segundo mandato. O seu vice, Oduvaldo Reis de Assis (PSDB), faleceu no ano passado. Embora os tucanos continuem na base de sustentação do governo na cidade, o PT e o PSDB pretendem lançar candidatura própria.

Realidade local. Dificuldades pontuais à parte, na maioria das cidades governadas por petistas e tucanos, que no plano nacional polarizam a disputa política, a realidade local fala mais alto. Em Ubá, Edvaldo Baião Albino (PT) irá concorrer à reeleição ao lado do amigo e vice-prefeito Eduardo Vieira Marcelo (PSDB). "Vamos repetir a chapa. Não haverá intervenção nem do PSDB nem do PT, que informalmente estão de acordo", considera Vadinho Baião, como é conhecido o prefeito.

Velhos amigos, o atual prefeito e o vice decidiram se unir, nas últimas eleições, para derrotar os grupos tradicionais. Ali, a oposição é exercida pelo PSB, pelo PB, pelo PTB e pelo PMDB. Ao lado do PT e do PSDB na prefeitura estão os democratas. "Antes de nossa eleição Ubá estava completamente sem apoio no governo federal e no governo do estado. O meu vice tinha bom trânsito no estado e eu, como ex-deputado federal, com a União", afirma. "Abrimos pontes para receber recursos dos dois lados", acrescenta Vadinho Baião.

Time vencedor. Também em Bocaiúva, o prefeito Ricardo Afonso Veloso (PSDB) disputará a reeleição com o mesmo vice petista, Juarez Teixeira Santana. "Nossa administração é bem avaliada, e em time que está ganhando não se mexe", avalia Veloso, que é velho companheiro de movimentos sindicais e eclesiais de base de Juarez. "Nossa chapa foi muito boa. Meu vice ajuda muito na captação de recursos federais e o estado nos reforça. É fundamental essa dobradinha", considera.

Da mesma forma, em Belo Oriente, o prefeito Humberto Lopes de Assis (PT) trabalha para repetir a dobradinha com o vice tucano, Geci Gomes Ribeiro. "Estamos juntos contra tudo e contra todos", avisa Assis. "Aqui as questões locais falam mais alto e os nossos adversários são o PMDB e o PSB", avalia Humberto Lopes de Assis. Em Itamonte o prefeito e o vice se dão tão bem que o primeiro apoiará o segundo na disputa pela prefeitura. "Estou no segundo mandato e a dobradinha PSDB e PT continua, só que agora com o PT na cabeça", explica o prefeito Marcos Tridon de Carvalho (PSDB).

FONTE: ESTADO DE MINAS

Recife: PSB aguarda unidade 'no limite'

Ayrton Maciel

O PSB está decidido a esperar a escolha do candidato do PT no Recife, mas no limite (de tempo) que o partido acredita que será o calendários das prévias, marcada para 20 de maio. Os socialistas consideram que passado o embate interno do PT, não haverá mais tempo para postergação. Se não se resolver o embate, o calendário eleitoral passa a se sobrepor. “A dinâmica da política passa a ser pressionada pelo calendário eleitoral”, avaliou o secretário da Casa Civil e homem forte do governo Eduardo Campos, Tadeu Alencar.

“Já que esperamos até agora, vamos aguardar. O PT já discutiu internamente, já ouviu Lula e agora tem o fato novo das prévias. Acompanharemos com a expectativa de que concorram para a unidade interna e que sirva à unidade da Frente Popular. Vamos apostar nisso, no limite”, colocou Tadeu.

Os socialistas consideram que o “maior ativo” do PSB tem sido, até aqui, o olhar voltado para a unidade da aliança. Nesse sentido, espera, segundo o secretário, que o processo do PT “reforce a unidade e não que a fragilize”. “É importante para a unidade da Frente, para manter a Capital conduzida por nossas forças”, disse.

Eduardo, por sua vez, manteve a posição de não comentar o racha no PT. “Respeito o tempo dos partidos. Quando entenderem que chegou a hora de nossa participação, vamos participar sintonizados com a Frente”, disse ontem.

FONTE: JORNAL DO COMMERCIO (PE)

Recife: Jungmann é lançado, mas...

Débora Duque

A postura era de prefeiturável. Um auditório lotado, apresentação em Powerpoint de propostas para o Recife e a presença do presidente nacional do partido para dar força ao projeto. No entanto, o lançamento da pré-candidatura do ex-deputado Raul Jungmann (PPS) à prefeitura da capital aconteceu, ontem, com indícios – dados pelos próprios pós-comunistas – de que pode “morrer” em breve.

Junto com a disposição de enfrentar a disputa majoritária da capital, Jungmann tentou mostrar que o ato – realizado no plenarinho da Câmara do Recife – não significava uma ruptura com o DEM e PMDB, admitindo a possibilidade de compor com as duas siglas. “Apesar de lançar essa pré-candidatura, permanecemos no campo das oposições, buscando o diálogo e a unidade”, disse à plateia composta não só por correligionários como integrantes do PMN, com o qual o PPS oficializou a união.

Mais cedo, o presidente nacional do PPS, Roberto Freire, também acenou para a possibilidade de haver um recuo, a depender das negociações com os outros partidos. Ele prestigiou o ato, organizado pelo correligionário, mas antes concedeu entrevista à Rádio JC/CBN. “Estamos oferecendo um candidato muito capacitado, o que não quer dizer que acabou o diálogo. Ele vai existir, mas os outros aliados vão saber que temos uma opção. O que não pode é ficar parado como estamos agora. Temos que avançar”, defendeu.

Nos bastidores, comenta-se a possibilidade de Jugnmann, atualmente sem mandato, disputar uma vaga para a Câmara do Recife e apoiar a candidatura do deputado federal Raul Henry (PMDB). O pós-comunista resolveu articular o evento de ontem com o objetivo de acelerar o processo de definição do bloco oposicionista.

Apesar dos indicativos de pode recuar da candidatura, Jungmann, portando-se como postulante, não economizou nas críticas às administrações e brigas internas do PT. “O próprio partido reconhece que a gestão atual é uma tragédia. Mas não adianta trocar o nome, porque o desastre será o mesmo”, provocou.

FONTE: JORNAL DO COMMERCIO (PE)