sexta-feira, 23 de março de 2012

OPINIÃO DO DIA – Hobsbawm : Gramsci e a política

E isso me leva ao mais importante: a maior contribuição de Gramsci para o marxismo consistiu em criar uma teoria marxista da política.

Gramsci é um teórico político na medida em que considera a política como uma “atividade autônoma” (Cadernos do cárcere), dentro do contesto e dos limites definidos pelo desenvolvimento histórico, e porque ele se dispõe especificamente a investigar “o lugar que a ciência política ocupa numa concepção marxista sistemática (coerente e conseqüente) do mundo” (ibid.)

No entanto, isso significou mais do que simplesmente introduzir no marxismo o tipo de discussão encontrada nas obras de seu herói, Maquiavel – autor que não figura com muita freqüência nas obras de Marx e Engels. Para Gramsci a política é a essência não só da estratégia para se chegar ao socialismo, mas do próprio socialismo.

A política é para ele, como corretamente frisam Hoare e Nowell-Smith, “a atividade humana central, o meio pelo qual a consciência individual é posta em contato com o mundo social natural em todas as suas formas” (Cadernos do cárcere).

HOBSBAWM, Eric.Como mudar o mundo, p.291-2. Companhia da Letras, S. Paulo, 2011.

Manchetes de alguns dos principais jornais do Brasil

O GLOBO
Dilma pede a empresários pressão sobre Congresso
Hackers do TSE violam urna eletrônica
Nova escuta complica Demóstenes
Governo flexibiliza nudez na TV

FOLHA DE S. PAULO
Alckmin põe fim às aulas de reforço nas escolas de SP
Brasil é líder no controle do tabaco e não deve recuar, diz chefe da OMS
Dilma pede que empresários usem 'instinto animal'
Indústria sofre queda na França, China e Alemanha

O ESTADO DE S. PAULO
Dilma promete a empresários mais estímulo à indústria
Obra no S.Francisco tem aumento de R$ 3,4 bi
MEC suspeita que mais 30 universidades inflaram nota
PF prende dois por incitar ódio na internet
Após crise na base, governo adia votações para abril
Aldo confia no 'jeitinho' para realizar a Copa
ANP aponta falhas graves da Chevron

VALOR ECONÔMICO
Aumento das dívidas deve retirar fôlego do consumo
Governo revê cenário para a economia
Grandes companhias deixam a bolsa
Frete estimula maior uso da cabotagem

CORREIO BRAZILIENSE
PF aborta massacre a alunos da UnB
Crise na base aliada paralisa o Congresso
Dilma pede apoio dos empresários
Hacker invade urna do TSE
E o salário, ó, é recorde

ESTADO DE MINAS
Copa à mineira
Aumento da classe C muda o mercado

ZERO HORA (RS)
Alta do petróleo já eleva preços e deve chegar à gasolina
Retaliação da base paralisa o Planalto

JORNAL DO COMMERCIO (PE)
Dilma promete estímulo à indústria
Articuladores tentam acordo no Congresso
Dois presos por crimes na Web em Curitiba

O que pensa a mídia - editoriais dos principais jornais do Brasil

http://www2.pps.org.br/2005/index.asp?opcao=editoriais

Dilma pede a empresários pressão sobre Congresso

Em encontro com 29 empresários que representam metade do PIB brasileiro, a presidente Dilma Rousseff cobrou investimentos e mais empenho da iniciativa privada no Congresso para aprovar medidas de incentivo ao crescimento econômico. Em troca, ouviu pedidos do setor produtivo: o câmbio, o peso excessivo dos impostos e os elevados custos financeiros e de mão de obra foram as principais reclamações dos executivos. O governo disse que anunciará medidas de desoneração de tributos e concessão de incentivos, como redução dos encargos sobre a folha de pagamento e ajustes no IPI e no PIS/Cofins, além do barateamento dos empréstimos. Apesar de o governo prever um crescimento de 4,5% do PIB este ano, analistas apostam numa expansão abaixo de 3%. Para economistas, medidas isoladas não bastam para elevar investimentos

Votações paradas até a Páscoa

Com crise em alta, Câmara nada aprovará; Dilma insiste em não ceder a parlamentares

Gerson Camarotti

Além de se amparar na popularidade alta, a presidente Dilma Rousseff avalia que sua decisão de não ceder à pressão dos aliados é favorecida pela agenda de votação do Congresso em 2012 e pelo esvaziamento do Legislativo no ano eleitoral. Diante do reconhecimento de aliados de que as votações na Câmara só devem ser retomadas após a Semana Santa, cresceu ontem um movimento entre os articuladores políticos do governo para que a Dilma faça um gesto de distensão e negocie um cronograma, sem data fixa, para votar o Código Florestal na Câmara e, com isso, criar um entendimento para votar a Lei Geral da Copa. Mas ela resiste em recuar.

Com o clima de insatisfação no Congresso, com parte da base aliada rebelada, o governo sofreu derrotas anteontem - como a obstrução que impediu a votação da Lei Geral da Copa e a aprovação de um convite para que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, participe de uma audiência no Congresso.

Os operadores políticos do governo tentam quebrar resistências dos dois lados, por considerar que a corda já foi esticada demais. Ontem, Dilma almoçou com a ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvati, para avaliar o cenário político. Aliados sugeriram à presidente uma negociação também em torno do texto do Código Florestal, para ter o apoio dos ruralistas. Dilma ainda não analisou a proposta.

O endurecimento nas tratativas com os aliados partiu sempre da presidente, que faz uma conta pragmática: até o fim de junho, o interesse específico do governo está centrado na aprovação de duas matérias: a Lei Geral da Copa e o Fundo de Previdência Complementar do Servidor (Funpresp).

Outros projetos em pauta, como o Código Florestal, não estão entre as prioridades do Planalto. Dilma avalia que a crise logo vai esfriar, porque os parlamentares precisam voltar suas atenções para as campanhas eleitorais nos municípios. Por isso, ela considera que este é o melhor ano para fazer o chamado enfrentamento com a classe política.

Câmara ficará nas mãos de uma "independente"

Esse endurecimento foi explicitado mais uma vez anteontem, quando Dilma , que estava no Rio, determinou aos líderes aliados que votassem a Lei da Copa. Ela foi alertada por Ideli do risco de derrota, mas manteve sua posição. Resultado: deputados aliados se uniram à oposição e impediram a votação, que só deve ser retomada na semana de 11 de abril.

Líderes governistas reunidos em Brasília queriam negociar um calendário para votar o Código Florestal, mas Dilma não aceitou conversar com a "faca no pescoço". A presidente embarca domingo para a Índia. Ideli, o ministro Aldo Rebelo (Esportes) e os líderes do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), e no Senado, Eduardo Braga (PMDB-AM), tentarão retomar o diálogo nesse período.

O presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), que assumirá a Presidência da República entre domingo e quarta-feira - quando Dilma e seu vice, Michel Temer, estarão fora do país - pregou o entendimento entre governo e sua base:

- Vamos tentar na próxima semana equilibrar um pouco essa situação, que pode ocasionar inclusive uma postergação das discussões, em função da minha ausência da Câmara, e da ausência da presidenta do país. Mas não vejo problema nisso. É natural que aconteça. Vamos tratar essa questão com a mesma naturalidade que já tratamos em outras oportunidades - disse Maia.

No período em que Dilma e Temer estiverem fora do país, Maia assumirá interinamente a Presidência,; o comando da Câmara ficará nas mãos da deputada Rose de Freitas (ES), da ala independente do PMDB. Líderes aliados e da oposição não contam mais com votação semana que vem.

- O governo não aceita ser derrotado. Isso é arrogância. Há temas que transcendem a questão de governo. Votações agora, só depois da Páscoa. Acho difícil avançar até na votação de medidas provisórias - disse o líder do DEM, ACM Neto (BA).

À frente das negociações para aprovação da Lei Geral da Copa, Aldo, que já presidiu a Câmara, minimizou a crise:

- Olha, no Congresso, ninguém escapou de derrota até hoje, nem o governo militar. Então, o governo tem que negociar, votar e resolver a questão dessa forma.

Dilma tem reagido de forma dura, desde que o Senado rejeitou a recondução de Bernardo Figueiredo para o comando da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT): suspendeu o repasse de emendas para aliados, trocou os líderes do governo no Congresso e suspendeu os encontros que seriam feitos com as bancadas aliadas. Ontem, observadores políticos salientaram mais um gesto dela: indicou diretores interinos para a ANTT, mostrando ao Congresso que não está disposta à ficar refém de ameças dos aliados.

FONTE: O GLOBO

Projetos importantes na lista de votação

LEI GERAL DA COPA: Tramita na Câmara e, depois, irá ao Senado. Estabelece regras para a realização da Copa das Confederações, em 2013, e a Copa do Mundo, em 2014. A principal polêmica é a liberação da venda e consumo de bebidas alcoólicas durante os jogos.

CÓDIGO FLORESTAL: Muda as regras de exploração florestal e de proteção da vegetação. O texto aprovado na Câmara foi modificado no Senado e voltou para análise dos deputados, que querem alterar as regras aprovados por senadores sobre uso de terras em áreas de preservação permanente. O governo é contra.

ROYALTIES: O Senado modificou a distribuição dos recursos arrecadados pelos estados e municípios com a exploração do petróleo, prejudicando os estados produtores de petróleo e beneficiando os não produtores. Os deputados querem votar o projeto ainda este semestre na Câmara.

Funpresp: O projeto cria a previdência complementar dos servidores públicos. Já aprovado na Câmara, tramita no Senado.

FPE: A regra atual de distribuição do Fundo de Participação dos Estados (FPE), que destina 85% dos recursos para Norte, Nordeste e Centro-Oeste, foi considerada inconstitucional pelo STF. As novas regras precisam ser aprovadas até o fim deste ano. Tramita no Senado.

Resolução 72: Unifica em 4% as alíquotas de ICMS em operações interestaduais com produtos importados. Primeiro passo para acabar com a guerra fiscal entre estados. Está no Senado.

FONTE: O GLOBO

Líder do PT ataca deputados da base

Após criticar "predadores da agricultura", Tatto condena aliados que se unem à oposição

André de Souza

BRASÍLIA. O líder do PT na Câmara dos Deputados, Jilmar Tatto (SP), saiu ontem em defesa da presidente Dilma Rousseff e condenou a atitude de deputados da base aliada que condicionam a votação da Lei Geral da Copa à marcação, por parte do governo, de uma data para votar o Código Florestal. Anteontem, a grande maioria dos partidos aliados obstruiu a votação da Lei da Copa no plenário. Para Tatto, esse tipo de atitude cabe à oposição, e não à base:

- Gente! É colocar uma faca no pescoço do governo! É isso? Veja, a oposição pode falar isso. Agora, a base falar: "Nós queremos a data". A base não pode, gente! Olha a situação do governo! A base falando publicamente, pedindo para marcar a data (para votar o Código Florestal). Que história é essa? - protestou Tatto. - O governo quer discutir mérito e com razão. E o PT quer discutir mérito também.

Anteontem, em discurso inflamado, Tatto disse que o governo não poderia ceder à chantagem feita pelos "predadores da agricultura", irritando os ruralistas, que chegaram a vaiar o líder do PT. Ontem, procurando amenizar o que dissera, Tatto admitiu a possibilidade de o PT negociar o artigo 62 do Código Florestal, que obriga os produtores rurais a recomporem a vegetação nas margens de rios:

- Eu não falei mal dos ruralistas, eu não falei mal dos produtores rurais. Eu falei dos predadores da agricultura. Não sei se alguém vestiu a carapuça, mas, em nenhum momento, falei da bancada ruralista, dos produtores rurais.

Mas líderes de partidos aliados continuam reclamando do governo. Para o líder do PTB, Jovair Arantes (GO), o Planalto não pode desconsiderar o papel importante que partidos menores têm na governabilidade:

- É como no futebol: o campeonato paulista não pode ter apenas São Paulo, Santos, Corinthians e Palmeiras. Tem que ter também o Botafogo de Ribeirão Preto. Posso não ser o principal, mas tenho um papel.

O líder do PR, Lincoln Portela (MG), sugere:

- No governo Lula a conversa fluía melhor. Tem algo na relação (agora) que não está dando liga. A Câmara tem que respeitar o governo, mas o governo tem que respeitar a Câmara. Filosoficamente, o que gera a violência é o desrespeito. O governo Dilma tinha uma base fidelíssima até o final do ano. Tem que ajustar a conversa.

FONTE: O GLOBO

Dilma pede que empresários usem 'instinto animal'

Em reunião de três horas com 28 grandes empresários, Dilma Rousseff ouviu apelos por redução da carga tributária e contra importações, mas não anunciou nenhuma medida concreta.

Ela pediu aos empresários que tenham "instinto animal" para ampliar seus investimentos

Governo acena para indústria com novas medidas de estímulo

Dilma se reúne com empresários e banqueiros e pede "instinto animal" para reativar crescimento

Em meio a crise, presidente promete privatização de portos, redução de impostos e ação contra importação

BRASÍLIA - A presidente Dilma Rousseff deixou de lado ontem a crise que enfrenta com os partidos da base aliada e reuniu, pela primeira vez em seu mandato, os pesos-pesados do PIB (Produto Interno Bruto) para discutir a retomada do crescimento da economia.

Numa reunião de três horas e meia com 28 banqueiros e empresários dos mais variados setores, Dilma não anunciou nenhuma medida concreta, mas acenou com a privatização de portos, prometeu defesa forte da indústria brasileira e acenou com redução de impostos.

Dos empresários, a presidente ouviu apelos por redução da carga tributária, medidas para conter a valorização do real em relação ao dólar e conter importações.

Aos convidados, Dilma afirmou que apresentará novas medidas de estímulo econômico após retornar de sua viagem à Índia, na semana que vem. Ela pediu "instinto animal" aos empresários para ampliar investimentos.

A presidente disse que a "próxima grande discussão do governo" será a privatização dos portos, onde o governo estuda adotar um modelo de concessões semelhante ao usado nos aeroportos.

Ela instou os empresários a pressionar os congressistas para que aprovem um projeto de resolução do Senado que acaba com os incentivos fiscais que alguns governos estaduais concedem para promover importações, o que aumenta o movimento em seus portos mas prejudica as indústrias de outros Estados.

De acordo com relatos dos empresários, Dilma afirmou que irá "defender" o mercado doméstico sem fechar a economia brasileira à entrada de produtos estrangeiros, além de evitar uma valorização maior do real sem alimentar a inflação.

O objetivo, disse, é aumentar a produtividade em todos os setores. Nas palavras da presidente, seria preciso buscar uma combinação mais favorável da taxa de juros com a taxa de câmbio.

Seguindo a orientação da presidente, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse estar aberto a conversas com qualquer setor da indústria que quiser redução dos impostos que incidem sobre a folha de pagamentos.

"Nós continuaremos a fazer politicas de intervenção no câmbio que não permitam que o real se valorize, que as mercadorias brasileiras fiquem caras", afirmou Mantega. "Isso é um compromisso do governo."

Dilma prometeu acelerar investimentos federais em infraestrutura e disse que o objetivo do governo é elevar a taxa de investimento no Brasil para 24% do PIB (Produto Interno Bruto).

A meta é vista com ceticismo no próprio Ministério da Fazenda. No ano passado, a taxa de investimento da economia brasileira atingiu 19,3% do PIB.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Após crise na base, governo adia votações para abril

No dia seguinte às derrotas na Câmara, a articulação política do governo suspendeu por duas semanas a votação da Lei Geral da Copa e do Código Florestal. Com a base rebelada, os projetos não entrarão na pauta antes do dia 11 de abril. Após várias reuniões no Palácio do Planalto, os articuladores da presidente Dilma Rousseff decidiram não ceder à exigência dos aliados de votar a Código antes da Lei da Copa. O líder do PT, deputado Jilmar Tatto (SP), disse ontem que a base não pode por "a faca no pescoço" do governo. No domingo, Dilma viaja para a Índia

Governo suspende votações até pacificar a base

Decisão do Planalto é deixar Congresso em banho-maria por duas semanas, que coincidirão com viagem de Dilma à Índia e de Michel Temer à Coreia

Denise Madueño, Eugênia Lopes

BRASÍLIA - No dia seguinte à série de derrotas na Câmara, a articulação política do governo suspendeu por duas semanas a votação da Lei Geral da Copa e do Código Florestal. Com a base rebelada, os projetos não entrarão na pauta antes do dia 11 de abril. Depois de várias reuniões no Palácio do Planalto, os articuladores da presidente Dilma Rousseff decidiram não ceder à exigência dos aliados de votar o código antes da Lei da Copa. Também está fora dos planos do governo marcar uma data para votação do código.

Nas próximas duas semanas, o líder do governo, Arlindo Chinaglia (PT-SP), vai se dedicar à busca de um acordo para apaziguar a base e garantir os votos nos dois projetos de acordo com o texto defendido pelo Planalto.

Enfático, o líder do PT, deputado Jilmar Tatto (SP), afirmou ontem que a base não pode pôr "a faca no pescoço" do governo. "A base não pode, gente! A base falando publicamente, pedindo para marcar a data (para votar o Código Florestal). Que história é essa?", disse.

O calendário das próximas duas semanas contribui para a estratégia do governo de ganhar tempo e conquistar votos. Com a viagem, a partir de domingo, de Dilma para a Índia e a do vice Michel Temer para a Coreia do Sul, o presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), assumirá a Presidência da República, esvaziando o comando da Casa.

"Nós vamos tentar na próxima semana equilibrar a situação, que pode ocasionar uma postergação das discussões e dos debates para quarta e quinta-feira, em função da minha ausência da Câmara, e da própria ausência da presidenta do País", disse ontem Maia. Na semana seguinte, o Congresso entrará em recesso branco, com o feriado da Páscoa.

Desafio. Na avaliação do governo, a Lei da Copa já tem votos suficientes para ser aprovada de acordo com o texto original do governo. O acerto foi feito com a retirada do artigo que deixava clara a permissão para venda de bebidas alcoólicas nos estádios de futebol. O desafio do Planalto agora é tentar convencer seus aliados na Câmara a não mudar o texto do Código Florestal aprovado no Senado.

Nos próximos dias, Chinaglia vai discutir o conteúdo do projeto com a base. Depois que os deputados ruralistas, os evangélicos e a bancada do PMDB se uniram, o governo reconhece que hoje seria novamente derrotado na Câmara. "Não podemos descaracterizar o Código Florestal", argumentou Tatto.

Anteontem, o governo sofreu uma série de derrotas na Câmara, que culminou com a suspensão da votação da Lei da Copa. O líder petista contribuiu para piorar o clima na sessão ao classificar os ruralistas de "predadores". "Eu não falei mal dos ruralistas, eu não falei mal dos produtores rurais. Eu falei dos predadores da agricultura. Não sei se alguém vestiu a carapuça", afirmou o líder petista.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Crise na base aliada paralisa o Congresso

O governo resolveu suspender, por duas semanas, as votações importantes no Congresso. Decisão foi tomada após três derrotas seguidas na Câmara: no caso da demarcação das terras indígenas, Lei da Copa e Código Florestal. Mesmo assim, avaliam aliados, o Planalto ainda dá sinais de que não assimilou a gravidade da situação política

O Congresso travou

Derrotas nas duas Casas levam o governo a suspender as votações importantes por duas semanas e a testar a própria força de controle da base no parlamento

Paulo de Tarso Lyra, Junia Gama e Karla Correia

Um dia depois da série de derrotas sofridas pelo governo na Câmara, o Planalto demonstrava preocupação com o momento vivido na relação com a base governista, mas, segundo aliados ouvidos pelo Correio, ainda não demonstra ter assimilado a gravidade da situação política. A presidente almoçou com a ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, e emitiu sinais de que o momento difícil decorre de um embate sobre pontos de vista. "Foi uma conversa para tranquilizar a ministra", afirma um interlocutor do governo.

No Congresso, a temperatura era diferente. "A quarta-feira foi um dia horrível para o Planalto e para o novo líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia", avalia um integrantes da base. As derrotas estenderam-se por todo o dia, começando com a vitória dos ruralistas na definição de que cabe ao Congresso legislar sobre a demarcação das terras índigenas; a não-votação da Lei Geral da Copa e do Código Florestal; o convite para o ministro da Fazenda, Guido Mantega, falar sobre a Casa da Moeda; e a convocação da ministra do Planejamento, Miriam Belchior, para explicar porque não haverá concursos públicos neste ano.

A paralisia nos trabalhos deve durar pelas próximas duas semanas. Na semana que vem, com as viagens da presidente Dilma Rousseff para a Índia e do vice-presidente Michel Temer para a Coreia do Sul, a presidência da República será ocupada pelo deputado Marco Maia (PT-RS) e a Presidência da Câmara, por Rose de Freitas (PMDB-ES), ligada aos dissidentes do partido e considerada independente em relação ao Planalto. Na semana seguinte, os trabalhos devem ser suspensos pelo feriado da Páscoa. "Temos que votar algo, pelo menos a Lei Geral da Copa, senão a imagem ficará péssima para o país e a crise vai se agravar ainda mais", apostou um graúdo petista.

A avaliação de lideranças é de que os deputados deram sinais inequívocos de que, do jeito que está, não é possível manter a relação. Eles torcem para que o Planalto compreenda os recados encaminhados pela base. "As coisas continuam ruins. No Senado, a ameaça de uma CPI para ouvir o ministro da Fazenda sobre a compra do Banco Panamericano pela Caixa Econômica Federal, que causou um prejuízo de R$ 4,3 bilhões aos cofres públicos, continua viva", disse um aliado do Planalto.

No círculo mais próximo da presidente Dilma, contudo, a análise é de que o governo enfrentou um "risco calculado" quando decidiu colocar na pauta da Câmara a votação da Lei Geral da Copa, na última quarta-feira. Eles afirmam que a presidente Dilma Rousseff está se fiando em sua alta popularidade para não sucumbir a imposições que resultem da articulação política com o Congresso.

Chantagem

Segundo essas fontes, a não aprovação de temas que reúnem consenso desgasta os parlamentares com o público e reforça a imagem de blindagem contra pressões que o governo está construindo. "Se ela conseguisse aprovar, seria uma vitória do governo. Como não conseguiu, fica ruim para o Congresso, que resolveu chantagear e se recusou a votar algo que é um compromisso que o Brasil firmou em âmbito internacional", aponta uma fonte palaciana.

Aliados rebelados e oposicionistas chegaram a ensaiar um acordo vinculando a votação do Código Florestal à da Lei Geral da Copa em uma reunião na noite de terça-feira, quando o governo fez sua primeira tentativa de levar o projeto sobre os jogos de 2014 para o plenário da Câmara. Mas a situação acabou por desmoronar ao longo da quarta-feira, diante do endurecimento do Palácio do Planalto, que se refletiu no comportamento de parlamentares aliados no plenário. Em especial, do líder do PT na Câmara, Jilmar Tatto (SP), que chamou ruralistas de predadores da agricultura.

Com a base do governo desarticulada e com dificuldades no comando, a tarefa de coordenar um acordo que permita a votação da Lei Geral da Copa na próxima semana ficará, em grande parte, nas mãos do presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS). "É importante que todos, governo, base e oposição, estejam convencidos de que é necessário um acordo", diz ele.

Aprovação de 56%

A última pesquisa de opinião sobre a popularidade da presidente da República, divulgada em dezembro, mostra o governo da petista com avaliação positiva (ótimo ou bom) de 56% dos brasileiros. O levantamento foi feito pelo Ibope, por encomenda da Confederação Nacional da Indústria. Dos entrevistados, 72% ainda aprovaram a forma de governar de Dilma Rousseff em seu primeiro ano de gestão. A próxima pesquisa está prevista para o mês que vem.

Aliados em guerra fria

A temperatura sobe no Congresso e o governo, diante das informações de uma pesquisa de opinião apontando o aumento da popularidade de Dilma Rousseff após os embates com o parlamento, vai fazendo ouvidos moucos para o quadro perigoso que se avizinha.

Não existem, como admitiram interlocutores palacianos, grandes projetos que necessitem quorum qualificado para aprovação. Mas a última quarta-feira foi marcada por um Congresso parado diante de debates que nem pareciam tão candentes. Mas em momentos de crise, qualquer pretexto é perfeito para se mandar recados.

Segundo um importante aliado do Planalto, a montagem da coalizão que apoia o governo Dilma serviria para que o grupo pudesse prestar maior atenção na consolidação do poder nos estados. Passados 14 meses, o Planalto luta para impedir que derreta a coalização montada por Lula durante a eleição de 2010.

FONTE: CORREIO BRAZILIENSE

Impasse amplia força de Temer

O vice-presidente Michel Temer tem aproveitado as resistências da base aliada aos novos líderes no Congresso — Eduardo Braga (PMDB-AM) no Senado e Arlindo Chinaglia (PT-SP) na Câmara — e à ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti, para intensificar seu leque de articulação política. As conversas, antes mais restritas ao PMDB, ampliaram-se para as demais legendas insatisfeitas com o governo, como o PR, o PTB e o PSC. "Ele é uma referência para nós, é um craque e conhece esta Casa melhor que todo mundo", afirma o deputado federal Hugo Leal (PSC-RJ).

Uma das queixas dos aliados é justamente o fato de a ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, nunca ter sido deputada, o que dificultaria a interlocução com os parlamentares da Casa. "O Temer nos entende melhor do que qualquer ministro", provoca Leal.

Temer sempre foi apontado como o principal interlocutor com o PMDB no Congresso. O gabinete da vice-presidência no Palácio do Planalto era encarado pelos petistas como um "reduto de conspiração contra o PT". No início da crise peemedebista com o Palácio do Planalto, a presidente Dilma Rousseff incumbiu Temer de receber as reivindicações e controlar os dissidentes da legenda.

Agora, os rebelados se ampliaram. "O presidente Temer é muito tranquilo, sempre é bom escutá-lo nesses momentos de dificuldades", afirmou o líder do PR na Câmara, Lincoln Portela (MG), que esteve no gabinete de Temer acompanhado pelo vice-líder do governo na Casa, Luciano Castro (PR-RR). "Sou amigo do Temer há muitos anos, mas ele é discreto nessas conversas. Não pediu nem para que o PR apoie o Chalita (Gabriel Chalita, pré-candidato do PMDB à prefeitura de São Paulo)", brincou Castro.

O vice-presidente sabe que é arriscado dinamitar pontes e passar a imagem que está acima de Ideli. "O trabalho de articulação política tem de ser feito pelo titular das Relações Institucionais, meu trabalho é apenas ajudar nas conversas quando solicitado", tem dito ele a pessoas mais próximas. Alguns políticos incomodados com essa atuação do vice-presidente, afirmam que as ações recentes visam mostrar à presidente e ao PT que é fundamental ter o PMDB próximo do Executivo para manter um mínimo de governabilidade. E que isso seria uma estratégia para coibir os avanços do PSB e do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, que estaria de olho na vaga de Temer em 2014.

FONTE: CORREIO BRAZILIENSE

Dilma quer ganhar com 'grito' e 'cara feia', diz senador do PMDB

Fernando Rodrigues

BRASÍLIA - Um dos objetivos da nova equipe de coordenação política de Dilma Rousseff é atrair dissidentes do PMDB. No Senado, um dos líderes do grupo peemedebista não alinhado ao Planalto, Jarbas Vasconcelos, 69, ainda não se sensibilizou.

"A base é muito grande para uma pessoa [Dilma] que não tem jogo de cintura e quer ganhar sempre no grito e na cara feia", declarou Jarbas à Folha e ao UOL.

Sua residência em Brasília é uma das sedes das reuniões de oito senadores peemedebistas anti-Planalto -inclusive Eduardo Braga, recém-nomeado líder do governo no lugar de Romero Jucá (RR).

Folha/UOL - Eduardo Braga (AM) como líder muda algo?

Jarbas Vasconcelos - Não muda muita coisa. [Mas] não é uma troca de seis por meia dúzia tirar Romero Jucá e colocar Eduardo Braga. É preciso apenas ter sequência.

Os dissidentes do PMDB votarão a favor do governo?

Não.

A presidente não tem buscado mais ética na política?

Quando Dilma tomou aquelas providências no Ministério dos Transportes, eu imaginei que ela ia dar continuidade. [Mas] ela não fez faxina coisa nenhuma. Lula deve ter gritado, a base fisiológica deve ter passado o recibo. Ela escondeu a vassoura atrás da porta.

Não houve limpeza?

Foi a mídia que levou o governo ao estrangulamento e às demissões dos ministros. Não foi um processo modelado e executado por ela.

O sr. acha então que a presidente está longe de romper com as práticas de fisiologismo e clientelismo?

Acho. Acho que é um governo perdido. Lula foi eleito há nove anos com duas bandeiras. Moralidade e reformas. Nem fez reformas e não inventou a corrupção no Brasil, mas botou a mão em cima dos corruptos. Criou uma grande base de apoio e inventou Dilma. E Dilma não tem os atributos que são de Lula -malícia e carisma. Lula tinha paciência. Ela, não. É uma pessoa muito arrogante. Lula até engolia sapo e depois até vomitava. Não tem jogo de cintura. Quer ganhar no grito, quer ganhar com cara feia.

O que Dilma deveria fazer?

Se quiser conversar com o grupo da gente, eu converso. Agora, eu não posso conversar para ser um aliado do governo, para votar com o governo. Eu quero saber o que é que ela vai fazer. Porque nós estamos com quase 15 meses de governo e o país é completamente medíocre.

É uma presidente medíocre?

Capenga. Não duvido das boas intenções de Dilma. Acho que ela tem uma ojeriza ao mal feito, mas convive com o mal feito.

Mas o sr. acha que a presidente se disporá a falar com quem faz tantas críticas assim?

Pela prática dela, não. Porque ela passa recibo. Ela se irrita com as pessoas, com os fatos, com editoriais dos jornais, com reportagens. Grita com os auxiliares. Como é que você pode ter uma equipe que você comanda no grito e no mau humor? Não pode.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Projeto de combate a tortura prevê inspeção em unidades militares

Direitos Humanos diz que foco é sobre qualquer local de detenção

BRASÍLIA - Tramita no Congresso desde o ano passado um projeto de lei enviado pelo governo Dilma Rousseff, a pedido da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência, que prevê inspeção em toda unidade onde haja presos.
De acordo com o texto, estão previstas visitas também em unidades militares e psiquiátricas.
O projeto, que está na Câmara, faz parte de um sistema nacional de prevenção e combate à tortura, segundo informou ontem o jornal "O Estado de S.Paulo".

Por prever visitas surpresas em quarteis e unidades militares, o texto deve acirrar os atritos entre a ministra dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, a as Forças Armadas.

Recentemente, ela afirmou que a Comissão da Verdade (que investigará violações aos direitos humanos entre 1946 e 1988) pode levar a processos judiciais contra agentes que atuaram na ditadura.

Junto com Dilma, acabou duramente criticada em manifesto corroborado por centenas de militares da reserva.

Em nota, a Secretaria de Direitos Humanos afirmou ontem que o projeto que institui o Sistema Nacional de Prevenção de Combate à Tortura "não é focado nas instituições militares", mas sim no enfrentamento da violência e da tortura em qualquer local de detenção.

O projeto lista alguns dos locais de inspeção, como estabelecimentos penais, hospitais psiquiátricos, casas de custódia, instituições socioeducativas e centros de detenção em âmbito militar.

Ainda de acordo com o governo, o projeto atende o compromisso assumido com a ONU de combater a tortura e outras formas de "tratamentos ou penas cruéis".

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Militares dizem que não há tortura em quartéis e prisões das Forças Armadas

Projeto que prevê inspeção em centros de detenção desagrada a setores das Forças

Alana Rizzo

BRASÍLIA - A proposta de realizar visitas surpresas nos quartéis, incluída em projeto de lei encaminhado pela Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República ao Congresso, enfrenta resistência de setores militares. Em tramitação na Câmara dos Deputados, o projeto de combate à tortura e violações de direitos humanos em prisões judiciais e administrativas desagradou também a alguns parlamentares.
O governo trabalha para aprovar a matéria antes do recesso parlamentar. O texto, que não foi apresentado ao Ministério da Defesa, cria mais um desgaste entre a secretaria e os militares. Internamente, a pasta também estuda a abertura de um debate sobre o papel da Justiça Militar.

"Não tem sentido essa fiscalização. Desconheço tortura nas unidades militares", afirma o coronel do Exército Cláudio Moreira Bento, presidente da Academia de História Militar. Ele defende que os comandantes e a própria guarnição já acompanham a rotina das unidades prisionais e denunciam qualquer irregularidade. "Com certeza esse grupo irá enfrentar algumas reações nas visitas surpresas."

"Qual a necessidade dessa fiscalização? Não vai achar nada. Nossos presídios são muito melhores e mais controlados do que os civis", rebateu o vice-presidente da Associação de Militares da Reserva da Marinha, Coronel Fonseca. "Podem procurar. O governo precisa se preocupar com as delegacias e penitenciárias."

A Marinha mantém o único presídio militar do País, localizado na capital fluminense. Os demais presos ficam em celas nas unidades.

Inspeção. O Estado mostrou nesta quinta-feira, 22, que a Secretaria de Direitos Humanos quer usar o Mecanismo Nacional de Combate à Tortura, recomendado pela Organização das Nações Unidas (ONU), para inspecionar unidades de detenção militar.

O grupo de 11 peritos, nomeados pela Presidente da República, terá autonomia para fazer visitas surpresas em qualquer local onde houver pessoas privadas de liberdade, seja por decisão judicial ou administrativa. O objetivo é aproveitar o instrumento para descortinar o universo das prisões militares. Entidades de defesa dos direitos humanos sustentam que episódios de maus tratos, humilhações e tortura ainda acontecem nos quartéis.

Cabe ao Ministério Público Militar fazer o controle externo das atividades das Forças Armadas. Integrantes do MP ponderam a eficácia do colegiado. Além do baixo número de presos judiciais, os promotores afirmam que não há registros recentes de tortura nas unidades militares. No entanto, o MP não acompanha as prisões disciplinares.

Em nota pública, a Secretaria de Direitos Humanos afirma que o projeto de lei que institui o Sistema Nacional de Prevenção e Combate à Tortura não é focado nas instituições militares.

"Trata-se de um mecanismo abrangente, voltado ao enfrentamento da tortura. O objetivo que orientou a construção deste Projeto de Lei é enfrentar a violência em instituições como as delegacias de polícia, penitenciárias, instituições de longa permanência de idosos, hospitais psiquiátricos e instituições socioeducativas para adolescentes em conflitos com a lei, onde há o maior número de denúncias", afirma a nota. A pasta diz, ainda, que não debateu questões relacionadas aos tribunais militares e nega qualquer divergência entre áreas do governo.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

BH: Mesa pronta para a aliança

Dois dias antes da definição do PT sobre a coligação com o PSB em BH, o prefeito Marcio Lacerda almoça com aquele que é tido como o preferido dele a vice: Virgílio Guimarães

Alessandra Mello

Embora negue que tenha qualquer preferência por nomes do PT para compor sua chapa, o prefeito de Belo Horizonte, Marcio Lacerda (PSB), se reuniu ontem com o ex-deputado federal Virgílio Guimarães – tido como o candidato a vice dos sonhos do prefeito –, para tratar da sucessão na capital mineira. Faltando dois dias para o encontro do PT que vai decidir o rumo do partido nas eleições deste ano, Lacerda almoçou com o ex-deputado, que foi um dos principais coordenadores de sua campanha em 2008, na companhia do presidente do PSB mineiro, o ex-ministro do Turismo Walfrido dos Mares Guia, em um restaurante da Zona Sul de BH.

Participaram do almoço o ex-presidente do PT de Belo Horizonte Aluizio Marques, um dos principais responsáveis – juntamente com o ministro de Desenvolvimento Econômico, Indústria e Comércio, Fernando Pimentel – pela aliança entre PT, PSDB e PSB em 2008; o secretário-geral do PSB mineiro, Mário Assad Júnior, e o deputado estadual Paulo Lamac (PT). Todos são defensores da reedição da aliança com Lacerda sem restrição à presença dos tucanos na chapa, tese que ainda enfrenta certa resistência no PT. A presença da reportagem pegou de surpresa os comensais, principalmente o prefeito, que se recusou a dar entrevista ao sair do restaurante. "Fui convidado para esse almoço pelo Walfrido, por isso ele é quem vai falar", esquivou-se.

Questionado sobre a possibilidade de Virgílio ser o candidato a vice-prefeito, Walfrido também desconversou. Segundo ele, essa é uma questão interna do PT. "Em briga de jacu, inhambu não entra" , afirmou, citando um dito popular. Ele também disse que não há a menor possibilidade de o partido ser pressionado a escolher entre PT e PSDB, caso seja aprovada no domingo a reedição da aliança com Lacerda, com veto à participação dos tucanos, como pretende uma ala petista.

"De jeito nenhum o PSB vai ter de fazer essa escolha. Uma coisa é um partido ter restrição ao outro por serem adversários nacionalmente, a outra é trazer essa divergência para o nível local. Isso não vai acontecer. O PSDB hoje integra a gestão do prefeito Marcio Lacerda e nós já o convidamos, junto com outros partidos, para fazer parte da nossa aliança", sentenciou. Walfrido reiterou que, por uma questão justiça, o cargo de vice já foi oferecido novamente ao PT e que o PSB espera apenas a definição dos petistas para fechar a chapa.

Ainda é cedo Questionado sobre o andamento das conversas para ser o candidato a vice-prefeito, Virgílio Guimarães afirmou que essa é uma definição que deve ficar para abril ou maio. O mais importante, de acordo com ele, é "unificar o PT". Repetindo o discurso de Walfrido, ele disse ainda que o PT é uma "partido de visão nacional, mesmo quando discute uma aliança local". ´O ex-deputado ponderou: "É natural que o PT tenha preferência por fazer aliança com os partidos que apoiam o governo federal, mas distância entre a vontade e a realidade é muito grande". Para ele, os petistas não têm como impedir uma legenda de se coligar com outra.

Além de Virgílio Guimarães, disputam a vaga de vice na chapa de Lacerda o deputado federal Miguel Corrêa Jr. e o deputado estadual André Quintão, que conta com o apoio do ex-ministro de Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Patrus Ananias. Por fora correm também o nome de Paulo Lamac e do secretário de Atenção à Saúde do Ministério da Saúde, Helvécio Magalhães.

À esquerda

O ex-ministro Walfrido dos Mares Guia garantiu ontem que o principal assunto do almoço não foi o imbróglio da sucessão na capital mineira. A pauta, segundo ele, foi filosofia. "E marxista" , assegurou. De acordo com ele, Virgílio Guimarães discorreu sobre a teoria do autor de O capital e o embate entre os reinos da liberdade e da necessidade. "O Virgílio nos disse que considera que a luta entre o capital e o trabalho não é a principal luta do homem. A principal luta do homem é o capitalismo. O ser humano luta é pela liberdade e pela necessidade, e uma compete com a outra", disse.

FONTE: ESTADO DE MINAS

Em Minas, PSDB, PCdoB e PSB juntos contra o PT

Alessandra Mello

BELO HORIZONTE - O PSDB pode se aliar ao PCdoB na disputa pela Prefeitura de Contagem, na Região Metropolitana, de Belo Horizonte, que reúne o terceiro maior colégio eleitoral do estado. O candidato dos comunistas na cidade é o deputado estadual Carlin Moura, que tenta trazer para seu lado todos os partidos que integram a base do governador Antonio Anastasia na Assembleia Legislativa. O nome do vice ainda não está definido, mas o preferido dos tucanos para compor a chapa com o PCdoB não é um filiado ao partido e sim um ex-petista, Tilden Santiago, que trocou o PT pelo PSB, em 2008, para poder integrar a equipe do então governador e hoje senador Aécio Neves (PSDB). Tilden é o suplente de Aécio no Senado. O PSDB faria parte apenas da chapa proporcional, mas garantiria Aécio no palanque.

O PSDB oficialmente tem um pré-candidato, o ex-prefeito da cidade Ademir Lucas, porém seu nome enfrenta resistência dentro da própria legenda e o risco de não conseguir emplacar devido a problemas com a Lei Ficha Limpa. Em 2010, Ademir Lucas chegou a ter sua candidatura a deputado estadual impugnada pelo Ministério Público Eleitoral, mas ela acabou sendo liberada devido ao entendimento de que a Lei Ficha Limpa não poderia ser aplicada por ter entrado em vigor menos de um ano antes do pleito. Mesmo assim, ele não conseguiu se eleger.

A aliança em Contagem repeteria a coligação que está sendo articulada em Belo Horizonte para a reeleição do prefeito Márcio Lacerda (PSB), com a presença do PSDB, , PCdoB e outros partidos da base de Anastasia, mas sem o PT, pois o partido já lançou para a disputa o nome do deputado estadual Durval Ângelo, que conta com o apoio da atual prefeita Marília Campos (PT). Em Belo Horizonte o PT decide no domingo se aceita a reedição da chapa com Lacerda e se fará algum tipo de restrição à participação dos tucanos na coligação.

Estratégia nacional A possibilidade de o PSDB se aliar ao PCdoB para tentar derrotar o PT na disputa por Contagem faz parte de uma estratégia maior do partido, de desalojar os petistas do comando das maiores cidades do estado. Como não tem um nome forte, os tucanos podem apoiar o PCdoB para tentar chegar à prefeitura no caso de uma eventual vitória do deputado Carlin Moura.

O pré-candidato do PCdoB nega que tenha conversado sobre esse assunto com Aécio Neves. "Estamos dialogando com os partidos que compõem a base do governo Anastasia na Assembleia e que apoiaram a administração de Aécio, mas o PSDB não faz parte dessa discussão, pois a legenda tem um pré-candidato, o ex-prefeito Ademir Lucas, e respeitamos sua candidatura", afirmou Carlin Moura, deixando claro que não está fechada a possibilidade, contudo. "Se por uma eventualidade o senador Aécio Neves e seu partido vierem a fazer parte da nossa chapa, eu ficaria lisonjeado, mas essas conversas não existem", garantiu.

FONTE: ESTADO DE MINAS

Recife: Ala do PT vai à nacional para garantir Rands

PT X PT CNB quer o apoio de Rui Falcão contra João da Costa

Bruna Serra

Mais uma peça entrará no xadrez político do PT pernambucano. A expectativa de uma conversa entre o líder da tendência Construindo um Novo Brasil (CNB), Humberto Costa (PT), e o presidente nacional da legenda, Rui Falcão, fez os comandantes da CNB adiarem a reunião marcada para amanhã, com o intuito de oficializar o nome do secretário estadual de governo, Maurício Rands, na disputa interna. A estratégia da ala contrária à reeleição do prefeito João da Costa (PT) passa pela interferência da nacional, por isso a decisão de conversar primeiro com Falcão.

Os integrantes da CNB querem evitar a prévia, que segundo avaliações seria desastrosa para a imagem do partido. Para isso, esperam apresentar o nome de Rands com o apoio do ex-prefeito João Paulo (PT) e dos demais partidos da Frente Popular. Uma tentativa de intimidar o prefeito. Feito o arranjo, entraria em cena um apelo do presidente nacional para que Costa se retire da disputa, abrindo caminho para Maurício Rands.

Outro componente importante dessa engenharia é a conversa que o governador Eduardo Campos (PSB) terá no domingo (25) com o ex-presidente Lula, mandatário supremo do PT (ver matéria na página 6). Qualquer sinalização do ex-presidente de apoio ao prefeito ou ao secretário será atestada como vitória numa possível prévia. Nos planos de Rands está uma conversa com o governador antes do embarque dele para São Paulo.

O secretário falará de sua disposição de disputar internamente e em dialogar para reunir os demais partidos da Frente Popular. Em Brasília no início desta semana, Maurício Rands se encontrou com o senador Armando Monteiro Neto (PTB), grande entusiasta da candidatura alternativa, e com o deputado federal Carlos Eduardo Cadoca (PSC). Apesar de não ter ouvido categoricamente que terá o apoio de ambos, Rands entende que sua postulação foi absorvida como um fato novo e vista com simpatia. Apesar de ainda não ter uma nova data pontuada para a oficialização, ela deverá ocorrer até a próxima quinta-feira (29), uma vez que no dia seguinte encerram-se as inscrições para a disputa. Rands precisa, pelo regimento do partido, enviar uma carta ao diretório municipal, formalizando seu desejo de concorrer.

Defensor ferrenho da postulação do prefeito, o deputado federal Fernando Ferro, voltou a reclamar da truculência da ala do senador Humberto Costa. Afirmou que não acredita em interferência da executiva nacional mas deixou no ar a possibilidade de um recuo do prefeito. “Ele poderia até retirar, ninguém é candidato de si mesmo. Mas hoje ele é a melhor opção para o PT. Não acredito em interferência da nacional”, finalizou.

FONTE: JORNAL DO COMMERCIO (PE)

SP: Petistas e tucanos rechaçam 3ª via do PSB

Socialistas enfrentam saia-justa entre pedido de Lula e a preferência da regional pelo PSDB

Julia Duailibi, Daiene Cardoso e Elizabeth Lopes

A terceira via que começou a ser discutida pelo PSB na eleição pela Prefeitura de São Paulo desperta a resistência de petistas e tucanos, que querem o tempo de televisão dos socialistas no horário eleitoral e veem com ceticismo a ideia de uma candidatura independente na eleição paulistana.

Pressionada pelo PT para apoiar o pré-candidato Fernando Haddad, a direção nacional do PSB tenta buscar uma saída para a questão em São Paulo, onde a direção regional prefere uma coligação com o PSDB, que deve lançar como candidato o ex-governador José Serra.

O presidente nacional do partido, governador Eduardo Campos (PE), tem encontro com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no começo da semana que vem para falar da aliança com Haddad. Levará um levantamento da executiva do PSB sobre as capitais em que o PT pode apoiar os socialistas, facilitando a costura em São Paulo.

O lançamento da candidatura avulsa começou a ganhar força. Campos já falou com interlocutores sobre essa saída, que é vista com mais simpatia em São Paulo, onde o apoio a Serra pode ser vetado pela direção nacional, que tem a prerrogativa de dispor sobre as alianças nas capitais. As direções nacional e estadual do PSB atuam, por enquanto, juntas para encontrar uma solução.

Na segunda-feira, o presidente do PSB estadual, Márcio França, esteve com o presidente do PDT paulista, o pré-candidato Paulinho Pereira da Silva, da Força Sindical. Conversaram sobre uma aliança entre as siglas.

Mas, apesar dos sinais pró-candidatura própria, aliados do governador pernambucano dizem que ainda é difícil Campos não atender a um pedido de Lula. A pré-candidatura petista enfrenta problemas com o PR e o PC do B, que ameaçam não apoiar Haddad, reduzindo os minutos do petista na propaganda gratuita. Os vereadores do PSB também resistem a uma candidatura própria alternativa. A ampliação da bancada na Câmara tem relação com o desempenho do candidato a prefeito apoiado pela sigla.

Para o PT, a terceira via do PSB é rechaçada e vista como traição a Lula. Os tucanos acham pouco provável uma candidatura independente. Mas, se a pressão pró-PT for grande, vão atuar para que, pelo menos, o PSB não apoie Haddad no 1.º turno.

No ano passado, Campos chegou a se reunir com o governador Geraldo Alckmin para articular a aliança com o PSDB em São Paulo, tendo como contrapartida cidades pelo interior do Estado. Na época, a candidatura de Serra não estava colocada. Campos considera ruim apoiar um dos principais adversários do PT, partido com quem mantém boa relação e do qual é cotado para ser candidato a vice-presidente na eleição de 2014.

TV. Defensores da aliança com o PSDB alegam que o PSB precisa crescer na Região Sudeste e que o apoio aos tucanos fortalece a relação com o PSD, de Gilberto Kassab, que fechou um acordo eleitoral com Campos para o futuro. A legenda do prefeito pede na Justiça tempo na propaganda gratuita na TV. Se ganhar, dará combustível a uma candidatura de Campos à Presidência em 2014, que disputaria contra a polarização entre PT e PSDB.

Em disputas recentes em São Paulo, o PSB chegou a ensaiar independência eleitoral. Em 2004, lançou Luiza Erundina, tendo Michel Temer, do PMDB, como vice. Em 2010, também lançou candidatura avulsa ao governo do Estado, com Paulo Skaf.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Na reta final, Serra sai menos e pede apoio pelo telefone

Equipe listou cerca de 50 filiados e também disparou SMS para celulares

Bruno Boghossian

A disputa por votos na prévia do PSDB de São Paulo chegou às linhas telefônicas às vésperas da votação. O ex-governador José Serra passou parte dos últimos dias ligando para cabos eleitorais tucanos e chega a conversar até 20 minutos com líderes locais na tentativa de convencê-los a aderir à sua pré-campanha.

Os alvos prioritários são militantes que, na avaliação da equipe de Serra, ainda não estão totalmente comprometidos com José Aníbal ou Ricardo Tripoli, seus adversários.

"O foco está em todos os filiados que tinham alguma possibilidade de mudar o voto", resume um aliado de Serra.

A equipe do ex-governador elaborou uma lista com cerca de 50 nomes, incluindo presidentes de diretórios zonais, secretários e militantes que atuam em bairros onde Serra não esteve durante a pré-campanha.

O ex-governador costuma pedir aos líderes que se engajem na prévia e convençam outros filiados a votarem a seu favor no domingo. Serra diz ainda que pretende voltar a conversar com o militante para montar seu programa de governo.

Aliados acreditam que os líderes que recebem a ligação ficam sensibilizados ao ouvir sua voz. "Quando ele liga, a pessoa do outro lado da linha desmonta. Ninguém resiste a uma ligação do Serra", conta um tucano.

Um militante que não deu bola para o telefonema de Serra desdenha. "Realmente, quem nunca abraçou o rei fica surpreso ao ver o rei acenar de longe."

Percorrendo a lista de contatos, o tucano foi obrigado a falar com filiados que não quiseram conversa: declararam voto em Aníbal ou Tripoli, e o telefonema foi encurtado. Nesses casos, cada ligação dura no máximo um minuto. Serra agradece a atenção e desliga. Parte desses filiados avisou imediatamente os outros pré-candidatos sobre a ação de telemarketing de Serra.

Quem faz parte das ligações é a secretária de seu escritório político. Depois que atende e se identifica, Serra costuma elogiar projetos coordenados pelo militante e relembra feitos de seus períodos à frente da Prefeitura e no governo do Estado.

O ex-governador cancelou parte dos encontros presenciais com a militância para fazer as ligações. Nesta semana, subiu ao palanque só uma vez.

A equipe de Serra também disparou mensagens de texto para os celulares dos filiados. O SMS dá o endereço do local de votação de cada tucano e traz um pedido de voto. "Prezado filiado, domingo é dia de votar na prévia do PSDB. Conto com o seu voto. Um abraço, José Serra", diz a mensagem recebida por um militante.

Twitter. A guerra da prévia também está na internet. Um perfil no Twitter divulgou ontem uma notícia falsa de que Tripoli teria desistido da disputa e que faria o anúncio no diretório estadual do PSDB. O deputado riu e respondeu: "Vamos em frente."

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

De crise em crise, as pedras no sapato de Ana de Hollanda

Ministra da Cultura consegue se manter apesar de críticas e abaixo-assinado

André Miranda

A história vem se repetindo por todos os lados desde o início do ano passado, quando a cantora Ana de Hollanda assumiu o Ministério da Cultura (MinC), em janeiro: a cada crise da pasta, é dada como certa sua demissão. Mas Ana vem se mantendo no governo, apesar das críticas contra sua gestão, de um manifesto público de intelectuais pedindo sua saída e até de um abaixo-assinado - com signatários do porte de Fernanda Montenegro, Fernando Meirelles, Maria Adelaide Amaral, Regina Duarte, Lázaro Ramos e Ivan Lins - sugerindo o nome do sociólogo Danilo Santos de Miranda, diretor do Sesc-SP, para o cargo.

Os problemas, de acordo com os setores descontentes com o MinC, passam pela falta de diálogo da ministra com o Congresso e por uma dificuldade em dar continuidade aos projetos iniciados no governo Lula.

Os ataques a Ana de Hollanda começaram logo no início do governo Dilma Rousseff. Em sua primeira entrevista coletiva, poucos dias após ser confirmada no cargo, em dezembro, Ana afirmou que o projeto da nova Lei do Direito Autoral, que vinha sendo preparado pelas gestões de seus antecessores, Gilberto Gil e Juca Ferreira, poderia ser revisto.

Entre as mudanças previstas pelo que seria a nova lei estavam uma maior flexibilização dos direitos do autor e a fiscalização do Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (Ecad), órgão responsável pelo recolhimento e pelo pagamento de direitos autorais da música no Brasil.

Em janeiro, a ministra ordenou a retirada, do site do MinC, do selo do Creative Commons, uma licença para a reprodução não comercial de conteúdo.

Parte da classe artística, que vinha se manifestando a favor da permanência de Juca Ferreira no MinC, arregalou os olhos. E já ali começaram os comentários sobre as políticas da ministra nas redes sociais, justamente onde até hoje ecoam as vozes mais fortes contrárias à sua gestão.

- Toda a sociedade percebe um distanciamento dos compromissos que haviam sido assumidos no governo Lula - afirma o curador de artes Moacir dos Anjos, um dos intelectuais que assinaram esta semana um duro manifesto endereçado a Dilma Rousseff pedindo o afastamento da ministra:

- Há um certo espanto em relação a alguns retrocessos e ao abandono de alguns alinhamentos da gestão passada, como no caso do direito autoral e dos Pontos de Cultura.

Os Pontos de Cultura, de investimento em centros culturais em todo o país, eram o principal projeto cultural do governo Lula, mas sofreram cortes orçamentários durante a gestão de Ana de Hollanda.

Além disso, os movimentos sociais reclamam que o governo cancelou editais que haviam sido lançados pela gestão passada - o MinC diz que os editais tinham problemas jurídicos e foram cancelados ou suspensos para que pudessem ser refeitos.

- Há um sentimento de inoperância administrativa. Os manifestos surgem porque há a percepção de falta de projeto estratégico e de problemas internos - afirma a deputada federal Jandira Feghali (PCdoB-RJ), presidente da Frente Parlamentar da Cultura na Câmara.

Outra das dificuldades da ministra está em explicar as acusações de que o MinC teria relações próximas com o Ecad. Na quarta-feira, a ministra participou de uma audiência pública na Comissão de Educação e Cultura da Câmara dos Deputados, onde apresentou projetos para o ano. Em resposta a deputados, a ministra disse: "Acho que existe certa insinuação, até por parte da imprensa, de uma relação específica com o Ecad, o que é inverídico. Há setores que insistem em insinuar, em fazer acusações levianas, de má-fé".

Na última terça-feira, quando os boatos sobre a mudança no MinC estavam mais fortes, Helena Chagas, secretaria de Comunicação Social da Presidência, declarou a jornalistas que a ministra não estava deixando o governo.

Procurada ontem, Ana de Hollanda não retornou até o fechamento desta edição.

FONTE: O GLOBO

Gal Costa - Recanto escuro (Caetano Veloso)

A democracia twittelada :: Roberto Freire

A ministra do Supremo Tribunal Federal (STF), também presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), perguntou na semana passada, em reunião plenária do TSE: "O Twitter é uma conversa que, em vez de ser em uma mesa de bar tradicional, é em uma mesa de bar virtual. Nós vamos impedir que as pessoas se sentem numa mesa de bar e se manifestem?". Claro que não. Mas esse não é o entendimento do TSE que proibiu manifestações de cidadãos que pretendam ser candidatos nas eleições de 2012, interagindo e divulgando entre os seus seguidores na rede social sobre o que pretendem fazer, antes do dia 6 de julho-data em que já foram realizadas as convenções partidárias e se inicia a campanha propriamente dita.

Em vista disso entramos com uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (Adin) no STF para impedir que o direito individual, garantido pela Constituição, seja violado. Entendemos que a proibição estabelecida pelo TSE tem caráter de cercear a liberdade de pensamento e de expressão. Nunca devemos esquecer dos governos autoritários que tentam, em vão, controlar a internet.

Maior exemplo de fracasso é o da ditadura teocrática do Irã, que buscou proibir a divulgação, via Twitter, das manifestações populares, logo após as eleições fraudadas, e que foram violentamente reprimidas pelo regime dos aiatolás. Não é possível admitir que no Brasil democrático se pretenda tal insensatez.

Não é demais lembrar que o inciso IV do artigo 57-B, da Lei nº 9.504/97, com as alterações introduzidas pela Lei nº 12.034/09, estabelece que a propaganda eleitoral na internet pode ser realizada através de redes sociais, inclusive por iniciativa de qualquer cidadão. Há dois fenômenos que temos que ficar atentos.

O primeiro diz respeito a velocidade com que as formas de comunicação se expandem, na era da internet. Nos últimos 20 anos a expansão de redes virtuais e instrumentos de troca de informação têm crescido em uma velocidade vertiginosa, alterando inclusive as formas tradicionais de se fazer política.

O outro, é sobre a capacidade de interação dos cidadãos, articulados por redes sociais, que os alcançam via celular, por exemplo, proporcionando formas inéditas de participação na esfera política da vida em sociedade, bem como troca de informações e meios de conhecimento dos problemas das cidades e do mundo.

O TSE não deve se contrapor a um movimento amplo e profundo como o uso da internet,em suas diversas formas, sem que se fira o "direito à informação" e à "livre manifestação", regras pétreas do Estado Democrático de Direito. A nosso ver a resolução do tribunal coloca-se contra o desenvolvimento natural do uso dos equipamentos postos à disposição da cidadania, na difusão de informação.

Vivemos numa época de revolução permanente na área da informação, alargando as possibilidades de intervenção cidadã, diminuindo as distâncias entre as pessoas. Não será criando obstáculos contra as formas de comunicação entre os cidadãos que seremos "contemporâneos do futuro".

Sabemos quão lenta é a Justiça em sua capacidade de adaptação às novas demandas sociais postas pela revolução da internet, e pelo conflituoso processo democrático.

Seguramente não será proibindo o uso de Twitter por possíveis candidatos que seremos participantes do presente. Seremos contemporâneos do passado.

Roberto Freire, deputado federal (SP) e presidente do PPS

FONTE: BRASIL ECONÔMICO

Limites na coalizão:: Merval Pereira

Embora pareça uma ação extemporânea, sem base em um projeto de longo prazo, as atitudes da presidente Dilma em relação à sua base partidária estão pelo menos suscitando uma discussão que há muito não se via por parte do governo: quais são os limites éticos das negociações partidárias?

O presidente da Câmara dos Deputados , o petista gaúcho Marco Maia, disse ontem que a base aliada tem "legitimidade" para cobrar cargos e liberação de recursos, mas garantiu que isso não significa institucionalizar a prática do "toma lá dá cá".

A questão é que, no Brasil, uma interpretação distorcida do que seja o papel dos partidos políticos no apoio a um governo levou a que a corrupção e o fisiologismo se tornassem elementos fundamentais da chamada "governabilidade".

Essa distorção aparece no comentário do senador Fernando Collor (PTB-AL) de que seu impeachment deveu-se ao pouco caso que ele fazia das relações políticas entre o Palácio do Planalto e o Congresso Nacional, passando por cima de todos os problemas éticos que seu governo enfrentou.

Da mesma maneira, no governo Lula, montou-se um grande esquema de corrupção para comprar apoio parlamentar na certeza de que os "300 picaretas" que Lula identificou no plenário da Câmara, quando foi constituinte, seriam facilmente manipuláveis.

Nesse período, o presidente Lula ainda demonstrava alguns pruridos no relacionamento público com políticos que não tinham a imagem condizente com a percepção que a opinião pública ainda tinha do Partido dos Trabalhadores naquela ocasião.

Tanto que recusou se unir ao PMDB mesmo com seu braço-direito político, José Dirceu, já tendo costurado um acordo.

Luiz Inácio Lula da Silva alegava que não tinha confiança em políticos que depois viriam a ser seus grandes correligionários, como o ex-ministro Eunício Oliveira, para pegar apenas um exemplo de político rejeitado que se transformou em aliado útil.

No início de seu governo, quando ainda pretendia aprovar reformas como a da Previdência, o ex-presidente Lula teve que contar com o apoio da oposição para avançar nesse campo, que os sindicatos e o próprio PT rejeitavam.

Depois do susto do mensalão, cujo objetivo era conseguir apoios sem necessidade de expor essas relações promíscuas do PT defensor da ética na política com o baixo clero do Legislativo, Lula mudou de estratégia radicalmente.

Passou a se empenhar para formar a maior base aliada possível, exacerbando a troca de favores a tal ponto que conseguiu pela primeira vez na História unir todas as alas do PMDB no seu Ministério.

Montou então uma base aliada "defensiva", isto é, formada não para aprovar as reformas estruturais necessárias ao desenvolvimento do país, mas para defender o presidente de qualquer nova tentativa de impeachment político.

Essa sua atitude, na prática, evidencia que ele agia seguindo o mesmo pensamento que mais tarde o ex-presidente Collor exprimiria na tribuna do Senado e que tanto desagradou tanto a Dilma quanto ao próprio Lula.

Para eleger na sua sucessão a então ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, uma mágica tirada do bolso do colete, Lula passou a exigir do PT um espaço maior para os aliados e foi atrás de partidos que não faziam parte da base aliada, mas poderiam ser cooptados à base do fisiologismo.

Com isso, garantiu a maior aliança partidária já montada no país, mas tão heterogênea que apenas a eleição de Dilma os unia como objetivo, sendo impossível armar-se um programa de governo que comportasse tantos interesses distintos.

A negociação dos espaços para cada um dos dez partidos aliados passou a ser a única maneira de mantê-los sob a mesma bandeira política, e com isso o fisiologismo e a corrupção ganharam um espaço que jamais tiveram em governos anteriores, mesmo que os personagens sejam basicamente os mesmos.

Nunca tiveram tanto poder quanto até recentemente, mesmo o senador Renan Calheiros, que foi ministro da Justiça de Fernando Henrique Cardoso, um cargo de aparente pompa, mas esvaziado de poder político.

A tese de que todos esses tipos de corrupção com que nos defrontamos na nossa política, como o corporativismo, o clientelismo e o fisiologismo, fazem parte da estrutura de governabilidade de democracias pouco desenvolvidas como a brasileira preocupa pensadores como o ex-ministro Marcílio Marques Moreira, há muito envolvido na luta pela ética na política.

Para ele, a falta de compromissos éticos corrompe o sistema "assim como a ferrugem corrói o ferro, metáfora que Políbio já usava e que Maquiavel de certa maneira retoma na primeira década de Tito Lívio".

Marcílio ressalta que pesquisas recentemente divulgadas mostram que a presença de um líder, ou de um decálogo, que, inspirando confiança, legitime comportamentos tem enorme influência sobre eles.

Tanto no sentido de estimular atitudes corretas e éticas no trato da coisa pública quanto, como ocorre hoje no país, de estimular comportamentos pouco éticos quando os interesses pessoais estão acima do interesse público.

Nesse sentido, embora o sistema sob o qual sua presidência está montada seja baseado nessa promiscuidade de interesses, a presidente Dilma Rousseff está dando sinais de que pretende mudar o paradigma.

Por enquanto, no entanto, não há clareza sobre que novos caminhos pretende trilhar e com o apoio de que forças políticas. Nem há evidências da viabilidade de tal projeto, se é que ele existe mesmo.

FONTE: O GLOBO

Desordem e regresso:: Dora Kramer

No momento não há como se falar em base aliada do governo no Congresso. Retrato mais fiel da realidade daria a expressão "base adversária", tal a animosidade reinante (e crescente) no ambiente.

A cada movimento do Palácio do Planalto corresponde uma reação na direção oposta à harmonia relatada na quarta-feira de manhã pelo secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho.

"O desgaste está superado, está tudo ótimo", disse, enquanto o Parlamento o desmentia: adiou a votação da Lei Geral da Copa, aprovou emenda em comissão para retirar do governo o poder de demarcar terras indígenas e resolveu chamar dois ministros para dar explicações.

Guido Mantega, da Fazenda, sobre problemas na Casa da Moeda e no Banco do Brasil, Miriam Belchior, do Plane¬¬¬jamento, sobre os atrasos nas obras do PAC e cortes no Orça¬¬¬mento.

Nessa altura já estava convocado o presidente da Comissão de Ética Pública, Sepúlveda Perten¬¬¬ce, para tratar da investigação a respeito das consultorias privadas dadas pelo ministro Fernando Pimentel (Desenvolvi¬¬¬men¬¬to), numa reabertura de pauta que a presidente Dilma Rousseff julgava fechada.

Isso e mais duas ocorrências paralelas: a vaia ao líder do PT na Câmara ao se referir em plenário aos ruralistas como "predadores da agricultura" e a manobra de José Sarney no Senado convocando discussão extemporânea sobre reforma política que impediu a realização de reunião onde o novo líder do governo na Casa trataria do interesse do Planalto em apressar a aprovação do fundo de previdência dos servidores públicos.

Demais para um dia apropriadamente chamado "de cão"? Não, se olharmos bem para a seguinte discrepância de procedimentos: enquanto os partidos da coalizão se organizam, o Palácio do Planalto se desorganiza, bate cabeças e é pego de surpresa a cada novo lance.

E nem falemos mais na fantasia otimista do secretário-geral da Presidência, porque pode ter sido apenas a expressão de um desejo.

Tomemos fatos concretos: o desacerto sobre a venda de bebidas alcoólicas nos estádios durante a Copa, a insistência em ir a votações sem o exame prévio das condições objetivas de vitória ou derrota, a troca intempestiva de lideranças, a ausência de comunicação (civilizada) entre os integrantes do governo e deles com o Con¬¬gresso, a evidente desinformação do Palácio sobre as estratégias engendradas do outro lado da Praça dos Três Poderes e, daí, a impossibilidade de se antecipar às manobras.

Já os partidos ditos governistas só fazem se afinar, atuando em consonância seja nos movimentos de plenário ou nas comissões e seguim ordenadamente a construção da desordem.

O governo, por sua vez, age às tontas, anda às cegas sem saber com quantos paus hoje poderia fazer uma base de real sustentação correspondente ao número de partidos e parlamentares supostamente aliados.

Teoricamente o governo dispõe de muitos, mas realisticamente pode contar com poucos. Quem e quantos são eles, eis a questão. A ser resolvida por um urgente freio de arrumação.

Margens do Ipiranga. Será efêmera a fase de independência por que passa o Poder Legis¬¬¬lativo em relação às vontades do Executivo.

Fosse mais sólido e decorrente de convicções não de circunstâncias, seria o campo fértil para o Parlamento exercitar suas prerrogativas e o respeito à Constitui¬¬¬ção pondo em prática o rito indicado pelo Supremo Tribunal Federal para a tramitação de medidas provisórias: a recusa de todas que não sejam relevantes ou urgentes, mediante exame em comissão especial.

Estica e puxa. A quem interessar possa na militância pela derrubada de Ana de Hollanda do Ministério da Cultura: quanto mais pressão, quanto mais especulação, quanto mais "plantação" na imprensa de nomes de possíveis substitutos, mais firme a ministra fica no cargo.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Vai que depois eu vou:: Eliane Cantanhêde

Enquanto Dilma enfrenta as feras aliadas, aumenta a perplexidade diante de Lula, que estimula o confronto da pupila e sucessora com o Congresso.

Ao novo líder do governo no Senado, Eduardo Braga (PMDB), Lula teria dito que "a luta é boa" e que é chegado o momento de "novos métodos e práticas políticas".

Soou assim: vai firme, Dilma! Faça, no seu segundo ano de mandato, o que eu não tive coragem nem tentei fazer em oito anos!

Lula tinha biografia, esperteza política e alta popularidade, mas não arriscou um tico de energia para melhorar os métodos, as práticas e os líderes do Congresso.

Refestelou-se confortavelmente na companhia de Romero Jucá, de Renan Calheiros e de José Sarney -seu último ato de governo foi convidar Sarney para o voo de volta para São Paulo. Pois é essa a turma que Dilma tenta agora enfrentar ao nomear Eduardo Braga como seu líder.

Lula também absolveu Fernando Collor para a história, depois de o PT ter sido decisivo para trucidá-lo, defendeu governador que usou dinheiro público para levar até a sogra no Carnaval a Paris, disse que gravações não são prova de nada, reduziu o "mensalão" a caixa dois de campanha e foi quase paternal ao criticar os "aloprados" que carregavam uma mala de dinheiro para pagar dossiês contra adversários.

Além disso, não concluiu a escolha dos caças da Aeronáutica, não iniciou a Comissão da Verdade, adiou a decisão do caso Battisti para as últimas horas de seu governo, promoveu uma gastança na reta final do seu mandato para eleger a sucessora. Deixou, assim, várias bombas para explodir no colo de Dilma.

Com esse "vai firme!", Lula estimula Dilma a ser valente, confrontar o Congresso e mergulhar no escuro -risco que ele, espertamente, se recusou a correr. Se der certo, parte da vitória será dele. Se der errado, ela que se vire. Assim é fácil.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Na guerra dos maus costumes:: Maria Cristina Fernandes

A voz era de profeta do apocalipse e as imagens, de um éden terrestre: "Terras a perder de vista, milhares de cabeças de gado, pistas de pouso, mansão com piscina".

Durante 26 minutos o programa da Record "Domingo Espetacular", que compete em audiência com o "Fantástico", da Globo, expôs os indícios de enriquecimento vertiginoso do bispo que comanda a Igreja Mundial do Poder de Deus.

A denominação compete com a Igreja Universal, dona da Record, pelos evangélicos pentecostais. Para isso, também conta com um canal de TV, a Rede 21, arrendada do grupo Bandeirantes.

A Universal deu ao rival o mesmo tratamento que seus bispos receberam no noticiário quando a Igreja entrou no ramo das comunicações.

Nascida da costela da Universal, a Igreja Mundial do Poder de Deus ainda não tem a mesma penetração política de sua congênere cujo PRB chegou ao ministério. Mas a guerra aberta entre as duas igrejas, cujo campo de batalha são concessões públicas de um Estado laico, indica o flanco político que lhes foi aberto.

Não foi o PT que inventou o pentecostalismo mas foi sob a era petista que suas denominações, que falam a linguagem da prosperidade, mais avançaram nos negócios da fé.

Tampouco foi o PT que proibiu o aborto ou inventou o preconceito contra os homossexuais, mas a força política adquirida por essas denominações no Congresso e fora dele tem sido um obstáculo crescente à secularização da pauta dos direitos humanos.

Confronto de pentecostais é de corar congressistas

Também foi na era petista que as pastorais sociais perderam rebanho para os programas sociais do governo e viram o equilíbrio de forças na Igreja Católica pender para a pauta moralista, mais competitiva com o avanço pentecostal.

Em comum, evangélicos e católicos ganharam terreno sobre a política partidária no poder de mobilização social como mostrou a campanha eleitoral de 2010. Esta semana os católicos que protestam contra petistas-que-matam-criancinhas voltaram ao centro de São Paulo com cartazes de fetos sendo espetados pela estrela do partido e alusões ao homossexualismo na esfera eleitoral.

O governo Dilma Rousseff ora age afirmativamente frente a essa pauta, como na escolha de Eleonora Menicucci para Secretaria de Políticas para as Mulheres, ora na defensiva, como no episódio em que o secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho, desculpou-se por ter colocado o dedo na ferida do conservadorismo pentecostal.

Esse avanço se reflete no peso que as bancadas religiosas ganharam na pauta do Congresso. Atuam pelo poder de veto. Da mesma forma que, nos Estados Unidos, o direito ao aborto acabou sendo decidido pela Suprema Corte, no Brasil a união civil de homossexuais, barrada no Congresso, só seria reconhecida pelo Supremo Tribunal Federal.

Na discussão da Lei da Geral da Copa, que somou uma Casa Civil sem autonomia a uma liderança que pegou o trem andando, foi o veto dos evangélicos à bebida nos estádios, e não a prevalência do Estatuto do Torcedor que moveu o pano de fundo da trapalhada.

Essas pautas suprapartidárias, encabeçadas por duas das bancadas mais fortes do Congresso - evangélicos e ruralistas -, têm servido ao jogo de barganha dos partidos no confronto com o governo do qual se dizem aliados.

A aposta de que grupos minoritários dentro dos partidos aliados podem tomar as rédeas no Congresso ainda está por se mostrar devidamente conectada com a realidade das eleições municipais.

Não são apenas os partidos que ficam mais dependentes do governo federal para eleger seus prefeitos. Agraciados com o tempo de televisão no horário eleitoral gratuito, os aliados têm uma moeda de troca importante para o partido majoritário do governo que tem a pretensão de também ser o maior nas prefeituras.

É disso que tratam as alianças, mas o petista atento a esse jogo continua sendo aquele que recupera sua saúde em São Bernardo.

Dilma parece mais concentrada na estratégia de colher apoio na sociedade a sua cruzada contra os maus costumes nas relações com o Congresso. Pela primeira vez em discurso público, a presidente expôs a estratégia de cativar a opinião pública para enfrentar o bloqueio de seus aliados.

Ao escolher o jeitinho brasileiro como alvo - "a maioria dos brasileiros cansou de conviver com práticas marcadas pela lassidão e com nossa fama de país do jeitinho" -, a presidente, marca uma diferença de apelos feitos pelo antecessor Luiz Inácio Lula da Silva em momentos de crise política.

Lula dirigia-se ao brasileiro que, como ele, tinha saído de baixo e vencido na vida enfrentando ricos e poderosos - "Eles vão ter que me aguentar".

Com a crítica ao jeitinho, Dilma mira uma base social difusa que tanto pode estar na classe média estabelecida quanto naqueles que prosperam na cultura do esforço pessoal com a ajuda do Prouni e do crédito consignado.

Ao contrário de Lula, Dilma não conta com o entusiasmo dos movimentos sociais. Colheu ontem manifestações mais concretas de apoio dos empresários com quem se reuniu do que dos sindicalistas que recebeu na semana passada, embora ambos sejam igualmente sensíveis às medidas que o governo vier a tomar contra a desindustrialização.

Ao escolher o apelo difuso contra os maus costumes, Dilma parece apostar num apoio que se difunde para além dos meios tradicionais de mobilização social. É uma aposta da era virtual, mas com uma base que ainda está por ser testada.

São as igrejas pentecostais que, nos últimos anos, têm demonstrado capacidade de mobilizar e convencer. Não apenas pelas marchas e cultos gigantescos, mas pela capilaridade de seus pastores - cujos templos ficam abertos de madrugada - e pela penetração de seus programas de televisão.

Se a guerra é de costumes, o confronto deflagrado no último fim de semana entre os pentecostais faz as raposas que emparedam Dilma no Congresso parecerem anjos.

FONTE: VALOR ECONÔMICO