quarta-feira, 7 de março de 2012

OPINIÃO DO DIA - Jürgen Habermas: ciência e ideologia

(...) o crescimento relativo das forças produtivas não representa mais (...) um potencial transbordante e rico de conseqüências emancipatórias, que pudesse romper as legitimações de uma ordem de dominação existente. Pois, desde agora, a principal força produtiva, o próprio progresso técnico-científico assimilado à administração, tornou-se fundamento da legitimação. Essa nova forma de legitimação perdeu contudo a antiga figura de ideologia

(...) difere das mais antigas por separar os critérios de justificação da organização da vida em comum e, portanto, das regulamentações normativas da interação; nesse sentido ela os despolitiza, fixando-se, ao contrário nas funções de um sistema subordinado ao agir-racional-comrespeito- a-fins

(...) fere, portanto, um interesse que se prende a uma das duas condições fundamentais da nossa existência cultural: a linguagem, ou mais precisamente, a forma de socialização e de individualização determinada pela comunicação na linguagem corrente.(...) A consciência tecnocrática faz desaparecer esse interesse prático, por trás do interesse pela ampliação do nosso poder de manipulação técnica. A reflexão provocado pela nova ideologia deve ir além de qualquer interesse de classe historicamente determinado e por a descoberto a contextura de interesses de uma espécie, como tal, que se constitui a si mesma

HABERMAS, J. Técnica e ciência enquanto ideologia In: Escola de Frankfurt. Os Pensadores, XLVIII. São Paulo: Abril Cultural, 1975b p.p. 325-7

Manchetes de alguns dos principais jornais do Brasil

O GLOBO
Após tombo do PIB, cortar juros vira prioridade
Brasil tem a 6ª maior economia
PSDB e DEM culpam governo
PMDB cobra verbas e Temer libera alianças
Valcke atacou em inglês e se justificou em francês

FOLHA DE S. PAULO
PIB fraco no 1º ano de Dilma pressiona BC a reduzir juros
Protesto de caminhoneiros deixa postos sem gasolina na Grande SP
Senado aprova multa a empresa que paga salário menor a mulher
Base brasileira na Antártida será reconstruída só em 2014

O ESTADO DE S. PAULO
Indústria freia PIB e governo promete medidas ‘fortes’
Gasto público com festas é alvo de investigação
Comissão aprova Lei da Copa com venda de bebidas
PM escolta caminhões para abastecimento de combustível
Nova base na Antártida ficará pronta até 2018

VALOR ECONÔMICO
Ações fraudulentas em série inquietam bancos
Mais medidas para o câmbio e a indústria
Consumo puxa recuperação da economia
Bovespa tem o pior pregão desde outubro
Decisões favorecem Fazenda em disputa contra a Vale

CORREIO BRAZILIENSE
O "pibão" que virou "pibinho"
Depois do chute, Copa ganha Lei
Amorim terceiriza punições

ESTADO DE MINAS
O primeiro PIB a gente não esquece
Liberada a bebida nos estádios durante a Copa do Mundo

ZERO HORA (RS)
Brasil perde altitude, mas ensaia arremetida
Projetos podem dar mais rigor à Lei Seca

JORNAL DO COMMERCIO (PE)
Brasil cresceu somente 2,7% em 2011

O que pensa a mídia - editoriais dos principais jornais do Brasil

http://www2.pps.org.br/2005/index.asp?opcao=editoriais

Após tombo do PIB, cortar juros vira prioridade

A economia brasileira levou um baque no primeiro ano do governo Dilma. O PIB caiu de 7,5%, em 2010, para 2,7%, em 2011, por causa do agravamento da crise internacional e das medidas tomadas, no início do ano, para segurar a inflação. Com o desafio de fazer o país voltar a crescer, o governo prepara medidas de corte de impostos e ampliação do crédito. Além disso, tornou-se essencial que o BC, que se reúne hoje, anuncie novos cortes de juros. O consumo das famílias continuou crescendo, pelo oitavo ano, mas a indústria encolheu

DO PIBÃO AO PIBINHO

Velocidade mínima

País cresceu 2,7% no ano passado contra 7,5% de 2010. Consumo impediu resultado pior

Fabiana Ribeiro, Lucianne Carneiro, Henrique Gomes Batista e Clarice Spitz

O ritmo de crescimento da economia brasileira despencou de 7,5% em 2010 para 2,7% em 2011 - número abaixo das expectativas iniciais do governo e aquém da média mundial (3,8%). No primeiro ano do governo de Dilma Rousseff, pesaram nessa desaceleração as políticas do governo para conter a atividade e segurar uma já elevada inflação - medidas que ainda foram turbinadas pelo enfraquecimento da economia mundial. Diante de um cenário internacional de incertezas, foi, novamente, o mercado interno que sustentou a expansão do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e produtos produzidos no país) no ano passado. Já a indústria amargou um crescimento de apenas 1,6%, bem diferente de 2010, com alta de 10,4%. Em valores, o PIB brasileiro chegou a R$ 4,143 trilhões no ano passado. Para especialistas, 2012 promete ser um ano melhor para o país, de recuperação da economia, com as estimativas apontando para um PIB em torno de 3,5%. A expectativa, porém, está abaixo da meta do governo (de 4% a 4,5%).

- Desde 2008, vivemos uma conjuntura de incertezas no mundo e a economia brasileira teve que se reorganizar nesse mundo de incertezas. A demanda interna tem sido o sustentáculo do crescimento. Não dependemos tanto do setor externo - afirmou Roberto Olinto, coordenador de Contas Nacionais do IBGE, acrescentando que a indústria de transformação foi o que mais inibiu o crescimento do país.

Para empurrar a economia, o governo - que havia começado a atual gestão, em fevereiro de 2011, estimando um crescimento de 5% para o ano - já tem um arsenal de medidas para tentar acelerar o PIB neste ano. A principal delas é corte na taxa de juros, atualmente em 10,5%. Hoje o Comitê de Política Monetária (Copom) deve anunciar um novo corte. Além disso, há mais oferta de crédito pelos bancos públicos e redução de impostos para incentivar a morna economia brasileira.

- Espera-se ainda em 2012 um crescimento tímido. Consumo deve prosseguir aquecido, com importação, mas a indústria deve ficar menos estocada. Não há pressão inflacionária, um problema que o governo empurra para 2013. E o mercado de trabalho permanece aquecido - disse Carlos Thadeu de Freitas, economista da Confederação Nacional do Comércio (CNC).

No quarto trimestre, confirmando a perda de fôlego, a economia cresceu 0,3% frente ao trimestre anterior. Na comparação com o último trimestre de 2010, a alta foi de 1,4%. O PIB per capita (PIB dividido pela população residente no país) atingiu R$ 21.252, numa alta de 1,8% em relação ao ano anterior.

Pela ótica da produção, no ano passado, a agropecuária se destacou com alta de 3,9%. Crescimento acima do PIB, mas de impacto reduzido: o setor pesa somente 5,5% na economia brasileira. Já o PIB dos serviços - que responde por 67% do PIB - avançou 2,7% em 2011, influenciado pelos serviços de informação (4,9%) e intermediação financeira e seguros (3,9%). Mas o comércio entra na conta do setor e, com crescimento da população ocupada e massa real de salário, avançou 3,4%.

Sem ajuda de 2010, alta seria de 1%

A expansão moderada do PIB no fim de 2011 puxou para baixo o carregamento estatístico para apenas 0,3% em 2012. Se o país não crescer nada neste ano, já está garantida uma expansão de 0,3% no PIB. Pouco. Tanto que, para se chegar a uma taxa superior a 3% em 2012, torna-se necessário crescer acima de 1% nos quatro trimestres do ano. Para se ter uma ideia, este carregamento foi de 1,7% na passagem entre 2010 e 2011. Ou seja, a expansão unicamente de 2011 foi de 1%.

- Se a economia não tivesse crescido nada em 2011, a expansão do PIB teria sido de 1,7% pelo que veio de 2010 - disse Alessandra Ribeiro, da Tendências.

A indústria, por sua vez, apresentou o pior desempenho, variando somente 1,6% no ano passado - embora seu segmento mais importante, a indústria de transformação, tenha estagnado, com avanço de 0,1%. Já os segmentos de eletricidade e gás, água, esgoto (3,8%), construção civil (3,6%) e extrativa mineral (3,2%) impediram um resultado global mais anêmico.

- A indústria de transformação teve sistematicamente os piores desempenhos. Ela é o núcleo central de uma economia, mas teve desempenhos diferenciados. Os segmentos mais ligados ao resto do mundo caíram, enquanto aqueles com mais relação com o Brasil não sofreram impacto - acrescentou Olinto.

Em um turbulento cenário mundial, as exportações brasileiras tiveram crescimento de 4,5% - quase metade da variação das importações (9,7%), o que ajuda a explicar o aumento de consumo com baixa atividade industrial. Contribui para este quadro a valorização do real entre 2010 e 2011: o câmbio anual variou de R$ 1,76 para R$ 1,67.

Em 2011, a contribuição da demanda interna para a economia foi de 3,4%, enquanto o setor externo teve peso negativo de 0,7%. Em 2010, o panorama também era de crescimento expressivo do mercado interno, com contribuição de 10,3%, enquanto o setor externo registrou participação negativa de 2,7%.

Os números do IBGE apontam para o aumento da carga tributária. Enquanto o valor adicionado do PIB cresceu 2,5% em 2011, os impostos sobre os produtos tiveram alta de 4,3%. Segundo Olinto, essa expansão foi puxada pelas importações e pelo Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) do setor de máquinas e equipamentos.

- A economia cresce e os impostos crescem um pouco mais. A formalização do trabalho também contribuiu - disse Sergio Vale, da MB.

FONTE: O GLOBO

Para PSDB, PIB de 2011 resulta de ‘má gestão econômica’

Demora em reagir à crise e gasto público alto são os vilões, diz líder e presidente do partido

BRASÍLIA – O PSDB colocou a culpa pelo baixo crescimento do PIB em 2011 na “má gestão econômica” do governo Dilma. O presidente nacional do partido, Sérgio Guerra, usou o Twitter para fazer suas críticas nesta terça-feira. Guerra avalia que o governo demorou a agir aos sinais da crise financeira internacional, e disse que o governo ainda mantem em alto patamar os gastos públicos.

- Há meses se sabe que EUA e Europa vão mal. Mesmo assim, o governo do PT passou o tempo todo dizendo que o país estava imune. Pintou um quadro positivo internamente e demorou para baixar os juros, que ainda são muito altos. O governo federal também erra ao não reduzir os gastos públicos e não gerir bem os grandes projetos, como PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e a Transnordestina – afirmou o presidente do PSDB, pelo Twitter.

O líder do PSDB na Câmara, Bruno Araújo (PE), também comentou o resultado do crescimento da economia do país em 2011, divulgado nesta terça-feira pelo IBGE, que mostra que o PIB teve alta de 2,7%, bem abaixo dos 7,5% de expansão de 2010 e dos 4,5% que eram esperados para 2011 quando o ano começou. Araújo, que qualifica o resultado como “pífio”, afirmou que a presidente Dilma Rousseff mudou seu discurso para justificar a pequena expansão da economia no ano passado, e agora passa a culpar a influencia da crise internacional sobre a economia brasileira:

- É mais fácil colocar a culpa nos outros. O PIB é mais uma prova de que os governos petistas não fizeram a lição de casa. O governo deveria administrar o país de olho nos indicadores da economia, que não estão nada bem, em vez de se orientar apenas pelas pesquisas de popularidade - afirmou o líder.

Araújo também fez coro com o presidente do partido, afirmando que as reformas estruturais ficaram de lado, a carga tributária está “nas alturas” e os investimentos são baixos, o que ele credita aos altos gastos do governo.

- Nesses dez últimos anos, pouco ou nada se fez para conquistar condições estruturais de competitividade, com um sistema tributário simplificado, infraestrutura econômica e social moderna, sistema educacional de qualidade, sistema de inovação tecnológica dinâmico – disse.

Sérgio Guerra fez ainda uma provocação à presidente Dilma, também em comentário pelo Twitter, sobre a Copa do Mundo:

- Só falta a presidente Dilma dizer que a culpa pela desorganização da Copa 2014 é da Argentina. Falta competência e sobra propaganda.

FONTE: O GLOBO

Crescimento pífio do PIB revela fracasso do PAC, afirma líder do PPS

Por: Assessoria do PPS

O crescimento pífio do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil em 2011 revela o fracasso do Programa de Aceleração de Crescimento (PAC) do governo do PT. A avaliação foi feita nesta terça-feira pelo líder do PPS na Câmara, deputado federal Rubens Bueno (PR), que aponta ainda erros na política econômica e de desenvolvimento do governo como responsáveis pelo crescimento de apenas 2,7%, um dos menores percentuais da América Latina.

“Ao contrário do que alega o governo, o ‘pibinho´ de 2011 não é reflexo direto da crise econômica na zona do euro. Trata-se de má gestão da política econômica e do fracasso do PAC, que não passa de um programa publicitário sem consistência. A queda está diretamente ligada à falta de investimentos, a carga tributária excessiva, que bate 37% do PIB, e a falta de estímulos ao setor produtivo. É fruto de incompetência governamental. Com o PAC do PT, estamos empacados”, critica o líder do PPS.

Rubens Bueno lembra ainda que essa política de desenvolvimento tem levado o país a apostar todas as suas fichas na exportação de commodities, empurrando o Brasil para um processo de desindustrialização. “Como um país pode entrar num processo de crescimento sustentável se não investe em pesquisa e desenvolvimento tecnológico. Não tem um plano eficiente para ampliação de seu parque industrial e se esquece da educação. Escora-se apenas no desempenho do setor primário, o que é um erro. O país precisa diversificar os investimentos”, ressalta o parlamentar.

O deputado aponta ainda a falta de controle dos gastos públicos e a gastança eleitoral de 2010 para eleger Dilma Rousseff como peças dessa engrenagem defeituosa que empaca o crescimento do país. “O governo gasta mal, desperdiça uma enorme quantidade de dinheiro em projetos meramente eleitorais, como fez em 2010 para eleger Dilma, incha a máquina pública com a companheirada e, para agravar a situação, despeja milhões no ralo da corrupção”, condena o deputado.

Juros e PIB

Rubens Bueno lembrou ainda que o Brasil foi, entre os emergente, o país que apresentou o menor índice de crescimento. A China alcançou 9,2%, a Índia bateu 6,9%, a Russia chegou a 4,3% e a África do Sul apresentou um crescimento de 3,1%.

Outro ponto que trava o crescimento do país, na avaliação do deputado, é a elevada taxa de juros. Apesar das reduções recentes, os juros brasileiros continua no topo do ranking mundial, à frente de Índia (8,5%), Rússia (8%), Hungria (7%) e China (6,56%). Em economias desenvolvidas, como EUA, Japão e Grã Bretanha, a taxa está próxima de zero.

FONTE: PORTAL DO PPS

PMDB cobra verbas e Temer libera alianças

O vice-presidente Michel Temer liberou o PMDB para fazer as alianças eleitorais mais convenientes, sem priorizar o PT. Ele recebeu ontem o manifesto em que o partido cobra mais verbas e espaço no governo

PMDB deixa de priorizar PT em alianças

Em reunião com deputados insatisfeitos, Temer diz que partido está livre para fazer os melhores acordos nas eleições

Gerson Camarotti, Luiza Damé e Isabel Braga

BRASÍLIA. A bancada do PMDB formalizou ontem a entrega do manifesto com críticas ao tratamento recebido pelo partido no governo Dilma Rousseff e o receio do rolo compressor do PT nas eleições municipais. Ao receber o documento, assinado por 53 dos 76 deputados do PMDB, o vice-presidente da República, Michel Temer (PMDB), deu carta branca para que sejam feitas as alianças partidárias mais convenientes à legenda nas eleições de outubro, independentemente do PT.

-A partir de hoje rompemos a opção cega que existia de ser PT 24 horas por dia - disse o deputado Danilo Fortes (PMDB-CE), um dos líderes do movimento.

O movimento de ala expressiva da bancada tem como pano de fundo a irritação dos peemedebistas com a blindagem dos ministérios que comandam. Isso, segundo eles, impede que o partido leve às bases eleitorais as ações desses ministérios. Para os peemedebistas, a última eleição e a municipal, deste ano, mostram que o PT vem conseguindo ser identificado pelos eleitores como autor de políticas públicas, o que não acontece com o PMDB.

Os dois partidos disputarão as eleições em quase todas as capitais. Há exceções, como no do Rio, onde o PT apoiará a reeleição de Eduardo Paes.

Na visão de alguns presentes ao encontro, esse é um sinal de que as eleições municipais devem ser marcadas pelo confronto dos dois maiores partidos da base do governo. No discurso para os correligionários, Temer defendeu a liberdade das coligações conforme as conveniências do PMDB e disse achar o manifesto importante, até para fortalecer Gabriel Chalita em SP.

A reunião com Temer durou pouco mais de uma hora. Ele mais ouviu do que falou, não rebateu as reclamações feitas pelos deputados e prometeu enviar as reclamações ao Palácio do Planalto. Deve articular uma reunião da cúpula do PMDB com as ministras Gleisi Hoffmann (Casa Civil) e Ideli Salvatti (Relações Institucionais) para tratar dos pedidos dos parlamentares, desde a participação do partido nas decisões de políticas públicas até a liberação de verbas para suas bases eleitorais.

- Não houve nenhuma manifestação (de Temer) contrária ao que colocamos. Ele entende a nossa preocupação e sugeriu que, no encontro nacional do partido, coloque-se mais claramente a relação do PMDB com o governo e o PT - disse o deputado Osmar Terra (PMDB-RS).

No documento, os peemedebistas reclamam da hegemonia do PT no governo. Os peemedebistas dizem que o PMDB não participa das principais decisões, mas o Planalto trabalha para fortalecer o PT e, assim, o partido corre o risco de ser derrotado pelo aliado nas eleições municipais. O presidente nacional do PMDB, senador Valdir Raupp (RO), anunciou que o partido fará um encontro em 17 de maio sobre as eleições.

As manifestações públicas de insatisfação do PMDB preocupam o governo. Para evitar um estrago maior no Congresso, a ministra Ideli Salvatti tem conversado com Temer. A estratégia é usar a influência de Temer para conter a rebelião. A avaliação é que Temer é o maior interessado em manter PT e PMDB unidos, porque qualquer mudança desse quadro levaria a uma mudança na chapa presidencial de 2014.

Auxiliares diretos da presidente Dilma Rousseff atribuem ao vice-presidente da Caixa Econômica Federal, Geddel Vieira Lima, o protagonismo da articulação para enfraquecer o governo. Mesmo assim, a ordem é mantê-lo no cargo por uma questão pragmática: o seu afastamento poderia agravar a crise e com isso Geddel ficaria livre para intensificar o seu movimento oposicionista.

O núcleo palaciano admite que é preciso compensar o PMDB. A ordem é identificar as principais insatisfações e liberar emendas aos parlamentares. Também há movimento para garantir permanência de nomes do PM DB em cargos estratégicos.

FONTE: O GLOBO

Temer dá aval a grupo de rebeldes do PMDB

Vice endossa manifesto de deputados que ameaçam barrar novo Código Florestal

Christiane Samarco, Marta Salomon

BRASÍLIA - O presidente em exercício, Michel Temer, aderiu ao manifesto dos insatisfeitos do PMDB que acusam o PT de usar uma "ampla estrutura governamental" para ultrapassar os peemedebistas em número de prefeituras nessas eleições.

Além de dar razão aos queixosos que lhe entregaram o documento ontem à tarde, Temer reconheceu que a pressão do PT sobre o PMDB é grande e, citando São Paulo, disse que não recuará: "O Gabriel Chalita (candidato do PMDB a prefeito da capital) vai até o fim".

"Temos que trabalhar para eleger o maior número de prefeitos", conclamou Temer, declarando-se "defensor da liberdade das coligações" nas disputas municipais. Ao analisar o quadro eleitoral no encontro de uma hora no gabinete da Vice-Presidência da República, admitiu que o PT tem mais facilidade de acesso a programas e recursos do governo para as bases e prometeu buscar um "tratamento igualitário".

O vice acredita que o manifesto vai ajudar o governo, com o alerta das insatisfações. "Olha, vejam bem, vocês estão cobertos de razão. Vou abrir uma conversa (com o governo), falar dessa situação", disse a certa altura. Mas o tom conciliador de Temer gerou dúvidas e cobranças. O vice assumiu a Presidência na ausência de Dilma Rousseff, que estava ontem na Alemanha.

"Se vocês estão pensando que viemos aqui para vocês passarem a mão na cabeça da gente, estão enganados. Viemos aqui para resolver. Estamos há um ano e meio ouvindo isto", atalhou o deputado Manoel Moreira (PMDB-RS), saudado com gritos de "muito bem!". Para não polemizar, Temer saiu pela tangente. "Você disse exatamente o que eu havia dito, só que com sua voz forte, imponente."

Ato contínuo, o líder do PMDB na Câmara, Henrique Alves (RN), sugeriu que Temer organizasse uma reunião dos dois líderes peemedebistas - ele próprio e o senador Renan Calheiros (AL) - com as ministras Ideli Salvatti (Relações Institucionais) e Gleisi Hoffmann (Casa Civil) para relatar ao governo as insatisfações do partido.

Código Florestal. O grupo de cerca de 20 deputados que se reuniu com Temer saiu satisfeito do encontro. Todas essas insatisfações serão postas à mesa às 10h de hoje, quando a bancada vai se reunir para tratar da votação do novo Código Florestal. "Temos de dizer ao governo que não vamos votar. Não podemos ceder", propôs o deputado Darcísio Perondi (RS) ao líder Alves, lembrando que o momento em que a candidatura do peemedebista a presidente da Câmara mais cresceu foi quando houve enfrentamento na votação.

Assim, o PMDB ameaça impor a mais grave derrota política ao governo Dilma na votação do Código Florestal, com regras de proteção ambiental nas propriedades do País. O relator Paulo Piau (PMDB-MG) é contra a exigência de recuperação de cerca de 300 mil quilômetros quadrados de vegetação nativa, aprovada pelo Senado em dezembro. A votação foi adiada para a próxima terça. A orientação do líder é fazer com que o PMDB vote unido.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Marina ataca política ambiental de Dilma

Roldão Arruda

A ex-senadora Marina Silva (sem partido) foi uma das signatárias da carta aberta lançada ontem em São Paulo que qualifica como "retrocesso" a política ambiental do governo da presidente Dilma Rousseff (PT). De acordo com o texto, o primeiro ano de Dilma "foi marcado pelo maior retrocesso da agenda socioambiental desde o final da ditadura militar".

Marina participou do evento como diretora do Instituto Democracia e Sustentabilidade, uma das dez organizações não governamentais que elaboraram a carta. Elas afirmam que Dilma inverteu "uma tendência de aprimoramento da agenda de desenvolvimento sustentável que vinha sendo implementada ao longo de todos os governos desde 1988".

A política estaria contrariando compromissos assumidos por Dilma na campanha presidencial - entre eles o de recusar artigos no texto do Código Florestal que resultassem em anistia a desmatadores ilegais.

O governo poderia ter mobilizado sua base parlamentar para conter os retrocessos na mudança do Código Florestal, em discussão no Congresso, de acordo com o texto da carta. Também são apontados como sinais de retrocesso a redução das unidades de conservação e do poder de fiscalização do Ibama, atropelos nos processos de licenciamento ambiental e enfraquecimento do Ministério do Meio Ambiente.

"É a primeira vez que 100% das demandas do atraso vêm sendo contempladas", disse Marina em entrevista coletiva, referindo-se às concessões do governo. Na avaliação da ex-senadora, o Brasil precisa de dirigentes que tenham visão estratégica e não apenas gerencial.

No período em que chefiou o Ministério do Meio Ambiente, no governo de Luiz Inácio Lula da Silva, Marina teve frequentes desentendimentos com Dilma, então ministra-chefe da Casa Civil. Na eleição presidencial de 2010, a ex-senadora ficou em terceiro lugar, com quase 20 milhões de votos, defendendo sobretudo propostas de desenvolvimento sustentável.

A carta também foi assinado pela Fundação SOS Mata Atlântica, pelo Instituto Socioambiental e outras sete organizações.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

PT teme 'jogo duro' de Dilma com a base

Petistas querem que presidente dê cargos a aliados

Fernando Gallo

Integrantes dos dois setores do PT que disputam espaço no comando da pré-campanha do ex-ministro Fernando Haddad à Prefeitura de São Paulo reagiram com irritação à informação de que a presidente Dilma Rousseff pretende "jogar duro" com a base e não usar cargos do governo para ajudar na composição de alianças na capital, revelada ontem pelo Estado.

Segundo análise amplamente repetida por diversos dirigentes petistas, partidos como o PR e o PDT só serão atraídos para a campanha de Haddad caso seus pleitos ministeriais sejam contemplados. Nos bastidores, lembram que o governador Geraldo Alckmin (PSDB) e o prefeito Gilberto Kassab (PSD) têm colocado as máquinas que comandam em funcionamento a favor do ex-governador José Serra (PSDB).

"Nosso problema se chama Dilma", diz um petista. "Os aliados estão dando em São Paulo, no "filho da Dilma", o troco que ainda não deram no Congresso".

Em público, no entanto, o tom é de comedimento ou até de defesa da atitude da presidente. "Temos feito conversas no âmbito municipal, mas todos os partidos têm pautas nacionais, que não estão sob nossa governabilidade", diz o presidente do PT paulistano, Antonio Donato. "A Dilma está correta. Governabilidade não se mistura com política de alianças", diz o presidente estadual da sigla, Edinho Silva.

Coordenação. Na tentativa de arrefecer os ânimos internos, contemplando a corrente Construindo um Novo Brasil (CNB) com cargos, e robustecer a pré-campanha para tentar tirá-la dos reveses políticos sofridos nas últimas semanas, Haddad estuda a entrada dos deputados federais Ricardo Berzoini e Vicente Cândido em sua equipe de coordenação. Além deles, deve entrar o deputado estadual Ênio Tatto, do PTLM, corrente com força na capital. Berzoini está cotado para a coordenação geral da campanha, mas ainda não foi descartado como tesoureiro. Cândido deve coordenar o programa de governo. A função de Tatto não foi definida. Outro integrante da CNB que pode entrar na equipe é o prefeito de Osasco, Emídio de Souza. O nome do deputado Newton Lima, antes cotado para tesoureiro, foi vetado.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Para FHC, aliança com socialistas é 'natural'

Gustavo Uribe

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) considera natural a aliança de seu partido com o PSB do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, na sucessão à Prefeitura de São Paulo. "Tomara que (o PSDB) consiga", afirmou o tucano ontem, após palestra na capital.

No Estado de São Paulo, o PSB integra o governo Geraldo Alckmin, do PSDB, e no âmbito federal, compõe a base de apoio da presidente Dilma Rousseff, do PT. Anteontem, Eduardo Campos, que também é presidente nacional do PSB, avisou que não decidirá nada sobre alianças em São Paulo antes de junho.

O ex-presidente tucano rebateu também artigo publicado pela revista britânica The Economist, segundo a qual a pré-candidatura tardia do ex-governador José Serra é um sinal do fracasso do PSDB em renovar seus quadros. A mesma opinião foi manifestada na semana passada pelo cientista político e professor do Insper, Carlos Melo. "O PSDB vai bem, tem crescido, tem chances de ganhar em muitos lugares. O resto é especulação sem base", disse.

Fernando Henrique não quis comentar sobre sua entrevista à revista britânica, na qual avaliou que o senador Aécio Neves (MG) é o nome natural do PSDB para a disputa da sucessão da presidente Dilma em 2014. "Hoje não vou falar nada sobre essas questões, só quero falar sobre assuntos internacionais", disse.

Economia. O tucano participou ontem de palestra sobre a crise econômica europeia promovida pela FAAP. Na palestra, avaliou que a União Europeia passa por um processo de socialização das perdas, num cenário de situação fiscal considerado desesperador.

Segundo ele, o primeiro esboço de unificação europeia teve motivação política e, embora se critique a falta de uma unidade fiscal no bloco europeu, havia um arcabouço econômico que não foi respeitado por alguns países que integram o bloco.

O ex-presidente disse ainda que neste cenário de crise tanto governos de direita quanto de esquerda têm sido alijados do poder. E fez uma brincadeira com o PSD, partido criado pelo prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab: "Até o (partido) do Kassab, que não é de direita ou de esquerda, cairia também".

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Ato em apoio a Serra na Câmara Municipal de SP atrai base de Kassab

Ex-governador foi recebido na sala da presidência da Câmara, ocupada por José Police

Bruno Boghossian

SÃO PAULO - Vereadores dos partidos da base aliada do prefeito Gilberto Kassab (PSD) participaram nesta terça-feira, 6, de ato convocado por parlamentares do PSDB em apoio a pré-candidatura do ex-governador José Serra nas eleições municipais. Sete dos oito vereadores tucanos declararam apoio a Serra nas prévias do partido, mas integrantes das bancadas do PSB, do PPS e do PV - que foram sondados para formar uma aliança em torno do ex-governador - estavam presentes no evento.

Durante o ato, Serra agradeceu a presença dos vereadores de "partidos amigos" e os chamou de "futuros aliados, se Deus quiser". O ex-governador foi recebido na sala da presidência da Câmara Municipal, ocupada por José Police Neto (PSD), aliado de Kassab.

Estavam presentes dois dos três parlamentares do PSB - partido seduzido tanto pelo PSDB quanto pelo PT. O vereador Eliseu Gabriel observou o ato, mas Juscelino Gadelha, ex-PSDB, foi até Serra para cumprimenta-lo. "É apenas uma presença institucional", disse Gadelha. "Se o Lula, a Dilma ou o Maluf viessem, teria feito o mesmo", disse.

Os diretórios municipal e estadual do PSB manifestaram apreço por uma aliança com o PSDB, pois têm boas relações com o prefeito Gilberto Kassab e o governador Geraldo Alckmin. No entanto, o presidente nacional do partido, Eduardo Campos, aliado da presidente Dilma Rousseff, determinou que a legenda só tome sua decisão em junho.

PV e PPS ainda defendem candidaturas próprias em São Paulo, mas já foram sondados pelo PSDB. Vereadores das duas siglas estiveram na sala da presidência da Câmara durante o evento em apoio a Serra.

Os oito vereadores da bancada tucana participaram do evento, apesar de um deles não apoiar o ex-governador nas prévias do PSDB. Aurélio Nomura, que voltou ao partido após passar pelo PV, é ligado a Jose Aníbal, que também está na disputa interna do partido. O outro pré-candidato é o deputado Ricardo Tripoli.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Contrariada, Força critica governo

Por João Villaverde

BRASÍLIA - O sinal mais claro de que as relações entre a presidente Dilma Rousseff e uma ala importante do PDT estão estremecidas foi emitido ontem. A Força Sindical, segunda maior central sindical do país e ligada ao PDT, editou nota com pesada crítica à política econômica do governo, a qual chamou de "equivocada" e razão por trás do crescimento "pífio" verificado na economia desde o início do mandato de Dilma, no ano passado.

A nota foi a primeira crítica explícita da Força Sindical ao governo federal desde o início de 2007, quando o presidente da central, o deputado federal Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), passou a apoiar o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Na nota assinada por Pereira, a Força Sindical afirma que o avanço de apenas 2,7% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2011, divulgado ontem pelo governo, foi "pífio" e "decepcionante para toda a sociedade brasileira". De acordo com ele, para evitar uma "situação desastrosa", o governo precisa cortar mais fortemente a taxa básica de juros. Desde 31 de agosto do ano passado, o Banco Central já reduziu a Selic em dois pontos percentuais.

Hoje, o BC volta a anunciar outra provável redução dos juros. Ainda assim, cinco centrais sindicais, capitaneadas pela Força, vão fazer uma manifestação hoje cedo em São Paulo contra o "crescimento econômico ridículo, e os juros abusivos", nas palavras de um dirigente da central na capital paulista.

De 2007 a dezembro de 2011, o Ministério do Trabalho, comandado por Carlos Lupi, presidente nacional do PDT, passou a "reconhecer" as centrais sindicais - o que representou o repasse de R$ 350 milhões a título de 10% do que é arrecadado com o imposto sindical com as centrais, excluídas do bolo financeiro até 2008. Paulo Pereira da Silva, que declarou apoio a Geraldo Alckmin (PSDB) nas eleições contra Lula em 2006, migrou para o campo governista em 2007, e passou a ser o principal interlocutor do governo com o Congresso na área sindical.

Mas a relação entre o presidente da Força e Dilma, que "nunca fluiu", como disse ao Valor um dirigente da Força, "azedou".

Dilma deseja nomear para o Ministério do Trabalho o deputado Viera da Cunha (PDT-RS), amigo antigo da presidente. Cunha, no entanto, foi vetado por Paulo Pereira da Silva, que indicou a Dilma o deputado estadual Manoel Dias (PDT-SP) - preferido também por Carlos Lupi. Na semana passada, o Palácio do Planalto chegou a procurar parlamentares, como Roberto Lucena (PV-SP), para sondar quanto a possibilidade de outro deputado, Hugo Leal (PSC-RJ), assumir o ministério. Leal, tal qual Cunha, é amigo antigo de Dilma e de seu ex-marido, Carlos Araújo.

Ao mesmo tempo em que o governo "fraqueja", nas palavras de um líder sindical pedetista, para decidir quem será o ministro do Trabalho, Paulo Pereira da Silva e Lupi negociam com os tucanos em São Paulo e Minas Gerais. Ambos se reuniram com o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, no Palácio dos Bandeirantes (sede do governo), no dia 27 de fevereiro, por quase duas horas, para selar a indicação de Carlos Andreu Ortiz, diretor da Força Sindical e integrante do PDT, à Secretaria de Emprego e Trabalho no Estado.

Paulo Pereira da Silva é pré-candidato à Prefeitura de São Paulo, e segundo pesquisas recentes, conta com cerca de 10% dos votos. Na Força, especula-se que seu apoio num eventual segundo turno entre José Serra (PSDB) e Fernando Haddad (PT), será decisivo para um dos lados. Um dirigente nacional da central resume a estratégia: "Se Dilma seguir Paulinho na definição do Ministério do Trabalho, Haddad certamente terá maior boa vontade do PDT. Caso a presidente tome outra decisão, a relação azeda vai estragar."

FONTE: VALOR ECONÔMICO

Caetano Veloso - Fina Estampa

Os números enganam:: Merval Pereira

A não ser os populistas de sempre, que fazem da política trampolim para seus interesses pessoais, ou então os militantes que aproveitam qualquer brecha para valorizar as supostas vantagens de seu governo, mesmo quando vantagens aparentes são apenas fantasias manipuláveis, não se viu o governo comemorar a informação de que o Brasil chegou ao sexto lugar no ranking das maiores economias do mundo medidas pelo Produto Interno Bruto (PIB), confirmando previsões, apesar do pequeno crescimento ocorrido em 2011.

Mesmo o PIB do Brasil tendo crescido apenas 2,7%, foi o suficiente para ultrapassar o do Reino Unido e ficar próximo do da França, que, pelo andar da crise econômica internacional, deve ser o próximo país a ser superado pelo Brasil.

O PIB da França cresceu 1,7%, e o do Reino Unido, apenas 0,8%. Embora não seja uma conquista banal, essa subida do Brasil de posto se deve mais à queda dos concorrentes do que a nossos próprios méritos.

E ainda nos falta muito para que consigamos ter no país o mesmo nível de vida que continuam tendo os países de economias "maduras", ainda com muita gordura para queimar.

É claro que essa gordura em boa parte foi armazenada por ações colonialistas passadas e que ainda estão em prática em algumas regiões, mas uma revisão histórica não retirará desses países também avanços tecnológicos e progressos sociais que nos custarão muitas reformas estruturais e muitos anos para tentar igualar.

Apesar da crise financeira, a Alemanha cresceu mais que nós (3%), e também perdemos terreno para alguns emergentes que, junto conosco, subverteram a ordem hierárquica das maiores economias do mundo, até há bem pouco tempo dominada pelos chamados "desenvolvidos".

Dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), o Brasil cresceu menos do que três que já anunciaram oficialmente seus números.

A China continua puxando a economia mundial com um crescimento de 9,2%; a Índia manteve um crescimento na casa dos 6% (6,9%); a África do Sul cresceu 3,1%.

O Brasil, em compensação, cresceu mais que os Estados Unidos (0,7%) e grande parte da Europa: Espanha (0,7%); Itália (0,4%) e Portugal (- 1,5). Mas mais uma vez ficou abaixo da média mundial, que foi de 3,8%.

Em termos de PIB per capita dentro dos Brics, a Rússia fechou 2011 com US$ 16,7 mil, seguida pelo Brasil, com US$ 11,6 mil; pela África do Sul, com US$ 11 mil; pela China, com US$ 8,4 mil; e pela Índia, com US$ 3,7 mil.

Devido ao baixo índice educacional e à falta de infraestrutura, Brasil e Índia crescerão em velocidade menor que Rússia e China nos próximos 20 anos, segundo estudo da Goldman Sachs, criadora dos Brics.

E, mesmo que a lista das dez maiores economias do mundo sofra novas alterações nos próximos anos, apenas a Rússia tem condições de vir a ter uma renda per capita semelhante à dos países desenvolvidos.

Pelas projeções, os cidadãos dos Brics continuarão sendo mais pobres na média que os cidadãos dos países do G-6 tradicional.

No caso específico do Brasil, se conseguirmos manter uma média de crescimento do PIB de 3,5% ao ano chegaremos a 2050 com uma renda per capita de US$ 26.500, próximo à de Portugal hoje, muito longe do que já têm hoje França e Alemanha (cerca de US$ 44 mil), menos do que o Japão (cerca de US$ 45 mil) e os Estados Unidos hoje (cerca de US$48 mil).

Com o resultado do PIB do ano passado, essa meta não foi atingida se levarmos em conta os últimos três anos. Mas a média de crescimento dos oito anos do governo Lula (4%), embora tenha ficado abaixo da mundial, está acima desse patamar.

Há uma diferença fundamental entre a concepção econômica predominante, que leva em conta o PIB como medida de avanço de um país, e a que coloca como prioridade a qualidade de vida dos cidadãos.

A Noruega, por exemplo, não é nem de longe uma das maiores economias do mundo, mas é a número um no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), método criado pelo economista paquistanês Mahbub ul Haq e pelo Prêmio Nobel Amartya Sen para avaliar outras dimensões que não apenas o PIB, utilizado pela ONU para medição da qualidade de vida de um povo.

Além do PIB per capita corrigido pela paridade do poder de compra de cada país, o IDH leva em conta a longevidade e a educação. Para aferir a longevidade, o indicador se vale da expectativa de vida ao nascer.

O item "educação" é avaliado pelo analfabetismo e pela taxa de matrícula em todos os níveis de ensino.

Evidentemente o ideal seria unir os dois indicadores, e por enquanto são os países desenvolvidos que conseguem fazer isso.

A maior economia do mundo continua sendo a dos Estados Unidos, que é também o 4 colocado em IDH. A China, que já é o segundo PIB do mundo e, tudo indica, alcançará os Estados Unidos em alguns anos, mas, quando se trata de qualidade de vida, está na rabeira da lista do IDH, em 101 lugar.

O Japão, que caiu para o terceiro lugar no ranking do PIB, está em 12 lugar no IDH. A Alemanha é a mais bem colocada entre os grandes da zona do Euro, em 9 lugar.

A França está em 20 lugar. O Brasil, que atingiu a sexta posição no PIB, está em 84 lugar no IDH e perde para países da sua região, como Chile, Uruguai, Argentina e Cuba.

O Reino Unido, que ultrapassamos pelo PIB, está em 28 lugar na relação do IDH, enquanto a Itália está em 24. Os dois últimos do ranking das dez maiores economias do mundo, Rússia e Índia, estão também na rabeira da lista do IDH: Rússia em 66 (melhor que o Brasil) e Índia em 124 (pior que a China).

Como se vê, os números podem mentir, dependendo do uso que se faça deles.

FONTE: O GLOBO

O risco real para Dilma :: Fernando Rodrigues

A pseudorrebelião de deputados e senadores contra o Planalto não tem a menor relevância se comparada ao risco maior que a presidente Dilma Rousseff enfrentará se a economia desandar.

Desde a volta do Brasil à democracia, os presidentes só ficaram encrencados de verdade quando os cidadãos passaram a sentir no bolso algum sinal de crise. Fernando Collor foi empurrado para valer ladeira abaixo após sua administração ter produzido uma recessão feia. Lula se salvou do mensalão ao ser resgatado pelo forte crescimento da economia após o ano do escândalo (4% em 2006 e 6,1% em 2007).

A alta pífia de 2,7% PIB, anunciada ontem, é um sinal amarelo para Dilma Rousseff. Por essa razão, sua equipe econômica vasculha na caixa de ferramentas soluções possíveis para materializar taxas mais robustas de crescimento.

O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, reagiu com seu mantra: o país começa 2012 crescendo pouco, mas terminará acelerando e com a inflação baixa. Esse é o sonho de consumo do governo. Se será uma realidade é outra história.

Na hipótese de o cenário tombiniano acontecer, as ameaças de motim enfrentadas por Dilma no Congresso serão apenas novas batalhas de Itararé. A popularidade da presidente continua nas alturas.

Dilma também tem a seu favor o fato de que o Brasil não ficará paralisado se nada for votado no Congresso. O país sobreviverá a mais um ano sem o fundo de pensão para funcionários públicos federais e o novo Código Florestal -embora estes sejam projetos necessários.

A combinação explosiva apenas ocorrerá numa eventual intersecção da economia desaquecida com políticos do baixo clero exigindo mais cargos e verbas. Caso não se confirme o roteiro edulcorado visto pelo BC, aí a crise é certa. É possível prever um desfecho? Só com os número do PIB no final de 2012.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Fantasmas ao meio-dia:: Dora Kramer

A propósito do crescimento da insatisfação entre os militares da reserva que consideram a criação da Comissão da Verdade "um ato de revanchismo", o historiador Carlos Fico resumiu a ópera em entrevista ao jornal O Globo.

Para ele, os militares erraram ao contestar a legitimidade da Comissão da Verdade, mas também faltou ao governo serenidade quando ameaçou puni-los.

Por lei, os inativos têm o direito a manifestações, vedado aos da ativa. Portanto, punições ensejariam ações na Justiça o que, segundo o historiador, seria "receita certa para a crise".

Sugeriu uma solução que com uma semana de atraso o ministro da Defesa, Celso Amorim, resolveu adotar: deixar nas mãos dos comandantes das três Forças possíveis providências à luz do estatuto militar e ponto final.

O senador Aloísio Nunes Ferreira (PSDB), relator do projeto quando da aprovação da Comissão da Verdade no Congresso, considera a melhor saída e, embora como oposicionista pudesse cobrar de Amorim a manutenção da ameaça como sinal de afirmação de autoridade, não vê utilidade em alimentar um problema criado inutilmente.

Pelo seguinte: não foi a primeira e certamente não será a última vez que os militares da "antiga", integrantes do regime de exceção, reagem a atos de busca de reparação, ainda que nos limites da Lei da Anistia de 1979.

Foi assim no governo Fernando Henrique, quando da criação da comissão que instituiu o pagamento de indenizações aos prejudicados pela ditadura e do grupo criado para identificar mortos e desaparecidos no período.

E assim foi de novo quando o então presidente Lula decidiu criar a Comissão da Verdade para levantar informações sobre agressões aos direitos humanos pós-1964, por motivação política.

Para deixar bem claro o caráter informativo da comissão, a lei explicita que não terá poder jurisdicional nem persecutório. Zelo simbólico, pois o primeiro cabe ao Judiciário e o segundo ao Ministério Público.

Houve, na visão de Aloísio, falta de habilidade do governo na reação - "acabou levando o manifesto às primeiras páginas ao falar em punições" - e ausência de percepção de que o tom do documento é representativo de uma cultura superada pela prática da democracia.

Os militares "de ontem" vivem sob o fantasma do revanchismo. Mas, os de hoje não sonham mais com soluções autoritárias. Querem orçamento decente, reaparelhamento das Forças Armadas, salários condizentes, atualização tecnológica e valorização profissional.

Mais que uma crise, o que se tem, portanto, é um choque de gerações.

Mas, se de um lado há temores e de outro, tremores - ambos referidos no passado ainda não passado a limpo -, isso não pode atrapalhar o trabalho da Comissão da Verdade?

"Pode", reconhece o senador, que só vê uma solução para encerrar o assunto: a prática. "É criar a comissão o quanto antes e cuidar de que ela trabalhe dentro das balizas da lei."

Prospecção. O PSB avisou que só decidirá sobre a aliança em São Paulo em junho porque quer ganhar tempo para ver se Lula poderá ou não atuar como ator principal na campanha.

Quer também aguardar a armação final dos jogos do PT e do PSDB País afora e, em decorrência desses dois fatores, vistoriar as estradas que levam a 2014.

Qualquer que seja a decisão, a possibilidade de intervenção da cúpula na seção paulista do partido é quase nula. Não combina com a reza cotidiana do presidente do PSB e governador de Pernambuco, Eduardo Campos, no altar na conciliação.

Remendo. Se, como disse o ministro/bispo, Marcelo Crivella, Fernando Haddad não teve nada a ver com a decisão do Ministério da Educação de patrocinar campanha anti-homofobia nas escolas, a emenda saiu pior que o soneto.

Á época ministro, Haddad seria, na versão de Crivella, o último a saber das decisões tomadas em sua pasta.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Contradições presidenciais:: Rosângela Bittar

A presidente Dilma decidiu, pelo menos em teoria, não interferir nas eleições municipais. Na prática, até este momento do calendário, já interferiu, e muito. O que seria a nomeação de Marcelo Crivella para dirigir o espetaculoso e inócuo ministério da Pesca senão o objetivo de arrefecer o discurso negativo dos evangélicos sobre o desempenho do ex-ministro da Educação, agora candidato do PT à prefeitura de São Paulo, Fernando Haddad? O que seria essa nomeação de um bispo-senador do partido da Igreja Universal, que fez contrariada, justificando-se pela dispensa do antecessor, e aos prantos, senão o instrumento para afastar da disputa com Fernando Haddad o candidato do PRB, Celso Russomano?

Não tem a presidente para onde fugir da evidência: querendo ou não dar seu peso à disputa, acabará dando, pois já deu. Líquida e certa será a consequência, pois, mesmo que de forma tardia, a presidente sofrerá alguma multa por sua interferência no pleito.

É justamente isso - a humilhação da multa pela transgressão - que gostaria de evitar não participando de forma tão clara. A mais de um interlocutor a presidente já disse que não gostaria de maneira alguma de passar pelo que passou o ex-presidente Lula. Considera humilhação desnecessária e insuportável receber multa do tribunal por praticar irregularidade, assim, à luz do dia e em praça pública.

Dilma oscila na teoria sobre apoio à campanha de aliados

Dilma contou a amigos que a multa do TSE a Lula por participação irregular em campanhas eleitorais, em 2004, foi uma das piores coisas que já viu no mundo da política. Ela, disse, não seria multada pelo TSE, não considera adequado. Mas resistir à campanha, quem há-de?

Lula, que nunca deixou de fazer campanha, a palanqueira genuína, do primeiro ao último dia de governo, sem demonstrar constrangimento ou um fio depreocupação, não registrou o revés sofrido, se é que considera a multa um revés. Dilma, não. Sabe que se for punida ficará mal. O valor simbólico da multa, de R$ 5 mil, é mais humilhante ainda.

Nunca é tarde, mas a preocupação da presidente, se servir ao controle do seu comportamento, deve funcionar, se funcionar, só para o futuro, pois multada ela já foi. O Tribunal Superior Eleitoral suspendeu o programa eleitoral gratuito do PT, previsto para este semestre, no rastro de uma multa ao ex-presidente Lula e também à presidente Dilma Rousseff. No valor de R$ 5 mil cada. Simbólico, sim, mas a presidente perdeu a condição de neófita na transgressão.

A avaliação da presidente é que seria uma besteira entrar de cabeça na disputa municipal. Primeiro, porque não é obrigada a isso. Segundo, porque vai amealhar muitas vitórias, mas sofrerá derrotas desnecessárias.

É impossível ficar completamente distante, mas vai tentar. Já avisou que não interferirá em Porto Alegre, seu berço político, onde tem três aliados disputando as eleições. Lugares onde há oposicionistas aguerridos na disputa, como Rio e São Paulo, por exemplo, ela pode dar mais peso à campanha dos aliados, mesmo que sejam muitos. Anote-se aqui mais uma contradição, pois Dilma assegurara, antes das disputas chegarem precocemente ao calor de hoje, que não participaria da campanha em locais onde aliados no plano federal disputam entre si.

O que se diz, afinal, ao seu redor, é que não vai queimar noites de sono, não selará compromissos. Mas vai fazer "o que estiver a seu alcance", e isso é muito. O candidato petista à prefeitura de São Paulo, Fernando Haddad, por exemplo, ela já ajudou e ajudará de várias formas, como aquela nomeação de Crivella para o time ministerial. Mas não considera o candidato responsabilidade sua. Eleger Haddad é compromisso e responsabilidade de Lula, afirma-se em gabinetes ministeriais próximos à presidente.

As análises supostamente técnicas que se apresentam à presidente lhe dão também esse conforto. Especialmente com relação a São Paulo. Diz-se a ela, de Gabriel Chalita, por exemplo, que é tucano, e por isso tirará votos de José Serra. "Se Chalita sair para apoiar Lula, não é Serra que cresce?" - perguntam-se os aprendizes de feiticeiro. Da mesma forma que se pergunta, também, quem ganharia com a saída de Netinho (PCdoB) e Celso Russomano (PRB), desta disputa.

"Isso tem que ser medido, pois no segundo turno são todos contra Serra", conclui o analista, dando a eleição paulistana como fava contada.

É fato que Dilma já entrou na disputa municipal. Com o discurso de que não quer entrar.

Multiplicam-se as brigas entre ministros e seus secretários executivos no governo Dilma. À já conhecida disputa de poder entre Guido Mantega e Nelson Barbosa, no Ministério da Fazenda, alinha-se uma outra que, segundo testemunhas, é pior porque deixa mais amigos tombados: a briga entre Fernando Pimentel, ministro do Desenvolvimento, e Alessandro Teixeira, Secretário Executivo do Mdic, já está no octógno.

O julgamento do mensalão atinge o humor do Palácio do Planalto por um de seus efeitos diretos sobre o governo Dilma. Se o ministro Ricardo Lewandowsky conseguir empurrar a votação para as calendas, como está sendo percebido seu movimento pelo público interessado, e os ministros Cezar Peluso e Carlos Ayres Britto saírem do STF por expulsória dos 70 anos, o primeiro em setembro e o segundo em novembro, sem deixar os seus votos sobre o caso, é a presidente quem vai ficar com o ônus de definir o julgamento. Dilma terá que substituir Peluso e Ayres. Sofrerá pressões brutais para substituí-los por opiniões mais amenas aos mensaleiros, a quem interessa, claro, protelar o veredito.

FONTE: VALOR ECONÔMICO

Escondido na média:: Míriam Leitão

A média é baixa: 2,7%. Esse foi o número da alta do PIB no primeiro ano do governo Dilma. Quando se separa a indústria da agropecuária se vê que média é mesmo uma conta que esconde a informação. A agropecuária cresceu quase 4%, a indústria de transformação ficou em 0,1%. O resultado geral da indústria foi de 1,6%. Só não foi pior porque o setor de construção cresceu 3,6%. Em 2012, espera-se um desempenho melhor para a economia.

Quando se compara o quarto trimestre de 2011 com o quarto trimestre de 2010 a diferença fica ainda pior. A agropecuária cresceu 8,4%, com casos de aumento de produção mesmo com queda de área plantada, o que indica elevação da produtividade. E a indústria teve queda de 0,4%.

O ano de 2011 foi difícil no mundo inteiro, o que atenua a baixa média do crescimento do PIB. Há boas e más notícias na taxa divulgada ontem. Uma boa notícia é que o país voltou a crescer no quarto trimestre depois de ter aquele redondo zero que foi divulgado no terceiro tri. O ruim é que este zero foi revisto para baixo, agora, e ficou em -0,1%. É boa notícia o fato de o Brasil ter evitado a recessão que rondou tantos países; a má notícia é ter tido um resultado menor do que vários países vizinhos e mais baixo até do que a Alemanha que está no centro da crise.

O consumo das famílias cresceu 4,1%, resultado positivo pelo oitavo ano consecutivo. Isso porque a massa salarial aumentou 4,8% e houve uma alta de 18,3% no crédito. Ou seja, o que sustentou a economia foi o mercado de trabalho e o crédito. Mas a poupança, como sempre, foi muita baixa. Já os impostos cresceram mais do que o PIB, como sabíamos.

O tombo do PIB tem duas explicações simples. O Banco Central elevou os juros porque os índices desembarcaram embalados no governo Dilma. Vinham da aceleração de gastos no final de 2010, mesmo numa conjuntura de alto crescimento. Assim, ficará para a história estatística que o último ano de mandato de Lula foi de 7,5% de crescimento; o primeiro de Dilma foi de apenas 2,7%. Mas a inflação que estourou o teto da meta em alguns meses do ano foi contratada no governo anterior.

Outro fato que explica o baixo desempenho foi a crise internacional. Houve terremoto com desastre nuclear no Japão, disparada dos preços do petróleo pelos acontecimentos surpreendentes do Norte da África, redução forte do ritmo de recuperação americana, agravamento da crise da Europa. Houve até um momento do ano em que o mundo discutiu a possibilidade de os Estados Unidos não conseguirem rolar sua dívida pelo conflito político que parou o Congresso. No mundo globalizado de hoje, esse vai e vem interrompe investimentos, eleva o custo do crédito, forma bolhas inflacionárias.

O governo, no entanto, poderia ter feito melhor do que fez. Ele se limitou a apagar incêndios anunciando medidas de proteção para setores industriais, reduções de impostos também setoriais, e o BNDES sendo mais generoso com as empresas escolhidas. Diziam estar fazendo política industrial, mas não fizeram nada de realmente duradouro e de impacto, como provam os números divulgados ontem pelo IBGE.

Os investimentos tiveram alta de 4,7% no ano, mas em relação ao PIB a taxa de investimento recuou de 19,5% para 19,3%. A taxa de poupança caiu de 17,5% para 17,2%.

O que tem preocupado os economistas na economia brasileira são os desencontros de setores. A indústria e o comércio, por exemplo, têm tido desempenhos opostos. O comércio continua crescendo puxado pela renda, pelo desemprego baixo e pelo endividamento. A indústria não consegue competir com o produto importado porque tem custos elevados que ficam explícitos quando a moeda se valoriza, como agora. Um problema do varejo é que o crédito de pessoa física cresceu 26% ao ano; um ritmo insustentável.

No mundo, o tempo da incerteza continua fazendo pender a balança ora para um lado ora para o outro. Aumenta a preocupação com a Grécia, cuja crise teve origem - como todas as outras - com a quebra do Lehman Brothers. O risco de que a Grécia, apesar de toda a ajuda, entre em colapso de sua dívida derrubou mercados. Mas ontem mesmo o Lehman Brothers anunciou que está saindo de três anos e meio de falência e começa a liquidar seus ativos para pagar credores.

A notícia do PIB divulgada ontem foi só a oficialização. O ano que começou com o governo apostando em 5% de crescimento, o mercado em 4,5%, foi ficando cada vez mais fraco, e agora no final a previsão do BC havia sido de 2,8%. Com a queda dos juros iniciada em agosto, o ritmo pode ir se elevando a partir do segundo trimestre. O primeiro não está sendo brilhante. Hoje, o BC divulga a nova Selic. Haverá uma nova queda. A maioria do mercado espera 0,5%, mas aumenta o número dos que acreditam que o corte pode chegar a 0,75%.

O tsunami de liquidez, a queda da inflação, o PIB pequeno e o baixo crescimento mundial permitem a redução da taxa de juros. O que o Banco Central tem que se preocupar é com a trajetória dos juros. Adianta pouco aprovar quedas fortes para ter que elevar a taxa assim que a inflação fizer a curva. O que o país precisa é de crescimento sustentado e não o sobe e desce que se viu nos últimos dois anos.

FONTE: O GLOBO

PIB raquítico:: Celso Ming

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, iniciou 2011 prometendo crescimento econômico de 5,0%. E acabou por entregar apenas 2,7%.

Neste ano, pelo baixo nível de investimento, a história se repete. Escorado nas projeções do Ministério do Planejamento - organismo federal encarregado de elaborar o Orçamento da União -, Mantega garantia avanço de 5,0% no PIB do Brasil em 2012. Mas já passou a admitir a revisão desse número para alguma coisa entre 4,0% e 4,5%. Ainda assim, ficou bem acima do Banco Central, que trabalha com 3,5%.


Mesmo esses 3,5% parecem altos demais pelo que a economia vem produzindo. Ontem, em nota oficial, a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) avisou que, pelo andar da carruagem, o avanço de 2012 também ficará abaixo dos 3,0%. A Confederação Nacional da Indústria (CNI), por sua vez, não se mostra nem um pouco animada ante a falta de providências destinadas a puxar a competitividade da indústria. Tomara que ambas estejam pessimistas demais. Infelizmente, desta vez parecem mais certas do que o governo.

A situação mais paradoxal deste momento econômico é o crescimento meia- -boca ("abaixo do potencial", como vem repetindo o Banco Central) num ambiente de pleno emprego.

Mesmo os que - por puro prurido ideológico - não gostam da expressão "pleno emprego", por dar ideia falsa de país avançado, reconhecem que nunca antes houve situação no Brasil que registrasse nível tão baixo de desocupação, hoje de 5,5% (55 em mil integrantes da força ativa).

As razões dessa desproporção ficam para outra oportunidade. Importa agora apontar novo fator que limita a expansão do produto: se o PIB crescer os 4,5% imaginados por Mantega, teremos nova rodada de aumento de custos da mão de obra.

Em 2011, o consumo das famílias subiu 4,8%, também muito acima da evolução do PIB (2,7%) e da indústria (1,6%). Resultado da atual política econômica, que privilegia o impulso interno da renda para assegurar expansão do consumo e formação de mercado interno de massa. Em seguida, para evitar que a esticada do consumo gere inflação além do suportável, o governo aciona as importações, em detrimento da indústria - que se vê obrigada a concorrer com a entrada de produtos a preços substancialmente mais baixos. E, depois de tudo, o governo Dilma ainda proclama que pratica uma política industrial que favorece o "conteúdo local".

Na manhã de ontem, o ministro Mantega pareceu entusiasmado com a forte evolução do investimento (Formação Bruta de Capital Fixo), de 4,7%. Muitos pensam que esse investimento seja todo ele aumento da capacidade futura de produção - a semente que, lá na frente, garante mais colheita. Não é assim. No Brasil, nada menos que 41,4% desse investimento correspondem à atividade de construção civil que, hoje, pouco ajuda a produzir o amanhã. É o Minha Casa, Minha Vida que dá, sim, mais conforto ao povão - o que é bom. Mas a casa erguida não ajudará no aumento da produção futura.

CONFIRA

O gráfico mostra a evolução da poupança e do investimento no Brasil no período de 2000 a 2011.

Semear para colher. Para crescer 5,0% ao ano sem queimar óleo em inflação, o investimento no Brasil teria de ficar na casa dos 25% do PIB – e não só nos 19,3%, como em 2011. O problema é que, para ter investimento, é preciso poupança. E, no entanto, a política do governo Dilma, como ficou dito, privilegia o consumo em detrimento da poupança interna e tende a desestimular a externa, alegando o estrago que a entrada de dólares cria no câmbio.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Economias doentes e recaídas:: Vinícius Torres Freire

2012 tem sido bem melhor para a economia mundial, mas vai haver tombos e sustos ao longo do ano

2012 é o quarto ano seguido a começar com acessos de euforia entre os donos do dinheiro grosso e de otimismo exagerado em relação à recuperação das economias nos países ricos. Sabe-se lá o que vai ser do resto do ano, mas ontem sobreveio um lembrete de como as festinhas nos mercados podem ser ilusórias, quando não traiçoeiras mesmo.

Os tombos nas Bolsas etc. de ontem podem ter sido apenas soluços, gente embolsando dinheiro feito na arrancada dos negócios especulativos ("de risco") neste início de ano.

Motivos banais para "explicar" a corridinha de ontem da manada não faltam, como sempre.

Houve um estranhamento entre gregos e credores. Houve o efeito retardado da notícia sobre uma redução do crescimento chinês (ou melhor, da "meta" do governo chinês). O motivo apresentado no dia não importa muito, quando não se trata simplesmente de besteira ou mentira apenas.

Mas a alegria entre os povos dos mercados parece exagerada ou pelo menos arriscada por motivos ditos "fundamentais".

Primeiro, apesar do sedativo de € 1 trilhão que o BCE (Banco Central Europeu) aplicou em seu mercado financeiro, a eurolândia vai viver uma recessão, talvez amena. Há bancos zumbis, que sobrevivem com os remédios do BCE. Há países zumbis, como Portugal, que podem se tornar uma encrenca grega em breve. Há o caso da Grécia, longe de terminar -embora remediada, a situação é crítica.

Em suma, assim que passar o grande alívio com o remédio do BCE, que evitou o colapso bancário, os povos dos mercados e seus porta-vozes vão se lembrar de quão complicada é a situação europeia.

Segundo, os Estados Unidos "despioraram", é fato. Mas é isso, apenas. Não resolveram seus problemas nem de curto prazo, ainda vão crescer pouco e sua economia está mais ou menos onde estava ao final de 2007. Não existe ainda um setor dinâmico que possa puxar uma onda nova de investimentos, os salários reais estão em queda.

Não é uma perspectiva brilhante, embora pareça um dia de sol, na comparação com o inverno europeu. Se não bastassem os problemas "estruturais", há o risco de uma disparada no preço do petróleo, cortesia de Irã e Israel. Se a insanidade provocar guerra, o petróleo dispara e a economia americana aderna.

Terceiro, há sinais de exageros evidentes em alguns mercados. Há exagero no preço dos títulos americanos, em algumas Bolsas, no preço do petróleo (mesmo descontado o efeito crise). É possível que os preços em vários outros mercados estejam exagerados, dada a situação ainda letárgica da economia mundial. Uma "correção" grande em Bolsas e outras praças de negócios pode mudar o humor de consumidores e até de empresas.

Quarto, o ritmo da atividade econômica mundial não parece tão animado quanto pareceu na virada de 2011 para 2012.

É inegável que a situação está bem melhor do que a verificada na maior parte do segundo semestre de 2011, quando havia medo (exagerado) de recessão nos EUA, baixa geral de crédito internacional, risco de colapso grego e ameaça de quebras bancárias na Europa.

Os problemas de fundo, porém, permanecem. Vai haver recaídas temporárias.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Selic a 9% obriga mudança da poupança:: Cristiano Romero

É bem provável que a economia brasileira esteja caminhando para um novo patamar de taxa de juros. Há dúvidas sobre a capacidade do país de manter os juros baixos nos próximos anos, mas poucos duvidam do espaço existente hoje para redução no curto prazo. A queda da taxa básica (Selic) cria, a exemplo do que ocorreu em 2009, um desafio imediato para as autoridades: a mudança da regra de correção da caderneta de poupança, hoje definida como a variação da TR mais juro fixo de 6,17% ao ano.

A alteração na poupança é necessária porque, do contrário, com a queda da taxa Selic abaixo de um determinado patamar, os investidores migrarão em massa para as cadernetas, criando um grave problema: interrupção no financiamento da dívida pública. Numa economia em que o mercado de capitais ainda é asfixiado pela presença do Estado, os investidores aplicam maciçamente em títulos emitidos pelo governo, que, por sua vez, paga caro para se financiar no mercado.

Com a queda contínua da Selic, um processo que vem ocorrendo desde 2003, o país se aproxima de uma taxa básica de juros que torna mais vantajoso investir em caderneta de poupança, em vez de na compra de um título público. Em 2009, a Selic caiu para a mínima histórica - 8,75% ao ano. Pouco depois, subiu novamente, chegando a 12,5%. Agora, está em 10,5%, mas o Banco Central (BC) já avisou que ela recuará para um dígito.

É possível que, na reunião de hoje, o Comitê de Política Monetária (Copom) corte a Selic em 0,75 ponto percentual, levando-a para 9,75% ao ano. O ciclo de cortes não deve parar por aí. O Copom pretende reduzir os juros enquanto a inflação em 12 meses estiver em queda, o que pode ocorrer até meados do ano.

Na opinião de especialistas, uma Selic em 9% ao ano já deveria mover o governo a mexer na regra de correção de poupança. Evitaria, assim, um aumento desnecessário da volatilidade no mercado de títulos públicos. Se a regra não mudasse, nem todos os investidores correriam para a poupança. Alguns procurariam papéis privados com rentabilidade maior que a das cadernetas ou títulos públicos de prazos mais longos. Este seria o efeito positivo de se deixar tudo como está. O problema é que o mercado se tornaria extremamente volátil, acarretando custos imprevisíveis à gestão da dívida pública.

Em 2009, o governo chegou a formular proposta para a correção da poupança, baseada num gatilho - a cada queda da Selic, o rendimento da caderneta teria redução equivalente, de forma a se manter sempre menos atrativo que o de um título público atrelado à taxa básica. Agora, o Ministério da Fazenda planeja indexar a poupança a um percentual da Selic, sem mexer nos depósitos antigos.

O governo estaria postergando a decisão porque, a rigor, o Copom pode não reduzir os juros abaixo de 9% neste ano (alguma dica dos próximos movimentos deve vir hoje, com o comunicado da reunião do Comitê, ou na divulgação da ata, daqui a oito dias). Há também as eleições municipais no segundo semestre. O Palácio do Planalto sabe que a mudança da poupança será explorada à exaustão pela oposição.

Mudar a cultura do juro alto existente no Brasil não é, de fato, tarefa fácil. Os juros vêm caindo de forma persistente há uma década - em 2003, a Selic média foi de 23,24% ao ano; em 2011, caiu para 11,69%. Ainda assim, muitos investidores preferem se refugiar em papéis de prazo curto, atrelados à taxa Selic. O curioso é que, proporcionalmente, esse hábito é mais disseminado hoje entre instituições oficiais do que no próprio mercado.

Até janeiro, os fundos extramercado (que aplicam recursos do FAT, do Funcafé e do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação e das estatais não-financeiras, com exceção da Petrobras) eram os maiores aplicadores em LFT, título público corrigido pela Selic. Do total da carteira desses fundos, 66% estavam em LFTs no primeiro mês do ano, proporção maior que a de aplicação do mesmo título pelos bancos (29%) (ver tabela).

Em fevereiro, o governo obrigou os fundos oficiais a migrar para papéis com juros prefixados e títulos atrelados à inflação. A troca chegou a R$ 61,2 bilhões, o que permitiu ao Tesouro Nacional reduzir a participação das LFTs na composição da dívida em 3,3 pontos percentuais. Curiosamente, ao se manterem sobreaplicados nesses papéis, os fundos oficiais perderam dinheiro em 2011 porque a rentabilidade média dos títulos atrelados a preços e juros prefixados foi maior.

Neste momento, o Tesouro negocia migração idêntica com os gestores das disponibilidades do Fundo de Garantia do Tempo Serviço (FGTS). O impacto pode chegar a R$ 35 bilhões ou R$ 40 bilhões, o equivalente a cerca de dois pontos percentuais da dívida em LFT. Concluída mais essa permuta, o estoque total de LFTs deve cair para 25% da dívida mobiliária federal.

Trata-se de um avanço, mas ainda há muito chão pela frente. Para o Tesouro, a composição ótima de LFTs na dívida deveria variar de 10% a 20% do total. De qualquer forma, muito já foi feito nos últimos anos - em 2003, taxas flutuantes, como a Selic, corrigiam 47,8% da dívida pública.

FONTE: VALOR ECONÔMICO

O PIB emperrado:: Rolf Kuntz

O governo promete para 2012 um crescimento maior que o do ano passado, puxado mais uma vez pelo mercado interno e dinamizado por investimentos em máquinas, equipamentos, construção imobiliária e obras de infraestrutura. Mais uma vez será preciso ver para crer nas mudanças mais importantes. Não será muito difícil um crescimento maior, depois do fiasco dos 2,7% em 2011. Mas também não será motivo para muita festa. Com a diferença da taxa de expansão econômica, as promessas de agora são as mesmas de um ano atrás. O balanço do ano passado mostra uma economia despreparada para um desempenho muito melhor. A taxa de investimento, 19,3% do Produto Interno Bruto (PIB), continuou insuficiente para uma longa fase de crescimento na faixa de 5% a 7% ao ano. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, anuncia para este ano uma elevação da taxa para 20,8%, 1,5 ponto acima da registrada em 2011. A previsão dos 20,8% apareceu no relatório Economia Brasileira em Perspectiva, divulgado pelo ministério no mês passado.

Se depender do governo, a parcela da renda aplicada na expansão e na modernização do sistema produtivo continuará muito abaixo da necessária. Em janeiro e fevereiro o Tesouro pagou investimentos no valor de R$ 3,6 bilhões. No ano passado, no mesmo bimestre, foram desembolsados R$ 4,7 bilhões. O ano começou, portanto, com um desempenho pior que o de 2011 nesse quesito. Mas em 2012, como no ano anterior, a maior parte do valor aplicado veio de restos a pagar, segundo levantamento da organização Contas Abertas. A mesma organização havia mostrado, em janeiro, o fracasso dos planos federais de investimento. Os desembolsos para o investimento orçamentário ficaram em R$ 41,9 bilhões em todo o ano passado, bem abaixo do valor aplicado em 2010, R$ 44,7 bilhões. Só essa rubrica diminuiu, porque as despesas de custeio aumentaram. A folha de pessoal e encargos, por exemplo, passou de R$ 183,4 bilhões, em 2010, para R$ 196,6 bilhões, em 2011.

Também as estatais investiram no ano passado menos que no anterior. Só aplicaram 79,4% dos R$ 103,8 bilhões programados para o exercício e mais uma vez o resultado foi garantido pelo esforço da Petrobrás. O setor privado continuou batalhando para elevar sua capacidade produtiva, mas com as limitações de sempre, a começar pelo peso da carga tributária. O resultado geral foi a manutenção de uma economia pouco eficiente e muito vulnerável à pressão da concorrência externa. O crescimento de apenas 1,6% da produção industrial, em contraste com um aumento de 4,1% do consumo privado, reflete essa deficiência, mas isso ainda não dá uma ideia bastante clara do problema.

O desempenho do setor industrial foi puxado pela mineração, com 3,2% de crescimento; pela construção civil, com 3,6%; e pela produção e distribuição de eletricidade, gás, água, esgoto e limpeza urbana, com 3,8% de aumento. A indústria de transformação, forçada no dia a dia a enfrentar a concorrência internacional, cresceu apenas 0,1%. Isto é, ficou estagnada, com uma variação de produto muito próxima de zero.

A política de crescimento puxado pelo mercado interno, tal como executada pelo governo, está claramente baseada num equívoco. O problema principal não está na demanda, mas na capacidade da indústria de transformação de atender ao mercado enfrentando a competição estrangeira. Essa capacidade é limitada não só pelo câmbio - o real valorizado encarece os produtos nacionais -, mas principalmente por uma porção de ineficiências estruturais muito bem conhecidas. A maior parte dessas deficiências é atribuível à baixa qualidade das políticas públicas (infraestrutura insuficiente e ruim, energia muito cara, custos trabalhistas elevados, distorções tributárias, escassez de mão de obra adequada, entraves burocráticos, etc.). Sem a solução desses problemas, uma expansão na faixa de 5% a 7% levará à inflação ou à crise externa.

A presidente Dilma Rousseff reclamou na Alemanha do tsunami monetário provocado pelos bancos centrais do mundo rico. Essa é uma das causas da valorização do real e de outras moedas de países emergentes. Ela está certa ao apontar o problema criado pela emissão excessiva de euros, dólares e libras, mas estaria ainda mais certa se cuidasse de eliminar as deficiências e ineficiências da economia nacional. O governo já estima para este ano exportações de apenas US$ 264 bilhões, apenas 3,1% maiores que as de 2011. Isso se deve principalmente à transformação do Brasil num país dependente das vendas de commodities, numa relação quase colonial com a China. Também isso é consequência de tolices econômicas e diplomáticas cometidas em Brasília. Não dá para culpar os bancos centrais do mundo rico por essas t0lices.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO