sexta-feira, 2 de março de 2012

OPINIÃO DO DIA – Lucia Hipólito: quem fica no PT?

Afinal, quem do grupo fundador ficará no PT? Os sindicalistas. Por isso é que se diz que o PT está cada vez mais parecido com o velho PTB de antes de 64. Controlado pelos pelegos, todos aboletados nos ministérios, nas diretorias e nos conselhos das estatais, sempre nas proximidades do presidente da República. Recebendo polpudos salários, mantendo relações delicadas com o empresariado. Cavando benefícios para os seus. Aliando-se ao coronelismo mais arcaico, o novo PT não vai desaparecer, porque está fortemente enraizado na administração pública dos estados e municípios. Além do governo federal, naturalmente. É o triunfo da pelegada.

Lucia Hipólito, socióloga e comentarista da rádio CBN)

Manchetes de alguns dos principais jornais do Brasil

O GLOBO
SUS só é bom para 2% dos brasileiros, diz ministério
Câmbio: Brasil vira "cassino" para Europa
TSE barrará quem teve conta rejeitada
Na Pesca, o que multiplica é o orçamento
Elos perdidos do caso Rubens Paiva

FOLHA DE S. PAULO
TSE tira da eleição político que teve contas rejeitadas
'Eu não ponho uma minhoca no anzol' diz novo ministro da Pesca
Dilma culpa países ricos por causarem 'tsunami' de dólares
Saúde pública é ruim em 20% das cidades do Brasil

O ESTADO DE S. PAULO
Base se rebela e leva Dilma a se aconselhar com Lula
Dólar cai apesar de mudança de IOF e intervenção do BC
'Tsunami monetário'
Por Embraer, Brasil critica EUA

VALOR ECONÔMICO
BNDES e empresas criam o "superlaboratório" nacional
Grupo Mondi quer projeto com a Suzano
Cresce o interesse pela Colômbia
MT aumenta ICMS e irrita agricultores
Desestímulo à importação de máquinas
BC limita prazo de pagamento antecipado para exportações

CORREIO BRAZILIENSE
Pela 1ª vez no Brasil, bebê terá dois pais
Cachoeira: um rei no Entorno
Governo perde a 1ª batalha pelo dólar
21 mil políticos fora das eleições
É guerra

ESTADO DE MINAS
Contas reprovadas barram candidatos
Municípios mineiros sem R$ 1,2 bilhão

ZERO HORA (RS)
Projeto de petistas tenta barrar prorrogação
A luta inglória para conter alta do real

JORNAL DO COMMERCIO (PE)
Piso da educação garantido
TSE endurece regras para eleições
Aposentadoria do servidor anima ministro

O que pensa a mídia - editoriais dos principais jornais do Brasil

http://www2.pps.org.br/2005/index.asp?opcao=editoriais

Base se rebela e leva Dilma a se aconselhar com Lula

No mais recente sinal de insatisfação, PMDB se queixa de que PT pretende se tornar hegemônico

Deputados federais do PMDB elaboram manifesto em que se queixam de que o PT pretende se tornar hegemônico no País. A iniciativa, que irritou a presidente Dilma Rousseff, se soma à crescente rebelião na base governista. A situação levou Dilma a se aconselhar com o ex-presidente Lula. Nas três horas de conversa, ontem, eles mostraram preocupação com o racha e com as dificuldades para agregar apoio à candidatura de Fernando Haddad à Prefeitura de São Paulo. Diante dos problemas, Dilma adiará novas mexidas no ministério - a última foi a entrada de Marcelo Crivella (PRB-RJ) na Secretaria da Pesca, para agradar a evangélicos. Crivella admitiu não saber nada sobre pesca.

Marcelo Crivella - Novo ministro da Pesca: "Não sei colocar minhoca no anzol".

Com PMDB à frente, base aliada se rebela, e Dilma busca socorro de Lula

Christiane Samarco, Eugênia Lopes, Vera Rosa

BRASÍLIA – Sob pressão da base governista rebelada contra o apoio do Palácio do Planalto ao PT nas eleições municipais de outubro, a presidente Dilma Rousseff foi se aconselhar com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em São Bernardo do Campo (SP), ontem, e adiou qualquer mexida no ministério por mais uma semana.

Em conversa de quase três horas, a presidente e seu padrinho político mostraram preocupação com o racha na base aliada do governo e com as dificuldades para agregar apoio em torno da candidatura de Fernando Haddad (PT) à sucessão do prefeito Gilberto Kassab (PSD).

Os adversários do PT acusam o partido de arquitetar um plano para se tornar praticamente hegemônico no cenário político brasileiro a partir das eleições deste ano.

Manifesto. Dilma ficou furiosa com um manifesto subscrito por 45 dos 76 deputados federais do PMDB, com críticas ao PT e ao governo, e não escondeu a contrariedade ao se encontrar com seu antecessor.

A viagem oficial da presidente à Alemanha neste fim de semana vem em boa hora, para dar uma pausa na base conflagrada. Dilma embarcará sob o peso do manifesto do PMDB, contrariada com as exigências do PR, com as defecções do PSB na votação do fundo de previdência do funcionalismo público, a debandada do PDT e a ousadia do discurso crítico do presidente da Força Sindical e deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), dentro do Palácio do Planalto. A disputa de comando no Banco do Brasil também foi abordada na conversa a portas fechadas.

A rebelião da base vem no embalo da pré-campanha municipal, em que todos os partidos - sejam eles governistas ou de oposição - se dizem ameaçados pelo projeto de crescimento do PT, em detrimento dos parceiros da aliança. O pânico maior vem do PMDB, partido que concentra sua força política e eleitoral nas bases municipalistas. Hoje o maior partido do País contabiliza 1.177 prefeitos. Os mais alarmistas diante da movimentação do PT para ampliar suas prefeituras temem que o PMDB acabe reduzido à metade.

"Nós estamos vivendo uma encruzilhada, onde o PT se prepara com ampla estrutura governamental para tirar do PMDB o protagonismo municipalista e assumir seu lugar como maior partido com base municipal no País", diz o manifesto de 25 linhas que será oficialmente encaminhado na segunda-feira ao vice-presidente Michel Temer.

Maus tratos. A iniciativa do protesto partiu do grupo dissidente que não se cansa de reclamar dos maus-tratos do governo, mas os setores mais próximos da cúpula peemedebista acabaram aderindo. Afinal, a preocupação com o apoio do governo à ofensiva petista assombra o conjunto do partido.

Como a eleição de prefeito tem repercussão direta no tamanho das bancadas que sairão das urnas de 2014, o PMDB tem pressa. O manifesto propõe um encontro nacional das bases (prefeitos, vereadores e presidentes de diretórios regionais) no dia 25 de abril, em Brasília. Se o partido encolher em outubro, será difícil tirar do PT a presidência da Câmara em 2013, a despeito do acordo de rodízio no cargo.

Na esteira do lançamento da pré-candidatura do tucano José Serra a prefeito de São Paulo, o PR decidiu pôr suas exigências sobre a mesa. Viu aí a oportunidade de voltar ao Ministério dos Transportes, em troca do apoio a Haddad. O PTB se uniu ao PSC na reivindicação da cadeira de ministro do Trabalho, antes ocupada pelo presidente nacional do PDT, Carlos Lupi. "Juntos, temos 40 deputados e sempre somos fiéis ao governo", cobrou o deputado Sílvio Costa (PTB-PE), tentando mostrar a boa vontade de seu partido para compensar a debandada dos 26 pedetistas.

No PSB, o descontentamento da bancada ficou claro na votação do fundo de previdência. Foram 16 votos contrários e apenas 10 favoráveis ao governo. O Palácio do Planalto tomou o racha do PSB como uma afronta, deixando tontos os líderes do governo. "Até agora não entendi o que houve com o PSB", desabafou o líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP).

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Russomanno encontra Temer e já fala em aliança com Chalita

Um dia após nomeação de Crivella, do PRB, para ministério, vice de Dilma conversa com partido sobre eleição paulistana

Fernando Gallo

Um dia após a nomeação do senador Marcelo Crivella (PRB-RJ) para a Secretaria da Pesca, gesto do Planalto que tenta distensionar o clima entre os evangélicos e o candidato do PT à Prefeitura de São Paulo, Fernando Haddad, o vice-presidente da República, Michel Temer (PMDB), reuniu-se com o pré-candidato do PRB, Celso Russomanno, e com a cúpula desse partido para tratar da eleição paulistana.

Em Brasília, Temer deu uma entrevista para o programa de TV de Russomanno e depois almoçou com o candidato, o presidente nacional do PRB, Marcos Pereira, e o deputado federal Antonio Bulhões (PRB). Após os encontros, Russomanno ensaiou um discurso de composição com o pré-candidato do PMDB, deputado Gabriel Chalita.

"A gente está conversando a respeito de São Paulo. São conversas muito boas e temos pretensão de estar juntos", afirmou Russomanno. "Eu e o Chalita comungamos de muitos pontos em comum. Nós somos uma oxigenação política."

Apesar de manter sua candidatura, Russomanno abriu espaço para eventualmente ocupar a vice na chapa peemedebista. "Não tenho pretensão de ser cabeça de chapa ou não. Tenho a humildade de saber compor. Isso é o importante se a gente quer construir um novo grupo pra romper a polarização entre PT e PSDB".

Pesquisas. Um integrante do PRB disse que ele estaria disposto a ceder, se pesquisas apontarem crescimento de Chalita nos próximos meses. "A gente tem que acompanhar o processo até perto das convenções, que vão acontecer no mês de junho. Vamos ver como vão estar as pesquisas", afirmou Russomanno.

O pré-candidato aparece como líder nas pesquisas eleitorais nos cenários sem a inclusão do ex-governador José Serra (PSDB). Se PRB e PMDB se coligassem, Chalita teria cerca de 10% a mais de exposição na TV.

Em entrevista publicada ontem pelo Estado, o secretário-geral do PRB no Estado e um dos coordenadores da pré-campanha de Russomanno, deputado estadual Gilmaci Santos, afirmou que o partido não apoiará Haddad "sob nenhuma hipótese" e que a presidente Dilma Rousseff foi avisada de que a nomeação de Crivella não mudaria esse cenário.

As conversas visando uma possível aliança entre PRB e PMDB vêm se intensificando. Na semana passada, Russomanno e Temer já haviam se reunido no escritório político do vice-presidente em São Paulo. "Minha relação com o Michel é de muitos anos. Não se esqueça que eu fui coordenador de duas eleições dele pra presidência da Câmara", desconversou o pré-candidato.

Há pouco mais de um mês, Temer recebeu Marcos Pereira e ambos trataram do cenário eleitoral na capital. Hoje, Russomanno tem encontro marcado em São Paulo com Chalita.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Revoltado, PDT negocia aliança com tucanos de SP

Partido, da base de apoio da presidente Dilma, vai assumir secretaria do governo paulista de olho nas eleições de 2014

BRASÍLIA - O PDT colocou um pé na oposição. Além de selar uma parceria imediata com o PSDB, indicando o sindicalista Carlos Ortiz para a Secretaria do Trabalho do governo de São Paulo, a cúpula pedetista já começou a negociar uma aliança com os tucanos no segundo turno da briga pela prefeitura paulistana e nas eleições gerais de 2014.

Tudo em clima de insatisfação com a presidente Dilma Rousseff. Foi este o produto concreto do encontro do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), com o presidente nacional do PDT e ex-ministro do Trabalho Carlos Lupi. Na conversa de segunda-feira, da qual também participou o presidente da Força Sindical e pré-candidato do PDT a prefeito da capital paulistana, deputado Paulo Pereira da Silva, Alckmin marcou a posse de Ortiz para o dia 9.

"Estamos pavimentando 2014. Aliança daquele tamanhão que Lula (em 2010) fez, ninguém vai fazer mais", afirma Paulinho da Força, ao admitir a vinculação do movimento que seu PDT faz agora com as eleições gerais de 2014.

O incômodo por conta dos maus tratos do Planalto o deputado resume em uma frase: "A presidente Dilma não fala com ninguém. Está igual a rainha da Inglaterra". A candidatura a prefeito de Paulinho da Força não foi objeto de negociação, segundo os participantes. Um dirigente do PSDB explica que, no que se refere ao PDT, o mais importante para a candidatura tucana de José Serra é que Paulinho se mantenha na disputa.

Na avaliação desse dirigente, ruim seria se o pedetista se curvasse à eventual pressão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do PT para agregar força e tempo de propaganda eleitoral g ao candidato petista Fernando Haddad. / C.S

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Serra: 'É óbvio que o governo vai se mexer'

Carvalho admite que escolha de Crivella ajuda com evangélicos

SÃO PAULO e BRASÍLIA. O ex-governador José Serra, pré-candidato do PSDB à prefeitura de São Paulo, disse ontem que o tempo vai mostrar o que o governo federal deve fazer na disputa eleitoral. O tucano evitou polemizar sobre a nomeação do senador Marcelo Crivella (PRB-RJ) para o Ministério da Pesca.

- É obvio que o governo federal vai se mexer. Isso está dentro do previsto. Agora, a maneira como vai fazer isso o tempo vai mostrando - disse na Assembleia Legislativa de São Paulo, onde esteve para obter o apoio da bancada tucana.

A cautela de Serra não se repetiu entre as lideranças locais do PSDB. O líder na Assembleia, Orlando Morando, disse que a nomeação é um "indício de que as péssimas práticas adotadas em campanhas anteriores serão retomadas".

O PSDB não vê em São Paulo a chance de uma aliança oficial entre o PRB e o PT do pré-candidato Fernando Haddad, mas sim um acordo para reforçar a artilharia contra os tucanos. O pré-candidato pelo PRB é Celso Russomanno.

Alvo da guerra da bancada evangélica, ontem o ministro da Secretaria Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, disse que a entrada de Crivella no Ministério facilita a relação do governo com os evangélicos.

- Nós já temos um ministro evangélico, o das Cidades (Aguinaldo Ribeiro), temos agora o senador Crivella. É evidente que ele não foi convidado por causa da questão evangélica. Ele foi (escolhido) na representação de um partido que nos deu José Alencar e é fiel à base. Esta é a razão da convocação do senador, pela sua competência. É evidente que sempre facilita tendo alguém a mais para este diálogo (com evangélicos), mas este não é, de maneira alguma, a razão precípua da convocação.

FONTE: O GLOBO

PMDB: fim ao monopólio do PT

Grupo de deputados se rebela e cobra protagonismo no governo

BRASÍLIA. De olho nas urnas, uma ala expressiva de deputados do PMDB decidiu se rebelar e abrir guerra aberta ao que chamam de monopólio do PT no Governo. Os peemedebistas vão formalizar ao vice-presidente Michel Temer, por meio de um manifesto, sua insatisfação com a forma do PT governar e tratar seu principal aliado. O documento já conta com 45 assinaturas, dos 77 deputados peemedebistas, e a adesão deve crescer até a próxima semana.

O PT é citado nominalmente no texto, que enfatiza a ação dos petistas de tentarem enfraquecer a predominância do PMDB nos municípios. O temor é que o respaldo do governo da presidente Dilma seja usado apenas em benefício dos candidatos do PT nas eleições municipais. A reclamação é que o PMDB vive no governo como uma "sublegenda do PT", segundo os deputados. Um dos líderes do movimento, deputado Danilo Fortes (PMDB-CE), diz que o movimento não é por mais cargos, e sim por maior protagonismo no governo.

FONTE: O GLOBO

Dilma discute mudanças com Lula

Num encontro de quatro horas, os dois conversaram sobre as nomeações

BRASÍLIA. No momento, apenas a relação sentimental da presidente Dilma com o PDT pesa para que ela não entregue já para o bloco PTB/PSC o comando do Ministério do Trabalho. Tanto Dilma quanto o ex-presidente Lula estão perdendo a paciência com o ex-ministro Carlos Lupi e com o deputado Paulo Pereira da Silva (SP), que namoram com o PSDB de Aécio Neves e José Serra, vetam o nome de Vieira da Cunha (PDT-RS) e comandam a infidelidade no Congresso.

Ontem, Dilma conversou sobre novas mudanças no Ministério com Lula numa visita de quatro horas ao ex-presidente em São Bernardo do Campo. Enquanto isso, a ministra Ideli Salvatti se reunia em Brasília com o deputado Hugo Leal (PSC-RJ), para fazer a primeira sondagem do nome mais forte do bloco para ocupar a pasta do Trabalho.

O deputado não quis dizer sobre o que conversaram, afirmando apenas que trataram de liberação de emendas.

O PTB mantém três pré-candidatos a ministro: Nelson Marquezelli (SP), Silvio Costa (PE) e Alex Canziani (PR).

FONTE: O GLOBO

PMDB afirma viver 'encruzilhada' com PT

Temer autoriza manifesto antipetista para reforçar insatisfação com troca em ministério e espaço dado a outras siglas

Catia Seabra e Maria Clara Cabral

BRASÍLIA - Depois do PR e do PDT, ontem foi a vez de o principal partido da base aliada ameaçar se rebelar. Com o aval do vice-presidente Michel Temer, o PMDB apresentou um manifesto de deputados contra a "hegemonia" do PT.

Incomodado com a generosidade do governo para a construção de um palanque sólido para Fernando Haddad em São Paulo, o comando peemedebista apresentou sua fatura ao governo Dilma. Enviado ao Planalto na tarde de ontem, o texto preocupou a equipe da presidente.

O estopim da crise foi a nomeação do senador Marcelo Crivella (PRB-RJ) para a Esplanada sem que Temer tivesse sido avisado da escolha.

Informado sobre um movimento de um pequeno grupo de deputados, Temer não deteve a rebelião, o que permitiu a adesão de seus aliados.

No documento, o grupo diz que a relação entre os dois partidos é "desigual e injusta" e que vive em uma "encruzilhada, onde o PT se prepara, com ampla estrutura governamental, para tirar do PMDB o protagonismo municipalista no país".

Uma das reclamações é a de que os peemedebistas têm ministérios sem importância.

O manifesto conta, até agora, com 45 assinaturas, mas outros congressistas, incluindo o líder Henrique Alves (RN), ameaçam endossar o movimento. A atual bancada do partido na Câmara é de 76 deputados em exercício.

Recentemente, em entrevista à Folha, Alves desafiou o Planalto a demitir um de seus aliados de um cargo de segundo escalão, o que aconteceu no dia seguinte.

O manifesto foi redigido na noite de anteontem, dia da indicação de Crivella para o Ministério da Pesca. Na mesma noite, a cúpula do PMDB se reuniu na casa de Temer para discutir a candidatura do deputado federal Gabriel Chalita à Prefeitura de São Paulo. Segundo um dos presentes, o partido está cansado da relação com o PT.

Ainda de acordo com participantes do jantar, a avaliação foi que o desprendimento do governo em favor de Haddad é tamanho que, a partir de agora, Temer estará mais à vontade para trabalhar por Chalita. Para os peemedebistas, a candidatura de Chalita é irreversível.

O diagnóstico foi o de que a candidatura de José Serra tem impacto negativo sobre a campanha de Chalita. Mas neutraliza a pressão de Dilma e Lula para que o PMDB desista da chapa própria.

Agora, peemedebistas defendem que a insatisfação seja reforçada na votação do Código Florestal, na semana que vem. O mesmo sinal já foi dado por outros partidos da base, como o PSB. Na votação da criação do fundo de previdência complementar, anteontem, 17 dos 26 votantes do partido foram contra o governo.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

TSE barrará quem teve conta rejeitada

Os candidatos que tiveram contas de campanha rejeitadas nas últimas eleições não poderão concorrer no pleito deste ano, decidiu ontem o Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Político com conta rejeitada não pode concorrer

TSE decide negar nesta eleição registro a candidatos que tiveram contabilidade reprovada em campanhas anteriores

Carolina Brígido

BRASÍLIA. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) deixou ainda mais difícil a vida dos candidatos às eleições municipais desse ano. Além de exibir a ficha limpa, o político vai precisar ter as contas de campanhas anteriores aprovadas pela Justiça Eleitoral para conseguir o registro de candidatura. Até as eleições passadas, bastava apresentar a contabilidade para garantir o registro, sem a necessidade de aprovação. A decisão foi tomada por quatro votos a três ontem à noite. A nova regra será expressa em uma das instruções normativas que regerão as eleições de outubro.

Os ministros definiram que quem se candidatou em 2010 e teve as contas de campanha rejeitadas não pode concorrer nesse ano. Quem não apresentou as contas na última campanha também está impedido, como já estabelecia a regra anterior. No entanto, os ministros não declararam se quem teve contas rejeitadas de 2008 para trás também ficará impedido de concorrer. A Justiça Eleitoral tem um cadastro com 21 mil contas de campanhas rejeitadas. Não se sabe ainda quantos desses candidatos estariam impedidos de se candidatar nesse ano. A decisão deverá ser tomada na análise de cada caso.

Também foi discutida a possibilidade de, no momento do registro da candidatura, a Justiça Eleitoral ainda não ter julgado as contas do político. Nesse caso, será concedido a ele o direito de concorrer.

- Não posso apenar o candidato pela demora no exame das contas. Pela sobrecarga de contas, o órgão pode não apreciar todas elas até a diplomação. Ele sofrerá uma consequência que não decorreu de um ato próprio? - questionou o ministro Marco Aurélio Mello.

Os ministros Arnaldo Versiani, Gilson Dipp e Marcelo Ribeiro lembraram que a legislação eleitoral é clara no sentido de exigir apenas a apresentação das contas para a obtenção do registro da candidatura, sem mencionar a necessidade de aprovação delas.

No entanto, quatro ministros - Ricardo Lewandowski, presidente do tribunal, Cármen Lúcia, Marco Aurélio e Nancy Andrighi - afirmaram que a mera apresentação da contabilidade da campanha, sem juízo de valor sobre os números, não comprova a idoneidade do político.

- Não consigo conceber que se cogite da apresentação das contas para não se dar ao exame dessas contas uma certa finalidade. Não basta a apresentação no protocolo. Exige-se à Justiça Eleitoral o exame dessas contas. Aquele que apresentar contas e forem elas rejeitadas não pode obter a certidão de quitação eleitoral. Devemos avançar visando a correção de rumos - afirmou Marco Aurélio.

Lewandowski rebateu o argumento de que a regra não poderia mudar a expectativa dos políticos, sob pena de afetar a segurança jurídica das eleições:

Na prestação de contas, o candidato deve informar os recursos arrecadados e a forma de gastos, com notas fiscais e comprovantes. Se a conta não bater, ou se houver omissão, a Justiça pode rejeitar a contabilidade.

FONTE: O GLOBO

Um sinal verde para São Paulo:: Maurício Rudner Huertas e Carlos Fernandes

O comportamento pendular de Kassab entre o PT e o PSBD mostrou como os dois partidos são parecidos; é necessária uma terceira via, distante de ambos

O comportamento pendular do prefeito Gilberto Kassab, entre PT e PSDB, demonstrou uma coisa óbvia: ambos não têm muita diferença.

Precisamos fugir desta lógica da biruta de aeroporto, que se move com o vento. Em todas as pesquisas de intenção de voto para a Prefeitura de São Paulo, percebe-se a saturação do eleitor com os candidatos da polarização entre PT e PSDB. Trata-se do cenário ideal para a construção de uma terceira via.

Nem PT, nem PSDB. Que venha a eleição de 2012 com um "sinal verde" para São Paulo, que é a síntese da proposta do PPS por uma cidade sustentável, em torno da candidatura de Soninha Francine. Não poderia haver simbologia melhor para a metrópole que não pode parar.

Sinal verde para a "nova política" que pede passagem. Sinal verde para a cidadania, para o trânsito, para o transporte alternativo, para a saúde, para a educação, para a segurança, para o esporte e para o lazer.

Sinal verde para a qualidade de vida, para a diversidade, para a ética, para a transparência, para a decência na política. Verde do meio ambiente e da sustentabilidade.

O PPS e todos os seus candidatos às eleições municipais de 2012 já se comprometeram com o programa Cidades Sustentáveis, iniciativa pioneira da Rede Nossa São Paulo e do Instituto Ethos, com o objetivo de que as cidades brasileiras se desenvolvam de forma econômica, social e ambientalmente equilibrada.

Sabemos que as pesquisas eleitorais são um retrato momentâneo e mutável, mas não deixa de ser relevante que Soninha tenha mais votos, até aqui, que os nomes do PT e do PSDB somados. Lidera entre os eleitores com nível superior e está embolada em primeiro lugar na chamada classe média. Isso não é notícia?

Considerando esses 11% de intenção de votos em Soninha, apurados pelo Datafolha, e o resultado da eleição presidencial de 2010, quando Marina Silva obteve 20 milhões de votos (alheios à polarização entre PT e PSDB), temos o diagnóstico do problema e o prognóstico da cura: o eleitor procura uma alternativa concreta e viável para uma cidade mais inteligente e mais feliz. Ninguém quer mais do mesmo.

Não por acaso, o PPS fez uma carta aberta a Marina Silva e aos chamados "marineiros", reforçando a importância dessa terceira via para São Paulo e para o Brasil.

O partido consolidou tal proposta com a filiação de expoentes do movimento Nova Política, como o empresário Ricardo Young, ex-candidato ao Senado em 2010 que recebeu 4 milhões de votos e que disputará uma cadeira de vereador pelo PPS em 2012.

Entendemos, portanto, que, para concretizar a proposta desse "sinal verde" para São Paulo, será essencial somar esforços e agregar o máximo de gente bem intencionada e disposta a transformar para melhor a cidade e o país.

Isto significa, objetivamente, apresentar uma candidatura própria à prefeitura e uma chapa competitiva à Câmara Municipal, equidistante de PT e PSDB e diferente de tudo que ambos têm representado de nocivo e de mesmice para a política.

Maurício Rudner Huertas, 40, jornalista, secretário de Comunicação do PPS, é coordenador da pré-campanha de Soninha à Prefeitura de São Paulo;

Carlos Fernandes, 50, ex-subprefeito da Lapa (2010/2011), é presidente do PPS paulistano.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Interessa - Roberta Sá

Resprivada do PT :: Roberto Freire

Definitivamente, a partidarização do aparelho do Estado patrocinada pelo lulopetismo teve seu ápice no Ministério da Fazenda, um terreno fértil para a realização de "malfeitos", como candidamente chama a presidente Dilma as denúncias de corrupção em seu governo, mas é muito mais amplo.

No rastro da mal explicada queda de Luiz Felipe Denucci Martins-ex-presidente da Casa da Moeda, pessoa da mais absoluta confiança do ministro Mantega, no início de fevereiro, motivada por denúncias de recebimento de propina de fornecedores do órgão por meio de duas empresas no exterior - começou-se a perceber que, por trás do ar austero das solenes questões que definem a política econômica do governo, espraiava-se uma região de sombra onde aconteciam "tenebrosas transações", como o demonstra agora a disputa entre o Banco do Brasil e a Previ, pelo que se percebe, por diferentes facções do PT.

Esta disputa, aliás, começa a revelar os meandros de uma verdadeira teia de interesses escusos e enriquecimento ilícito por parte de dirigentes do BB e da Previ envolvendo, inclusive, diretamente seus respectivos presidentes, Aldemir Bendine e Ricardo Flores.

Evidentemente, essa não é uma questão menor ou que possa ser tratada com a ligeireza com que esse governo trata os desmandos de seus altos funcionários.

Essa briga ganhou contornos maiores depois que o Ministério da Fazenda mandou o BB abrir sindicância para apurar suposto vazamento de sigilo bancário do ex-vice-presidente da área internacional da instituição, Allan Toledo. Este teria sido demitido em dezembro por supostamente estar arregimentando apoio entre empresários e políticos para assumir a presidência do BB, com apoio de Flores.

Flores é próximo de lideranças tanto do PT como do PMDB, os principais partidos da base governista. No início da semana, parlamentares do PT tentavam manter Flores no cargo. No início da tarde de quarta-feira, no entanto, petistas já admitiam que ele seria afastado por ordem do Planalto.

Note-se bem, estamos falando de um dos maiores bancos da América Latina e de um dos mais importantes fundos de pensão do país. E é dessa maneira pouco cerimoniosa, digamos assim, que se dão as mudanças na estrutura de comando de instituições de importância capital, no atual governo, sob o estrito interesse de facções e não, como seria de esperar, do interesse nacional.

Além de todo esse imbróglio, quase passou desapercebida a criação de uma diretoria na Petrobras para um "aspone" no caso, o ex-presidente do PT e ex-coordenador da campanha de Dilma, que certamente não vai ajudar em nada a sanear a empresa do descalabro que tem sido a gestão lulopetista na nossa maior estatal.

Para completar a semana, o senador Marcelo Crivella (PRBRJ), ao tomar posse como ministro da Pesca e Aquicultura, declara com certo tom de deboche que de pesca ele não sabe nem colocar a minhoca no anzol, numa demonstração clara de que o governo do PT usa e abusa do Estado para garantir o poder a qualquer custo.

Roberto Freire, deputado federal (SP) e presidente do PPS

FONTE: BRASIL ECONÔMICO

Refazer o orgulho :: Cristovam Buarque

O Brasil é um dos poucos países com base na Antártida. Ao longo de mais de 20 anos tem mantido de forma permanente grupos de cientistas e militares que se revezam, tentando entender aquele continente e as consequências de seu clima para o futuro do Planeta. Ali são feitas pesquisas sobre a vida marinha em baixas temperaturas, sobre fontes de alimentos de micro-organismos, pesquisas sobre as mudanças climáticas e inclusive sobre recursos naturais disponíveis. Além disso, ali o Brasil mostra que aceita desafios. Não temos como enviar uma tripulação ao espaço sideral, mas não fugimos de ter nossa base na Antártida e de sentirmos orgulho por isso.

Esta Estação Comandante Ferraz tem custado um enorme esforço às nossas Forças Armadas, especialmente à Marinha e à Aeronáutica, e tem atraído apoio de diversos setores entre os quais uma Frente Parlamentar de Apoio ao Programa Antártico Brasileiro (ProAntar), como é conhecido o programa, que sempre contou com o apoio do Congresso Nacional, desde 2007.

Mais de 52 senadores e 120 deputados fazem parte dessa Frente, todos dispostos a prestar o apoio indispensável para que, tanto às atividades de pesquisa quanto a logística da presença brasileira no Continente Antártico tenham condições de se desenvolver a contento. Para isso, a Frente Parlamentar tem mantido contato com os órgãos que conduzem os processos inerentes aos trabalhos científicos desenvolvidos na Antártida, especialmente com os Ministérios da Ciência e Tecnologia e do Meio Ambiente e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico.

De repente, ainda não sabemos por que um incêndio com explosão, provavelmente no depósito de combustível, transformou a nossa base e os nossos dados das pesquisas em cinzas. Visitei duas vezes a Antártida, em uma delas foi possível ir ate a Estação. Muitos vibram com a seleção de futebol, eu vibrei ao posar com uma bandeira ao lado dos cientistas e militares naquele ponto extremo do planeta, sabendo que estava em território brasileiro e ao lado de pesquisadores brasileiros. Há anos sou presidente da Frente Parlamentar ProAntar e talvez por isso tenha sido informado logo no início e certamente devo ser um dos que mais sentem o drama do que estamos vivendo. A morte de dois militares, além de ferimentos em outro, e a destruição das pesquisas, salvo aquelas já compartidas pela internet, deixou-me com a sensação de uma imensa tragédia para o Brasil, embora em um ponto tão distante. Ao mesmo tempo despertou a vontade de fazer tudo o que for possível para ajudar na recuperação daquele nosso território científico. Emenda de minha autoria ao Orçamento da União deste ano, mesmo sendo de pequeno valor – R$ 500 mil – pode colaborar para o início imediato da reconstrução da Estação Comandante Ferraz.

A partir desta semana, a Marinha já começa a entender o que houve e a fazer os trâmites para reconstruir a Estação Comandante Ferraz. Estamos certos que não serão poupados esforços de todos nós e do governo brasileiro para que, em breve, todo o trabalho de pesquisa possa ser retomado e o Brasil possa mostrar que teve uma Base, mas que já tem uma outra nova construída.

O custo disso será quase nada se comparado com os custos com a Copa do Mundo, as Olimpíadas e o trem bala. E, com certeza, muito mais resultados positivos para o orgulho nacional e para as pesquisas mundiais. Trata-se de refazer um orgulho brasileiro.

Cristovam Buarque é professor da UnB e senador pelo PDT-DF

FONTE: JORNAL DO COMMERCIO (PE)

Só quando o Sargento Garcia prender o Zorro :: Fernando Gabeira

Uma das grandes ilusões humanas é a de que as coisas não mudam. E que a História se repete como a natureza, com a regularidade natural das estações do ano.

Durante o desfile da Gaviões da Fiel, o ex-presidente do Corinthians Andrés Sánchez afirmou que o presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Ricardo Teixeira, só deixará o cargo quando o Sargento Garcia prender o Zorro. Embora as relações entre política e futebol não sejam lineares, ambos estão sujeitos a um incessante movimento transformador. Quem tem mais dificuldades para reconhecer o câmbio é justamente quem sonha em se perpetuar no poder.

Em 1910, como lembra o historiador Joel Rufino dos Santos, o futebol era jogado no Bangu Athletic Club numa grama que servia ao cricket. Calções e meias eram importados e os jogadores celebravam suas vitórias cantando "when more we drink together, more friends we"ll be".

O Sargento Garcia prendeu o Zorro da exclusividade aristocrática e o esporte se tornou popular. Tão popular que no Brasil, em sintonia com os políticos, o País quer projetar a imagem de hegemonia no futebol. A ditadura militar também se interessava pelo tema. Médici deixava-se fotografar fazendo embaixadas e chegou a tentar escalar jogadores na seleção de 1970.

Os tempos são outros: governo popular, ascensão econômica, reconhecimento internacional - tudo converge para transformar a Copa do Mundo numa espécie de vitrine da nova fase brasileira. A Copa de 2014 foi pensada para projetar o Brasil duplamente: crescimento econômico e supremacia no futebol.

No universo das crônicas de Nelson Rodrigues o argumento ganha cores mais vivas: a seleção nacional de futebol é a Pátria em calções e chuteiras a dar rútilas botinadas, para superar um obstáculo que sempre a paralisou, o complexo de vira-latas. A realidade do futebol brasileiro, porém, é de decadência. São dados que transcendem o complexo de vira-latas, transfigurado no discurso oficial como "torcida do contra".

A Fifa rebaixou o Brasil para sétimo lugar no ranking mundial. Mantida esta realidade, a seleção não iria às finais e os gastos de R$ 1 bilhão para reformar o Maracanã teriam sido parcialmente supérfluos, pois os jogadores brasileiros não pisariam no seu gramado em 2014.

O retrospecto fortalece essas previsões. A Copa Sul-Americana mostrou o futebol chileno, com o Universidad de Chile, não só como campeão, mas jogando um futebol muito superior ao dos brasileiros que enfrentou. Era preciso, todavia, ainda uma confirmação do declínio relativo. E ela surgiu no jogo Barcelona x Santos, no Japão. Duas escolas, dois ritmos, uma certeza que o próprio Neymar expressou ao comentar a derrota: "Aprendemos uma lição".

Ao mesmo tempo que amargamos o declínio no gramado, estouram novos escândalos envolvendo os dirigentes do futebol brasileiro. Na Inglaterra, Ricardo Teixeira e João Havelange foram denunciados muitas vezes pela imprensa. Pesam contra eles denúncias de corrupção, processos na Justiça suíça e, recentemente, o presidente da CBF teria faturado para si parte dos lucros da partida Brasil x Portugal, realizada em Brasília. Num movimento para escapar do Sargento Garcia, Teixeira transferiu sua riqueza para Miami, onde vai operar empresa numa mansão recém-comprada. Não é o primeiro nem o último. Quase todos acabam em Miami.

Há alguns fatores ainda por explicar nesse processo. Ligados mais no futebol do que na política, os brasileiros ainda não manifestaram oposição maciça aos dirigentes que enriquecem e, simultaneamente, afundam o esporte.

Documentei a primeira manifestação contra Ricardo Teixeira, no dia em que foram sorteadas as chaves da Copa, no Rio de Janeiro. A partir dali, há apenas uma campanha na internet. Aquele sorteio é um caso para estudar a relação política-futebol. O governo do Estado e a prefeitura investiram R$ 30 milhões na festa. O aluguel de uma cadeira custou R$ 245, o preço de uma cadeira nova.

Um segundo fator de perplexidade é que a política brasileira, tão atenta ao futebol, não registra interesse especial por seu declínio. Há críticas à CBF e também à condução das obras da Copa. Mas um país que tensiona seus recursos para realizar a Copa do Mundo e a vê como uma projeção de poder talvez esteja confundindo o ritmo do futebol com o ritmo da economia.

A tese de alguns defensores do governo é que o crescimento econômico torna a corrupção política secundária. A satisfação material aumenta a tolerância com os desvios, que hoje se descrevem com um termo mais suave: malfeitos. Como se a CBF fosse um partido aliado em apuros, o governo comporta-se com Teixeira como fez com os ministros demissionários: espera que apodreça e caia, como os outros frutos do realismo político.

A Copa do Mundo coincide com as eleições presidenciais. Não há relação direta entre prestígio do governo e da seleção nacional. Em vários momentos o Brasil perdeu no futebol e o candidato do governo se reelegeu.

Em 2014 a Copa será aqui, o governo esforçou-se para trazê-la e se dispõe a gastar bilhões para realizá-la. Sua alternativa, em caso de fracasso nos campos, é afirmar o crescimento econômico e transferir a derrota para a CBF, uma entidade privada. Um último recurso seria contar com o Sobrenatural de Almeida, o personagem criado por Nelson Rodrigues que desafia a lógica e parece ter nascido para o futebol, um esporte cheio de lances imprevisíveis.

A julgar pelo retrospecto, a Copa do Mundo no Brasil tende a confirmar a hegemonia do futebol europeu. No Velho Continente a economia declina, mas seu futebol ainda está no topo do ranking mundial.

Há quem pareça mesmo acreditar que as mudanças no esporte brasileiro só virão quando o Sargento Garcia prender o Zorro. Numa jogada audaciosa como a realização da Copa do Mundo, a multidão dos amantes do futebol pode se indignar com o atraso que os cartolas representam. Nesse caso, a única boa notícia que os espera são os baixos preços relativos dos imóveis em Miami.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Mandato-cidadão:: Merval Pereira

A relação do eleitor com o candidato sofrerá uma alteração fundamental a partir destas eleições municipais, as primeiras a se realizarem sob os efeitos de uma mudança cultural no país simbolizada pela aprovação da Lei da Ficha Limpa pelo Supremo Tribunal Federal.

Mas já existem outros marcos legais que acabaram criando um caldo de cultura favorável à moralização do serviço público.

São eles a Lei da Improbidade Administrativa, de 1992; a Lei da Transparência, de 2009; a Lei do Acesso à Informação Pública, de 2011; e a Lei de Responsabilização de Pessoa Jurídica, em tramitação no Congresso.

Para monitorar a aplicação dessas leis, as redes de controle social envolvem hoje cerca de três mil associações civis dispostas a exigir o cumprimento de suas exigências através das ações judiciais e do trabalho dos Ministérios Públicos federal e estaduais.

A demanda por moralidade por parte da opinião pública, independentemente de condutas éticas individuais, é um fenômeno social de nossos dias, dinamizado pela ação das redes sociais de relacionamento, que terão papel influente nestas eleições.

As propostas mais frequentes da 1 Conferência Nacional sobre Transparência e Controle Social (Consocial), por exemplo, abrangem a inclusão de disciplina sobre ética e cidadania na grade curricular do ensino fundamental; instalação de conselhos municipais de transparência; a criação da Casa dos Conselhos nos municípios, que abrigarão os conselhos municipais de políticas públicas; aperfeiçoamento dos portais de transparência do Poder Público, integrando-os às estruturas das ouvidorias; punições mais severas para os crimes de corrupção.

A expectativa é que um milhão de pessoas estejam mobilizadas ao fim do processo. Em virtude desse novo caldo de cultura da nossa política, já existe a disposição de setores empresariais de não se limitarem a financiar candidatos que apenas atendam a seus interesses corporativos, por mais legítimos que sejam.

Estão dispostos a financiar organizações da sociedade civil de interesse público (Oscips) e de controle social. Organizações como Contas Abertas, que fiscaliza as contas governamentais na internet; Voz do Cidadão, que trabalha para disseminar a cidadania pela população; Amarribo, que combate a corrupção e atua na promoção da cultura da probidade.

E muitas outras associações da sociedade civil, preocupadas com o monitoramento das promessas de campanha, da boa aplicação do dinheiro público e do desempenho do Judiciário.

Ontem, em um seminário do qual participei na Academia Brasileira de Filosofia sobre sustentabilidade urbana, Oded Grajew, da Rede Nossa São Paulo, falava sobre a alteração que a cobrança de metas está realizando no comportamento dos políticos e, sobretudo, no dos eleitores.

Ele considera que as eleições municipais podem criar um novo padrão de relação dos cidadãos com a política, candidatos e os gestores públicos municipais assumindo compromissos concretos, e os cidadãos acompanhando os resultados desses compromissos.

O Programa Cidades Sustentáveis, uma realização da Rede Nossa São Paulo, em parceria com a Rede Social Brasileira por Cidades Justas e Sustentáveis e o Instituto Ethos, oferece uma agenda para a sustentabilidade com a qual candidatos a prefeitos de diversos municípios poderão se comprometer publicamente.

Também Mario Mantovani, da SOS Mata Atlântica, anunciou que uma plataforma de sustentabilidade será apresentada a candidatos a vereadores de diversos municípios para garantir a adesão política.

O publicitário Jorge Maranhão, dedicado à causa da cidadania e que tem o site A Voz do Cidadão, onde põe em debate os direitos e os deveres de um verdadeiro cidadão, já concebeu diversas campanhas, a mais recente tendo sido colocar em circulação pelas cidades do país o Cidadômetro, concebido como uma complementação do Impostômetro, que mede, em São Paulo, o quanto de impostos o cidadão paga.

Assim como o relógio que mede os impostos, localizado na Avenida Paulista, procura chamar a atenção do consumidor para o tamanho de nossa carga tributária, Maranhão foi à rua tomar o pulso da cidadania, tanto no sentido de iniciativa quanto de mensuração propriamente dita.

Ele agora está lançando o "mandato-cidadão", para parlamentares comprometidos com a transparência e a prestação de contas.

Maranhão está convencido de que já existe uma massa crítica hoje no Brasil de cidadãos dispostos a sair de uma cidadania de primeiro grau, que se define pela solidariedade, preocupação com o meio ambiente e o espaço público, os equipamentos urbanos, para exercer o que ele chama de "cidadania atuante", que é o uso das instituições de controle do Estado, independentemente de partidos. "Cidadãos que não aceitam mais o Estado ser aparelhado por conveniências políticas", define.

"Ninguém vai acabar com a corrupção", admite Maranhão, que, no entanto, entende que existe um grupo de parlamentares, nos diversos níveis federativos, que pode dar o norte para as instituições, levando consigo a maioria.

Não importa se esse parlamentar é do governo ou de oposição, diz Maranhão, "o que ele precisa ser é um representante da sociedade".

Esses deputados federais, estaduais e vereadores que se comprometerem com a ética e a transparência públicas receberão a chancela do "mandato-cidadão".

Para Maranhão, tanto o "cidadão eleitor" quanto o "cidadão eleito" precisam acreditar que, se não houver instituições fortes, não há democracia. "Ficamos então à mercê de golpistas e de demagogos".

Ele se indigna com a confusão de moral pública com moralismo, com udenismo. "Isso é cínico. Nós temos a responsabilidade política de fazer a futura geração acreditar no Congresso".

FONTE: O GLOBO

Equilíbrio delicado :: Eliane Cantanhêde

Dilma e Amorim avançaram e agora não têm como recuar diante das manifestações impertinentes e, de certa forma, irresponsáveis de setores da reserva militar, sobretudo do Exército.

Diante do primeiro manifesto, em que eles criticam a própria comandante em chefe das Forças Armadas, Dilma e o ministro poderiam simplesmente ter dado de ombros, mas determinaram aos comandantes que garantissem a retirada do texto. Eles garantiram e o problema continuou. Talvez tenha até aumentado.

Em novo manifesto, já com centenas de nomes, os insatisfeitos não reconhecem autoridade no ministro da Defesa para exigir a retirada do texto dos clubes militares -aqueles que fazem festinhas, palestras e, de vez em quando, uma provocação qualquer para mostrar que estão vivos.

Criou-se um impasse no governo: se continuarem exigindo retratações e anunciando punições, Dilma e Amorim correm o risco de botar mais lenha nessa fogueira; mas, se fingirem que não é com eles, demonstrarão fraqueza e serão alvos fáceis de uma avalanche de notas, manifestos e mensagens pela internet.

É um "equilíbrio delicado", como me definiram ontem, mas o governo decidiu seguir a lei. Os signatários dos manifestos se dizem protegidos pela lei 7.524, de 1986, que autoriza manifestação de opinião para militares inativos. Já Dilma e Amorim dizem, com razão, que criticar a presidente e desacatar o ministro da Defesa não é mera "opinião", e sim quebra de hierarquia -proibida expressamente pelo Estatuto Militar.

É este que vai valer, ao lado dos regulamentos internos da Marinha, do Exército e da Aeronáutica.

Ou seja: o governo vai continuar dando sinais de comando e cabe aos militares, inclusive aos da reserva, acatarem e se aquietarem, até porque o país vive em paz, a democracia é boa para todo mundo e, afinal, não faz o menor sentido se opor com tanta virulência à... verdade.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Apendicite aguda:: Dora Kramer

Explodiu mais cedo do que se imaginava a insatisfação latente entre os aliados do governo com a percepção de que são apenas linhas auxiliares na construção do projeto hegemônico do PT, assunto abordado aqui a partir de entrevista do líder do partido na Câmara, Jilmar Tatto, na qual deixava patente o papel secundário dos parceiros de aliança.

A reação surgiu na forma de um manifesto assinado por mais da metade da bancada do PMDB na Câmara reclamando da relação "injusta e desigual" com o PT.

O documento refere-se ao tratamento diferenciado dado aos petistas no governo na comparação com outros integrantes da base de sustentação, tem algum caráter de pressão fisiológica, mas na essência alcança razões mais profundas.

São compartilhadas por todos os demais partidos da coalizão governamental, mas explicitadas pelo PMDB que, até pelo peso e pelo fato de ocupar a Vice-Presidência da República, acaba funcionando como uma espécie de porta-voz da revolta geral.

Se a ópera pudesse ser resumida numa frase, seria a seguinte: o PMDB cansou de ser periferia. Percebeu que estava melhor quando não submetido à obediência decorrente da ocupação da Vice-Presidência da República e concluiu que fez um mau negócio.

A contrariedade emerge de um motivo pragmático: o risco iminente à sobrevivência do partido.

Importante por ter presença no País todo, por ocupar o maior número de prefeituras Brasil afora e por ter representação forte no Congresso, o PMDB começou a se dar conta de que não apenas a situação pode mudar (para pior) como detecta no PT a execução de um plano estratégico para virar esse jogo.

Avançando sobre as trincheiras peemedebistas nos Estados e municípios sem levar em conta critério de contrapartida na formação das alianças eleitorais e, no plano nacional, alijando o partido do centro das decisões de poder.

É um movimento de confronto ao governo? Não só. Oficialmente o ataque dirige-se ao PT, mas internamente a intenção é "sacudir" a cúpula, tida como excessivamente submissa ao Palácio do Planalto por causa de projetos individuais.

Principalmente dois: o do líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves, e o do vice-presidente Michel Temer. O primeiro quer presidir a Casa a partir de 2013; o segundo pretende assegurar o lugar de vice na eleição de 2014.

Em nome disso, reclamam os deputados, submetem-se passivamente à ofensiva do PT sem cuidar da preservação do partido em si que, na avaliação de lideranças, corre o risco de virar o DEM do PSDB.

Ou seja, tanto atua a reboque do carro-chefe, quanto aceita as regras da conveniência do outro que, quando acorda, está em vias de extinção sem força, voz nem consistência para reagir.

É essa a discussão de fundo, muito mais que a reivindicação de cargos aqui e ali. Uma situação complicada, pois o PMDB não tem para onde ir. Mas ali já começa a crescer a percepção de que talvez seja melhor tentar sobreviver só do que permanecer como apêndice e morrer mal acompanhado.

Algo se move. As condenações em primeira instância de Marcos Valério e Waldomiro Diniz, nos últimos 15 dias, lançam crédito na eficácia, ainda que lenta, da Justiça e desmoralizam as afirmativas sobre o caráter "fantasioso" e "golpista" dos escândalos em que ambos dividiram a cena com figuras proeminentes do governo federal.

Febeapá. Marcelo Crivella diz que terá de "aprender muito" sobre suas novas funções. Maravilha. Mais não seja para, uma vez inteirado do assunto, explicar ao País qual é mesmo a serventia do Ministério da Pesca.

Ademais, a declaração de Crivella sobre inépcia no trato de minhocas e anzóis é especialmente constrangedora para a presidente Dilma que inaugura o que seria o "primeiro ano de seu verdadeiro governo", como se diz por aí, enveredando pelo perigoso terreno da galhofa.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Uma página em branco:: Maria Cristina Fernandes

Entre a campanha presidencial de 2010 e a decisão de candidatar-se à Prefeitura de São Paulo, José Serra foi colunista de jornal. Escreveu 21 artigos em "O Estado de S.Paulo" e dez em "O Globo". A íntegra desses artigos está no seu site (www.joseserra.com.br), onde também se encontram discursos feitos em encontros partidários de que participou nesse período, comentários sobre a conjuntura e um artigo sobre goleiros publicado pelo jornal "Lance!".

Os artigos revelam o ex-candidato à Presidência da República, o ex-senador e, eventualmente, o ex-governador do Estado de São Paulo. Em nenhum momento, porém, avoca sua experiência de um ano e três meses frente à prefeitura da capital.

São textos fluidos e ácidos com raras concessões ao lirismo, como no texto em que revela sua simpatia pelos goleiros: "Vê seu time sempre pelas costas e o adversário pela frente. Trabalha com as mãos no esporte dos pés".

Faz revelações de sua infância ao rememorar os 50 anos da renúncia de Jânio. Sua mãe entusiasmou-se pela campanha do tostão contra o milhão. As mulheres consideravam Jânio um político diferente dos outros. O jovem Serra também. Achava que havia feito um bom governo em São Paulo, "operoso e sem escândalos" e, por isso, tinha lhe dado o primeiro voto de sua vida. O pai era contra por sua gestão na prefeitura, quando os fiscais cobravam caixinha dos feirantes do Mercado Municipal.

Serra fez duas estreias. Na imprensa começou com um "Oposição para quê?", em que faz referências não tão veladas à proeminência que o senador Aécio Neves havia adquirido no partido. Diz que o PSDB não sabe fazer oposição e considera razoável o eleitor imaginar que "não sabe governar quem não sabe se opor". Sugere os 10 Mandamentos como cartilha para a oposição e sugere o 11º: "Não ajudarás o adversário atacando teu colega de partido".

Faltou São Paulo nos artigos de José Serra

Ao abrir o site, em um pequeno artigo com o título "Minha primeira vez", cita um conto de Machado de Assis: "As palavras têm sexo, unem-se umas às outras. E casam-se. O casamento delas chama-se estilo".

Na internet e nos jornais o que predomina são os textos de crítica ao governo federal. Desindustrialização, câmbio e infraestrutura são os temas econômicos mais frequentes. Recorre à terceira colocação do Brasil no índice do Big Mac mais caro para fazer suas críticas ao câmbio sobrevalorizado. Reclama de uma política mais agressiva para o turismo, capaz de competir pelos R$ 16 bilhões que os brasileiros gastaram em 2010 no exterior.

Considera o trem-bala "o pior projeto da história" e diz que as concessões petistas das rodovias federais "não foram "a preço de banana", foram de graça mesmo" para concluir que "a pior ideologia é a incompetência".

Faz um único elogio à política econômica, reservado ao site. Quando o Copom baixa meio ponto da Selic defende a credibilidade do Banco Central e o direito de a presidente conversar com seus diretores e ministros da área econômica sobre os rumos da política monetária.

Volta e meia analisa a economia internacional. Diz que o Euro foi o "maior erro de política econômica em escala internacional na segunda metade do século XX".

Faz críticas recorrentes a corrupção e a loteamento de cargos, queixa-se dos rumos da reforma política e do que avalia como abandono do tema dos direitos humanos na política externa. Faz um artigo sobre saúde, relembrando sua atuação no ministério e defendendo a vinculação de recursos. Já este ano escreveu um artigo sobre o Enem em que critica a iniciativa petista de tentar mudar a forma de ingresso nas universidades transformando-o num vestibular gigantesco e mal administrado.

Nos 12 meses em que escreveu Serra não falou do transporte público, das creches, das AMAs (Assistências Médicas Ambulatoriais) ou da limpeza urbana da cidade de São Paulo.

Ele avisara, ao estrear como articulista, que estaria ocupado com o "futuro do Brasil e dos brasileiros". Na carta que entregou ao diretório municipal do PSDB reconheceu que os 44 milhões de votos que recebera em 2010 lhe estimularam a voltar sua atenção a questões nacionais.

Em sua primeira entrevista como pré-candidato, Serra disse que apresentava sua postulação por "necessidade política e por gosto de ser prefeito".

Se nem ele nem seu partido acreditavam ter alternativa, foi efetivamente por necessidade que resolveu se apresentar. Mas que a prefeitura mobiliza seus gostos não havia como adivinhar.

Esta é, no PSDB, uma das principais preocupações de sua campanha. Serra terá, provavelmente, a vantagem de liderar a mais robusta aliança partidária da sucessão paulistana. Além disso, conta com o histórico eleitoral de uma cidade que favorece candidaturas de centro-direita. Apesar disso tudo, porém, esta deve ser uma campanha mais difícil do que aquela em que venceu Marta Suplicy em 2004.

Naquele ano Serra ainda tinha fresco na memória do eleitor a passagem, havia dois anos, pelo Ministério da Saúde, quando fez uma gestão inovadora.

Agora já se passaram dez anos desde que deixou a Saúde. A avaliação é que lhe faltam marcas e sobram desgastes acumulados numa polêmica campanha presidencial. Aquilo que fez na rápida passagem pela prefeitura acabaria sendo creditado na conta de Gilberto Kassab, que ruma para concluir seu segundo mandato no posto. Também é difícil evitar que o que restou de sua administração como governador de Estado durante dois anos e três meses não se diluísse nos mais de sete anos que Geraldo Alckmin já acumula no cargo.

Até pode ser verdade, como diz Serra, que na eleição paulistana disputam-se os rumos da política nacional, dado o peso que os dois principais partidos do país jogam na parada. Mas não parece tão claro que a mão inversa funcione com a mesma fluidez. A blindagem do regime sírio, o futuro do euro, o nó cambial, o loteamento da Funasa ou a reforma política talvez tenham pouca influência sobre o voto paulistano.

Não que se deva esquecer o que escreveu. Há muitos momentos de lucidez nos artigos de Serra. A questão agora é preencher a página de São Paulo que ficou em branco.

FONTE: VALOR ECONÔMICO

Maria Gadú - Bela Flor

Bancada do PSB rebela-se contra governo

Caio Junqueira

BRASÍLIA - Glauber Braga (PSB-RJ): deputado de Friburgo ampliou de 7 para 60 os artigos da MP 547, que institui cadastro de municípios sujeitos a catástrofes naturais

Dos 26 deputados do PSB presentes no plenário para votação do Fundo de Previdência do Servidor, 17 (65,4%) votaram contra os interesses do governo federal. A sessão aconteceu horas depois de a presidente Dilma Rousseff liberar, para dois Estados governados pelo partido - Ceará e Pernambuco - com festa em palanque, R$ 2 bilhões para obras de ampliação do metrô de Fortaleza e outros R$ 2 bilhões em investimentos em mobilidade urbana de Recife.

Os deputados do PSB estão insatisfeitos com o governo e a maioria da bancada da Câmara diverge da cúpula com relação aos temas em votação. A situação começou a preocupar o presidente do partido e governador de Pernambuco, Eduardo Campos, que vai conversar com os principais integrantes da bancada, nos próximos dias, e tratará também da rebelião com o presidente do PSB-SP e secretário de Turismo, Márcio França (PSB), em encontro que terão na cidade, segunda-feira, para debater a aliança do PSB com o PT na capital.

Hoje estima-se que 20 dos 32 deputados do partido teriam uma posição mais crítica, independente e infiel ao governo federal, se pudessem escolher. Só que isso esbarra nos interesses dos seis governadores da sigla, que são oriundos de Estados com alta dependência de recursos federais (Amapá, Ceará, Espírito Santo, Paraíba, Pernambuco e Piauí). Além disso, o PSB detém dois ministérios importantes para fazer política - Integração Nacional e Portos.

Na tarde em que o Funpresp foi aprovado, Eduardo Campos, o governador interino do Ceará, Domingos Filho, e o ministro Fernando Bezerra Coelho (Integração) interromperam suas atividades e foram cabalar votos para o governo. A insatisfação, porém, já existia mas não haviam notado.

Em setembro de 2011, quando a mãe de Campos, deputada Ana Arraes (PE), deixou a liderança da bancada para assumir vaga de ministra do Tribunal de Contas da União (TCU), os deputados ficaram mais à vontade para afrontar a orientação do partido. Sua saída fez aflorar a disputa por espaço e poder.

Cinco deputados, os paulistas, aliados locais do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), começaram, nas reuniões internas, a atacar o governo. Foram seguidos pelos do Rio Grande do Sul que, apesar de participarem do governo Tarso Genro (PT), opõem-se à aliança ao PT. Não demorou para outras queixas surgirem, insufladas pela falta de liberação de verbas de emendas parlamentares e nomeações, além de privilégios concedidos ao PMDB pelo governo. Soma-se a isso uma disputa interna pela liderança formal dos deputados.

Após a saída de Ana Arraes, fez-se um acordo pelo qual outra mulher, Sandra Rosado (RN), assumiria interinamente o cargo até fevereiro. Enquanto isso, Eduardo Campos trabalhou para que o deputado Glauber Braga (RJ) a sucedesse, como estratégia de incentivar lideranças fora do Nordeste, onde o partido detém sua força. No mês passado, contudo, Rosado afirmou ter recebido manifestações para que continuasse no posto e quebrou o acordo. Glauber não quis entrar na disputa, outros deputados pleitearam a liderança e a confusão se instalou. A solução foi deixar a bancada com três líderes neste ano. A ideia de Campos de "desnordestizar" o PSB foi, portanto, completamente desrespeitada.

No dia da votação do Funpresp, a orientação da cúpula partidária era votar por sua aprovação. Agendou-se uma reunião para as 14h para definir qual emenda seria apresentada. O deputado Dr. Ubiali (SP), entretanto, declarou que antes de definir qual emenda seria necessário verificar se o voto seria "sim" ou "não". Defendeu o "não" e foi apoiado pelos oito deputados presentes. Em nova reunião, às 16h, os 17 deputados presentes, insuflados pelos deputados paulistas e gaúchos, aprovaram a mesma decisão. A tese defendida era de que havia chegado a hora de dar o troco ao governo pelo tratamento inadequado à bancada.

A líder Sandra Rosado apoiou a decisão e declarou voto contra no plenário. Foi então que os governistas entraram em ação. Fernando Filho (PE), filho do ministro Fernando Bezerra, e Júlio Delgado (MG), quarto-secretário da Câmara, expuseram que isso traria consequências ruins para o partido. Conseguiram virar alguns votos, apenas. Ao final, dois terços dos deputados do PSB rejeitaram o texto.

A consequência veio no dia seguinte. O governo queria aprovar a Medida Provisória 547, que institui um cadastro nacional de municípios com áreas propícias à ocorrência de escorregamentos de grande impacto, e cujo relator é o deputado Glauber. Na véspera, ele votou a favor do Funpresp. Natural de Friburgo (RJ), município mais atingido pelos temporais de janeiro de 2011, ele ampliou o número de artigos da MP de 7 para 50. Todos resultado de um relatório aprovado em uma comissão especial da Câmara que estudou medidas para enfrentar catástrofes climáticas.

Entretanto, o governo não aceitou suas sugestões. Queria aprovar a MP original e caminhava para orientar a base para derrubá-lo, sob a justificativa de que ele era muito complexo e de que não houve tempo de analisá-lo. Glauber, então, relatou que entregara o texto antes do Carnaval e que esperava uma reunião com o líder do governo, Cândido Vaccarezza (PT-SP), em que ao menos lhe fossem apontados os pontos discordantes, o que não aconteceu.

Após ouvir de Marco Maia que estava "abusando da paciência dos deputados", protestou e foi amplamente aplaudido. A oposição começou a apoiar o adiamento da votação e a base aliada a seguiu.

FONTE: VALOR ECONÔMICO

Comissão da Verdade de SP é instalada

Vandson Lima

SÃO PAULO - Foi instalada ontem na Assembleia Legislativa de São Paulo a versão paulista da Comissão da Verdade, que investigará mortes e desaparecimentos de pessoas ocorridos no Estado entre os anos de 1964 a 1982.

A cerimônia contou com as presenças de parentes das vítimas, do procurador da República Marlon Weichert e do ex-ministro da secretaria de Direitos Humanos, Paulo Vannuchi. A sessão foi dedicada a Rubens Paiva, deputado federal que teve o mandato cassado pela ditadura militar em 1964 e, desde 1971, faz parte da lista dos mortos e desaparecidos políticos. Foi exibido um curto documentário sobre ele, feito pelo pesquisador Vladimir Sacchetta e com participações do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), Plínio de Arruda Sampaio (PSOL) e Almino Affonso, ex-ministro do governo João Goulart.

A Comissão da Verdade paulista será presidida pelo deputado estadual Adriano Diogo (PT). Também a compõem os deputados Marcos Zerbini (PSDB), André Soares (DEM), Ed Thomas (PSB) e Ulysses Tassinari (PV).

Ao Valor, Diogo relatou que a comissão paulista pretende trabalhar de forma totalmente subordinada à comissão nacional. A primeira medida será a solicitação ao Ministério da Justiça e à Secretaria de Patrimônio da União de que o antigo prédio da 2ª Circunscrição Judiciária Militar seja usado como local para os trabalhos. "Temos que ter estrutura para uma comissão dessas, algum convênio com universidades, um lugar para receber documentos e guardá-los, além de funcionários", alegou.

Diogo elogiou o empenho do presidente da Assembleia, Barros Munhoz (PSDB), em conseguir recursos para a comissão.

FONTE: VALOR ECONÔMICO

Canibalismo monetário:: Celso Ming

A presidente Dilma Rousseff tentou compensar com contundência verbal a falta de contundência prática do governo nas decisões anunciadas ontem para estancar ou reverter a valorização do real (queda do dólar).

Dilma criticou os países ricos por "canibalizarem os emergentes" com "políticas monetárias inconsequentes". Ou seja, condenou as impressionantes emissões de moeda do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) e do Banco Central Europeu (BCE) para desbloquear o crédito nos países de origem, pelo impacto negativo que provocam no resto do mundo - especialmente nos emergentes.

Os ingleses chamam a isso de reduzir o vizinho à condição de mendigo (beggar thy neighbour). O ministro da Fazenda, Guido Mantega, preferiu defini-lo como guerra cambial.

A agressividade verbal da presidente pode significar ou a necessidade de maior rigor no controle do afluxo de moeda estrangeira sobre o Brasil; ou a falta de opções eficazes à disposição do seu governo.

Mantega impôs novo aperto à tomada de empréstimos externos pelas empresas brasileiras. Até ontem, financiamentos levantados lá fora com prazo inferior a 720 dias (dois anos) pagavam pedágio (IOF) de 6% - para serem desestimulados. A decisão de ontem ampliou esse prazo para 1.080 dias (três anos).

Como Mantega ameaçava acionar seu "arsenal de medidas", sugerindo recorrer a artilharia pesada, a decisão foi tão branda que foi recebida com alívio. Pareceu que o governo não pretendeu mais do que equiparar o prazo mínimo desses empréstimos externos ao dos de três anos, que o BCE concedeu nas Operações de Refinanciamento de Longo Prazo (LTRO, na sigla em inglês) aos bancos europeus.

Ainda ontem, o professor Luiz Gonzaga Belluzzo, apontado como consultor informal da presidente Dilma para assuntos econômicos, também considerou baixo o fogo de artilharia. Sugeriu que as entradas no País de recursos financeiros fossem submetidas à quarentena, ou seja, que ficassem por um período paradas no Banco Central, sem direito à remuneração.

Belluzzo recomendou, também, triagem na entrada de Investimentos Estrangeiros Diretos (IEDs). Isso exigiria a adoção de um critério objetivo para acolher com champanhe e banda de música os capitais desejáveis (que viessem para investir e criar empregos) e mandar de volta os indesejáveis. A ideia não é só evitar a entrada de recursos destinados a especular com diferença de juros; é, principalmente, evitar que capitais predatórios concorram para valorizar o real (derrubar o dólar) e, assim, tirar competitividade da produção nacional.

Essas propostas enfrentam dois problemas. O primeiro é entender que a entrada de recursos especulativos seja relevante. Dirigentes do Banco Central têm dito que não são. E o segundo, que esse controle qualitativo dos investimentos seja de aplicação simples. Por que investimentos em indústria de capital chinês seriam bem-vindos e os feitos em supermercados (como Walmart ou Carrefour) não? Ontem, Mantega negou a intenção do governo de "taxar a entrada de IEDs".

Fica no ar a pergunta: afinal, o que a presidente Dilma pretende fazer para evitar o canibalismo das grandes potências sobre as vítimas emergentes?

CONFIRA

No gráfico, o comportamento do comércio exterior do Brasil nos últimos 13 meses.

Dilma errou. Ao expor sua indignação contra políticas dos grandes bancos centrais, a presidente Dilma cometeu dois equívocos técnicos. O primeiro foi afirmar que essas políticas provocam um “tsunami fiscal”. O correto teria sido dizer “tsunami monetário”. O segundo, dizer que “só ontem (dia 29) foi 1 trilhão de euros”. Na verdade, esse último despejo de empréstimos aos bancos pelo BCE somou 529,5 bilhões de euros.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Contra a corrente:: Míriam Leitão

O governo brasileiro passou mais uma trava na porta da mesma tecnologia: aumentou o prazo para que o capital estrangeiro possa ficar livre do IOF. Antes, empréstimo com vencimento abaixo de 90 dias pagava imposto. Em março passado, foi para um ano; em abril, dois anos; em julho, foi criado o imposto sobre derivativos. Ontem, o prazo foi de novo ampliado, para três anos. O país tenta em vão conter a enxurrada de dólares.

O gráfico abaixo foi elaborado pela consultoria inglesa Capital Economics e mostra todas as vezes em que o governo baixou alguma medida para impedir a valorização do real. Vejam que, apesar de todas as intervenções, o real continuou se valorizando, até que a crise na Zona do Euro ficou mais forte, por volta de setembro de 2011, e a moeda brasileira se desvalorizou muito rapidamente.

O economista Alexandre Schwartsman, da Schwartsman e Associados, acredita que as medidas do governo não têm efeito sobre a taxa de câmbio e acontecem apenas para mostrar que algo está sendo feito. Segundo ele, o que realmente importa para definir a cotação do real é a relação do dólar perante uma cesta de moedas internacionais e o preço das commodities que o Brasil exporta.

- Quando o dólar se desvaloriza em relação ao euro, ele também perde valor em relação a uma cesta de moedas de países emergentes. É um fenômeno que não acontece apenas com o real. Já em relação às commodities, o Brasil é um exportador líquido, e isso quer dizer que quando o preço delas fica mais alto, mais dólares vêm para o país - explicou Alexandre.

De fato, os números mostram que a valorização do real não é caso isolado. Em relação ao peso mexicano, por exemplo, a desvalorização do dólar é de 8,58% este ano, maior do que os 8,4% de perda frente o real. A moeda americana também cai 7,82% sobre o rand sul-africano; 7,29% em relação ao dólar neozelandês; e 5,42% sobre o dólar australiano. Ou seja, a nossa moeda tem o mesmo comportamento que a de outros países, principalmente dos que são exportadores de matérias-primas.

O que realmente acontece é que em momentos de relativa tranquilidade na economia mundial a moeda americana se desvaloriza. Em agosto de 2008, por exemplo, antes do estouro da crise internacional e de toda a expansão monetária feita pelos banco centrais para combater a crise, o dólar chegou a ser cotado a R$ 1,55, no dia 1 de agosto.

Schwartsman questiona o conceito de guerra cambial anunciado pelo governo. Explica que a ação do Banco Central Europeu (BCE) de emitir mais euros não teve como objetivo desvalorizar a moeda, mas sim evitar que houvesse a quebra de alguma instituição financeira na Zona do Euro, que provocasse uma crise sistêmica.

- Quando o BCE aumentou a base monetária, o efeito foi de valorizar o euro, e não desvalorizar. O euro estava se desvalorizando com o crescimento da crise e a desconfiança sobre a Zona do Euro. Quando o BCE afastou o risco de quebra de algum banco, o euro voltou a ser uma moeda atrativa e se valorizou em relação ao dólar. É exatamente o contrário - disse.

De uma forma geral, a reação do mercado sobre a medida do governo foi de descrença. O Departamento de Estudos Econômicos do Bradesco, por exemplo, acredita que novas medidas serão anunciadas, mas que ainda assim a tendência será de valorização da moeda brasileira.

"Tal medida e os sinais de que o governo pode intervir de outras formas sobre o mercado cambial podem minimizar a pressão de curto prazo para a valorização do real. Contudo, continuamos acreditando que os fundamentos apontam na direção de um câmbio mais apreciado do que no nível atual, diante da liquidez mundial abundante", disse o banco em relatório.

A valorização do real tem efeitos benéficos porque estimula os investimentos. Schwartsman lembra que os investimentos no Brasil estão num nível baixo, na casa de 18% do PIB, e que essa taxa seria ainda mais baixa se a moeda fosse desvalorizada:

- Só existem três formas de levantar recursos para investir: o governo corta gastos e faz poupança; os consumidores cortam gastos e fazem poupança; toma-se poupança de outros países. Como no Brasil o governo aumenta os gastos e estimula também as compras dos consumidores, só sobra a poupança externa. É por isso que temos um déficit em conta corrente de cerca de US$ 50 bilhões.

Diante de um quadro de relativa impotência sobre o câmbio, o governo deveria trabalhar para dar mais condições de competitividade para a indústria, que é quem mais sofre com a concorrência dos importados e as dificuldades em exportar. Mas até a indústria se beneficia em parte da alta do real porque pode importar máquinas que aumentam a produtividade. O comércio também agradece o fortalecimento da moeda, porque isso facilita importações e aumenta a concorrência entre os seus fornecedores.

FONTE: O GLOBO