terça-feira, 10 de janeiro de 2012

OPINIÃO DO DIA - Ulysses Guimarães: liberdade

A liberdade de expressão é apanágio da condição humana e socorre as demais liberdades ameaçadas, feridas ou banidas. É a rainha das liberdades, disse Rui Barbosa.

Ulysses Guimarães (6/10/1916-12/10/1992), Exerceu a presidência da Câmara dos Deputados em três períodos (1956-1957, 1985-1986 e 1987-1988); presidindo a Assembleia Nacional Constituinte, em 1987-1988. A nova Constituição, na qual Ulysses teve papel fundamental, foi promulgada em 5 de Outubro de 1988, tendo sido por ele chamada de Constituição Cidadã, pelos avanços sociais que incorporou no texto.

Manchetes de alguns dos principais jornais do Brasil

O GLOBO
Chuvas matam11 e deixam 15 soterrados na divisa MG-RJ
Governo cria força-tarefa contra cheias
Burocracia paralisa pesquisas
Classe média terá FGTS para construir

FOLHA DE S. PAULO
Juízes de Minas são acusados de favorecer colegas
Mais uma marca de prótese de silicone apresenta problema
Alemanha ameaça segurar socorro financeiro à Grécia

O ESTADO DE S. PAULO
Plano federal previa polícia na cracolândia só em abril
Uma nova tragédia
Bezerra criou comitê em ministério e nomeou o tio
Trânsito: Ministro na escolinha
Brasil estuda impor barreiras a celular chinês

VALOR ECONÔMICO
American negocia dívida de quase US$ 1 bi com o BNDES
Críticas ao novo IPI
Fundo de servidor sem verba no Orçamento

CORREIO BRAZILIENSE
Plano emergencial para tirar Bezerra da chuva
Silicone da Holanda sob investigação
Conta de luz dispara com taxas extras

ESTADO DE MINAS
Emergência - 116 cidades mineiras pedem socorro
Dengue ameaça

ZERO HORA (RS)
Socorro à seca usa verba represada pela burocracia

JORNAL DO COMMERCIO (PE)
Teto de benefícios será de R$ 3.912,20
Listão UFPE será divulgado às 10h desta quinta-feira

O que pensa a mídia - Editoriais dos principais jornais do Brasil

http://www2.pps.org.br/2005/index.asp?opcao=editoriais

Depois da tragédia, as medidas

Governo anuncia pacote de ações para enfrentar efeitos das chuvas no Sudeste

Evandro Ébol, Chico de Gois

O governo anunciou ontem medidas para enfrentar os efeitos das fortes chuvas na Região Sudeste, onde pelo menos 26 pessoas já morreram. Entre as medidas está a criação da Força Nacional de Apoio Técnico e Emergência, formada por 50 geólogos e hidrólogos que irão para as regiões afetadas. O Executivo federal confirmou a liberação de R$444 milhões para ações de prevenção, obras e reconstrução das cidades e residências atingidas. A presidente Dilma Rousseff também determinou que o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), em Cachoeira Paulista (SP), estenda o regime de funcionamento 24 horas por dia, introduzido em dezembro, até o fim de março, ainda período das chuvas de verão.

Uma força-tarefa de 35 geólogos e 15 hidrólogos vai atuar nas áreas de mais alto risco de Minas Gerais, São Paulo e Espírito Santo. As equipes serão formadas especialmente por geólogos vinculados aos ministérios de Minas e Energia e do Meio Ambiente.

Além da antecipação do pagamento do Bolsa Família e do Benefício de Prestação Continuada (BPC), Dilma autorizou a liberação do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) para que as vítimas das chuvas possam reconstruir suas casas. Não foi divulgado o volume de recursos que poderá ser movimentado. O ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra, disse que essas liberações serão avaliadas caso a caso.

Na entrevista coletiva convocada pelo Planalto, cada ministro esforçou-se para demonstrar que sua área está agindo da melhor forma possível para evitar tragédias ou consertar os estragos já feitos. Aloizio Mercadante, de Ciência e Tecnologia, disse que em Belo Horizonte choveu, no mês passado, 800 milímetros, um recorde para o mês.

Em Ouro Preto, já houve 174 deslizamentos de terra. De acordo com o ministro, 23 radares meteorológicos estão em ação, mas ainda faltam quatro - um para a Grande Vitória, outro para Salvador, um terceiro para substituir um antigo equipamento em Alagoas e mais um para complementar o Vale do Paraíba, em São Paulo.

A expectativa é que em dois meses os radares estejam no Brasil. Os do Nordeste reforçarão o sistema de alarme daquela região, onde ocorrem fortes chuvas no inverno. Mercadante disse ainda que é necessário aumentar o número de pluviômetros e atingir três mil novas unidades. Desse total, 1.500 seriam instalados em torres de telefonia celular, em convênio com as operadoras.

Monitoramento estendido até março

Mercadante minimizou os efeitos da chuva no Brasil ao comparar esse evento com a ação de furacões nos Estados Unidos e com a tsunami no Japão. Os dois países, segundo Mercadante, apresentam os melhores sistemas de prevenção de desastres naturais do mundo. O ministro disse que os números de vítimas e desalojados este ano são menores que nos anos anteriores.

- Quero parabenizar os heróis anônimos da Defesa Civil que estão nas ruas - disse Mercadante.

Será estendida até março a atuação dos Centros de Monitoramento e Operações mantidos em Minas Gerais, Rio de Janeiro e Espírito Santo, que funcionam como centros de operação conjunta entre as instituições federais, estaduais e municipais de saúde, defesa civil e engenharia.

O ministro dos Transportes, Paulo Sérgio Passos, divulgou um relatório sobre as estradas federais atingidas: são 37 trechos, envolvendo 16 rodovias em cinco estados. Seis trechos estão totalmente intransitáveis, 20 têm tráfego parcial, e 11 já foram liberados. O Ministério da Saúde irá entregar 15 mil unidades de hipoclorito de sódio para municípios que tiveram o fornecimento de água afetado. Esse produto é utilizado para tratamento da água.

Padilha anunciou ainda o envio de cem profissionais da Força Nacional do SUS para reforçar o atendimento nas áreas mais necessitadas de Minas Gerais. Seriam enviados ainda ontem cerca de 800 quilos de medicamentos e insumos para o Espírito Santo.

Em relação ao Bolsa Família, o governo ainda não tem um levantamento sobre o número de beneficiados que poderão recorrer à antecipação de seu pagamento. Fernando Bezerra disse que o governo espera concluir esse levantamento até o fim de semana.

A ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, que coordena o grupo que trata das ações contra as enchentes, negou que o governo esteja atuando tardiamente. Segundo a ministra, desde o ano passado os ministérios têm trabalhado de forma integrada.

- Eu não vim aqui para dar entrevista, mas posso dizer que começamos essas ações (preventivas) no ano passado. Há quatro ou cinco meses os ministérios da Integração Nacional e da Ciência e Tecnologia vêm trabalhando na prevenção. A presidente determinou que todos os ministérios que têm relação com áreas de risco trabalhem de forma integrada. Evitar mortes é nossa prioridade número um - disse Gleisi.

O ministro da Defesa em exercício, general Enzo Peri, disse que os militares estão atuando em várias frentes, como a remoção de desalojados e desabrigados e a instalação de uma ponte móvel em Guidoval (MG). Peri colocou à disposição do governo, se necessária, a estrutura de um hospital de campanha da Aeronáutica.

FONTE: O GLOBO

Ministro diz ainda ter apoio de Dilma

Bezerra deve prestar esclarecimentos em comissão do Congresso amanhã

Chico de Gois, Evandro Éboli

BRASÍLIA. O ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra, tentou ontem encerrar a polêmica sobre sua atuação à frente da pasta. Ele é acusado de privilegiar seu estado, Pernambuco, com mais verbas para prevenção de catástrofes, em relação a outras unidades da federação. Após conversa com a presidente Dilma Rousseff, disse que continua com apoio dela.

O Ministério da Integração distribuiu ontem três notas contestando as denúncias. Mais cedo, Bezerra entrou em contato com o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), a quem pediu para prestar esclarecimentos na comissão representativa do Congresso, que pode se reunir durante o recesso. Ele deve depor amanhã.

Em entrevista no Palácio do Planalto, após se reunir com Dilma, Bezerra parecia à vontade. Agiu como mestre de cerimônias, chamando os colegas para falar, embora seja a Casa Civil a responsável pelas ações integradas. Sobre as acusações de benefício político, disse que as explicações já foram dadas:

- Houve uma boa e longa conversa com a presidente. Ela já recebeu todas as informações. O Ministério do Planejamento já se manifestou sobre os recursos, e a Controladoria Geral da União também já se manifestou sobre a direção na Codevasf. Todos os pontos levantados já foram devidamente respondidos.

E disse ter o apoio de Dilma:

- Se não contasse com a confiança e o apoio da presidente, não estaria nesta solenidade - disse, ao lado de outros ministros, como Aloizio Mercadante (Ciência e Tecnologia) e Gleisi Hoffmann (Casa Civil).

FONTE: O GLOBO

Pelo apoio do PSB, Dilma blinda Bezerra

Presidente escala o ministro para falar da força-tarefa no caso das chuvas. Bezerra Coelho diz contar com a confiança da presidente

Agência Estado

BRASÍLIA – A presidente Dilma Rousseff decidiu blindar o ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra Coelho, e escalou o auxiliar como porta-voz da reunião realizada ontem, no Palácio do Planalto, para criar uma força-tarefa que atuará em áreas de risco de Estados afetados pelas chuvas. Dilma avaliou como “inconsistentes” as denúncias que apareceram até agora contra Bezerra e não quer comprar briga com o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), padrinho do ministro.

Ao voltar a despachar ontem no Planalto, após as férias de fim de ano, a presidente fez questão de demonstrar que Bezerra continua tendo a sua confiança. “Se eu não contasse com a confiança e apoio dela, não estaria aqui”, disse o ministro aos jornalistas, após apresentar as diretrizes traçadas pelo governo para definir providências diante das fortes chuvas que castigam o Sudeste.

“Houve uma boa e longa conversa com a presidente. Ela já recebeu todas as informações. Estou tranquilo porque nenhuma dessas denúncias irá prosperar. Nunca prosperou uma denúncia em relação à minha pessoa e nunca tive uma conta rejeitada. O Tribunal de Contas aprovou todas as minhas contas”, afirmou o ministro.

Sob intenso fogo cruzado, Bezerra enfrenta uma série de acusações que vão de nepotismo a uso indevido de dinheiro público quando era prefeito de Petrolina, em Pernambuco. Na semana passada, o jornal O Estado de S. Paulo revelou que 90% das verbas do Ministério da Integração Nacional para obras contra desastres naturais foram destinadas a Pernambuco, Estado natal e celeiro de votos de Bezerra.

Dilma orientou o ministro a dar explicações públicas sobre as denúncias e acionou aliados para que saiam em sua defesa. Na quinta, Bezerra prestará esclarecimentos a uma “comissão representativa” do Congresso Nacional (ver matéria nesta página), chamada assim por causa do recesso parlamentar.

Questionado ontem se ainda pretende concorrer em outubro à Prefeitura de Recife pelo PSB, Bezerra desconversou. “Eu te respondo isso na quarta-feira (amanhã)”, disse ele, embora a sua ida ao Congresso só deva ocorrer na quinta. Na prática, a pré-candidatura de Bezerra não passa de uma estratégia de Eduardo Campos para forçar o PT a se entender na capital pernambucana, compondo com os socialistas.

Denúncia

Na semana passada, o ministro foi o alvo preferido das cotoveladas petistas. “Acho que a Defesa Civil tem de ser tratada como política nacional. Não pode ficar subordinada a interesses político-partidários aqui e acolá”, afirmou o deputado André Vargas (PR), secretário de Comunicação do PT. Para ele, faltou “republicanismo” na distribuição de verbas da Integração Nacional.

Aliado de Dilma e amigo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o governador de Pernambuco reagiu com irritação às estocadas de Vargas. Diante do impasse, o presidente do PT, Rui Falcão, divulgou nota dizendo que as relações entre os dois partidos são “as melhores possíveis”.

FONTE: JORNAL DO COMMERCIO (PE)

'Quem não deve não teme', diz Eduardo

Cláudia Vasconcelos

A confiança em que a presidente Dilma Rousseff não “quer briga” com o PSB deixa tranquilo o governador Eduardo Campos quanto ao caso do ministro Fernando Bezerra Coelho. Por isso, para o governador, que preside nacionalmente o partido, bezerra deve, sim, ir ao Congresso Nacional rebater as acusações de que vem sendo alvo desde a semana passada. “É um gesto político. Quem não deve não teme”, avaliou.

Ao sair da reunião que teve no início da tarde de ontem com a presidente da República, Fernando Bezerra Coelho logo telefonou para Eduardo Campos. O gesto de Dilma, que delegou ao ministro pernambucano a tarefa de comandar a entrevista coletiva realizada após a reunião, deixou o governador ainda mais convicto de que a crise não abala as relações entre PSB e PT no plano nacional.

A avaliação do Palácio do Campo das Princesas é que o apoio da presidência só contribui para reforçar o posicionamento de governadores de Estados afetados pelas chuvas, que defenderam Bezerra das denúncias de favorecimento de Pernambuco na distribuição de verbas do ministério para prevenção de desastres naturais.

Entretanto há quem pondere, entre os governistas, que a ida do ministro ao Congresso na quinta-feira é uma manobra de risco. Ele poderia se expor a um desgaste desnecessário, uma vez que os congressistas estão em recesso.

Um palaciano ressaltou que o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel (PT), passou por questionamentos éticos mais duros e nem por isso cedeu à pressão do Congresso. Bezerra, que não teria “feito nada de errado”, não teria razão para dar mais explicações que as já divulgadas, consideradas satisfatórias.

FONTE: JORNAL DO COMMERCIO (PE)

Ministro recebe apoio de Dilma

Presidente considera inconsistentes denúncias contra Bezerra e decide prestigiar titular da Integração

Foco da primeira crise do governo federal em 2012, o ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra Coelho, disse que teve uma "boa e longa conversa" com a presidente Dilma Rousseff e que recebeu o apoio dela para manter-se no cargo. Na quinta-feira, o ministro deverá comparecer a audiência no Congresso para explicar supostas irregularidades.

Ao decidir blindar Bezerra, Dilma escalou o ministro como porta-voz da reunião realizada ontem, no Palácio do Planalto, para criar uma força-tarefa que atuará em áreas de risco de Estados afetados pelas chuvas. Dilma avaliou como inconsistentes as denúncias que apareceram até agora contra Bezerra e não quer comprar briga com o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), padrinho do ministro.

Ao voltar a despachar ontem no Planalto, após as férias, a presidente fez questão de demonstrar que Bezerra continua tendo a sua confiança.

– Se não contasse com a confiança e o apoio da presidenta Dilma eu não estaria nessa solenidade – afirmou o ministro durante entrevista coletiva.

Bezerra está envolvido em suspeitas de favorecimento ao seu Estado, Pernambuco, e também ao seu filho, o deputado federal Fernando Coelho (PSB-PE), que teve todas as emendas destinadas à pasta liberadas. Ele responde ainda sobre suspeitas de irregularidades cometidas em Petrolina. Reportagem do jornal Folha de S.Paulo de ontem revelou que o ministro utilizou recursos públicos para comprar um mesmo terreno duas vezes, quando era prefeito da cidade.

Em nota, Bezerra negou ter havido irregularidade. Segundo ele, um equívoco levou a prefeitura a comprar pela segunda vez o mesmo imóvel. A primeira aquisição do terreno, em 1996, não foi registrada em cartório pelo governo subsequente. A área serviria para abrigar um aterro sanitário.

– Estamos tranquilos que nenhuma dessas denúncias irá prosperar, porque nunca prosperou uma denúncia em relação a minha pessoa e nunca tive nenhuma conta rejeitada em toda minha vida pública – disse Bezerra.

As suspeitas

Os integrantes da comissão representativa do Congresso querem explicações do ministro sobre três questões:

- A transferência para seu Estado, Pernambuco, de 90% dos recursos da sua pasta destinados a evitar os estragos provocados pelas enchentes

- A denúncia de que burlou a Lei do Nepotismo, ao manter seu irmão Clementino Coelho na presidência interina de uma estatal por quase um ano

- O suposto favorecimento de seu filho, deputado Fernando Coelho Filho (PSB-PE), na distribuição de recursos do ministério para emendas parlamentares

FONTE: ZERO HORA (RS)

Petistas rejeitam oferta de Kassab a Lula

Aliados de Haddad afirmam que PT não deve ceder vice a prefeito, que propôs coligação a ex-presidente em SP

Para vereador, acordo com PSD seria "traição"; dirigente tenta esfriar polêmica para preservar acordos fora da capital

Bernardo Mello Franco, Catia Seabra

SÃO PAULO, BRASÍLIA - Petistas reagiram ontem com irritação à proposta de aliança feita ao ex-presidente Lula pelo prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (PSD).

Ele sugeriu a Lula escolher um político de seu partido para vice na chapa de Fernando Haddad (PT) à prefeitura.

A oferta gerou uma onda de protestos na bancada petista na Câmara Municipal.

"Não há possibilidade de negociar com Kassab. Nossos projetos são antagônicos. Seria uma traição à base eleitoral do PT", disse o vereador petista Chico Macena. "Isso é desespero para pegar carona na popularidade de Lula."

O líder do PT na Câmara, Italo Cardoso, disse que seria "muito difícil" justificar uma aliança com o prefeito depois de seis anos de embates.

"Temos que fazer uma campanha de oposição. Não podemos fingir que concordamos com tudo o que Kassab fez nos últimos anos."

O ex-ministro José Dirceu também criticou o flerte em seu blog: "É um retrato do isolamento e da confusão em que vive a oposição tucana e seus atuais e ex-aliados."

O tom dos ataques ao prefeito preocupou o presidente estadual do PT, Edinho Silva, que negocia alianças com o PSD em outros municípios paulistas. Ele tentou esfriar a polêmica para preservar os acordos fora da capital.

"Não podemos cometer o erro de abrir uma crise por uma proposta que não foi formalizada. Nossas conversas com o PSD nunca envolveram a capital", disse o dirigente.

Em conversas reservadas, dois pré-candidatos do PSDB disseram ver o gesto de Kassab como tentativa de pressionar a sigla a abrir mão de uma chapa própria e apoiar Afif Domingos (PSD), preferido do prefeito à sua sucessão.

O presidente municipal do PSDB, Julio Semeghini, se declarou surpreso com o aliado. "Estamos trabalhando por uma candidatura única com o PSD e queremos contar com Kassab na campanha", disse.

O prefeito cobra uma resposta antes das prévias tucanas, marcadas para março.

Aliada de Kassab, a prefeita de Ribeirão Preto, Dárcy Vera (PSD), afirmou que a "indefinição" e a "soberba" do PSDB aproximam seu partido dos petistas na capital.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Apesar de aceno ao PT, prefeito segue tentando acordo com tucanos

Evandro Spinelli

SÃO PAULO = Gilberto Kassab (PSD) tem uma meta: ter o quadro eleitoral para sua sucessão na Prefeitura de São Paulo definido até o Carnaval.

O que ele quer é o apoio do PSDB ao vice-governador Afif Domingos (PSD).

O prefeito espera que os tucanos definam até o final deste mês se abrirão mão da candidatura própria em troca de indicar o vice de Afif.

Nesse caso, Kassab assume desde já apoio à reeleição do governador Geraldo Alckmin (PSDB) em 2014.

A segunda opção seria a candidatura do ex-governador José Serra (PSDB) com um quadro do PSD na vice.

Kassab não vê hipótese de aliança PSD-PSDB se não for com Afif ou Serra na cabeça de chapa. Sem a aliança, acredita, o petista Fernando Haddad seria eleito.

Na falta da aliança, ganham força nomes do PSD, como o secretário de Educação, Alexandre Schneider.

Henrique Meirelles, ex-presidente do Banco Central, também tem chance.

O movimento público de Kassab de oferecer a Lula um vice do PSD pretende agilizar a decisão do PSDB. Mas também é uma hipótese concreta que lhe serve de carta na manga.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Um pacote para salvar o ministro

Fernando Bezerra e o Planalto traçam estratégia de defesa contra as denúncias de favorecimento. Plano inclui o depoimento relâmpago ao Congresso e o anúncio de medidas de combate às tragédias provocadas pelo clima

Juliana Braga, Paulo de Tarso Lyra

Acuado há uma semana com denúncias de privilégios para sua base eleitoral em Petrolina, Pernambuco, e para seus familiares espalhados na máquina pública federal, o ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra, decidiu antecipar sua ida ao Congresso Nacional em pleno recesso para prestar esclarecimentos. A decisão faz parte de uma estratégia de defesa acordada com o Palácio do Planalto, que incluiu a edição de um pacote de medidas contra as tragédias provocadas pelas chuvas. Ontem, pelo menos 12 pessoas morreram, agravando a situação provocada pelo clima no Sudeste

Seguindo o script do Planalto, Bezerra telefonou ontem mesmo para o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), e solicitou que fosse convocado para se apresentar na Comissão Representativa do Congresso amanhã, seguindo a estratégia de explicar-se para um Legislativo esvaziado pelo recesso de janeiro — apenas 17 deputados e sete senadores.

Nos bastidores, tanto ele quanto o PSB apostam no esvaziamento da crise política até o início do ano legislativo, em fevereiro. Sob holofotes, no entanto, ele disse acreditar que o depoimento em pleno recesso não facilita sua defesa. "Eu creio até que é mais difícil a blindagem nessas circunstâncias", defendeu. Ele adiantou, após reunião com a presidente Dilma Rousseff e outros ministros para tratar das enchentes no país, que pretende "tirar qualquer dúvida em relação à gestão dos recursos da Defesa Civil".

Como o Correio mostrou na última semana, Bezerra usou o cargo para beneficiar familiares em Pernambuco. Ele e o irmão Clementino de Souza Coelho, presidente interino da Codevasf, intermediaram a licitação para a compra de cisternas de plástico da empresa Acqualimp, a serem distribuídas no sertão brasileiro. O custo de instalação do produto é duas vezes e meia maior do que o das cisternas de concreto.

Além disso, a Acqualimp acertou a instalação de uma fábrica em Petrolina, município no qual o filho do ministro, Fernando Coelho Filho, será candidato a prefeito em outubro. No mesmo dia em que a matéria foi publicada, a Casa Civil divulgou nota confirmando o nome de Guilherme Gonçalves Almeida como novo presidente da Codevasf, em substituição a Clementino.

Bezerra passou o fim de semana em Pernambuco e conversou diversas vezes, por telefone, com o governador do estado, Eduardo Campos. Desde o início da crise, tem cabido a Eduardo — que também é presidente do PSB — dar o tom das declarações do ministro. Foi o governador quem primeiro avisou que as obras das barragens na Bacia do Una foram feitas "com o conhecimento pleno da presidente Dilma". Na quarta-feira, em entrevista coletiva no ministério, Bezerra repetiu a estratégia de defesa. Outra ação combinada é tentar desqualificar as denúncias relacionando as acusações à disputa eleitoral pelas prefeituras.

Força-tarefa

No Planalto, a estratégia até o momento é mostrar que o titular da Integração Nacional não está ameaçado de demissão. Como parte dessa estratégia de fortalecimento, ele foi escalado para anunciar o pacote de medidas elaborado pelo governo para o enfrentamento das chuvas. Após duas horas e meia de reunião com a presidente Dilma Rousseff e com os ministros dos Transportes, Paulo Passos; da Casa Civil, Gleisi Hoffmann; da Saúde, Alexandre Padilha; da Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante; e o interino da Defesa, Enzo Peri, coube a Bezerra anunciar as principais medidas decididas pelo governo federal.

Confiante, o titular da Integração Nacional garantiu que conta com o "apoio e confiança" da presidente Dilma Rousseff para continuar no cargo. "Se eu não contasse com a confiança e o apoio da presidenta Dilma, não estaria nessta solenidade", completou. Ele afirmou que teve uma "uma longa e boa conversa" com a presidente e que ela já havia recebido todas as informações sobre as denúncias. "O Ministério do Planejamento já se manifestou em relação aos recursos da Defesa Civil, a CGU já se manifestou em relação à situação da direção da Codevasf. Portanto, todos os pontos levantados já foram devidamente respondidos", sustentou.

Bezerra está confiante de que as denúncias não vão ter maiores consequências. "Nós estamos tranquilos, nenhuma dessas denúncias irá prosperar, porque nunca prosperou nenhuma denúncia contra minha pessoa. E eu nunca tive nenhuma conta rejeitada em toda minha vida pública", enfatizou.

FONTE: CORREIO BRAZILIENSE

Elis Regina - Atras da Porta

AL sem Brasil:: Merval Pereira

Apesar de ter uma viagem marcada para o Brasil durante a campanha presidencial, quem tiver curiosidade de saber a opinião de Mitt Romney sobre o país não terá nenhuma pista no principal documento divulgado até agora sobre a estratégia de política externa do mais provável candidato republicano à presidência dos Estados Unidos.

Intitulado "Um Século americano - Uma estratégia para garantir os interesses e ideais permanentes americanos", quando aborda a América Latina, não tem uma referência sequer ao Brasil. Mas tem muitos pontos que certamente entrarão em choque com a posição do governo brasileiro.

O documento anuncia que o governo de Mitt Romney terá "um papel ativo na América Latina, apoiando aliados democráticos e relacionamentos baseados em economia de mercado, contendo forças internas desestabilizadoras como gangues criminais e terroristas, e se opondo a influências externas desestabilizadoras como o Irã".

O ponto mais importante do documento é o anúncio de que nos primeiros cem dias o novo governo republicano lançará "uma vigorosa promoção pública de diplomacia e comércio", denominada Campanha para Oportunidade Econômica na América Latina, Ceola em inglês, sigla que aparentemente pretende substituir a Alca.

O propósito seria ressaltar "as virtudes da democracia e do livre comércio", seguindo a linha dos acordos em vigor ou prestes a serem aprovados pelo Congresso com países da região como Panamá, Colômbia, Chile, México, Peru, e os membros do acordo de livre comércio da América Central.

O eventual governo Romney tentará usar o programa para contrastar os benefícios da livre iniciativa e o modelo de autoritarismo socialista oferecido por Cuba e Venezuela, que são, na verdade, as grandes preocupações na região.

Na visão de Romney, "décadas de notável progresso na América Latina baseado na segurança, democracia e crescente laços econômicos com a América estão atualmente sob ameaça".

Venezuela e Cuba estariam liderando "uma virulenta campanha antiamericana" num movimento "bolivariano" por meio da América Latina com a intenção de sabotar instituições de governança democrática e oportunidades econômicas.

Esse "movimento bolivariano", segundo o documento, ameaça aliados dos Estados Unidos como a Colômbia, interfere na cooperação regional para o combate às drogas e em ações de contraterrorismo, tem fornecido proteção para traficantes de drogas e encorajado organizações terroristas regionais, além de ter convidado o Irã e organizações terroristas estrangeiras como o Hezbollah.

O documento destaca também o que chama de "epidemia de violência de gangues criminais e cartéis da droga" que leva a morte ao México e diversos países da América Central e Caribe.

A proposta de Mitt Romney é juntar as iniciativas de combate às drogas e ao terrorismo para criar a Força Tarefa Hemisférica para Crime e Terrorismo, com o objetivo de coordenar as ações de inteligência e repressão entre os aliados regionais.

No plano mais geral, o documento adverte que quem assumir a presidência em 2013 terá pela frente uma série de "ameaças e oportunidades".

O papel de "países poderosos" como China e Rússia pode levar à valorização do sucesso econômico, reforçando a importância de um sistema construído à base da liberdade econômica e política.

Mas pode também, adverte o documento de Romney, ameaçar tal sistema pelo autoritarismo característico desses países, que já estaria colocando em perigo a segurança internacional.

O documento chama a atenção para o surgimento de atores relativamente novos na cena global, como os grupos terroristas transnacionais.

Os grupos islâmicos radicais são apontados pelo documento como "um perigo onipresente" para os Estados Unidos, apesar das vitórias obtidas nos últimos anos no combate ao terrorismo.

Mitt Romney utiliza-se do documento das "armas de destruição em massa" para chamar a atenção para os perigos de elas caírem "em mãos erradas".

A região que vai do Paquistão à Líbia, envolta em "profunda turbulência", tem uma importância geoestratégica que não pode ser menosprezada: "É o primeiro ponto para a proliferação nuclear", ressalta o documento, um constante risco de uma "guerra catastrófica" que poderia colocar a economia mundial no caos.

A política externa de Mitt Romney se preocupa com "países fracos demais para se defender sozinhos" e também com "países falidos ou em falência", como Somália, Yemen, Afeganistão e Paquistão, "e num grau alarmante, nosso vizinho México".

Esses são países com "governança fraca, tomados pela pobreza, doenças, refugiados, drogas e crime organizado", que são ou podem vir a ser lugares seguros para terroristas, piratas e outros tipos de redes criminosas.

Romney retoma também a expressão "Estados bandidos" muito utilizada no governo de George W. Bush, para definir Irã, Coreia do Norte, Venezuela e Cuba, que têm "interesses e valores diametralmente opostos aos nossos" e colocam a segurança internacional em perigo, especialmente nos casos da Coreia do Norte e do Irã, que buscam obter armas nucleares.

O professor de estudos estratégicos da Universidade Johns Hopkins Eliot Cohen, conselheiro especial do governador Romney, descreve no prefácio do livro quais são os objetivos que movem a sua candidatura: a tese do mundo multipolar, onde o poder de influência dos Estados Unidos seria decrescente, seria "falaciosa e perigosa".

"Os Estados Unidos não podem retirar-se dos problemas mundiais sem provocar perigo para si mesmo e para os outros. (?) Queiramos ou não, nossos valores, nossas políticas e nosso exemplo importam a todos os que valorizam a liberdade".

FONTE: O GLOBO

Efeito efêmero:: Dora Kramer

A eleição de um número significativo de prefeitos este ano é importante para os partidos, disso ninguém tem dúvida e nisso apostam as legendas ao investir no crescimento com vista à eleição de presidente, governadores, deputados e senadores em 2014.

Mas, cresce entre os políticos a percepção de que o efeito de uma vitória substancial agora não significa necessariamente que as estruturas municipais lhes garantirão uma colheita de votos tão boa quanto, daqui a dois anos.

Isso porque os partidos vêm notando que os prefeitos já não são indutores de voto - principalmente o majoritário - como foram em outras épocas. Perdem relevância eleitoral.

E por vários motivos: o primeiro é que nas grandes e médias cidades o eleitor forma sua opinião independentemente da posição política do chefe do Poder Executivo local, com base nas informações dos meios de comunicação e, não raro, na conjuntura nacional.

Nesses casos o mais comum é ocorrer o oposto: o prefeito é quem embarca na tendência da maioria e se deixa conduzir por ela.

Outro fator é a mudança de posição, ou mesmo de partido, do prefeito que, aliado a um determinado grupo na eleição, muitas vezes se transfere com a máquina municipal para outra ala que lhe pareça mais forte, politicamente vantajosa, alegam as famosas razões de governabilidade e um abraço.

O aliado de hoje pode ficar a ver navios no meio do caminho e aquela vitória se transforma numa derrota.

Há que se levar em conta também o desgaste do eleito durante o mandato, que pode fazer do vitorioso um estorvo dois anos depois se nesse período tiver, por exemplo, aumentado muito a sua rejeição entre o eleitorado.

Isso não quer dizer que a eleição de prefeitos seja irrelevante para os partidos. É muito importante para marcarem posições, para formar "torcida" no processo de disputa, para serem vistos no palanque (eletrônico), para mostrarem força e, quando bem-sucedidos, serem apontados no dia seguinte pela imprensa como vitoriosos.

O efeito, porém, é efêmero. À exceção dos chamados grotões, onde o chefe político ainda é uma figura de influência determinante, nas grandes e médias a vitória ou a derrota nos municípios não são agentes definidores do desempenho estadual, muito menos nacional no futuro.

A tese não tem (ainda) comprovação, digamos, científica. A não ser um dado: o PMDB é o partido com o maior número de prefeitos - cerca de 1.300 - e, no entanto, não é competitivo no âmbito nacional.

Trata-se, isso sim, de um sentimento forte entre políticos que, naturalmente, não andam por aí a propagar a irrelevância eleitoral dos prefeitos.

Até porque eles têm, sim, a sua influência: na eleição proporcional, no domínio da máquina pública e sua repercussão na obtenção de recursos para as campanhas e são eles também que organizam as visitas dos candidatos às cidades e mobilizam gente para recepcioná-los nos aeroportos.

Perceba o leitor que são todos fatores relacionados com a eleição em curso. Não guardam relação de causa e efeito com o pleito seguinte.

Margem de manobra. Por enquanto vale o que tem afirmado o vice-presidente Michel Temer: Gabriel Chalita manterá a candidatura a prefeito de São Paulo.

Mas há quem diga no PMDB que é melhor esperar um pouco antes de apostar que essa seja a última forma.

Indefensável. O governador Eduardo Campos organizou ativa contraofensiva em defesa do ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra Coelho, na questão da liberação de recursos antienchentes para Pernambuco. Tem sido bem-sucedido.

Só não conseguiu ainda demonstrar que Bezerra agiu corretamente ao liberar 100% das emendas do filho deputado federal, concentrar repasses em Petrolina (tradicional reduto da família) e manter por um ano o irmão (Clementino) na presidência da Codevasf - estatal subordinada ao ministério -, burlando a proibição da prática de nepotismo na administração pública.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Uma tragédia anunciada:: Eliane Cantanhêde

Sabe aquela história do "é melhor prevenir do que remediar"? Não parece ser o forte do governo federal, seja com FHC, com Lula ou agora com Dilma.

Todos os anos terminam sob a expectativa de chuvas fortes, desabamentos ou tragédias, que não sempre, mas geralmente, atingem o lado mais fraco da sociedade. E não há prevenção, planejamento.

Outubro se vai, vem novembro, chega dezembro, janeiro cai na nossa cabeça e, aí sim, presidente, ministros, governadores, prefeitos, todos são obrigados a interromper férias ou folgas e voltar correndo para seus gabinetes, tentando remediar o que não foi prevenido.

Costuma ser tarde demais, além de sair muito mais caro.

O governo da "gerentona" não foge à regra, apesar de Dilma ter sido chefe da Casa Civil durante tragédias anteriores e ter mesmo visitado áreas dramaticamente alagadas no ano passado, já como presidente.

Ano após ano, a história se repete, com o mesmo corre-corre, e os que não preveniram não apenas correm atrás do prejuízo como ficam matutando como reduzir os danos políticos e ainda tirar alguma casquinha.

Foi assim que uma penca de ministros se reuniu no domingo à noite e foi ontem ao Planalto levar propostas para Dilma, que despachou especialistas para Minas, quilos de medicamentos para o Espírito Santo, aviões da FAB por aí, o comandante do Exército não sei para onde.

Subitamente, verbas não faltam. E sobem a cada novo deslizamento, a cada família desabrigada, a cada morto registrado nas telas de TV. Crie-se uma força tarefa! Antecipe-se o Bolsa Família! Abra-se o FGTS! Flexibilize-se o Orçamento! Aja-se imediatamente diante das câmeras!

Até o próximo ano, a próxima tragédia, a próxima vítima, os próximos desvios criminosos dos recursos para as cidades e as populações atingidas. É uma tragédia anunciada, entra ano, sai ano; entra década, sai década.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Aumenta pressão para definições em SP:: Raymundo Costa

É mais fácil o PSD fazer "algum" tipo de aliança com o PT na eleição para prefeito de São Paulo, em outubro, do que entrar no governo da presidente Dilma Rousseff, na reforma ministerial prevista para depois do dia 15. Mais que uma espécie de "último aviso" ao PSDB, a conversa que o prefeito Gilberto Kassab teve com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva retrata o pragmatismo do ideólogo do partido que "não é de centro, nem de esquerda e nem de direita.

Lula e Kassab conversaram sobre o ofício de ambos: política. Mas o prefeito parece sincero quando afirma que nada foi amarrado formalmente durante a visita que ele fez a Lula no hospital Sírio-Libanês, onde o ex-presidente faz tratamento de um câncer na laringe. Mas há muita conversa informal no ar.

A evolução de Kassab em direção aos principais críticos de sua gestão tem uma lógica e é vista com naturalidade no PSD. A rejeição, um muro quase intransponível está no PT e também faz sentido lógica: uma aliança formal ou informal com o PSD expõe o discurso petista contrário ao governo tucano-kassabista de São Paulo nos últimos oito anos. O PT entraria sem uma bandeira forte na eleição.

Se vê lógica na aliança com o PT, o PSD toma o cuidado de ressaltar que a tendência, a prioridade e o esforço do partido ainda é o entendimento com o PSDB em torno das candidaturas de José Serra ou do vice-governador Guilherme Afif Domingos.

Até agora a história do PSD tem seguido rigorosamente o enredo escrito na sua criação.

O partido teve a ajuda do PT e de Lula em sua formação, mas entre seus fundadores há políticos que apoiaram tanto Serra como Dilma Rousseff, nas eleições presidenciais de 2010. Boa parte deles aderiu sob a condição de que o PSD ficaria numa posição de independência em relação ao governo federal.

Até 2014, prevê o enredo, o PSD será independente, de modo que, ao final desse período, possa apoiar a reeleição da presidente Dilma, a eventual volta de Lula ou até trilhar outro caminho, sendo a oposição o menos provável deles. O projeto é que nenhuma porta esteja fechada na sucessão presidencial de 2014.

O PSD é um "partido independente" cuja tendência é caminhar sempre com o governo. Uma proximidade que faz com que o partido esteja permanentemente muito mais próximo do que distante do poder central. Por outro lado, integrar o ministério significa o alinhamento compulsório com o governo, o que é incompatível com os compromissos assumidos na constituição da sigla.

Se Dilma convidar alguém do PSD, o que não é esperado no partido, o enredo diz que o filiado poderá até assumir, desde que em caráter pessoal. Se for alguém dos órgãos de direção partidária, no limite, pode até ser desfiliado. São autônomos movimentos feitos no Congresso em favor de candidaturas do PSD a ministro.

A situação é diferente em relação à disputa pela Prefeitura de São Paulo.

Eventual aliança nas eleições é vista sem o desconforto que o assunto causa no PT. Ao contrário, é avaliada como algo que não é nenhum absurdo nem foge à naturalidade política. Mas essa negociação, hoje, de fato não existe em termos formais.

O enredo eleitoral do PSD é cartesiano.

Há alguns meses o partido estabeleceu a posição de que tentaria disputar a eleição para a prefeitura tendo como candidato um dos seguintes nomes: Serra, Afif, o senador Aloysio Nunes Ferreira e os secretários Francisco Luna e Eduardo Jorge. Os secretários foram os primeiros a cair fora: Eduardo Jorge disse que, definitivamente, não estava interessado, e Luna não se filiou a um partido. Sobraram três nomes, mas o senador Nunes Ferreira não mudou o domicílio eleitoral de Rio Preto para São Paulo, no prazo determinado pela legislação, e também saiu da lista.

Agora restam Serra, que diz não querer, e Afif como candidatos para a reedição do texto tucano-kassabista em São Paulo. Se nenhum dos dois nomes vingar, o PSD vislumbra dois outros cenários, ambos sem o PSDB. O primeiro deles é o da candidatura própria, o que só deve ser analisado seriamente se o PSD conseguir tempo de televisão na Justiça Eleitoral. Os nomes em consideração são o próprio Afif, o ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles e o secretário municipal de Educação, Alexandre Schneider.

Se entender que a candidatura própria não é viável, o PSD e Kassab veem sem estranheza o entendimento com o PT. Até porque há conversas eleitorais em curso, entre os dois partidos, no país inteiro. Exemplos: Rio Grande do Norte, Bahia, Sergipe e Rio de Janeiro.

Kassab também não vê incoerência no movimento. Não deve surpreender ninguém, portanto, se o prefeito começar a elogiar adversários ferrenhos da ideia, como o presidente nacional do PT, Rui Falcão, e a senadora Marta Suplicy. Em conversas privadas o prefeito costuma dizer que o PSD é reconhecido a Rui Falcão - algoz público de sua gestão -, pois, à época da formação do partido, o presidente do PT o visitou em casa para desejar sorte e dizer que estava torcendo para que o PSD desse certo e estivesse próximo do governo para ajudar a Dilma a fazer um bom mandato.

"Ele foi muito elegante", comentou Kassab à época. O PSD também registrou o comparecimento do presidente do PT à convenção de lançamento do partido, ano passado. "O Rui ficou com muitos créditos, existe um reconhecimento do partido", comentaria Kassab, em seguida. Houve ainda, nesse período, o Congresso Nacional do PT, cuja resolução final evitou as críticas ao PSD anotadas nas versões preliminares. O discurso do pessedismo em São Paulo também começa a ser mais afável em relação à senadora Marta Suplicy, cuja candidatura foi preterida no PT pela do ministro Fernando Haddad (Educação).

Cutucar os tucanos com vara curta ou instinto de sobrevivência de quem teme ficar isolado, o fato é que, no momento em que outras hipóteses não existirem mais ou se enfraquecerem, não será nenhuma heresia se o PSD chegar à conclusão de que vale a pena a tentativa de "algum" entendimento com o PT. Kassab não é de centro, nem de esquerda ou de direita. É pragmático.

FONTE: VALOR ECONÔMICO

Andar, conviver e dormir:: Soninha Francine

Quando a população torra seis horas por dia se deslocando, fazer obras na periferia não basta; é necessário trazer as pessoas para perto do trabalho

Para chegar ao serviço às 8h, ela sai de casa às 4h -e não estará de volta antes das 20h ou das 21h.

Uma população de milhões de pessoas torra seis horas ou mais por dia em deslocamentos. É quase um dia de trabalho.

Assim, estudar, fazer atividade física, comer com calma, conversar com os filhos, ajudá-los na lição de casa, frequentar equipamentos culturais, criar laços de amizade com a vizinhança e todas as outras recomendações para uma vida saudável e equilibrada caem no ridículo.

Segundo pesquisa do Instituto AGP, dois terços dos paulistanos sequer dormem o mínimo necessário para se recompor de tão dura jornada e ter energia para a próxima. Como esperar deles disposição para a convivência pacífica e solidária? Pense no seu mau humor depois de uma noite mal dormida. Multiplique por "todas".

Idas e vindas são tão penosas por duas razões. Uma é suficientemente amaldiçoada: o congestionamento. A outra ainda não é tão considerada: as imensas distâncias entre as casas e o trabalho, causadas principalmente pelo desequilíbrio na ocupação do espaço urbano.

Onde há muita atividade econômica -ou seja, postos de trabalho na indústria, no comércio e no setor de serviços-, mora pouca gente. Onde a população incha (como na periferia da capital e nos municípios vizinhos), os empregos são escassos. A escandalosa desigualdade na oferta de serviços públicos e de infraestrutura urbana dispensa maiores comentários.

A solução proposta costuma ser tratar o sintoma: mais creches na periferia, por exemplo. Mas jamais teremos estrutura suficiente para crianças de quem a mãe se despede antes das 4h. É esse o mundo que queremos, com crianças sob cuidados profissionais por 13 horas?

Essa multidão que dorme na cidade B e tem de vir todo dia para a cidade A sabe que um sinônimo para insustentável é insuportável.

São Paulo pode ter uma boa nota naqueles testes antigos de QI, mas hoje se admite que não adianta ter bom desempenho intelectual e ser fraco em equilíbrio emocional e em capacidade de manter relacionamentos sãos.

Se até tecidos podem ser "inteligentes", uma cidade tem de ser. Ela deve aproveitar melhor o que já tem, não desperdiçar energia (começando pela das pessoas), dispor da tecnologia para cruzar informações e incentivar a criação de empregos conforme a necessidade, vocação e os recursos de cada lugar.

Tem também de olhar para um imóvel com o discernimento de um empreendedor e o interesse pelo conjunto da sociedade, assegurando o melhor uso possível.

Isso significa erguer um prédio para pessoas de menor poder aquisitivo no lugar de um estacionamento no centro, em vez de fazê-lo na casa do chapéu e deixar a região central só para o mercado de apartamentos de alto padrão.

Com mais gente morando perto do trabalho, há mais tempo para lazer, estudo, esporte, cultura, convivência, repouso. Com menos deslocamentos, há menos consumo de combustível, barulho e poluição. E mais espaço, mais gente a pé se conhecendo e se encontrando, mais saúde física e mental, maior possibilidade de bem estar.

Porque cidade inteligente é cidade feliz. Se as pessoas estão exaustas e não são felizes, de que adianta o resto?

Soninha Francine, 44, tem formação em magistério e em comunicação social. Foi vereadora em São Paulo (2005-2008) e subprefeita da Lapa. Atualmente dirige a Superintendência do Trabalho Artesanal nas Comunidades

FONTE FOLHA DE S. PAULO

A "Grande Recessão":: Yoshiaki Nakano

A crise financeira do subprime e o colapso do sistema financeiro com a quebra do Lehman Brothers desencadeou a chamada "Grande Recessão". Mas ela é um fenômeno distinto da crise financeira em si. Com a crescente incerteza, as economias dos países centrais saem da normalidade e passam a ser regidas por comportamentos induzidos pela incerteza, medo, pânico etc., nos quais prevalecem a lógica da desalavancagem, da "balance sheet recession" e da demanda de ativos com sinais trocados gerando instabilidades nesses mercados. Como entender o que acontecerá como a economia global nesse contexto? A experiência histórica similar, a "Grande Depressão de 1890", a "Grande Depressão de 1930" e a crise japonesa dos anos 90, nos permite fazer analogias e algumas conjecturas sobre o que acontecerá nos próximos anos.

A atual "Grande Recessão" não deverá ser tão profunda quanto a "Grande Depressão de 1929 a 1939", afinal aprendemos alguma coisa com ela, mas será tão abrangente e duradoura quanto e deverá ter significado histórico similar ao da "Grande Depressão do final do século XIX.

Será abrangente no sentido de ser uma crise global, diferentemente da crise japonesa, ou seja, é uma crise do próprio processo de integração e globalização financeira promovido pela plutocracia financeira que vem exercendo poder, tanto nos Estados Unidos como na Europa (talvez nem tanto na Alemanha). A "Grande Recessão" está centrada nos Estados Unidos e Europa, e já vem causando uma crise de governabilidade, mas tem também causas e dimensão internacional de forma que nenhum país ficará inume a seus efeitos de uma forma ou outra.

Será duradoura porque como a crise dos anos 30 e a crise japonesa ela afeta tanto os credores/emprestadores como os devedores/tomadores de empréstimos. O Federal Reserve (Fed, banco central americano) aumentou brutalmente a oferta de moeda e reduziu a taxa de juros para próximo a zero procurando salvar credores/emprestadores, subsidiando-os. Assumindo a função de emprestador em última instância, absorve ativos problemáticos no seu balanço, mas não resolve o problema dos devedores, que tiveram sua riqueza financeira destruída pela crise, e agora têm que pagar as dívidas.

A política monetária pode também resolver o problema de liquidez do credor/emprestador, que detém ativos emitidos pelos devedores, já que o banco central está disposto a prover recursos com juros zero para que continuem carregando os ativos e assim fazendo por longo período poderá mascarar, amenizar e, com o tempo suficientemente prolongado, até resolver o problema de insolvência.

Do outro lado, tanto as famílias como as empresas que se endividaram excessivamente durante o boom de crédito que antecedeu a crise, têm que desalavancar, aumentando a poupança (deixando de consumir e de investir produtivamente) para pagar a dívida acumulada. A "Grande Recessão" é o resultado dessa redução persistente da demanda agregada. Aqui a política monetária não tem efeito, pois somente uma política fiscal ativa pode recolher o aumento de poupança privada e reinjetá-la de volta no sistema econômico como demanda, para reanimar a economia. E essa foi a reação de todos os governos. Mas ao executar essa política, o déficit público aumenta e, com isso, a dívida publica se transforma também em crise da dívida soberana. A reação política da sociedade contra a classe dirigente será quase imediata. Ela está perdendo tanto a credibilidade como legitimidade, abrindo espaço para a ação de grupos radicais, tornando praticamente impossível manter uma política fiscal para tentar sustentar o nível de atividade econômica.

Ao contrário, os investidores perceberam que os governos estão com a dívida crescendo rapidamente e perdendo legitimidade e vão não só deixar de financiar os seus déficit, mas vão tentar desfazer dos títulos públicos com consequente elevação da taxa de juros. Na medida em que a política fiscal fica travada, podemos ter uma nova contração no nível de atividade, agravando o problema de déficit publico. Assim, somente quando a segunda contração for suficientemente profunda e prolongada a trava política da política fiscal será removida.

Qual o significado histórico da "Grande Recessão"? Em primeiro lugar essa é uma crise centrada nos Estados Unidos e Europa, portanto do núcleo do sistema global. Internamente, nesses países, foi a ascensão da plutocracia financeira, com a aliança do setor industrial, no início dos anos 1980 que permitiu a desregulamentação do sistema bancário e consequente introdução de inovações financeiras e explosão de crédito que gerou a crise. O poder do setor industrial já estava em declínio com a desindustrialização. Agora, tanto os Estados Unidos como a Europa, nas próximas décadas, deverão ter como prioridade absoluta a revitalização das suas economias, voltando-se para dentro eventualmente com medidas protecionistas, para enfrentar a ascensão da China.

Somado a isso, a perda de credibilidade e de legitimidade da sua classe dirigente, a governança global mudará radicalmente. Viveremos nas próximas décadas um interregno com a ausência de um centro que ditava as regras do jogo, exercia liderança política e ideológica e impunha um pensamento econômico.

A "Grande Recessão" será um longo processo de declínio da hegemonia americana, de um paradigma histórico e a gradual ascensão da China. Com o colapso de um paradigma, de um modelo econômico (uma variedade de capitalismo) que prevaleceu plenamente nas últimas três décadas, o que virá no seu lugar?

Yoshiaki Nakano, ex-secretário da Fazenda do governo Mário Covas (SP), é professor e diretor da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getulio Vargas - FGV/EESP, escreve mensalmente às terças-feiras.

FONTE: VALOR ECONÔMICO

Taxação das finanças:: Celso Ming

O presidente da França, Nicolas Sarkozy, é o único dos dirigentes da Europa que defende abertamente a criação de um imposto sobre operações financeiras. E seu objetivo não aparenta ser o de arrancar essa taxação, mas apenas o de atrair mais votos dos socialistas – cujo partido, na oposição ao seu governo, vem defendendo essa bandeira há muitos anos.

A proposta desse imposto foi, em princípio, aprovada numa reunião de cúpula da área do euro, em agosto. Mas, de lá para cá, a matéria rendeu mais divergências do que consenso. A ideia não é inventar uma CPMF europeia; é cobrar uma taxa sobre só algumas operações financeiras: de 0,1% sobre negócios com bônus (títulos) e bolsas de valores (ações); e de 0,01% sobre derivativos (mercados futuros).

Provavelmente mais para demonstrar seu apoio a Sarkozy do que para batalhar pela causa, a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, afirmou nesta segunda-feira ser pessoalmente a favor da proposta, mas que não pode defendê-la porque há discordâncias entre os partidos que sustentam seu governo. De todo modo, acrescentou ela que, se esse imposto for criado, não deve ser adotado por um único país – tem de ser ao menos por toda a área do euro. A razão técnica dessa exigência é conhecida: caso o tributo não seja aceito por todos, as operações financeiras migrarão para as economias que não o tiverem. E Merkel sabe que não pode esvaziar a praça financeira de Frankfurt.

Nesse ponto, o primeiro-ministro da Itália, Mario Monti, concorda com Merkel. Também faz questão, caso o imposto vigore, que seja conjuntamente. O primeiro-ministro da Inglaterra, David Cameron, por sua vez, é contra uma tributação restrita à União Europeia. Alega que sua cobrança teria de acontecer em todo o mundo, para que a City londrina (onde está o maior mercado financeiro da Europa) não perca importância. Basta o veto de um país para que a ideia seja rejeitada na União Europeia.

Em escala global o plano também foi examinado pelo Grupo dos 20 (G-20). Esbarra, no entanto, na desaprovação sumária de dois governos-chave: o dos Estados Unidos e o da China.

A justificativa usada por Sarkozy para defender esse imposto é bisonha: sustenta que é preciso coibir a especulação financeira, segundo ele, uma das causas da crise. Para o presidente da França, portanto, essa taxação teria caráter regulatório. No entanto, não há quem consiga ver a lógica de que a cobrança desse imposto coibiria, por exemplo, operações especulativas com títulos de dívida – especialmente num momento em que os países devedores da Europa mais necessitam de mercado para os bônus de sua dívida soberana.

Ou seja, Sarkozy não quer regular. Pretende apenas arrecadar. Se o imposto incidisse em toda a União Europeia (e não somente na área do euro), o volume arrecadado seria de algo em torno de 50 bilhões de euros por ano.

Enfim, os obstáculos políticos para a sua criação são tantos que não deixam dúvida de que a insistência de Sarkozy é apenas um recurso para impressionar sua plateia eleitoral.

Confira

Nada mudou. Nenhum avanço claro foi anunciado nesta segunda-feira no esperado encontro ocorrido em Berlim, entre a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, e o presidente da França, Nicolas Sarkozy.

Tiro no pé. A Federação Bancária da França rechaçou nesta segunda a proposta de Sarkozy, de criar um imposto sobre operações financeiras apenas na França. Em nota oficial, advertiu que "o imposto pesaria sobre o crescimento, levaria à perda de competitividade e seria obstáculo para o financiamento da economia".

Desemprego custa caro. No domingo, o jornal espanhol El País mostrou como o desemprego desorganiza as finanças públicas da Espanha. Em 2007, quando a crise não havia eclodido, as contas da Previdência Social estavam nos eixos. Em 2010, com aumento do índice de desocupação e queda da arrecadação de contribuições, o rombo já era de 25 bilhões de euros. Os números de 2011 ainda não estão disponíveis, mas o desemprego subiu de 20,1% para 22,9% da força de trabalho.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Sentimentos brasileiros:: Jânio de Freitas

Não sou dado àqueles frêmitos e emoções de civismo duvidoso; a foto me causou vergonha e nojo

Orgulhe-se.

Mesmo que esteja entre os que confundem a chegada à sexta economia mundial com tornar-se a sexta potência mundial, não importa -orgulhe-se. Há algo tão engrandecedor do Brasil, e verdadeiro, quanto a falsa grandeza criada por seu erro.

Destruição da Amazônia, 30 a 40 milhões de pessoas -crianças entre elas, muitas crianças- na "linha abaixo da pobreza"; centenas de milhares de família sem terra, quase 300 casos conhecidos e atuais de trabalho escravo, o horror torturante dos hospitais públicos -apesar de tudo, orgulhe-se.

O frêmito que invade o seu corpo e o seu civismo ao ouvir o Hino Nacional, essa música que São Paulo resolveu baratear como abertura de qualquer pelada, não será agora um excesso de sensibilidade. E o umedecer dos olhos diante da bandeira a esvoaçar junto aos símbolos do mundo na ONU, ou em Brasília mesmo, à falta de melhor, estará tão justificado como se tivéssemos uma história de glórias. Orgulhe-se.

Alguns, parece, tiveram o seu choque ou sua mais provável indiferença na internet. Ainda que não tenha sido, digamos que foi, porque hoje em dia tudo tem que partir e chegar via internet, ou não existiu. Mas a minha comprovação de que existiu foi por uma foto pequenina lá na pág. 21 do "Globo".

Um pedaço de caixa de leite, diríamos. No Bahrein. Uma contribuição brasileira aos que lá se enfrentam há tantos meses, com violência fatal, civis contra a ditadura do rei Hamad Al-Kalifa e os fraternos militares e policiais a defender a ditadura. No ano passado, caso talvez único, a Fórmula 1 cancelou o rico GP do Bahrein por não haver segurança capaz de protegê-lo. Nem mesmo com a intervenção militar feita pelas forças da Arábia Saudita, em proteção ao rei-ditador.

O povo bareinita foi dos primeiros a aderir ao que se chama de Primavera Árabe, mas os Estados Unidos têm lá uma grande base naval, sentem-se muito bem com o regime local. E, como Barack Obama é um bom democrata, preferiu sujar as mãos dos sauditas.

Mas aqui o que nos interessa, a nós outros, deste país pacífico, temente a Deus por tantas religiões, hospitaleiro e defensor da paz em toda parte, é o achado.
Na enganosa caixa de leite, um tubo metálico um tanto amarrotado, depara-se com nossa bandeira, impressa, modesta no tamanho, mas iniludível no exotismo. Abaixo dela, extenso e presunçoso, um "made in Brazil" de que ninguém duvide. Imagine, e orgulhe-se. Acima, como é próprio das caixas de leite, seguem-se as indicações de lote; a data de fabricação, maio/ 2011, e a da validade, maio/2013. Tudo em inglês, porque nossa produção é internacional. Mas não sou dado àqueles frêmitos e emoções de civismo duvidoso. A foto me causou um misto de vergonha, de indignação e nojo.

Trata-se de uma cápsula deflagrada de gás lacrimogêneo. Mas não o gás comum: o brasileiro contém um ingrediente agravante: sobre os efeitos respiratórios e oculares, provoca uma espuma que se multiplica e se expele pela boca. Capaz de sufocar, pois. O texto de Rasheed Abou-Alsamh dá notícia da morte de pelo menos uma criança atribuída à reação causada pelo ingrediente brasileiro do gás. Eis o twitter de uma jovem mãe, oposicionista, para outras informações: @AngryArabiyah.

A fábrica do artefato, situada no município fluminense de Nova Iguaçu, tem o sugestivo nome de Condor -nome também da tropa, aeronáutica e terrestre, que Hitler mandou para testar novas armas na Guerra Civil Espanhola, batizando-a de Legião Condor.

Na Primavera Árabe, o Brasil proporciona armas ao poder criminoso. É parte, portanto, do crime contra a humanidade. Ah, nisso sim, põe-se entre as potências.

Orgulhe-se, quem for capaz.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Em círculos:: Míriam Leitão

O ano é novo e a confusão na Europa é a mesma de sempre. Esta semana tudo voltou a se agitar depois de breve pausa. No encontro de Angela Merkel e Nicolas Sarkozy apareceram temas requentados e uma tentativa de agenda positiva para ajudar o francês na sua luta pela reeleição. Da Grécia vieram novas ameaças de calote, o que torna a situação deles mesmos mais grave.

Sarkozy reapresentou a proposta de um imposto sobre transações financeiras, e Angela Merkel disse novamente que aceita, claro, desde que seja para toda a União Europeia, porque sabe que o Reino Unido não aprovará. A posição inglesa é que o imposto só dará certo se for global. Essa é a mesma conversa que circula há anos na região.

Os dois governantes disseram que houve progresso em torno do pacto fiscal da União Europeia. Nesse caso, houve avanço no fim do ano passado, quando Sarkozy e Merkel concordaram sobre os parâmetros do acordo fiscal, mas eles sabem que ainda há muito caminho pela frente. Os outros 15 países da Zona do Euro precisam aprovar as bases desse acordo e depois ele terá que ser estendido para os demais países da Europa, menos o Reino Unido, que já disse que não aceitará. Esse é o ponto sobre o qual há mais esperança. A proposta lembra em parte o que foi feito no Brasil no saneamento dos estados, a partir de 1995. O problema é que lá são países, cujos eleitores podem não querer abrir mão da soberania em favor de uma lei de responsabilidade fiscal. Eles dizem que assinarão esse novo pacto fiscal em março. Se o fizerem, pode ser um passo importante para o começo do fim da crise.

Os dois governantes tentaram mudar o tom das declarações. Em vez de falarem na necessidade de ajuste, incluíram o tema "criação de empregos", principalmente para jovens, nas propostas que dizem que estão estudando. Isso é claramente um problema na Europa. Na Espanha, é dramática a falta de emprego para jovens. Para Sarkozy, a entrada desse assunto em pauta é mais do que conveniente, é fundamental. Nas pesquisas de opinião, ele está atrás do candidato socialista para as eleições de maio, nas quais tenta um segundo mandato.

Merkel marcou para esta segunda semana do ano outras reuniões para tratar da crise, como a com a diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde, em Berlim, nesta terça-feira, e com o presidente do Banco Central Europeu, Mario Monti. O que tanto ela quanto o presidente francês querem é garantir algum resultado positivo na reunião de cúpula em 30 de janeiro.

Para Merkel, não apenas as afinidades ideológicas a fazem torcer por Sarkozy. É que a eleição de um socialista e o começo de um novo governo poderiam fazer as negociações retrocederem várias casas. Sarkozy tenta fazer uso político eleitoral disso também. Disse que sem acordo entre Alemanha e França a Europa unida não tem futuro.

Na Grécia, também a Europa continua andando em círculos. Os países mais fortes dizem que querem que a Grécia permaneça no grupo, mas insistem no acordo entre o governo e seus credores privados. Os bancos, por sua vez, sabem que terão que conceder um desconto maior do que concederam até agora - em outras palavras, a perda que terão com a Grécia vai ser mais pesada. O novo governo de Lucas Papademos está repetindo nos últimos dias a ameaça de calote. Primeiro, o porta-voz do governo disse que o país poderia sair da Zona do Euro se os bancos não reduzirem mais o valor da dívida; depois, o próprio primeiro-ministro afirmou que se o desconto não for maior o país pode simplesmente não pagar. A Grécia deve 150% do PIB e seu acordo com a União Europeia tem exigências difíceis, como a de que haja corte de salários dos trabalhadores. Um quinto da população economicamente ativa trabalha para o governo. Se nada der certo, o calote virá mesmo e já tem data: é março. Isso aumenta o risco de agravamento da crise financeira porque os bancos podem não conseguir assimilar as perdas.

A agência de classificação de risco Moody"s disse que o ajuste da Espanha tem que ser 40% maior em 2012 do que foi o esforço fiscal somado de 2010 e 2011. Ou seja, impossível. Todos andam em círculos. As agências ameaçam e rebaixam países, empresas e bancos. Os bancos precisarão ser recapitalizados. Os países terão que ajustar suas contas. O Fundo Europeu de Estabilidade Financeira e o Mecanismo Europeu de Estabilidade precisam ser capitalizados, nos novos valores que França e Alemanha já concordaram em fazê-lo, mas ainda não receberam os recursos.

A Europa entrou em 2012, ano em que os governantes da Alemanha e França disseram que será pior do que o anterior, sem ter um enredo novo. As declarações, ameaças, propostas parecem coisa já vista. O cansaço da crise e o ceticismo são outros dos temores que pesam sobre o continente. Todos sabem que a saída da crise não será fácil. A única esperança que se tem no governo brasileiro é que o segundo semestre na Europa seja melhor do que o primeiro. Até março, haverá o medo do calote da Grécia, a pressão para que os bancos cumpram novos patamares de capital, as dúvidas sobre se haverá o acordo fiscal fechado entre os países; até maio, permanecerá a incerteza política na França. O primeiro semestre será todo de dúvidas sobre a crise europeia.

FONTE: O GLOBO

Os EUA são descolados?:: Vinicius Torres Freire

Economia americana está melhor. Mas pode crescer tanto quanto em 2011, e os trabalhadores sofrem

Agora vai. É o que se diz da economia americana neste momento de alta do ciclo maníaco e trimestral de opiniões sobre o fim (ou recomeço) "certo" da crise naquele país.

Não dá para negar que os Estados Unidos despioram. As notícias ficam ainda melhores quando se lembra que, lá por setembro de 2011, o opinionismo econômico ciclotímico estava na onda de baixa e se disseminava o medo de recessão.

Convém ainda recordar de outras variações de humor de economistas e dos povos dos mercados.

Alguém ainda lembra da temporada dos "green shots" (brotos, a primavera econômica), de abril de 2009? Quando Barack Obama dizia que "cintila a esperança" e o pessoal da finança dizia que a recessão acabava? E do otimismo bobo do primeiro trimestre do ano passado?

Por fim, nem os melhores economistas americanos se entendem sobre o que está acontecendo na economia do país deles, no curto ou no longo prazo. Não apenas discordam por vezes diametralmente, mas insultam abertamente o diagnóstico e o prognóstico dos colegas.

Se eles, que são brancos de olhos azuis (como dizia Lula), não se entendem, é muito arriscado nós daqui dizermos qualquer coisa. No máximo, pode-se contribuir para a confusão e para o ceticismo menos desinformado sobre o assunto.

Considere-se, por exemplo, a situação do trabalho.

Causou alguma sensação o balanço do desemprego de dezembro. Sim, o desemprego está menor e caindo continuamente. Mas a taxa de desemprego, sozinha, é uma estatística que não faz um verão, nem uma primavera econômica.

Para começar pelo desemprego mesmo, lembre-se de que, em dezembro de 2006 (e ainda em maio de 2007), a taxa era de 4,4% (chegou a 10% em 2009 e está em 8,5%). Os dados são dessazonalizados.

O salário semanal médio real do conjunto dos empregados caiu 1,2% de novembro de 2010 para novembro de 2011 (é o número mais recente disponível; as informações sobre dezembro, que foi melhorzinho, saem no próximo dia 19). Excluídos os salários do pessoal com cargos de gerência, a queda foi de 1,8%.

A parcela de empregados em relação ao total da população ficou em 58,5%. Era quase igual, de 58,3%, um ano antes. Na verdade, estagnou desde outubro de 2009. No pico anterior à crise, em dezembro de 2006, era de 63,4%.

O desemprego de longa duração ainda é uma doença ruim. O tempo médio de desemprego baixou apenas para 42,5 semanas, ante 44,3 em dezembro de 2010. No final de 2008, ano de explosão da crise, mas antes das demissões em massa, essa média era de 23 semanas.

Sim, a confiança do consumidor sobe; faz-se mais crediário. A indústria cresce um pouquinho. Mas o setor de serviços está rateando. O setor imobiliário continua em depressão (nos preços; o desemprego diminuiu na construção).

O ano será de recessão ou, no melhor dos casos, de estagnação na Europa do euro. A China deve crescer menos. Haverá cortes de gasto público e (talvez) aumento de impostos nos EUA, afora outras loucuras que os republicanos podem aprontar para derrubar Obama.

Para o bem deles e também o nosso, é melhor que os EUA acelerem. Mas os dados de agora e os riscos adiante não permitem cravar nada.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Aliança em xeque

Erich Decat

Ao contrário do discurso de boa convivência que os caciques do PT e do PSB tentam transmitir, as disputas previstas pelas prefeituras das capitais nas próximas eleições municipais revelam uma realidade totalmente distinta. Numa tentativa de demonstrar normalidade entre os dois lados e minimizar as críticas de petistas ao ministro da Integração, Fernando Bezerra, o presidente do PT, Rui Falcão, chegou até a emitir nota na última semana afirmando que "as relações com o PSB são as melhores possíveis".

Apesar da troca de afagos em âmbito nacional, o discurso de bons "companheiros" nos municípios é outro. Levantamento feito pelo Correio mostra que, na Região Nordeste, por exemplo, berço histórico de vitórias das duas legendas, apenas na Bahia, há um "início" de conversa para que saiam juntas na disputa pela prefeitura de Salvador. Nesse caso, a tentativa de acordo é de união em torno do nome do deputado federal Nelson Pellegrino (PT). Nas demais capitais nordestinas, a briga deverá ser acirrada. Um dos cenários mais tensos é a disputa pela prefeitura de Recife.

Dentro do próprio PT, ainda não há consenso de quem vai disputar o Executivo local. Três nomes são comentados: o único já confirmado como pré-candidato é o prefeito, João da Costa, que tentará a reeleição. O ex-prefeito João Paulo diminuiu as movimentações, mas ainda é uma opção bem citada. Nos bastidores, o líder do PT no Senado, Humberto Costa, também trabalha pelo posto. As movimentações dele começaram em dezembro quando se reuniu com o ex-presidente Lula para discutir a viabilidade do seu nome. Uma nova conversa deve ocorrer no fim deste mês. Mesmo alvejado por críticas, Fernando Bezerra é o nome cotado pelo PSB.

Sinal vermelho

"É um cenário preocupante, exige da direção uma ação enérgica para evitar fraturas na base aliada. Eu defendo que todas as capitais sejam tratadas de forma nacional. Temos que evitar o confronto para evitar problemas em 2014", ressalta o deputado federal José Guimarães (CE).

Segundo Guimarães, o sinal vermelho também está aceso no Ceará, onde o ex-deputado Ciro Gomes não quer apoiar o candidato petista à sucessão de Luizianne Lins na prefeitura de Fortaleza. Nas regiões Sudeste e Sul, o cenário de confronto se repete em praticamente todas as capitais. Apenas no Rio de Janeiro, os dois partidos devem compor a mesma aliança. Ainda assim, em torno da reeleição de um peemedebista: Eduardo Paes.

Oposição pressiona pela convocação

Os partidos de oposição pediram ontem que o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), aceite o pedido do ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra, para depor à comissão representativa do Congresso Nacional. O grupo representa Câmara e Senado durante o recesso e é composto por oito senadores e 17 deputados. Sarney chega hoje a Brasília e deve decidir até o fim do dia sobre a ida do ministro. Dois requerimentos, formulados por PPS e PSDB, pedem que Bezerra preste explicações. Caso aceite o pedido do ministro e da oposição, Sarney terá de convocar os parlamentares com até 12 horas de antecedência, o que levaria o depoimento, provavelmente, para a quinta-feira.

FONTE: CORREIO BRAZILIENSE