segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

OPINIÃO DO DIA – Fernando Henrique Cardoso: votos à oposição

"Assim como são meus os votos para as oposições oferecerem porto seguro, de paz e de prosperidade, aos que desejam novos caminhos para o País. Eles serão em número crescente na medida em que a inércia governamental prevaleça. A alternância no poder não é apenas uma condição formal da democracia, mas uma necessidade para que as sociedades não se tornem apáticas com a repetição de práticas. Coragem, unidade e competência, são meus desejos para as oposições."

Fernando Henrique Cardoso, sociólogo e ex-presidente da República. Feliz 2012. Zero Hora (RS), 31/12/2011.

Manchetes de alguns dos principais jornais do Brasil

O GLOBO
Réveillon carioca: recorde em sujeira
Aumenta entrada de haitianos no Brasil
Desafiador, Irã testa míssil e vareta nuclear
A população para culpar
Dinheiro não dá fim aos lixões

FOLHA DE S. PAULO
PF apurou desvios de R$ 3,2 bilhões em 2011
Líderes dos países europeus preveem 2012 mais difícil

O ESTADO DE S. PAULO
Indústria do País perderá mais espaço, prevê CNI
Para analistas, Bolsa deve se recuperar
PSD e PSDB buscam espaço na área sindical

VALOR ECONÔMICO
Governo revê remuneração de concessões
Orçamento tem despesas subestimadas de R$ 8 bi
Bancos acirram disputa por funcionário público
Crise do euro traz incertezas para o país

CORREIO BRAZILIENSE
Mais de 60 mil vagas no serviço público em 2012
Burocracia tira R$ 100 mi de hospitais

ESTADO DE MINAS
Dilma é o espelho das poderosas
União tira R$ 100,9 mi de hospitais

ZERO HORA (RS)
Blitze aplicam 5,4 mil multas em 60 horas

JORNAL DO COMMERCIO (PE)
Planos de saúde ampliam cobertura
Ana Arraes avalia no TCU reajustes da transposição
Salário mínimo de R$ 622 já está em vigor

O que pensa a mídia - editoriais dos principais jornais do Brasil

http://www2.pps.org.br/2005/index.asp?opcao=editoriais

PF apurou desvios de R$ 3,2 bilhões em 2011

Operações da Polícia Federal flagraram o desvio de R$ 3,2 bilhões de recursos públicos no ano passado, informa Fernando Mello.

O valor é mais do que o dobro de 2010 (R$ 1,5 bilhão) e 15 vezes mais que o verificado em 2009 (R$ 219 milhões).

De acordo com a PF, o valor desviado alimentou, por exemplo, pagamentos de propina a servidores, empresários e políticos

PF flagra desvio recorde de recursos públicos em 2011

Valor de R$ 3,2 bilhões é o dobro do apurado em 2010 e 15 vezes o de 2009

Operações da Polícia Federal sustentam que dinheiro foi usado, por exemplo, para subornar servidores e políticos

Fernando Mello

BRASÍLIA - Operações da Polícia Federal flagraram desvio de R$ 3,2 bilhões de recursos públicos em 2011, dinheiro que teria alimentado, por exemplo, o pagamentos de propina a funcionários públicos, empresários e políticos.

O valor é mais do que o dobro do apurado pela polícia em 2010 (R$ 1,5 bilhão) e 15 vezes o apontado em 2009 (R$ 219 milhões). A título de comparação, representa quase metade do dinheiro previsto para as obras de transposição do rio São Francisco.

O total de servidores públicos presos também aumentou: de 124, em 2010, para 225, no ano passado.

Os números, a que a Folha teve acesso, estão em um relatório produzido a partir apenas das operações. Segundo a PF, trata-se do valor provado nas investigações, que são repassadas para o Ministério Público tentar reaver o dinheiro.

Apesar de coincidir com o ano em que houve a chamada "faxina" no ministério de Dilma Rousseff, com a queda de seis ministros sob suspeitas de irregularidades, não há relação causal -as grandes operações decorrem de investigações mais antigas.

Para delegados de Polícia Fazendária, área que investiga os desvios de verbas, o aumento da comprovação do rombo deve-se à formação de equipes especializadas.

É o caso de Bahia, Ceará, Maranhão, Rio Grande do Sul e São Paulo.

Nas próximas semanas será criada unidade específica, em Brasília, de Repressão a Desvios de Verbas Públicas.

Também em 2011, a PF produziu seu primeiro manual de investigação de desvios de recursos, distribuído para as sedes estaduais.

"As técnicas de investigação têm sido aprimoradas. Afinal, crimes envolvendo verbas públicas ocorrem em áreas sensíveis para a sociedade", diz o delegado Rodrigo Bastos, da Coordenação-Geral de Polícia Fazendária.

A PF realizou, em 2011, a maior apreensão de dinheiro da história das investigações no Brasil: o equivalente a R$ 13,7 milhões foi encontrado nas casas de auditores da Receita Federal em Osasco (SP).

Foi durante a Operação Paraíso Fiscal. O dinheiro estava em caixas de leite, fundos falsos de armário e em forros.

Em quatro meses, a PF flagrou um dos acusados comprando três carros de luxo à vista e em dinheiro vivo.

A partir da operação, o Ministério Público Federal denunciou oito auditores, acusados de selecionar empresas para fiscalização e exigir delas propina para engavetar ou relaxar a cobrança de débitos tributários. Eles negam.

Em outra operação, a Casa 101, a PF descobriu que, na região de Recife, quase todos os contratos entre Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte) e construtoras eram fiscalizados por apenas um servidor.

Pagamentos eram liberados mesmo com fortes indícios de superfaturamento.

Resultado: em um contrato, a PF calculou prejuízo de R$ 67 milhões. Segundo a investigação, o servidor do Dnit recebeu um pedaço do butim.

Na Operação Saúde, do Rio Grande do Sul, 34 funcionários públicos municipais foram presos, acusados de desviar verbas federais destinadas à compra de medicamentos. Em um ano, o grupo teria movimentado um total de R$ 70 milhões.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Governo não sabe destino de R$ 700 mi de convênios

BRASÍLIA - O governo federal não tem pistas do destino de R$ 700 milhões repassados para prefeituras por meio de convênios. As prestações de contas sobre o uso desse dinheiro deveriam ter sido apresentadas até 2011, mas não foram.

O valor se refere a 3.481 convênios assinados pelos ministérios da Saúde, Educação, Esporte, Transportes e Cidades com os municípios.

Os números foram levantados por uma força-tarefa do Ministério Público Federal.

Em 2011, procuradores da República apresentaram 80 denúncias à Justiça contra prefeitos que não justificaram o destino das verbas, 11 foram aceitas e 4, rejeitadas.

Até o ano passado, muitos prefeitos não apresentavam comprovação para o uso de dinheiro, que deveria financiar, por exemplo, construção de hospitais e escolas.

Apesar disso, eram raros os casos em que os administradores eram processados pelo crime de não prestação de contas, que tem pena de até três anos de prisão.

Em muitos casos, uma ação judicial só é iniciada após longos processos de tomada de contas. O resultado é a prescrição dos crimes ou a apresentação da denúncia depois que o prefeito já deixou o cargo.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Greves e protestos marcam ano de novos governadores

Educação e segurança são setores que mais pressionaram estreantes de 2011

No RS, Tarso Genro (PT) enfrentou bloqueios de estradas por policiais; Casagrande (PSB-ES) foi alvo de protestos

Sílvia Freire, Matheus Magenta e Luiza Bandeira

SÃO PAULO - Governadores que estrearam no cargo em janeiro de 2011 enfrentaram já no primeiro ano protestos e greves em serviços públicos.

Educação e segurança pública foram os setores que mais representaram dor de cabeça aos "novatos".

Eleito com a segunda maior votação proporcional do país (mais de 80% dos votos), e sem oposição na Assembleia, Renato Casagrande (PSB-ES), por exemplo, enfrentou em junho protestos de estudantes e sindicalistas que saíram às ruas de Vitória contra aumento na passagem de ônibus. À época, o governo negou crise.

No Rio Grande do Sul, Tarso Genro (PT) sofreu com bloqueios de rodovias por policiais da Brigada Militar, uma ameaça de bomba e protestos de professores.

O chefe da Casa Civil do governo gaúcho, Carlos Pestana, disse que os bloqueios foram casos isolados. Para ele, os protestos foram motivados em parte pela expectativa dos servidores, que estavam com salários defasados.

Rosalba Ciarlini (DEM-RN) enfrentou greves de servidores após anunciar que não pagaria os aumentos embutidos num plano de cargos e salários aprovados na gestão de seus antecessores, em 2010.

Ao menos sete categorias paralisaram parcialmente as atividades. Segundo o secretário chefe do Gabinete Civil, José Anselmo de Carvalho Júnior, o governo estava impossibilitado de dar o aumento, pois descumpriria a Lei de Responsabilidade Fiscal.

No DF, o governador Agnelo Queiroz (PT), que é alvo de acusações de corrupção por ações anteriores ao mandato, enfrentou duas greves de policiais civis, uma de servidores da saúde e protestos de moradores contra as condições do transporte público.

Para o secretário Wilmar Lacerda (Administração Pública), os servidores tiveram reajustes ou receberam benefício em 2011. Quanto aos policiais, disse que houve componente político na greve.

Simão Jatene (PSDB-PA) enfrentou greve de 54 dias dos professores estaduais.

Os professores também paralisaram em Santa Catarina, do governador Raimundo Colombo (PSD), e no Amapá, de Camilo Capiberibe (PSB).

Uma greve de 15 mil servidores da segurança pública fez com que fossem enviadas à Paraíba tropas da Força Nacional em março.

A secretária de Administração, Livânia Farias, disse que o governo Ricardo Coutinho (PSB) "não tinha o que fazer", pois havia acabado de assumir o cargo.

Policiais também fizeram greves em Goiás, de Marconi Perilo (PSDB); Rondônia, de Confúcio Moura (PMDB), e Acre, de Tião Viana (PT).

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

PSDB e PSD avançam em reduto petista e lançam 300 sindicalistas candidatos

Roldão Arruda

O recém-criado PSD e o veterano PSDB estão mobilizando forças para conquistar espaço no mundo sindical, antigo e influente reduto do PT. O primeiro teste desse esforço está marcado para as eleições municipais deste ano. De acordo com o presidente do PSDB, deputado Sérgio Guerra, no pleito municipal os tucanos vão lançar, em todo o País, cerca de 200 candidatos originários de sindicatos de trabalhadores. A maior parte deve concorrer a cargos em câmaras municipais, mas o grupo também reunirá pretendentes às cadeiras de prefeito e vice.

Na mesma trilha, o partido presidido pelo prefeito paulistano Gilberto Kassab já contabiliza quase 90 pré-candidatos sindicalistas. "Mas esse número deve aumentar", anuncia, entusiasmado com a ideia, Ricardo Patah, presidente da União Geral dos Trabalhadores (UGT) - uma das seis centrais legalmente constituídas no País, com cerca de mil sindicatos filiados.

Desde que preencheu a ficha de filiação ao PSD, em setembro, Patah articula a base e as candidaturas sindicalistas do partido. Antes de ser convidado por Kassab, ele foi sondado pelo governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), e pelo vice-presidente da República, Michel Temer (PMDB). Também preocupados em romper o cerco do PT no meio sindical, os dois manifestaram seu desejo de ter a UGT próxima de seus partidos.

Kassab chegou por último, mas com propostas atraentes. Além de garantir aos sindicalistas dois cargos na direção executiva nacional e em cada uma das executivas estaduais, ofereceu a Patah o controle da futura fundação do partido - o que não é pouco. Destinadas teoricamente à formação de quadros políticos, as fundações recebem, por lei, 20% de todos os recursos públicos destinados à legenda. No caso do PSD esse porcentual será maior, segundo promessas feitas ao líder da UGT.

A corrida pelos sindicalistas tem boas razões. Uma delas é o bem cimentado casamento entre o PT e a Central Única dos Trabalhadores (CUT), a maior e mais influente, com 3.438 entidades filiadas. Mesmo independentes oficialmente, as duas organizações quase sempre funcionam, na bonança e na crise, sincronizadas como se fossem uma só máquina.

Centrais e eleição. O PT também é mais hábil e convincente no diálogo com outras correntes. Na eleição presidencial de 2010, para citar um caso, nenhuma central apoiou o tucano José Serra: as seis ficaram ao lado de Dilma Rousseff.

"Esse apoio foi fundamental para a vitória de Dilma, da mesma maneira que antes havia garantido a vitória de Lula", assegura Antonio de Souza Ramalho, presidente do Sindicato da Construção Civil de São Paulo e vice-presidente da Força Sindical - a segunda maior do País, com 2.675 entidades filiadas.

Antigo militante do PSDB, Ramalho foi convidado no início de 2011 para uma conversa com Alckmin. "Depois de ver o resultado da Dilma, ele me perguntou: o que o partido deve fazer para se aproximar dos sindicatos? Respondi que o último líder tucano que deu atenção ao sindicalismo foi o Mário Covas. Ele ia sempre ao nosso sindicato. Depois que morreu, ninguém mais fez isso."

Ramalho também disse a Alckmin que os tucanos, embora tenham feito muito pelos trabalhadores, não conseguem deixar isso claro. "Não sabem se comunicar com o peão lá da base. Para isso tem que chamar o sindicalista do baixo clero, o sujeito da mão grossa ", afirma.

Núcleo tucano. Depois da conversa com Alckmin, Ramalho foi chamado por Sérgio Guerra, em Brasília. No encontro conseguiu convencê-lo da necessidade de montar um núcleo sindical tucano e, no embalo, ganhou a missão de levar a tarefa adiante.

Até agora já foram montados núcleos regionais em 20 Estados. A meta é chegar aos 27 até março, quando ocorre em Brasília o primeiro congresso sindical do PSDB. "Desde o ano passado, quando decidimos reestruturar o partido, sabíamos que precisávamos recuperar a base sindicalista", conta Guerra. "Mas não tivemos bons resultados, porque quem cuidava do setor era um parlamentar. Agora chamamos um sindicalista."

A meta, diz ele, não é uma central controlada pelo PSDB: "Queremos gente das centrais falando e decidindo. Vamos dar voz a quem não tinha espaço".

No PSD, Patah também enfatiza que a UGT não será instrumentalizada. "O partido e a central podem se alinhar em torno de questões políticas, mas permanecem independentes."

Na avaliação dele, as chances do PSD são melhores nessa área que as dos concorrentes. "Na última vez que PSDB pôs no ar a propaganda no horário gratuito, não se ouviu nenhum líder sindical. Desse jeito, vão continuar sem falar com as classes C e D."

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Siglas buscam nomes de todas as centrais

Ao montar listas de pré- candidatos, PSDB e PSD não questionam a qual central o sindicalista é filiado, ampliando inserção

Nas listas montadas pelo PSDB e pelo PSD com nomes de pré-candidatos sindicalistas em vários Estados, os partidos optaram por uma estratégia curiosa: não perguntam a qual central sindical os potenciais futuros vereadores, prefeitos e vices estão filiados.

Segundo Antonio Ramalho, organizador do núcleo sindical tucano no País, representantes das seis centrais são bem-vindos. "O PSDB vai lançar até nomes de filiados à CUT", comemora o sindicalista.

Apesar de seu entusiasmo, sabe-se que os cutistas serão minoria. O principal alvo na investida tucana têm sido líderes da Força Sindical - organização com a qual o PSDB sempre namorou.

De acordo com Ramalho, o objetivo da ofensiva sindicalista em 2012 é a defesa dos interesses dos trabalhadores. "Não podemos esquecer que são resolvidas no município questões de nosso interesse direto, como serviços públicos de saúde, creches, educação básica, transporte, lazer, cultura", diz ele.

Dois pré-candidatos entrevistados pelo Estado - sindicalistas do setor da construção civil e moradores da região metropolitana de São Paulo - ressaltam exatamente essas questões nos seus ensaios de discurso de campanha.

Um deles, Francisco Rodrigues Coelho, já se candidatou duas vezes à Câmara de Suzano. A primeira pelo PMDB e a segunda, pelo PRTB. Não se elegeu em nenhuma e agora está pronto para ser lançado pelo PSDB.

O outro, Marco Antonio da Silva, de Carapicuíba, também não é neófito. Em 2008 foi à luta pela vereança sob a sigla do DEM. Agora sairá com o PSD.

Creches. Coelho destaca que o crescimento econômico registrado nos últimos anos, seguido da maior oferta de empregos, elevou o nível de preocupação dos trabalhadores com os filhos. "Com quem deixar? Vão ficar na rua? Essas são perguntas que os pais sempre fazem", diz. "O número de creches em Suzano está defasado e faltam escolas com estrutura ocupacional, para retirar os jovens das ruas. Vou tratar disso na Câmara", promete.

Em Carapicuíba, cidade onde o PT chegou ao poder por meio de inusitada aliança com o DEM, o pré-candidato do PSD quer tratar da melhoria do sistema de atendimento médico. "É um problema de todo o País e nem sempre é da competência do município. Mas dá para fazer coisas por aqui, como a melhoria dos postos de atendimento de urgência", afirma Silva.

O discurso sobre temas paroquiais faz sentido, mas não resume tudo. A instalação de bases políticas municipais também pavimenta vias que levam à Câmara, ao Senado, ministérios e outros cargos federais.

"O partido pensa grande: o alvo é Brasília", enfatiza Ricardo Patah, presidente da UGT, filiado ao PSD. "Os sindicalistas querem aumentar a sua base no Congresso, para debater temas como a reforma da previdência, redução da jornada de trabalho, reforma política." / R.A.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Sindicatos estão na raiz do PT e atuação de seus quadros

A proximidade do PT com sindicatos está ligada à sua origem: o partido nasceu em 1980, na onda grevista que, no final da década de 1970, sacudiu o ABC paulista e a ditadura. No mesmo impulso, em 1983 foi criada a CUT.

Os personagens das duas instituições sempre se confundiram. Um exemplo: Luiz Marinho, ex-presidente da CUT e hoje prefeito de São Bernardo do Campo, foi ministro do Trabalho e da Previdência no governo Lula (PT).

A Força Sindical apareceu em 1991, em oposição à CUT. A UGT surgiu em 2007, mesmo ano do nascimento da Central dos Trabalhadores do Brasil (CTB), ligada ao PC do B. As outras centrais registradas são Nova Central Sindical dos Trabalhadores (NCST) e Central Geral dos Trabalhadores do Brasil (CGTB). / R.A

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

O partido dos desconhecidos

O novato PSD tem a quarta maior bancada da Câmara, mas é formado basicamente por deputados sem trajetória política de destaque ou projetos significativos

Júnia Gama, Guilherme Amado

São 48 deputados em exercício e sete licenciados. É a quarta maior bancada na Câmara, atrás apenas de PT, PMDB e PSDB. Será com eles que o governo terá de negociar nos próximos anos para aprovar qualquer projeto de peso. Mas os parlamentares do recém-nascido PSD são, em grande parte, uma massa de ilustres desconhecidos, sem trajetórias políticas de destaque ou projetos de lei significativos. A maioria — 28— está no primeiro mandato e os outros estão no exercício do segundo mandato, já que poucos passaram pelo crivo das urnas mais de duas vezes.

A bancada é formada principalmente por empresários — 38 —, pouco afeitos ao dia a dia do Congresso. Apenas um deputado da legenda figura na lista dos 100 "cabeças" do Congresso, feita anualmente pelo Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap). Trata-se de Eduardo Sciarra (PR), eleito com apenas um voto, que ele garante não ser dele próprio. "Nem sabia dessa votação", defende-se.

Sciarra, que está em seu terceiro mandato, deixou o DEM após uma frustrada disputa pela liderança com o atual líder ACM Neto (BA). No início do ano, a contenda lhe rendeu uma derrota de 27 a 16 votos. Foi quando decidiu debandar. "Se eu tivesse ganho essa disputa, estaria hoje no DEM e o grupo do ACM Neto, possivelmente, estaria fora", afirma o deputado, destacando que queria um partido "que não tivesse caciquismo e não tivesse dono".

Agora que deixou a oposição, adota o tom pragmático que caracteriza o novo partido. "Somos independentes, não teremos aliança com o governo. Ser de centro-direita não é problema, o PP e o PMDB são mais de direita do que o PSD e compõem a base do governo. A questão ideológica hoje ficou de lado. Vale o pragmatismo", pontua, ecoando o prefeito paulistano, Gilberto Kassab, fundador e presidente do partido.

Entre os jovens do partido, o deputado Fábio Faria (RN) é um dos que evitam falar em ideologia. Uma pesquisa com seu nome no Google rende fotos suas cercado de celebridades, muitas delas constando de sua lista de conquistas amorosas, como as atrizes Priscila Fantin e Letícia Birkheuer e as apresentadoras Adriane Galisteu e Sabrina Sato. Sua atuação como parlamentar só foi notícia ao se envolver no escândalo das passagens aéreas na Câmara, quando se descobriu que Fábio havia demonstrado seu amor por Galisteu pagando com verba da Casa passagens de ida e volta para a namorada e a sogra.

Casamento

Outro a desfilar nas colunas sociais é o empresário da noite paulistana Guilherme Mussi (SP). O deputado teve seu casamento em 2008, com a herdeira da loja de luxo Daslu, Luciana Tranchesi, aclamado por revistas de fofoca como "a cerimônia mais badalada dos últimos tempos no high society paulistano". A festa, na Villa Daslu, para 1,3 mil convidados, teve champanhe Taittinger Brut Prestige Rosé, a R$ 270 a garrafa. Mas a união durou pouco mais de um ano. De lá para cá, após breve namoro com uma socialite de São Paulo, Mussi submergiu do noticiário de celebridades, a exemplo de sua atuação parlamentar.

A ala jovem do PSD também tem seu representante no Rio de Janeiro. O deputado Felipe Burnier é um típico menino do Rio. Com sobrenome político, ele é filho do ex-prefeito de Nova Iguaçu Nelson Burnier, frequenta a praia da Barra da Tijuca e usou um funk como jingle da campanha de 2010. Considera-se uma "pessoa do bem", conforme seu perfil no Facebook, e adora fazer novas amizades. "Vivo a vida intensamente, não me arrependo de nada que tenha feito, somente do que ainda não fiz. Amo a vida!!!", é a mensagem na comunidade virtual. O jeitão bon vivant deu o tom de um projeto enviado no ano passado à Câmara. Burnier propôs que todos os dias de jogos do Brasil na Copa de 2014 sejam feriados nacionais. "Quero mais é que tenha feriado e que o Brasil seja campeão", exalta.

Problemas na Justiça

Há também no PSD quem tenha problemas com a Justiça. Carlos Souza (PSD-AM), que esteve em cinco partidos nos últimos 20 anos, foi preso em 2009 quando era vice-prefeito de Manaus. Ele responde a processo por associação ao tráfico de drogas e é suspeito de ter encomendado a morte de traficantes. Ele é irmão do falecido deputado estadual Wallace Souza, acusado de ser o chefe de uma quadrilha que comandava o comércio de drogas no Amazonas e que assassinava traficantes para aumentar a audiência de um programa de TV apresentado pelos irmãos Souza. Segundo denúncia do Ministério Público, em um caso que ganhou repercussão internacional, Wallace aproveitava "informações privilegiadas" sobre quem ia ser morto para exibir os crimes consumados em seu programa policial televisivo, o Canal livre, e subir a audiência.

FONTE: CORREIO BRAZILIENSE

Tensão nas prévias municipais

Embate entre PT e PMDB na base governista e a entrada do PSD de Kassab embaralham o cenário político para a disputa de outubro

Karla Correia

Os dois principais partidos aliados do governo, PMDB e PT, devem protagonizar o embate dentro da base de sustentação política da presidente Dilma Rousseff no Congresso neste ano que se inicia, por conta das eleições municipais, com primeiro turno marcado para 7 de outubro. Preocupado em manter a dianteira no ranking dos partidos com maior número de prefeituras, que garante a credencial de aliado mais forte do governo Dilma, o PMDB terá de conter o avanço petista, sobretudo nas regiões Nordeste e Sul para cumprir a ousada meta de elevar em de 1.175 para 1.300 o montante de administradores municipais eleitos pela legenda — um aumento de 10%.

A tensão entre os dois partidos antecipou as articulações em torno de um pleito considerado decisivo na definição do que será a relação de forças dentro do governo nos próximos anos e, o que é mais importante, a base de lançamento das disputas estaduais e da corrida presidencial de 2014.

Normalmente, as prévias para a escolha das candidaturas a prefeito, no PT, ocorrem no início do ano. Mas o acordo em torno da candidatura do ministro da Educação, Fernando Haddad, à prefeitura de São Paulo acabou selado na primeira quinzena de novembro, exemplifica um membro da cúpula do PT.

"Será difícil para o governo manter o distanciamento necessário das divisões políticas que deverão surgir nesse processo", afirma o cacique petista. O PMDB trabalha uma estratégia agressiva nos estados e, a princípio, quer ter candidatos em cada uma das 26 capitais onde haverá eleições no próximo ano.

Dobradinha com o PSB

O cenário mais plausível até o momento, entretanto, aponta para candidaturas próprias do PMDB em 22 capitais. O PT lançará nomes em 20 capitais. No outro extremo do espectro partidário, o PSDB tem pretensões em 19 capitais. Um enfraquecido DEM mira em 14.

O maior partido da base aliada trabalha para contornar a possível ameaça a seu poder de pressão dentro do governo que surge sob a forma da aliança — por hora informal — entre PSB e PSD.

Em quase todos os estados, o nascimento do partido desenhado pelo prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, como uma dissidência do DEM só foi possibilitado por causa do apoio do PSB do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, que ascendeu à condição de um dos principais articuladores políticos do país ao eleger a mãe, Ana Arraes, para uma cadeira de ministra do Tribunal de Contas da União (TCU). Foi com o apoio do PSB que o PSD emergiu como a terceira maior bancada da Câmara.

FONTE: CORREIO BRAZILIENSE

Publicidade promove Eduardo Paes

Candidato á reeleição em outubro, prefeito gastou R$ 98 milhões com propaganda em três anos, 2.450% a mais que antecessor

RIO - Embalado por uma coligação de 18 partidos, obras monumentais para a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016 e por investimentos recordes em publicidade institucional, o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB), é candidato à reeleição na disputa eleitoral desse ano

Na mais recente pesquisa do Ibope, encomendada pela Band e divulgada a semana passada, Paes lidera com apenas 36% das intenções de voto e tem a rejeição de 29%. A vitória do peemedebista representaria a consolidação da hegemonia do partido no Estado, onde já controla desde 2007 o governo, com Sérgio Cabral, e administra outros 35 dos 92 municípios fluminenses – que reúnem 57,47% da população.

Paes aplicou R$ 98,42 milhões em publicidade em seus três primeiros anos de gestão – os dados de 2011 estão consolidados até dezembro.

Outros R$ 28,74 milhões estão reservados no orçamento municipal. O valor já usado pelo atual prefeito em propaganda representa uma elevação de 2.450% em comparação com o que foi gasto pelo seu antecessor, Cesar Maia (DEM), entre 2005 e 2008.

- "Pensei até que fosse mais. Ele (Cesar Maia) não fez publicidade nenhuma nos últimos quatro anos dele", alegou. "Eu acho importante o governo se comunicar e vou continuar comunicando", afirmou o prefeito. Esqueceu de acrescentar que o dinheiro que usa para sua promoção é de toda a população da cidade

O prefeito chega até ironizar quando fala sobre a campanha eleitoral:

"Quem disse que eu sou candidato à reeleição? Mas Paes é candidato”. A interlocutores, diz que gostaria de ser prefeito do Rio para sempre.

"Vamos lá. A vida como ela é: eu não perco um minuto da minha vida pensando em adversários. Eu cuido do meu governo. Tenho um ano de mandato para cumprir. Vou trabalhar para fazer tudo direitinho até o fim", disse o prefeito.
Ao avaliar seu próprio governo, Paes tece elogios : "Eu não vou ser modesto. São tantas mudanças, tantos avanços, que posso dizer que arrebentamos".

Apesar do entusiasmo, reconhece ter problemas a resolver nas áreas de saúde e transporte, etc.

FONTE:  O ESTADO DE S. PAULO E AGÊNCIAS

A 'nova política' de Marina

Ex-senadora vai apoiar candidatos a prefeito de diferentes partidos

Sérgio Roxo

SÃO PAULO. Sem partido desde que rompeu com o PV, a ex-senadora Marina Silva deve emprestar o seu capital político de quase 20 milhões de votos a candidatos de legendas variadas na eleição municipal deste ano. Ainda não estão definidos os palanques em que a terceira colocada na disputa presidencial de 2010 irá subir. Mas nomes do PPS, do PSOL e do próprio PV, que têm participado do Movimento por uma Nova Política liderado pela ex-senadora, são os que possuem mais possibilidades de obter o apoio da ex-verde.

- Ela vai apoiar candidatos do PV em determinadas situações e de outros partidos também. Mas há cidades em que não vai haver apoio a ninguém - afirmou o deputado federal Alfredo Sirkis (RJ), que é aliado de Marina, mas segue no PV.

Nenhum dos pré-candidatos a prefeito que se aproximou da ex-senadora até agora aparece com chances reais de vitória na eleição de 2012.

Em São Paulo, a terceira colocada na eleição presidencial deve se aliar a Soninha Francine (PPS). No Rio, os deputados estaduais Aspásia Camargo (PV) e Marcelo Freixo (PSOL) disputam o apoio. Em Recife, o secretário estadual do Meio Ambiente, Sérgio Xavier (PV), se confirmar a candidatura, deve ter Marina em seu palanque. Outro pré-candidato na capital pernambucana, Raul Jungmann (PPS), aproximou-se do Movimento por uma Nova Política nos últimos meses e também tenta atrair a a ex-senadora. Em Belém, a ex-verde deve ficar com o deputado estadual Edmilson Rodrigues (PSOL).

A terceira colocada na disputa presidencial tem dito a aliados que apoiará somente nomes referendados pelo Movimento pela Nova Política. O escolhido terá que ter obrigatoriamente a Ficha Limpa.

FONTE: O GLOBO

PSDB quer decidir logo nome para 2014

Tucanos pregam fim de "briga de egos" e defendem consenso sobre candidato presidencial para evitar desgastes

Flávio Freire

SÃO PAULO. Com o PT avançando em popularidade nas pesquisas qualitativas de São Paulo, impulsionado pela ascendência do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, tucanos já discutem internamente a necessidade de fechar um acordo em torno do candidato à Presidência em 2014 o quanto antes. Prevendo prejuízo por conta de um eventual processo desgastante, como se observa na difícil escolha de um dos quatro pré-candidatos à prefeitura de São Paulo, tucanos querem fechar, já em 2012, um consenso em torno do nome do presidenciável que disputará a sucessão de Dilma Rousseff.

Aos refratários à ideia, principalmente os três possíveis cabeças de chapa - o ex-governador José Serra, o senador Aécio Neves e o governador Geraldo Alckmin -, dirigentes estão argumentando que só com nome consolidado é que o PSDB terá força política para enfrentar um possível projeto de reeleição de Dilma. Ou até mesmo a volta de Lula à disputa presidencial, como se ventila nas fileiras internas do PT.

O sinal amarelo em ninho tucano ficou ainda mais reluzente com o resultado da última pesquisa Datafolha, em que aumentou a rejeição a Serra, ao mesmo tempo em que grande parte dos eleitores diz votar, para prefeito de São Paulo, no candidato apoiado por Lula. Nos últimos dias, o principal líder tucano, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, argumentou que o partido não pode continuar "apático". Ele defende a escolha de um candidato o mais rápido possível.

- O PSDB não pode ficar esperando o que vai acontecer, tem que agilizar. Não pode ficar preso a disputas internas - disse FH.

O GLOBO ouviu dirigentes nas esferas regional e nacional. Pedindo anonimato, todos avaliam que o PSDB não vai conseguir tirar o PT do poder se, antes, não resolver "problemas de ego" que põem areia no que deveria ser um projeto comum do partido.

- Se o PSDB continuar patinando, com briga de ego, vamos perder novamente (a disputa à Presidência). E, aí, corre-se o risco de o PT se perpetuar no poder até nascer uma força política com mais foco e menos briga interna - disse um tucano com assento no diretório nacional.

Publicamente, o discurso é o de que não se deve antecipar a disputa à Presidência.

- Cada agonia tem seu dia - costuma repetir José Serra sempre que confrontado com as especulações sobre se irá disputar essa ou aquela eleição.

O presidente nacional do PSDB, Sérgio Guerra, também acredita que não está na hora de trazer 2014 para a pauta atual. Sobre a pressão que o partido estaria recebendo para lançar um nome para a eleição presidencial já no ano que vem, Guerra desconversa:

- O partido está se mobilizando para as eleições municipais, onde temos muita força e uma resposta grande do eleitorado. A sucessão de Dilma vai ser uma consequência do bom trabalho que o partido fará nos próximos dois anos.

FONTE: O GLOBO

Os governantes se promovem e a gente paga a conta:: Eugênio Bucci

Você acredita em propaganda oficial? Acredita naquelas campanhas publicitárias na TV, todas grandiloquentes, multicoloridas, açucaradas e heróicas, quase épicas, em que prefeitos, governadores ou ministros de Estado proclamam suas proezas colossais pelo bem do povo? Falando francamente, você acha que essa gente diz a verdade?

Quanto a isso, temos uma notícia boa e outra má. Começando pela boa: você dirá que não é tão crédulo assim e que olha toda essa política de promoção governista com uma ponta de desconfiança, ou mesmo com um total ceticismo. Tanto melhor. Desde sempre, duvidar do poder é o melhor antídoto contra os fanatismos, os autoritarismos e o culto da personalidade daquele que governa.

Agora, a má notícia: os governos acreditam que, se insistirem com propaganda caríssima e acachapante, no fim das contas você acabará acreditando neles, e nada, nenhuma lei, pode impedi-los de aumentar a gastança. Ato contínuo, eles torram dinheiro público no esporte que é a única unanimidade da política brasileira. Estamos falando do esporte da autopromoção consentida, pelo qual o ocupante de um cargo no Poder Executivo alardeia as suas próprias (supostas) virtudes com recursos que deveriam ser de todos. Todos os políticos, tanto faz o partido, são iguais na prática desse esporte. Uma vez no poder, gente que se diz de esquerda age do mesmo modo que a direita. Tudo com nosso dinheiro.

Recentemente, a prefeitura de São Paulo, que manda no maior orçamento municipal do país, começou a despejar na TV local seus filmetes de otimismo natalino. O slogan é "antes não tinha, agora tem". Já viu, né? 

O pobre telespectador paulistano olha aquilo, sai na rua e acha que endoidou. Onde está a cidade que o prefeito promete na TV? Na megalópole publicitária, aparece uma jovem deslumbrante, feliz, que nos conduz a postos de saúde aprazíveis como o nirvana. Na metrópole-cenário em que ela faz deslizar seus encantos e seus sorrisos, fulguram escolas, a luz é farta e a água abundante. A musa kassabista passeia em ruas limpíssimas. É o céu na terra da garoa.

Nessa toada ficcional, quase insultuosa, o município paulistano saltou de um patamar de R$ 12 milhões gastos com publicidade governista, em 2005, para a estratosfera de R$ 110 milhões em 2010. Num intervalo de cinco anos, o volume foi multiplicado por quase dez. Com o chapéu alheio, por certo.

No Estado de São Paulo, o mais rico do Brasil, a progressão perdulária é igualmente geométrica. Em 2003, o Palácio dos Bandeirantes queimou R$ 33,3 milhões no esporte da autopromoção. Em 2010, a conta fechou em R$ 266,6 milhões (os números de 2011 ainda não são conhecidos, mas devem permanecer por aí).

Se os programas sociais de saúde, moradia e educação crescessem nas mesmas bases, a vida real seria a melhor propaganda do mundo. Mas ela não é. A publicidade dos governos é diretamente proporcional à taxa de infelicidade dos governados. Ela só precisa vender o céu, porque a vida é um inferno. A publicidade oficial – sob a desculpa de que está informando o cidadão, vê se pode... – existe apenas para engambelar, para fazer campanha eleitoral governista fora do período que a lei reserva para a campanha eleitoral. A propaganda governista é a campanha eleitoral ininterrupta. Graças a ela, os governantes têm muito mais exposição e chance de promover a si mesmos do que aqueles que militam na oposição. A propaganda governista é hoje uma forma de combate aberto contra o princípio democrático da alternância de poder.

Ah, sim, há ainda o governo federal. Aí, as cifras são mastodônticas. Para que o estimado leitor tenha uma ideia menos vaga do que a palavra mastodôntica está fazendo aqui, digamos o seguinte: no ano de 2009, apenas no ano de 2009, o governo federal jogou nada menos que R$ 1,67 bilhão nas campanhas dos ministérios, da Presidência da República e de suas estatais, segundo dados da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República. Naquele mesmo ano, o total do mercado anunciante no Brasil, segundo o Projeto Intermeios, ficou na casa dos R$ 22,3 bilhões. O governo federal, há tempos, é um dos maiores anunciantes do mercado brasileiro. E que mercadoria ele vende? A sua própria imagem.

Assim é o Brasil, um país em que os governantes usam o dinheiro de todos para promover as causas partidárias de uns poucos – quanto aos governados, eles até que não acreditam muito na lorota governista, mas dão de ombros, deixam pra lá.

Feliz 2012!

É jornalista e professor da ESPM e da ECA-USP

FONTE: ÉPOCA

Dóris Monteiro e Miltinho - Foi um Rio que passou em minha vida,-Vai que depois eu vou"

Voto de silêncio:: Ricardo Noblat

"Prefiro o barulho da Imprensa ao silêncio das ditaduras" (Dilma)

Todo governo tem pessoas destacadas para espalhar versões de fatos que mais o favoreçam. As versões começam a ser criadas logo de manhã, à primeira leitura dos jornais. São aperfeiçoadas ao longo do dia de acordo com a evolução do noticiário. Ao cair da tarde ou no início da noite, são servidas a jornalistas ávidos por uma palavra oficial.

Antes de pisar pela primeira vez numa redação, o jornalista é informado sobre uma das clausulas pétreas do código que deve orientar todos os seus passos. A cláusula: é obrigatório ouvir o "outro lado" de uma questão. Se a questão tiver vários lados todos devem ser ouvidos: Assim se produzirá uma narrativa mais isenta.

Na teoria, funciona Na prática, nem sempre. Com frequência, o leitor acaba sendo contemplado com versões contraditórias de um mesmo fato. E fica sem saber ao certo o que aconteceu - e como, jornalista e pago (ou deveria ser) para esgotar a maioria de suas dúvidas, só voltando à redação com uma história que tivesse começo, meio e fim.

Uma história assim não dispensa a audiência do "outro" ou de tantos "outros lados" de uma questão. Mas uma coisa é ouvi-los e registrar o que disseram de crível e de relevante, desprezando o resto. Outra, muito diferente, é se prestar ao papel de porta-voz de manipuladores que se empenham em plantar o que lhes interessa:

O jornalista encarregado da cobertura de assuntos políticos raramente testemunha algo de muito valor. O que realmente importa acontece longe dos seus olhos - no escurinho dos gabinetes ou nos ambientes ensolarados, mas inacessíveis do poder. Ou alguém conta para o jornalista o que ocorreu ou ele jamais saberá.

Nada é mais difícil, pois, para um jornalista do que administrar suas relações com as fontes de informação. Boas fontes são aquelas que sabem muito - e que nos contam parte do que sabem. Elas sabem o quanto valem. E não dão informação de graça. Esperam, em troca, ser bem tratadas. E socorridas em meio a dificuldades.

O jornalista tem consciência de que seu compromisso numero um é com o distinto público. Ao fim e ao cabo, e ele que lhe garante o emprego. Mas para manter-se bem informado o jornalista precisa ser bem informado. E aí o círculo se fecha: ele precisa dispor de fontes, que não informam de graça, que ...

O Congresso é o alvo principal das criticas dos jornalistas porque é o poder mais aberto. São 513 deputados e 81 senadores. Se para informar corretamente o público o jornalista tem que sacrificar algum parlamentar que o abastece com notícias, haverá outro para substituí-lo.

No governo não é assim. Ha menos fontes de informa<;ao. E a depender do DNA do governo, elas são mais fechadas. Havia fontes de mais no governo José Sarney e notícias em excesso. Foi uma maravilha. Sob esse mesmo aspecto, não foi mal o governo de Fernando Collor. Nem o de Itamar Franco.

Fernando Henrique Cardoso foi uma preciosa fonte de informações para os jornalistas. Deixou de ser quando se elegeu presidente. A maneira como lidara antes com os jornalistas contaminou os que governaram com ele. A informação circulou com desenvoltura mesmo quando o governo apanhava sem dó nem piedade.

Se comparado com o de Fernando Henrique, o governo Lula foi refratário à livre circulação de informações. O próprio Lula confessou uma vez: "Gosto mais de publicidade do que de notícias". Quis dizer: gosto mais de notícias que exaltam os meus feitos e os leitos do governo do que de notícias neutras ou críticas.

Prevaleceu o silêncio no primeiro ano de governo Dilma. Ou porque o governo não teve muito que dizer ou porque não é do feitio dizer muito. Dilma respeita a mídia e lhe reconhece a importância - mas não gosta dela. Prefere mantê-la à distância. E exige que seus auxiliares a mantenham a distância.

O mundo seria melhor para governantes como Lula e Dilma se só fosse divulgado aquilo que eles gostariam que fosse.

FONTE: O GLOBO

A língua de Dilma:: José Roberto de Toledo

Contrariando o mito machista de que mulher fala muito, no seu primeiro ano de governo a presidente Dilma Rousseff pronunciou-se menos do que seus dois mais recentes antecessores. Foram 189 discursos em 2011 - praticamente uma fala a cada dois dias. Em relação ao primeiro ano de mandato de Luiz Inácio Lula da Silva, Dilma usou a palavra em 25% menos ocasiões. Já na comparação com o primeiro ano de Fernando Henrique Cardoso, falou 13% menos vezes.

O começo do mandato, porém, não é um espelho fiel de uma gestão, pelo menos no discurso. Lula começou com 251 falas em 2003 e terminou seu governo, oito anos depois, com 353 pronunciamentos ao longo de 2010 - um recorde absoluto de verborragia entre seus pares. Na média, o petista falou 11% mais vezes no segundo mandato vis-a-vis os quatro primeiros anos no Palácio do Planalto.

Se a língua presidencial foi crescentemente acionada na gestão de Lula, sob FHC, tornou-se cada vez menos eloquente. O primeiro de seus oito anos de governo foi o mais palavroso do tucano, com 216 discursos. Ano a ano, Fernando Henrique economizou pronunciamentos e, mesmo tendo uma recaída verbal em 2002, falou em média 18% menos vezes no segundo mandato.

Nos casos de Lula e FHC, há uma semelhança entre as curvas de popularidade e de frequência dos pronunciamentos. Quanto maior a aprovação junto à opinião pública, mais discursos o presidente fazia - e vice-versa. Pode ser uma reação natural de exposição/preservação dos homens públicos, ou simples coincidência.

Na quantidade, Dilma se aproxima mais do tucano do que de seu mentor político. Na média dos oito anos de mandato, Lula discursou 33% mais vezes do que sua sucessora. Já a média anual dos dois governos FHC é praticamente igual à do primeiro ano de Dilma: 184 discursos a 189.

Na forma também, Dilma se aproxima mais de Fernando Henrique. Ambos privilegiaram a leitura à improvisação. Para FHC, por apreço à liturgia do cargo e pelo trauma dos dolorosos estragos que as blagues improvisadas provocaram em sua popularidade. A atual presidente ainda se ressente da pouca prática em pronunciamentos públicos. Lula, ao contrário, nasceu para a política em palanques e comícios, observando as reações do público e improvisando o discurso ao gosto da audiência.

Como consequência, o discurso ensaiado de Dilma é mais complexo (às vezes, mais complicado), elabora frases mais longas (25 vocábulos, em média) e usa um arsenal de palavras mais amplo do que o de Lula. Não que o do ex-presidente fosse simplório: seu léxico de mais de 12 mil palavras é típico de quem fez faculdade. O de Dilma é 3 mil palavras maior e, até por isso, mais difícil de ser compreendido. Se o meio é a mensagem, Dilma ainda tem muito a aprender com Lula.

Estilo. Eles têm diferenças óbvias de estilo. Recém-empossado, Lula iniciou seu discurso na vila Irmã Dulce, em Teresina, em 10 de janeiro de 2003, saudando "meus companheiros e minhas queridas companheiras do estado do Piauí". A fórmula companheirística se repetiria nos 2.264 discursos seguintes. Na boca de Dilma, os "companheiros" mal passaram da centena.

Sempre que a (falta de) solenidade permite, Dilma começa seus discursos com um "queria saudar/cumprimentar" quem estiver por perto. Podem ser "os presentes", "os baianos", "os uberabenses" ou a autoridade mais próxima. O "queria" foi um cacoete repetido mais de mil vezes em 2011. Já "gente", o vocábulo predileto de Lula, perdeu espaço com Dilma.

A presidente gosta de terminar seus discursos com um "muito obrigada", de vez em quando manda "um abraço". Muito diferente do "fiquem com Deus", recorrente nas despedidas de Lula. "Deus", por sinal, foi a ausência mais ilustre dos discursos de Dilma. Recebeu apenas 11 citações, e a maioria delas na forma de expressões idiomáticas ou nomes de instituições. Mal comparando, o vice Michel Temer e José Sarney foram citados três vezes mais pela presidente.

No conteúdo, Dilma segue fiel a quem possibilitou que ela chegasse à Presidência. Na "nuvem" que sintetiza as 293 mil palavras que ela disse ao longo de 2011, destacam-se "Brasil", "país" e "todos". Enfileiradas em ordem alfabética, formam o slogan marqueteiro de Lula: "Brasil, um país de todos". Seria coincidência, não tivesse a presidente citado o antecessor 214 vezes em seus discursos. Por comparação, Dilma citou FHC em apenas seis ocasiões - embora, em todas elas, respeitosamente.

Lula. As menções de Dilma a Lula são sintomáticas. Elas começaram intensas nos três primeiros meses de governo, quando ainda estava fresco na memória da presidente - e do eleitor - o esforço de Lula para elegê-la. As citações caíram abruptamente em abril e foram apenas duas em maio. Por essa época, pipocavam especulações sobre o afastamento de criador e criatura.

Lula voltou a aparecer com frequência redobrada nos discursos de Dilma em julho e agosto, justamente quando os ministros começaram a cair às pencas, a maioria acusada de corrupção. Em setembro, quando a ameaça de crise já havia virado "faxina" e estava claro que a presidente ganhava em popularidade com as demissões, Lula surgiu menos da boca de Dilma.

Depois de outubro, quando tornou-se público que o ex-presidente havia sido diagnosticado com um câncer na laringe, o nome de Lula voltou a aparecer com mais assiduidade nos discursos presidenciais. E assim, o "Lulômetro" de Dilma fechou 2011 no mesmo patamar de mais de duas dezenas de citações mensais com que havia começado o ano. A fidelidade se impõe.

PS: Seria simpático se os responsáveis pelo site da Biblioteca da Presidência da República revisassem os links para os discursos dos ex-presidentes. Entre 29 e 31 de dezembro, quando suas páginas foram pesquisadas para este texto, faltavam cerca de 150 discursos de Fernando Henrique Cardoso em 2000 e 2001 - o que era verificado pelo confronto com o acervo do site do Instituto FHC. Também faltavam discursos dos ex-presidentes Itamar Franco (1994), Fernando Collor (1991 e 1992) e José Sarney (1985). Já os de Lula, supõem-se que estejam todos lá: o site do Instituto Cidadania, que cuida da memória do ex-presidente petista, remete diretamente para o site do Planalto quando o assunto é discurso presidencial.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Mensalinho :: Melchiades Filho

Viraram a casaca os dois tucanos que, no passado, mais aguerridamente investigaram e denunciaram o esquema de desvio de dinheiro público para a compra de apoio político ao governo Lula.

Gustavo Fruet bandeou-se para o PDT. Neste ano sairá candidato a prefeito de Curitiba, como "peão" no jogo do PT para desbancar o PSDB do poder no Paraná _o movimento seguinte será o lançamento da ministra Gleisi Hoffmann (Casa Civil) ao governo em 2014.

Eduardo Paes, que em 2005 chamou Lula de "chefe da quadrilha", pediu desculpas, migrou para o PMDB e virou prefeito do Rio. Tem agora o respaldo do PT para se reeleger e comandar a festa (e os "preparativos") da Olimpíada de 2016.

Outro garoto-propaganda das CPIs nascidas do mensalão, ACM Neto (DEM-BA) por pouco não fechou com o PMDB e se juntou à base de Dilma no ano passado.

Seis anos atrás, Gastão Vieira (PMDB-MA) fazia parte da bancada não (tão) alinhada com o Planalto. Acusava Lula de "comprar partidos e cooptar deputados", em um "caso de corrupção sem paralelo" na história. Em setembro, foi premiado com o Ministério do Turismo.

Quem também virou ministro de Dilma foi Garibaldi Alves (PMDB-RN), que, à frente da CPI dos Bingos, acolhia sem pestanejar os pedidos da oposição para fustigar o presidente então enfraquecido.

Como peça de promotoria, o mensalão está mais forte do que nunca. Apesar dos ardis de alguns ministros e de personagens do bastidor, o julgamento deverá mesmo ocorrer neste ano no STF. Não surpreenderá se resultar em prisões. O inquérito é detalhado e devastador.

Do ponto de vista político, porém, o escândalo aos poucos esmaeceu. Perdeu a octanagem do "nunca antes neste país" e começa o ano novo sem apelo no Congresso, vítima da força dos governos do PT e do adesismo de ocasião.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

A Presidência no feminino:: Renato Janine Ribeiro

Estamos completando um ano com uma mulher na Presidência da República, a primeira em nossa história. A data pede reflexão. Três importantes países da América Latina elegeram nos últimos anos mulheres para governá-los: na ordem cronológica, Michelle Bachelet, no Chile, Cristina Kirschner, na Argentina, e Dilma Rousseff. Todas tiveram ótima avaliação. Bachelet, que não fez seu sucessor, saiu do governo altamente popular. Cristina foi reeleita com ampla votação. As pesquisas de opinião são bem favoráveis a Dilma. Mas mal temos mulheres nos demais escalões do poder. São poucas as governadoras, prefeitas, deputadas, senadoras e vereadoras. Sentimos dificuldade até com a palavra para designar quem está na chefia de Estado. Embora Dilma Rousseff se diga "presidenta", quase toda a imprensa a chama de "presidente". O dicionário valida ambas as formas, mas já li no Facebook, depois que usei o "presidenta", que isso provaria meu suposto petismo... Uma dedução, obviamente, mal feita.

Porém, tudo isso é sintoma de uma grande dificuldade, não apenas dos brasileiros mas dos homens em geral - e aqui uso "homem" no sentido de varão e no de membro do gênero humano -, para assimilar a novidade que é ter mulheres no poder. Só no século XX elas adquiriram o direito de voto. No Brasil, votaram pela primeira vez em 1933. Antes disso, algumas mulheres exerceram o poder como rainhas, por direito próprio - isto é, não como meras esposas de homens que fossem reis. Mesmo isso não foi fácil. Ironicamente, a maior estadista inglesa, Elizabeth I, que reinou de 1558 a 1603, só nasceu devido à ansiedade do pai, Henrique VIII, por ter um filho varão. Como o primeiro casamento do rei lhe deu apenas uma filha, ele receava que uma sucessão feminina fosse contestada. Daí, a famosa série de divórcios de Henrique e sua ruptura com a Igreja Católica - para, afinal, ter como definitiva sucessora logo uma mulher... Mas, embora Elizabeth tivesse enorme poder em suas mãos, seus auxiliares a pressionavam para se casar. Ela deveria ceder o poder a um homem. No fim das contas, ela só governou porque decidiu conservar-se solteira. Contudo, a estabilidade de seu longo governo teve um preço: com ela, terminou sua dinastia. O trono inglês passou aos reis da Escócia.

A despeito de tudo, avançamos muito. Lembro que, em 1989, a antropóloga Mariza Corrêa foi a primeira diretora de uma faculdade na Unicamp. Já a USP demorou mais - o que é espantoso, levando-se em conta que tem unidades, como a enfermagem e a educação, predominantemente femininas - mas já teve uma reitora. A primeira senadora do Brasil foi Eunice Michilles, em 1979; ela era, porém, apenas uma suplente, que assumiu o cargo com a morte do titular. Só em 1990 tivemos mulheres eleitas para o Senado. Hoje, isso já não é exceção, mas está longe de ser a regra. Uns anos atrás, ouvi uma vereadora paranaense contar que - toda vez que falava na Câmara - os colegas homens riam dela. Isso tornou sua vida insuportável até que, participando em Curitiba de um encontro de mulheres detentoras de mandatos, percebeu que podia ter o apoio, mesmo a distância, de outras mulheres, e enfrentou a situação.

Ainda é difícil, porém, aceitar uma mulher chefiando o governo. Não falo do mundo islâmico; curiosamente, países muçulmanos - embora não árabes - já tiveram mulheres no poder, como Benazir Bhutto, no Paquistão (mas será que o fato de ser mulher contribuiu para ela ser assassinada?). Penso em nosso próprio país. Porque o preconceito é tenaz. Mesmo quando não é agressivo contra as mulheres, um resíduo importante dele aparece na quase-impossibilidade de conciliar o que se espera da mulher e o que se espera do governante.

De quem governa, esperamos que mande. Da mulher, esperamos que seja doce. É possível mandar docemente? Milhares de anos nos acostumaram a uma experiência em que o ato de mandar é duro, agressivo, viril. Também nos acostumaram à ideia de que a mulher é boa, compreensiva, receptiva. Daí que, quando uma mulher manda, entremos em curto-circuito. Talvez tenha sido isso o que levou à queda de Nelson Jobim, político hábil e capaz: quem sabe não aceitasse que uma mulher mandasse nele, que por sua vez dava ordens à cúpula das Forças Armadas. A sucessão de declarações aparentemente desastradas de Jobim, praticamente forçando Dilma a exonerá-lo, permite considerar essa explicação tão boa quanto qualquer outra.

A situação tampouco é fácil para as mulheres. Hillary Clinton, quando o marido concorreu à Presidência dos Estados Unidos, teve que reduzir seu perfil de profissional competente e se apresentar como dona de casa que fazia "cookies". Depois voltou a seu perfil mais verdadeiro, mas parece que nunca presidirá seu país.

Creio, porém, que é justamente esse problema que traz, no seu bojo, a solução. As mulheres assumirem o poder não significa elas se tornarem másculas - imagem que se insinua, às vezes, sobre a própria Dilma. Significa um novo estilo de poder. Não é fortuito que estes anos se fale tanto em "soft power". Aproveitando a palavra, mas dando-lhe novo sentido, o poder precisa se feminizar. Ele não pode, numa democracia, estar na dureza, na repressão, na ordem. Aliás, depois do hiper-masculino Collor, nossos três últimos presidentes foram mais de persuadir que de ordenar. Sua retórica era mais importante que suas ordens. Essa é uma das tarefas que teremos de cumprir, nós e o mundo, nos próximos anos ou décadas: compreender, definir, construir um poder com mais traços femininos. Isso pode demorar bem mais que o mandato de Dilma Rousseff, mas vai acontecer.

Renato Janine Ribeiro é professor titular de ética e filosofia política na Universidade de São Paulo.

FONTE: VALOR ECONÔMICO

O poder dos economistas:: Luiz Carlos Bresser-Pereira

Interessa a eles ensinar que os sistemas são autorregulados e basta corrigir suas falhas

Desde os anos 1970 os dirigentes das instituições financeiras e os economistas viram seu poder político crescer, mas o mundo também viu um imenso aumento da instabilidade financeira.

Enquanto financistas ganhavam milhões e milhões, o prestígio e o poder dos economistas aumentava. Enquanto estes, muitos transformados em financistas, aumentavam seus ganhos, as crises financeiras se multiplicavam, e a renda de cada país se concentrava nos 2% mais ricos.

Podemos buscar várias explicações para isso, mas creio que o fato histórico novo que teve papel determinante nessa mudança foi a decisão do presidente Nixon em 1971 de suspender a conversão do dólar em ouro ou, mais especificamente, a conversão das reservas em dólares dos outros países em ouro, se seus dirigentes o solicitassem.

A partir desse momento, o dinheiro perdeu referência com a economia real; a criação, o fluxo e a destruição de moeda passaram a ocorrer com grande facilidade; o endividamento do setor privado saiu de controle e, na falta de uma verdadeira âncora para a economia, as crises financeiras se tornaram, além de mais frequentes, também mais profundas.

O poder dos financistas e dos economistas aumentou porque eles passaram a ter um papel estratégico: seriam os gestores desse novo quadro monetário-financeiro -da "financeirização" da economia mundial. Mas, passados 40 anos, verificamos que fracassaram.

Os financistas, porque se preocuparam apenas em ganhar mais dinheiro para eles e para os rentistas. Os economistas, porque construíram uma teoria matemática -a teoria econômica neoclássica- que "demonstrava" que os mercados eram autorregulados, de forma que não havia por que gerir as economias nacionais e a economia mundial. Os dois, porque, ao desregularem os mercados financeiros, estavam "desgerindo" a economia.

Dani Rodrik informou em artigo recente (publicado no "Valor", 19.dez.2011) que um grupo de estudantes abandonou o curso de seu colega na Harvard University Greg Mankiw, protestando contra o fato de que "o curso propaga ideologia conservadora disfarçada de ciência econômica e ajuda a perpetuar a desigualdade social".

Os alunos foram benignos com a teoria econômica ortodoxa: deviam ter acrescentado que ajuda também a aumentar a instabilidade financeira e causar baixo crescimento.

Rodrik defendeu o colega, argumentando com o seu "paradoxo da globalização": que nos cursos os economistas neoclássicos ensinam uma teoria econômica sofisticada, onde as falhas de mercado são devidamente salientadas, mas, na hora de proporem políticas, adotam um liberalismo econômico simplista. Ele está enganado.

Essa teoria econômica matemática que se ensina nas grandes universidades, baseada nos pressupostos do "homo economicus" e das expectativas racionais e no modelo do equilíbrio geral é essencialmente falsa, porque usa o método hipotético-dedutivo e porque adota como critério de verdade a coerência lógica, não a conformidade com a realidade.

Mas não é uma teoria falsa por engano; o é por arrogância matemática que lhes dá monopólio sobre o saber e porque interessa aos economistas ensinar que os sistemas econômicos são autorregulados, bastando para isso corrigir suas pequenas falhas.

Dessa forma eles usam a teoria econômica neoclássica para justificar "cientificamente" o neoliberalismo -uma ideologia reacionária que durante 30 anos (1979-2008) promoveu o atraso e a desigualdade em todos os países que a aceitaram. E, ao mesmo tempo, dizem aos cidadãos desses países que fiquem calados, já que não dominam o "conhecimento" matemático e preciso.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Indústria do País perderá mais espaço, prevê CNI

Pressionada pela crise, pelo câmbio desfavorável e pela concorrência dos importados, a indústria brasileira crescerá menos do que o Produto Interno Bruto (PIB) em 2012, prevê a Confederação Nacional da Indústria (CNI). Com isso, deverá ser repetido o desempenho de 2011, quando o setor manufatureiro também teve expansão mais fraca do que a média da economia, relata repórter Lu Aiko Otta. A perda de espaço da indústria na composição do PIB coincide com desempenho mais robusto do setor de serviços, o que mostra uma mudança no perfil da economia. A estimativa da CNI para o fechamento dos dados de 2011 é de crescimento de 1,8% para a indústria é de 3% para os serviços, ante aumento do PIB de 2,8%. Para este ano, a previsão é de que o setor industrial tenha expansão de 2,3%, o PIB, de 3%, serviços, de 3,3%. O governo estuda medidas de estímulo à indústria

Indústria deve seguir encolhendo em 2012; setor de serviços ganha espaço

Sob pressão da crise, do câmbio desfavorável e da concorrência dos importados, setor industrial deve crescer menos que o PIB este ano

Lu Aiko Otta

BRASÍLIA - Acuada pela crise, pelo câmbio desfavorável e pela forte concorrência dos importados, a indústria brasileira crescerá menos do que o Produto Interno Bruto (PIB) em 2012, segundo estima a Confederação Nacional da Indústria (CNI). Assim, deverá ser repetida a performance de 2011, quando o setor manufatureiro também teve uma expansão mais fraca do que a média da economia.

O movimento de "encolhimento" da indústria na composição do PIB coincide com um desempenho mais robusto do setor de serviços. Está em curso, portanto, uma mudança no perfil da economia brasileira.

Segundo a CNI, a indústria de deverá crescer apenas 1,8% em 2011 e os serviços, 3%, ante um aumento do PIB de 2,8%. Para 2012, a estimativa é que o setor industrial tenha uma expansão de 2,3%, para uma alta do PIB de 3% e uma expansão de 3,3% nos serviços.

"A indústria tem perdido seu papel mais dinâmico na economia, mas ela tem de voltar a ser o centro do crescimento", defendeu o gerente executivo do núcleo de Política Econômica da entidade, Flávio Castelo Branco. Ele observou que, quando a indústria foi o principal motor da economia, o Brasil cresceu mais do que a média mundial. No momento em que o consumo passa a ser o principal elemento, com expansão dos serviços, a situação se inverte.

Isso ocorre, segundo explicou, porque o setor de serviços tem baixa produtividade e, por isso, menos condições de alavancar o crescimento. "O Brasil ainda não completou seu ciclo, não pode se tornar uma economia pós-industrial."

Efeitos. Os números indicam que a indústria brasileira tem sentido mais duramente os efeitos da crise do que os Estados Unidos. A produção industrial nacional estava, em outubro passado, 3,5% inferior à registrada em setembro de 2008, antes da quebra do banco Lehman Brothers. No mesmo período de comparação, a indústria norte-americana está hoje 2,9% acima do período pré-crise. "Eles, mesmo passando por um momento mais difícil e com a demanda interna mais desaquecida que a nossa, estão numa situação melhor", observou o economista da CNI Marcelo de Ávila.

A entidade defende uma nova estratégia de crescimento, na qual o investimento, e não o consumo das famílias, lidere o processo. O Instituto para o Desenvolvimento Econômico e Industrial (Iedi) divulgou um boletim em que apoia a mesma linha. "O predomínio do investimento sobre o consumo e um maior equilíbrio entre importações e exportações são imprescindíveis para assegurar um melhor crescimento de longo prazo", diz a nota.

"Esse é um momento de crescimento menor", admitiu a secretária de Desenvolvimento da Produção do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), Heloisa Menezes. Uma das metas do Plano Brasil Maior, informou a secretária, é que a indústria cresça mais do que o PIB.

Mais medidas. A secretária disse que o governo estuda mais medidas de estímulo à indústria, mas a adoção delas dependerá do quadro fiscal. Está pronto, por exemplo, o regime tributário especial para o Plano Nacional de Banda Larga (PNBL), que vai desonerar equipamentos e obras nos investimentos em infraestrutura para telecomunicações. Ela provocará uma renúncia de arrecadação da ordem de R$ 900 milhões no ano que vem, e é preciso decidir se o governo poderá ou não abrir mão dessas receitas.

Novas medidas para desonerar os investimentos também estão na agenda, mas essas também dependem das perspectivas para as contas públicas. "O Brasil Maior não esgota nosso olhar sobre a competitividade", disse Heloisa. "É um primeiro conjunto de medidas, mas é necessário somar uma estratégia agressiva de inovação e novas estratégias setoriais que estamos elaborando em parceria."

É o caso, por exemplo, do novo regime automotivo, que prevê cortes no IPI das montadoras que investirem mais em tecnologia. "O objetivo não é fabricar mais carros, é fabricar carros mais produzidos aqui", explicou a secretária. Está em estudo um novo critério de cálculo para o índice de conteúdo nacional dos veículos que favorecerá a indústria de autopeças. Essas mudanças, porém, só entrarão em vigor em 2013.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Salário médio cai com avanço dos serviços

Migração de novas vagas da indústria para comércio e serviços fez achatar os salários

Daniela Amorim

RIO - Apesar de o desemprego vir se mantendo em patamares historicamente baixos, o mercado de trabalho perde dinamismo há meses e já não consegue mais impulsionar a geração de vagas formais. O número de trabalhadores com carteira assinada não registrou variação em novembro em relação a outubro (11,2 milhões), segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A indústria, mais uma vez, cortou vagas, o que contribui, no médio e longo prazo, para uma queda no rendimento médio real do trabalhador brasileiro.

"O emprego na indústria está sendo substituído pelo emprego no comércio e no setor de serviços. Isso leva a uma economia de baixos salários", alertou o pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Fernando Mansor Mattos. "Nesses setores que hoje criam empregos, o trabalhador é mal remunerado e mal qualificado."

Na passagem de agosto para setembro, a indústria brasileira eliminou 42.579 postos de trabalho, uma queda de 1,1%. Em outubro, houve novo corte de vagas no setor, com a perda de 23.391 empregos, um recuo de 0,6%.

Em novembro, o País registrou mais um resultado negativo para o mercado de trabalho na indústria, embora a taxa de desocupação no mês, de 5,2%, tenha atingido o menor patamar para esta época do ano desde o início da série histórica, em 2002. A redução no número de vagas no parque industrial do País foi de 37.334 postos de trabalho, uma diminuição de 1,0% em relação a outubro.

Indústria paulista. A sangria ocorreu principalmente em São Paulo, Estado que concentra maior parte do parque industrial brasileiro. De agosto a novembro, apenas a região metropolitana de São Paulo foi responsável pelo corte de 98.187 vagas, de uma perda total de 103.304 postos registrada no período em todo o Brasil.

Quanto à renda dos trabalhadores, enquanto a indústria pagou, em média, R$ 1.700,70 aos empregados em novembro, os setores que mais têm contratado pagaram consideravelmente menos.

O salário médio no setor de construção foi de R$ 1.386,40, no comércio foi de R$ 1.300,90, e em outros serviços ficou em R$ 1.446,40.

A pesquisadora da Coordenação de Trabalho e Rendimento do IBGE Adriana Beringuy conta que os trabalhadores alocados na indústria são os que têm maior porcentual de carteira assinada e tendem a ter salários mais altos em função da própria configuração formal do setor. Por isso, a dispensa dos empregados nessa atividade afeta o rendimento médio real do trabalhador no País, embora a renda tenha se mantido estável na passagem de outubro para novembro.

Saturação. "A gente nota que os trabalhadores com carteira assinada tendem a ter salários maiores do que os trabalhadores sem carteira. Sendo a indústria um setor que emprega majoritariamente com carteira, por consequência, mostra-se um setor com rendimentos mais altos."

Apesar do movimento negativo da indústria, que acompanha os resultados pífios da produção do setor no ano, a economista Alessandra Ribeiro, da Tendências Consultoria Integrada, acredita que há uma saturação na geração de postos, porque o País estaria muito próximo do pleno emprego.

Na avaliação da Tendências, o Brasil atingirá o pleno emprego quando a taxa de desocupação - descontados os efeitos sazonais, como as contratações temporárias para o período de Natal - atingir 5,4%.Atualmente, o desemprego - com ajuste sazonal - está em 5,6%, muito próximo à marca estipulada pela consultoria. "A taxa média de desemprego para 2011 deve ficar em 6%. Em 2012, nossa previsão é de uma taxa média menor, de 5,8%. Então estamos muito próximos do pleno emprego", afirmou Alessandra.

A analista da Tendências explica que o momento vivido pela economia brasileira levou a uma qualidade maior do emprego. Por exigências estruturais do mercado, as empresas tiveram que se profissionalizar e investir na regularização da força de trabalho. Portanto, elas vêm aumentado a formalização do emprego. No entanto, a geração de vagas com carteira desacelera há meses por causa de um esgotamento da mão de obra disponível. "As empresas que querem contratar estão tendo de roubar funcionários de outras empresas ou só conseguem a raspa do tacho, os trabalhadores com menos instrução, que sobraram e ainda não foram pegos pelo mercado", afirmou a economista.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Líderes dos países europeus preveem 2012 mais difícil

Nas mensagens de final de ano, os líderes da Europa apontaram para um 2012 ainda mais difícil que 201l.

Angela Merkel, chanceler da Alemanha, pediu cooperação para salvar o euro. De acordo com ela, "sem dúvida, 2012 será pior"

Em crise, Europa prevê 2012 pior que 2011

Angela Merkel diz que "sem dúvida" situação irá se agravar; para Nicolas Sarkozy, franceses foram postos à prova

Perspectiva de países endividados terem de abandonar o euro preocupa; moeda completou dez anos

Embora a Europa tenha vivido em 2011 sua pior crise financeira desde a Segunda Guerra Mundial, líderes do continente preveem que 2012 será ainda mais difícil.

Angela Merkel, chanceler da Alemanha, a maior economia do bloco, afirmou que "a Europa passa pelo mais duro teste em décadas" e que "sem dúvida, 2012 será pior". Em pronunciamento feito no sábado, ela pediu cooperação para salvar o euro.

O tom de preocupação e cautela também marcou o discurso de fim de ano do presidente francês, Nicolas Sarkozy, que tentará se reeleger em 2012. "Sei que a vida de muitos de vocês foi posta à prova mais uma vez e que estão terminando o ano mais preocupados com vocês mesmos e com seus filhos", disse o presidente.

Embora tenha afirmado que "essa crise sem precedentes" não está superada, Sarkozy disse que há "razões para ter esperança". Ele e Merkel devem se reunir neste mês para discutir um plano fiscal para a Europa.

No início de dezembro passado, quando líderes da União Europeia (UE) realizaram uma cúpula de emergência em Bruxelas para esboçar um novo tratado econômico para o bloco, a Grã-Bretanha foi o único país entre os 27 membros da UE a se recusar a participar da iniciativa.

A notícia do acordo acalmou temporariamente os mercados. Mas a apreensão reapareceu, pois os detalhes finais não foram determinados e um novo tratado poderá levar até três meses para ser negociado.

Sacrifícios

No ano em que se viu obrigado a forçar a renúncia do premiê Silvio Berlusconi, cuja capacidade de lidar com a crise era questionada por Alemanha e França, o presidente da Itália, Giorgio Napolitano, usou tom austero na mensagem de fim de ano à nação.

Napolitano afirmou que "sacrifícios são necessários para assegurar o futuro dos jovens" e que "nenhum grupo social pode deixar de contribuir para a limpeza das finanças a fim de evitar o colapso financeiro da Itália".

Na Grécia, o premiê Lucas Papademos alertou que é preciso dar continuidade "aos esforços com determinação, para que os sacrifícios feitos até agora não sejam em vão".

Atenas lida com grave crise financeira há mais de dois anos. Desde então, Irlanda e Portugal também se viram sujeitos a pedir socorro internacional. Agora, a crise ameaça os esforços da terceira maior economia da zona do euro, a Itália, que terá de levantar € 450 bilhões para financiar sua dívida neste ano.

Enquanto os governantes não alimentam esperanças de melhora da economia, banqueiros e políticos debatem sobre o futuro do euro -a moeda completou dez anos de circulação ontem.

O ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schaeuble, afirmou que "esta não é uma crise do euro, mas uma crise da dívida de alguns Estados do bloco" e que a moeda tem "uma clara história de sucesso".

Na França, o presidente do Conselho Executivo do Banco Central Europeu, Christian Noyer, defendeu a união monetária em um artigo feito em comemoração ao aniversário da moeda.

Para ele, o euro ainda pode se tornar a principal moeda do mundo, caso haja sucesso na integração fiscal.

"Se implementarmos todas as decisões tomadas na cúpula de Bruxelas, ficaremos mais fortes", disse.

O presidente do Standad Chatered Bank, Peter Sands, disse que os líderes políticos da Europa ainda têm de oferecer uma solução mais significativa para a crise.

"Entramos em 2012 com uma perspectiva muito difícil para a zona do euro, com uma possibilidade crescente de países deixarem o bloco."

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Retrato do Brasil:: Aécio Neves

Fechamos o ano com a notícia de que o Brasil deverá ascender à posição de sexta economia do planeta, ultrapassando o Reino Unido.

Se essa é uma boa-nova, devemos recebê-la, porém, sem as tintas do excesso de euforia. Ainda temos um oceano pela frente para chegar ao patamar do PIB per capita inglês. As projeções de 2011 do Pnud (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) revelam que o Brasil ocupa a 84ª posição no IDH, muito distante da 28ª posição do Reino Unido.

Do ponto de vista da nossa realidade, aos poucos, o Censo de 2010, do IBGE, desnuda o Brasil real e as suas grandes tragédias, que convivem com os avanços conquistados desde o advento do Plano Real.

O paradoxo brasileiro permanece: o país cresceu, o desemprego caiu, mas nada disso impediu, por exemplo, o aumento crescente do enorme contingente da população que vive em condições precárias e carente de serviços públicos essenciais nos chamados aglomerados subnormais, eufemismo para favelas, palafitas e outros congêneres.

São mais de 11,4 milhões de brasileiros, número maior que a população isolada de muitos países mundo afora, vivendo em 6.329 desses aglomerados em 323 municípios. Isso representa 6% da população!

A radiografia do IBGE demonstra o fracasso das políticas para conter o fenômeno da favelização, mesmo após a criação do Ministério das Cidades e do Programa Minha Casa, Minha Vida, ainda distante das metas com que foi lançado.

Em 2011, por exemplo, foram contratadas apenas 52 mil unidades para famílias até três salários mínimos, um desempenho minúsculo para o segmento de baixa renda, o que torna pouco crível a perspectiva de "mais equilíbrio" entre demanda e oferta em 2023, tendo em vista um deficit habitacional de 6 milhões de moradias.

Quando se trata de enfrentar o desafio das favelas, voltam à pauta a questão da melhoria da infraestrutura e a do fornecimento de serviços básicos -contenção de encostas, saneamento, coleta regular de lixo, postos de saúde, regularização de terrenos e acesso aos transportes, entre outros, itens que desafiam uma gestão pouco afeita ao planejamento e que padece de crônico imobilismo executivo.

Por isso, ampliam-se sempre as dúvidas sobre a capacidade do governo federal de avançar mais. Basta ver o desempenho pífio do PAC em 2011, a menor execução desde que foi lançado.

Nesta entrada de 2012, quando todas as promessas se renovam, é hora de cobrar os compromissos assumidos com os brasileiros. Eles precisam ser transformados em realidades enfrentadas de forma completa e integrada e não servirem apenas como matéria-prima para a farta propaganda oficial sobre um Brasil que ainda não conquistamos.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO