quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Ministros em questão - Rosângela Bittar

O Palácio do Planalto assegura que o governo não sofre pressões de ninguém, muito menos dos partidos da base aliada, para manter espaço de poder na reforma ministerial de março. Reforma essa que não será ampla, muito menos atingirá o setor energético, onde se acumulam problemas de gestão nos últimos anos, segundo explicações do governo transmitidas na semana passada ao Valor. O PT, porém, na contramão dessas mensagens tranquilizadoras, por ser titular da Presidência da República, amplamente majoritário nos cargos de comando, além de desejar renovar tudo isso em 2014, faz avaliações mais realistas e não confia na ausência de riscos.

Nas conversas mais recentes, sobretudo, as preocupações do partido se concentram em poucas mas importantes áreas. Nem o até hoje intocável ministro Guido Mantega, da Fazenda, está integralmente protegido. Dilma não estaria satisfeita com o desempenho da economia, os já decantados 0,6% de crescimento do PIB no terceiro trimestre, e teria deixado seu ministro da Fazenda entrar na roda da especulação.

Embora use, publicamente, para ele a mesma argumentação que vem repetindo nos casos de denúncia de corrupção - tratam-se de intrigas da direita e disputa política com a oposição - o fato é que o partido não o coloca mais fora da área de risco. A entrevista em que explicou, com o otimismo e a satisfação de sempre, a frustração dos índices previstos em grau bem mais elevado, foi considerada um desastre, até porque ali se insinuou uma possível manipulação da composição do apurado pelo IBGE. Guido Mantega não está, neste momento, como sempre esteve, totalmente impermeável à chuva.

Cardozo chegou a ver o abismo da beira, mas segurou

A avaliação do desempenho da ministra do Planejamento, Miriam Belchior, é também negativa e aqui o PT se preocupa até mais porque sob sua responsabilidade está o PAC, o programa de obras que deu densidade à candidatura Dilma e foi a ela entregue pela fama de competente gestora.

O andamento do PAC desacelerou com Miriam Belchior, é a análise de gente da cúpula do PT que acredita na necessidade de providências para tirá-la da faixa de risco. O curioso é que, na atual análise, o partido confessa que via o PAC, no governo Lula, como um programa em execução na velocidade máxima, o que não corresponde à realidade. Mas agora até o PT acha que parou e, assim, deixa na berlinda seus dois ministros da área econômica.

O ministro da Justiça, José Eduardo Martins Cardozo, entrou e saiu da área de risco na gestão da crise provocada pela Operação Porto Seguro, em cujas rédeas foi apanhada a chefe de gabinete da Presidência, Rosemary Noronha, em São Paulo, e deixou constrangido seu padrinho político, o ex-presidente Lula da Silva.

Cardozo chegou a ver o abismo da beira. Correu risco de ser tragado, mas se reabilitou, por enquanto. Dilma não se conformou com o fato de a Polícia Federal executar um mandado de busca e apreensão num gabinete da Presidência da República sem avisar o ministro. A busca começou às 6 horas, e o ministro foi avisado às 6h30, segundo cronometrou o PT.

Rosemary foi agressiva com os policiais, desesperou-se quando começaram a destrinchar o computador da filha, e na saída chamou o ministro Cardozo pelo celular. Não foi atendida. Lula, assim como Dilma, não gostou do comportamento do ministro.

Segundo o PT, não porque não interferiu para sustar a operação, mas porque dela não foi informado, o que é obrigatório estando a Polícia Federal sob sua responsabilidade. Outro pecado cometido por Cardozo foi ter falado que não havia gravação de conversa do ex-presidente Lula com Rosemary, a menos que fosse clandestina. Isso gerou insegurança e desconfiança: há ou não há gravação, autêntica, clandestina, ou o que for?

Passada a semana, diante da reação de Cardozo e suas investidas no Congresso por dois dias seguidos e o cumprimento da determinação para encerrar o inquérito e tirar o assunto da agenda, sem dar tempo para a análise do material apreendido o que, se a polícia quiser, terá que abrir outros inquéritos, o ministro saiu da faixa de risco. Mas sua demissão foi realmente cogitada naquele momento e a presidente exigiu que daqui por diante o ministro seja informado de tudo pela PF.

Dilma se convenceu que, no caso Rose, o objetivo era atingir Lula, desmoralizar e desconstruir sua imagem, o mesmo conceito que alegou, ontem, com as mesmas palavras, com relação ao depoimento de Marcos Valério à Procuradoria-Geral da República sobre a participação do ex-presidente Lula no mensalão. Palavras suas, usadas pelo PT como posição partidária desde que eclodiu a operação Porto Seguro. Portanto, foi a presidente quem inspirou seu partido, e não o contrário, como se imaginava.

Luis Inácio Adams, o advogado-geral da União, que teve o advogado-geral adjunto envolvido na rede de produção de pareceres para o esquema da Porto Seguro, também reagiu indo ao Congresso, dando a mão à palmatória, rebatendo provocações, o que agradou à presidente. Mas na avaliação de dirigentes do partido a frustração com Adams foi também profunda, até porque só depois de ouvi-lo veementemente se considerar traído, o governo descobriu que os dois eram muito próximos, ao ponto de o sub ser avalista do titular. A reação salvou o advogado-geral mas o PT ainda não o coloca em zona de segurança.

O; s cálculos mais recentes do PT consideram que só lá por julho de 2013 será possível executar as penas atribuídas aos réus do mensalão. Até o caso transitar em julgado, há os embargos declaratórios e os embargos infringentes, para os casos em que os condenados tiveram pelo menos quatro votos favoráveis. Para cada embargo, os advogados dos réus estão preparando peças de 400, 600 páginas.

E até a sentença transitar em julgado, nada acontece, não será executada. Para o PT, prisão, cassação de mandato, multas, são questões ainda em discussão em todo o primeiro semestre do ano que vem.

Fonte: Valor Econômico

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