quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Lula fala como candidato e diz que não perde para 'vagabundo'

Ex-presidente diz que seus adversários precisarão 'trabalhar mais' se quiserem derrotá-lo

'Se ficar um vagabundo numa sala com ar-condicionado, falando mal de mim, vai perder', afirma Lula

Diógenes Campanha

SÃO PAULO - O ex-presidente Lula disse ontem que quer percorrer o Brasil em 2013 e, em tom de desafio, afirmou que não perderá para "vagabundo" e que seus rivais terão que "trabalhar mais do que ele" para derrotá-lo. Ao discursar na posse do novo presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo, ele voltou a sinalizar que não descarta ser candidato em 2014.

"Só existe uma possibilidade de eles me derrotarem: trabalhar mais que eu. Mas se ficar um vagabundo numa sala com ar-condicionado falando mal de mim, vai perder."

Lula não nominou os adversários nem citou o depoimento do empresário Marcos Valério, divulgado na semana passada, em que o operador do mensalão o acusou de ter sido beneficiado pelo pagamento de despesas pessoais com dinheiro do esquema.

Apesar disso, Lula pediu que os aliados "não se preocupem muito com os ataques". Antes, o evento já havia virado um ato de desagravo. Sindicalistas e militantes da UNE e do MST usaram o microfone para defendê-lo.

O tom beligerante seguiu no anúncio da intenção de viajar o país: "No ano que vem estarei, para alegria de muitos e tristeza de poucos, voltando a andar por esse país."

O petista afirmou que pretende ajudar a presidente Dilma Rousseff a governar, e o PT a eleger mais prefeitos e governadores.

Recentemente, o publicitário João Santana, marqueteiro do PT em 2006 e 2010, disse à Folha que o ex-presidente é o melhor nome do partido para disputar o governo de São Paulo daqui a dois anos.

Interlocutores de Lula dizem que ele não descarta a sugestão. A aliados, teria dito que não gosta de confusão, mas que está sendo chamado para a disputa.

Dias atrás, logo após a divulgação do depoimento de Valério, Lula mencionou a hipótese de disputar ao afirmar que gostaria de contar com o voto dos empresários.

Ontem, ele disse que "o que mais machuca meus adversários é o meu sucesso". Lula ainda criticou a mídia ao afirmar que seus antecessores governaram com o apoio da imprensa: "Havia um pensamento único."

Segundo aliados, Lula quer aproveitar o fim de ano para "refletir" sobre seu papel em 2013 e começar a traçar o roteiro de seu giro pelo país, com visitas a aldeias indígenas, quilombos e hospitais.

Nos anos 90 e em 2001, Lula comandou as "caravanas da cidadania", que passaram por mais de 400 municípios.

O petista aproveitaria o novo giro pelo país para se defender do desgaste provocado pelo novo depoimento de Valério e pelas denúncias contra sua ex-assessora Rosemary Noronha, indiciada pela Polícia Federal.

Ainda ontem, o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, confirmou ter recebido documentos de Valério sobre o suposto envolvimento de Lula no mensalão.

Gurgel, porém, adotou um discurso cauteloso sobre a participação do petista no esquema, e lançou dúvidas sobre a credibilidade de Valério. Disse que, em mais de sete anos do caso, Valério prometeu "declarações bombásticas" que não se confirmaram.

Fonte: Folha de S. Paulo

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