sábado, 8 de dezembro de 2012

Irritada, Dilma defende Mantega de críticas da 'Economist'

Presidente disse que não vai levar em conta sugestão de demitir o ministro e acrescentou que "em hipótese alguma" será influenciada pela opinião da revista

Tânia Monteiro, Lisandra Paraguassu, Iuri Dantas

BRASÍLIA - A presidente Dilma Rousseff e um de seus ministros mais próximos defenderam ontem publicamente a permanência do economista Guido Mantega à frente do Ministério da Fazenda e criticaram a prestigiada revista inglesa "The Economist" por sugerir que ele deveria deixar o cargo. Tanto a presidente quanto o ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, trataram o editorial da revista como uma afronta à soberania e uma interferência em assuntos internos.

"Nós todos aqui somos a favor da liberdade de imprensa. Então não tem nenhum senão a dizer sobre o direito de qualquer revista ou jornal falar o que quiser", afirmou Dilma a jornalistas, ao deixar a reunião de cúpula do Mercosul. "Só quero me manifestar que, em hipótese alguma, o governo brasileiro eleito pelo voto direto vai ser influenciado pela opinião de uma revista que não seja brasileira."

Assídua leitora de jornais e revistas, nacionais e estrangeiras, Dilma criticou a postura da revista inglesa conhecida por defender ideais liberais e pouca interferência do Estado na economia. "Eu nunca vi nenhum jornal propor a queda de um ministro. Estamos crescendo a 0,6% neste trimestre. Nós vamos crescer mais no próximo. Então a resposta é: de maneira alguma eu levarei em consideração essa, digamos, sugestão. Não vou levar."

Em sua edição desta semana, a Economist aponta justamente a mão pesada do Estado brasileiro como um dos fatores para o fraco desempenho econômico neste ano e o fato de Mantega esperar o dobro de crescimento de julho a setembro. Dilma chega a ser descrita como a "intrometida em chefe" na economia. Depois de crescer 7,5% no último ano do governo Luiz Inácio Lula da Silva, o Produto Interno Bruto (PIB) desacelerou e pode avançar menos de 1% neste ano.

Precipitação. Pimentel bateu na mesma tecla que a presidente, de quem é amigo há décadas. "No dia em que a Economist nomear ministro no Brasil, deixaremos de ser uma República", afirmou, antes de participar do primeiro Fórum Empresarial do Mercosul. Em resposta às críticas da revista, Pimentel disse que o governo está construindo as bases da retomada do crescimento do País.

Ele estimou, ainda, que o desempenho da economia brasileira vai superar a média mundial no ano que vem. Segundo o Ministério da Fazenda, o PIB nacional vai crescer 4% em 2013. "A Economist foi um pouco precipitada", complementou.

O ministro defendeu a interferência do governo no mercado de moedas. "Toda vez que o mercado agir claramente contra a taxa de câmbio, o governo vai intervir para impedir que isso prejudique a competitividade", disse Pimentel, confirmando a postura criticada pela Economist. "Mas o câmbio continua flutuante."

Demonstrando irritação, Dilma também criticou a situação econômica do Reino Unido, que, apesar da crise, cresceu 1% no terceiro trimestre, acima da taxa brasileira de 0,6%. "Vocês não sabem que a situação deles é pior que a nossa? Pelo amor de Deus, desde 2008", disse a presidente. "Não temos crise de dívida soberana. A nossa relação dívida/PIB é de 35% e a inflação está sob controle."

Fonte: O Estado de S. Paulo

Nenhum comentário: