quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Baque do PIB, mais que escândalos em série, agrava complicações para a presidente ... Jarbas de Holanda

O constrangimento da presidente Dilma Rousseff com o persistente impacto da Operação Porto Seguro, da Polícia Federal – que esvaziou o anúncio na semana passada do programa Brasil Carinhoso, para menores de até 15 anos, com o qual ela buscava retomar na mídia uma “agenda positiva” de ações sociais após as manchetes sobre a dosimetria das penas dos réus do mensalão, pelo STF – esse constrangimento tornou-se ainda mais agudo ao longo da sexta-feira com a divulgação dos dados do IBGE sobre o desempenho da economia no terceiro tri-mestre. Os quais registraram um crescimento de apenas 0,6% do PIB em relação ao trimestre anterior, com a agravante de uma queda de 2% nos investimentos, a quinta seguida. E levaram de pronto a uma nova projeção dos diversos analistas para o PIB de 2012 – de um crescimento em torno de 1% ou até menor, inferior aos dos demais integrantes dos BRICs e aos do México, do Chile, da Colômbia, do Peru. Além de puxarem para baixo as expectativas de expansão em 2013 – já para algo entre 3,5% e 3,3%. Redução que, se confirmada, representará séria ameaça ao projeto reeleitoral de Dilma Rousseff. Com implicações, políticas, a partir do estreitamento da base governista no Congresso após a eleição dos novos presidentes das duas casas pelo PMDB. Cuja postura na disputa maior de 2014 dependerá do contexto da economia – por sua própria relevância e como condicionante da viabilização dos diversos programas do Palácio do Planalto, em particular das ações de estímulo ao consumo e distributivistas, principais responsáveis pelas altas taxas de popularidade da presidente.

Gestão e confiança. Para enfrentamento e superação dessa ameaça, Dilma precisará dar uma virada na condução do governo. Cujos resultados têm comprometido sua imagem de “gestora eficiente e ética”, seja pelo atraso dos programas básicos prometidos (como os de infraestrutura reunidos no PAC), seja pela sucessão de “malfeitos” na máquina federal, gerado pelo abusivo aparelha-mento partidário, sobretudo por quadros de seu partido, o PT. Seguem-se trechos de avaliação do governo e de seu relacionamento com o mercado, em editoriais a respeito dos dados do IBGE sobre o PIB. Da Folha de S. Paulo – “Desinvestimento”: “O desafio (de crescimento adequado) impõe uma visão muito mais larga, com real esforço para reformular o papel do Estado e encetar reformas. O país precisa de estrategistas, mas é governado por gerentes – e mesmo assim com desempenho tacanho”. “Perdido em seu labirinto pseudodesenvolvimentista, o governo Dilma Rousseff parece não estar à altura da tarefa”. Do Valor – “Crise de confiança poderá explicar o fraco investimento”: “..há indícios de que se criou um clima de desconfiança entre parte do empresariado brasileiro e o governo Dilma Rousseff. A desconfiança teria surgido pela percepção (dessa parte) de que o governo abandonou o tripé da política econômica – o câmbio flutuante, o regime de metas de inflação e a política fiscal – e adotou uma postura mais intervencionista e voluntarista na economia”.

... E abre espaço para Aécio, além de apressar definição de Campos

Estes são dois dividendos dos problemas centrais do governo Dilma – da gestão “tacanha” (do editorial da Folha) ao intervencionismo estatal na economia (do editorial do Valor) ao generalizado aparelhamento partidário da má-quina administrativa. E o intervencionismo face à iniciativa privada manifesta-se também no reforço do papel centralizador da União no relacionamento com os estados, no plano fiscal e em áreas importantes de investimentos, como a das concessionárias hidrelétricas. Por isso, a defesa de um novo pacto federativo, de par com fortes críticas à “baixa” qualidade da gestão e ao aparelhamento político-partidário, constituem ingredientes básicos da agenda que o senador Aécio Neves informa estar montando para assumir a candidatura presidencial oposicionista (já praticamente lançada pelo ex-presidente FHC num encontro de prefeitos do PSDB realizado anteontem).

Por outro lado, o conjunto de complicações vividas pelo atual comando do Palácio do Planalto estimula o presidente do PSB, Eduardo Campos, a dar mais passos preparatórios da sua alternativa de candidato em 2014. Passos destacados em reportagem da Folha, de anteontem: “Campos diz que falta ‘rumo estratégico’ ao governo de Dilma”. Com o subtítulo “Governador de Pernambuco cri-tica política econômica e diz que consumo ‘por si só’ não é suficiente para vencer a crise”

Jarbas de Holanda é jornalista

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