segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Apagões são indício de falta de manutenção

Blecaute afetou seis estados

Falha em usina de Furnas provocou corte de energia por cerca de meia hora. Especialistas veem falta de investimentos em manutenção

No sexto apagão desde que a presidente Dilma Rousseff anunciou um pacote de medidas para reduzir em cerca de 20% a tarifa de energia residencial, uma falha numa usina de Furnas em Goiás provocou corte de luz em municípios de seis estados do país na noite de sábado. Só em Rio e São Paulo, 2,7 milhões de residências ficaram às escuras por cerca de meia hora. Especialistas acreditam que os blecautes recorrentes mostram falhas na manutenção do sistema e temem que o pacote do governo para reduzir tarifas, ao diminuir receita das empresas, afete futuros investimentos.

Novo apagão atinge seis estados

Só em Rio e SP, 2,7 milhões de consumidores ficaram sem luz por falha em usina de Furnas

Mônica Tavares, Cássia Almeida, Lino Rodrigues e Maurício Peixoto

BRASÍLIA, RIO e SÃO PAULO - O apagão da noite de sábado, que afetou municípios de ao menos seis estados do país, deixando, só em Rio de Janeiro e São Paulo, 2,7 milhões de consumidores sem luz, foi causado por um problema na hidrelétrica de Itumbiara, em Goiás, de propriedade de Furnas. A falha na usina desligou cerca de 8.800 megawatts, sendo 50% na Região Sudeste, segundo informou o Ministério de Minas e Energia, depois de reunião extraordinária do Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE). Foi o sexto blecaute desde setembro, quando o governo lançou um pacote para reduzir em 20% as tarifas residenciais de energia, gerando polêmica entre as empresas, que reclamaram de perda de receita. Além de Rio e São Paulo, municípios de Minas Gerais, Mato Grosso, Acre e Rondônia também foram afetados pela falta de luz, que durou cerca de meia hora na maioria das localidades, mas chegou a até duas horas em alguns pontos.

Especialistas não veem relação entre o blecaute de sábado e o pacote do governo para reduzir tarifas, mas alertam que os apagões recorrentes mostram que é preciso investir em manutenção e temem que as mudanças regulatórias no setor afetem os investimentos.

No Rio, 26 cidades foram atingidas, deixando 1,2 milhão de clientes sem luz. Em São Paulo, 1,5 milhão de consumidores ficaram no escuro em 20 bairros da capital e em outras nove cidades. Em Minas, 211 municípios foram afetados pelo corte de fornecimento. Segundo o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), também foram atingidas regiões de Mato Grosso, Acre e Rondônia.

Nas redes sociais, internautas reclamaram de falta de luz em Santa Catarina e Rio Grande do Sul também. O ONS informou que, às 17h43m, "o sistema regional de alívio de carga foi ativado". Dois minutos depois, a energia começou a ser restabelecida.

Especialistas cobram mais investimentos

"Em 30 minutos todas as instalações do sistema elétrico já estavam disponíveis e em cerca de uma hora após a perturbação, mais de 90% da carga foi restabelecida", informou o ONS.

De acordo com a nota, por determinação do ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, uma equipe técnica com fiscais do órgão, da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e do ONS seguiu para Itumbiara com o objetivo de analisar a ocorrência. Uma nova reunião, coordenada pelo ONS, será realizada hoje no Rio para analisar a causa do apagão.

Para Luiz Pinguelli Rosa, diretor da Coppe/UFRJ e professor titular do Programa de Planejamento Energético da instituição, o blecaute de sábado não pode ser considerado de grandes proporções. Segundo ele, no sistema elétrico brasileiro, uma interrupção de 20 minutos é tolerável, "duas horas já nem tanto".

- Para não derrubar o sistema (todo), tem que admitir alguma queda.

Apesar de não ver relação entre o apagão de anteontem e o pacote do governo para reduzir o preço da energia, Pinguelli diz estar preocupado com os desdobramentos da Medida Provisória 579, que estabelece novas regras para as empresas de energia renovarem suas concessões.

- O que me preocupa é a dimensão técnica, principalmente das geradoras, com a MP. Discordo da forma como as hidrelétricas estão sendo atingidas.

Pinguelli, que já foi presidente da Eletrobras, diz que as empresas de transmissão estão sendo forçadas a reduzir custos.

- O cálculo de amortização (usado para pagar as indenizações às empresas para viabilizar a redução das tarifas) feito pelo governo foi totalmente errado. A empresa precisa manter seus técnicos de confiança, senão ficará à mercê de erros graves.

Nivalde de Castro, coordenador do Grupo de Estudos do Setor Elétrico do Instituto de Economia da UFRJ, também não vê relação do apagão com a nova regulação do setor elétrico:

- Todas as empresas de transmissão aceitaram renovar as concessões, portanto, vão continuar investindo.

O professor da Fundação Getulio Vargas (FGV) de São Paulo Carlos Passos, especialista em infraestrutura, acredita que os apagões podem ser reflexo dos baixos investimentos em manutenção e modernização do sistema energético brasileiro.

- É natural (os apagões) de quem não investe em expansão e modernização do sistema - afirma, lembrando que o envelhecimento do parque energético do país tem que ser combatido com aumento de recursos destinados à manutenção e não com medidas populistas como a redução tarifária.

Manoel Reis, também especialista em infraestrutura da FGV, vê "problemas generalizados"

- Aparentemente, nosso sistema de geração e distribuição está com problemas generalizados que devem ter origem na falta de investimentos - Reis.

Já o secretário de Energia de São Paulo, José Aníbal, disse esperar que o apagão sirva de alerta para o governo federal mudar em relação à MP 579.

Fonte: O Globo

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