segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

OPINIÃO DO DIA – Ferreira Gullar: comédia sem graça

Não obstante, uma coisa é inegável: os dirigentes petistas sabem que tudo é verdade. O próprio Lula admitiu que houve o mensalão ao pedir desculpas publicamente em discurso à nação.

Por isso, só lhes resta, agora, fingirem-se de indignados, apresentarem-se como vítimas inocentes, prometendo ir às ruas para denunciar os caluniadores. Mas quem são os caluniadores, o Supremo Tribunal e a Polícia Federal? Essa é uma comédia que nem graça tem.

Ferreira Gullar, Poeta, ensaísta e critico de arte.

Manchetes dos principais jornais do País

O GLOBO
Corregedor será mais rigoroso com juízes
O que eles disseram em 2012

FOLHA DE S. PAULO
'Ponho as mãos no fogo por Lula', afirma Haddad
Assalto no RS tem 16 reféns, 3 mortes e caçada cinematográfica
Índia discute lei para a castração de estupradores
EUA chegam sem acordo à véspera do 'abismo fiscal'
Lei deveria proibir eleição de ex-presidente da República

O ESTADO DE S. PAULO
Governo só libera 18% da verba para o São Francisco
Dilma é mais concisa do que Lula

CORREIO BRAZILIENSE
Gasto com servidor triplica em 10 anos

ESTADO DE MINAS
Adeus pibinho?
4 mil servidores federais demitidos em 10 anos
Colheita de recordes

O TEMPO (MG)
Verticalização fará as favelas crescerem 20%
Nova eleição em cinco cidades
Prefeitos eleitos no Estado enfrentam novos desafios
2012: o ano em que a `bola de cristal´ dos analistas falhou

GAZETA DO POVO (PR)
Curitibanos elegem saúde e segurança como as prioridades de Fruet
Esportes na água fisgam os veranistas
Shows de música marcam a virada de ano em frente à tevê
Prefeitos do interior assumem com finanças comprometidas

ZERO HORA (RS)
O que vivemos... 2012
O que esperamos... 2013

JORNAL DO COMMERCIO (PE)
PAC terá novas regras
Transição caótica na Prefeitura de Natal



O que pensa a mídia - Editoriais dos principais jornais do País

http://www2.pps.org.br/2005/index.asp?opcao=editoriais

Governo só libera 18% da verba para o São Francisco

Ministério da Integração Nacional diz que obras de transposição sofreram com licitações canceladas

O Ministério da Integração Nacional só desembolsou, até 20 de dezembro, 18% do orçamento de 2012 para a transposição do Rio São Francisco, maior obra do PAC no Nordeste. Com isso, o cronograma começou a ser afetado. O trecho piloto, previsto para entrar em funcionamento este mês, pode ficar para 2014. O ministério atribui o fato a contratos que tiveram de ser rescindidos, criando a necessidade de abertura de novas licitações, algumas das quais só devem ficar prontas em março. Dos R$ 940 milhões previstos para este ano, o governo gastou somente R$ 173 milhões. A obra recebeu, ainda, dinheiro dos restos a pagar de anos anteriores no valor de R$ 501 milhões. Mesmo entrando 2013 com restos a pagar de R$ 1,4 bilhão, o governo federal embutiu na MP 598, editada para contornar o fato de o Orçamento ainda não ter sido votado pelo Congresso, o empenho de R$ 419,2 milhões em créditos extraordinários para serem gastos na obra a partir do início do ano.

Governo desembolsa 18% do previsto no ano e obra de transposição avança pouco

Valores reservados no Orçamento efetivamente pagos na construção de canais para levar a água do rio São Francisco para o sertão nordestino ficam em R$ 173 milhões

Eduardo Bresciani

BRASÍLIA - O ritmo lento das obras da transposição do Rio São Francisco reflete as dificuldades que o governo vem enfrentando para levar adiante os investimentos na área de infraestrutura no País. Até 20 de dezembro, só 18% do Orçamento disponibilizado para 2012 havia sido desembolsado pelo Ministério da Integração Nacional. A execução se restringiu, basicamente, a restos a pagar dos anos anteriores. Com isso, o cronograma da megaobra de Dilma começou a ser afetado.

Uma nova licitação foi lançada no final do ano e pode levar para 2014 a inauguração do trecho piloto da obra, antes previsto para entrar em funcionamento ainda neste dezembro. O governo, apesar disso, mantém para 2015 a previsão de conclusão total da obra - que é a maior do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) no Nordeste.

O Ministério da Integração Nacional atribui a baixa execução financeira aos contratos que tiveram de ser rescindidos com algumas empresas, criando a necessidade de abertura de novas licitações, algumas das quais só serão abertas em março. No eixo leste, só R$ 32,4 milhões foram pagos do Orçamento deste ano.

A dotação inicial era de R$ 439,9 milhões, mas, diante das dificuldades de execução, foi reduzida para R$ 149,9 milhões. No eixo norte, os recursos disponíveis foram aumentados, chegando a R$ 790 milhões, mas pouco mais de R$ 140 milhões foram efetivamente pagos.

A obra, como aconteceu com boa parte dos investimentos do governo federal, foi tocada basicamente com a sobra de orçamentos anteriores. Na Transposição foram aplicados R$ 501 milhões de restos a pagar. O valor é pouco mais da metade do que o governo tinha de sobra. Para 2013, a cota de restos a pagar chegará a R$ 1,4 bilhão.

Atrasos. O calendário da Transposição tem sido afetado, ainda que o governo se recuse a revisar a previsão de conclusão para 2015. O projeto piloto, um trecho de cerca de 16 quilômetros no interior de Pernambuco, tinha previsão de inauguração agora em dezembro, mas as obras estão longe do fim.

O governo lançou um novo edital em novembro e o contrato com o consórcio que terá a responsabilidade de terminar o trecho será assinado somente em 2013. O ministério prevê, agora, que a água do São Francisco comece a correr nesse trecho em setembro de 2013, mas a licitação dá prazo de um ano para que o novo contratado conclua o serviço, podendo estender as obras para 2014.

O atraso no projeto piloto frustra os planos do ministro Fernando Bezerra Coelho, que contava com a inauguração para afastar as críticas ao ritmo da obra, lento desde o início do governo Dilma Rousseff. O trecho é considerado importante por reunir alguns dos principais elementos da obra, como barragem, ponte e aqueduto, além dos canais, possibilitando um primeiro teste prático de como a Transposição vai funcionar.

O Orçamento total da obra chegou a R$ 8,2 bilhões e R$ 3,5 bilhões já foram investidos. Dos 16 lotes, sete estão em andamento e apenas um concluído. Foram realizadas rescisões parciais em alguns trechos e novas licitações serão lançadas até março de 2013, segundo a previsão da pasta.

O ministério informou ainda que dois lotes estão com as obras paralisadas. As empresas já foram advertidas e multadas. Foi aberto ainda um processo para suspendê-las de licitações da pasta e declará-las inidôneas, o que impediria sua contratação por qualquer outro órgão público.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Novo pacto federativo pode unir PSDB e PSB

De saída da liderança do PSDB na Câmara Federal, deputado vê o partido de Eduardo Campos como par perfeito para o projeto tucano

Tércio Amaral

RECIFE — As roupas esportivas, no primeiro momento, disfarçam um traço marcante de sua personalidade: o discurso forte que adotou como líder do PSDB na Câmara. Aos 40 anos, o advogado pernambucano Bruno Araújo se despede da liderança tucana contabilizando um saldo positivo: o crescimento do partido nas regiões Norte e Nordeste, nas eleições municipais; a consolidação do nome do senador Aécio Neves (MG) como candidato do partido à Presidência em 2014; e uma postura mais forte na oposição ao governo da presidente Dilma Rousseff (PT). Em entrevista ao Correio, o tucano faz uma análise da política nacional, sem esquecer dos temas ligados ao PSDB de Pernambuco, como a "aliança branca" do partido com o governador Eduardo Campos (PSB).

Como o senhor avalia a atuação do PSDB no contraponto ao overno petista?

Eu acho que a oposição participou de momentos importantes, como a redução da atenuante das dívidas previdenciárias daqui a 20, 30 anos, e a criação do Fundo de Previdência do Servidor Público. Algo que o PSDB tentou implantar com o governo FHC e que houve todo o tipo de restrição do Partido dos Trabalhadores (PT). Este ano, o fundo foi constituído porque teve um encaminhamento favorável. O PSDB não agiu como o PT agiu quando não era governo. O PSDB também teve um momento fantástico quando garantiu numa medida provisória (MP) a retirada de todos os impostos federais dos produtos da cesta básica. Foi uma vitória política que esbarrou no veto da presidente Dilma, que prometeu para o início deste ano uma comissão interministerial para estudar como fazer essa redução. E essa comissão, até hoje, não se reuniu.

Qual foi o aprendizado do senhor como líder da bancada?

Acho que quem constrói uma formação política em Pernambuco, com a diferença de pequenas nuances, está preparado para se fazer no plano nacional. Após esses seis anos como relator-geral da Receita Orçamentária, como presidente de comissão, como líder de partido, a gente passa a ter uma visão muito clara não só do funcionamento do Congresso, mas, sobretudo, das nossas diversidades regionais, da compreensão da sintonia do discurso adotado tanto por Aécio Neves (senador do PSDB) quanto por Eduardo Campos (governador de Pernambuco) na discussão de um novo pacto federativo. Fica claro como os recursos e os tributos apurados pelo país estão concentrados em Brasília em detrimento de onde, de fato, há demandas, que são os estados e os municípios.

Como o senhor avalia o veto da presidente Dilma à partilha dos royalties do petróleo?

A presidente Dilma não conseguiu fazer com que os 26 estados brasileiros mais o Distrito Federal conseguissem uma composição com outros dois estados, que são agentes dessa construção. Ela fez o que é mais fácil, mas que sempre gera um efeito colateral. Ela jogou essa decisão para o Congresso Nacional sabendo que, quando se joga isso para o Congresso, através de um veto, cria-se uma cultura de que o veto é como jogar a sujeira debaixo do tapete. Mas, dada a importância nacional da mobilização desses recursos, o Congresso deixou claro que não vai aceitar que esse veto entre para a lista dos 3 mil que nunca foram apreciados. É tarefa do Congresso Nacional apreciar os vetos, mas, neste caso, infelizmente, fica a constatação de que uma presidente da República não conseguiu agir como chefe de Estado e construir um entendimento entre as unidades da Federação. Não há, por parte dos pernambucanos, nenhuma relação de desrespeito em relação ao carioca ou ao capixaba. O que há de parte de todos nós é a compreensão de que fazemos parte de um único país e, quando falarmos de riquezas oriundas do subsolo, todos tenham a sua participação. Pela inabilidade da presidente Dilma, esse assunto será resolvido pelo Congresso com a derrubada do veto, no dia 13 (de fevereiro).

E qual a sua avaliação do governo da presidente Dilma?

Primeiro, do ponto de vista da presidente-gerente, se nós fizermos uma análise muito fria, vamos perceber que é o segundo ano da gestão Dilma Rousseff onde nós teremos um Produto Interno Bruto (PIB) próximo de zero. Consequentemente, falta muito para a presidente Dilma confirmar a fama de uma boa gerente. Do ponto de vista da presidente Dilma líder, chefe de Estado, nós assistimos muito mais o presidente Barack Obama (dos EUA) do que a presidente Dilma. Ela é reclusa no Palácio e só fala para o Brasil em cadeia de televisão duas vezes ao ano, ou fala através de suas ministras Ideli Salvatti (Relações Institucionais) e Gleisi Hoffmann (Casa Civil). Eu acho que faria melhor se a presidente falasse mais ao país.

E em relação à próxima eleição, o PSDB alimenta o sonho de uma dobradinha entre Eduardo Campos e Aécio Neves em contraponto ao governo petista?

O governador Eduardo Campos inseriu Pernambuco como um dos protagonistas no cenário nacional, falando em eleições presidenciais. A inserção do governador de Pernambuco no ambiente de uma pré-candidatura presidencial faz bem ao ego do pernambucano. Eu acho que as candidaturas começam a se delinear: a de Aécio Neves, do meu partido, e a de Eduardo Campos, do PSB, podem marcar um novo ciclo da política nacional. Um ciclo da modernidade, do eleitor que procura gestões eficientes, que tratam da vida real do brasileiro. Eu diria que a inserção de Eduardo nesse contexto faz muito bem à história política de Pernambuco. Ele tem um papel hoje maior do que qualquer vice em qualquer chapa. Eu espero que estes projetos consolidados de uma disputa presidencial de Eduardo e de Aécio em algum momento possam convergir para o que faça bem ao país.

E por que essa relação não é tão clara em Pernambuco?

Sobretudo pela simbologia. Apesar dessa boa relação nacional entre tucanos e socialistas, o PSB tem ainda, sobretudo, um compromisso muito firme com o governo do PT. E o PSDB tem, em relação ao PT, seu principal adversário nacional. Eu acho que esta tese (da nacionalização do palanque de Pernambuco) manteve um cuidado importante nas aparências entre os dois partidos.

Fonte: Correio Braziliense

A década perdida - Marco Antonio Villa

A eleição de Luiz Inácio Lula da Silva em 2002 foi recebida como um conto de fadas. O País estaria pagando uma dívida social. E o recebedor era um operário.

Operário que tinha somente uma década de trabalho fabril, pois aos 28 anos de idade deu adeus, para sempre, à fábrica. Virou um burocrata sindical. Mesmo assim, de 1972 a 2002 - entre a entrada na diretoria do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo e a eleição presidencial -, portanto, durante 30 anos, usou e abusou do figurino do operário, trabalhador, sofrido. E pior, encontrou respaldo e legitimação por parte da intelectualidade tupiniquim, sempre com um sentimento de culpa não resolvido.

A posse - parte dos gastos paga pelo esquema do pré-mensalão, de acordo com depoimento de Marcos Valério ao Ministério Público - foi uma consagração. Logo a fantasia cedeu lugar à realidade. A mediocridade da gestão era visível. Como a proposta de governo - chamar de projeto seria um exagero - era inexequível, resolveram manter a economia no mesmo rumo, o que foi reforçado no momento da alta internacional no preço das commodities.

Quando veio a crise internacional, no final de 2008, sem capacidade gerencial e criatividade econômica, abriram o baú da História, procurando encontrar soluções do século 20 para questões do século 21. O velho Estado reapareceu e distribuiu prebendas aos seus favoritos, a sempre voraz burguesia de rapina, tão brasileira como a jabuticaba. Evidentemente que só poderia dar errado. Errado se pensarmos no futuro do País. Quando se esgotou o ciclo de crescimento mundial - como em tantas outras vezes nos últimos três séculos -, o governo ficou, como está até hoje, buscando desesperadamente algum caminho. Sem perder de vista, claro, a eleição de 2014, pois tudo gira em torno da permanência no poder por mais um longo tempo, como profetizou recentemente o sentenciado José Dirceu.

Os bancos e as empresas estatais foram usados como instrumentos de política partidária, em correias de transmissão, para o que chamou o ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal, de "projeto criminoso de poder", quando do julgamento do mensalão. Os cargos de direção foram loteados entre as diferentes tendências do Partido dos Trabalhadores (PT) e o restante foi entregue à saciedade dos partidos da base aliada no Congresso Nacional. O PT transformou o patrimônio nacional, construído durante décadas, em moeda para obter recursos partidários e pessoais, como ficou demonstrado em vários escândalos durante a década.

O PT era considerado uma novidade na política brasileira. A "novidade" deu vida nova às oligarquias. É muito difícil encontrar nos últimos 50 anos um período tão longo de poder em que os velhos oligarcas tiveram tanto poder como agora. Usaram e abusaram dos recursos públicos e transformaram seus Estados em domínios familiares perpétuos. Esse congelamento da política é o maior obstáculo ao crescimento econômico e ao enfrentamento dos problemas sociais tão conhecidos de todos.

Não será tarefa fácil retirar o PT do poder. Foi criado um sólido bloco de sustentação que - enquanto a economia permitir - satisfaz o topo e a base da pirâmide. Na base, com os programas assistenciais que petrificam a miséria, mas garantem apoio político e algum tipo de satisfação econômica aos que vivem na pobreza absoluta. No topo, atendendo ao grande capital com uma política de cofres abertos, em que tudo pode, basta ser amigo do rei - a rainha é secundária.

A incapacidade da oposição de cumprir o seu papel facilitou em muito o domínio petista. Deu até um grau de eficiência política que o PT nunca teve. E o ano de 2005 foi o ponto de inflexão, quando a oposição, em meio ao escândalo do mensalão, e com a popularidade de Lula atingindo seu nível mais baixo, se omitiu, temendo perturbar a "paz social". Seu principal líder, Fernando Henrique Cardoso, disse que Lula já estava derrotado e bastaria levá-lo nas cordas até o ano seguinte para vencê-lo facilmente nas urnas. Como de hábito, a análise estava absolutamente equivocada. E a tragédia que vivemos é, em grande parte, devida a esse grave erro de 2005. Mas, apesar da oposição digna de uma ópera-bufa, os eleitores nunca deram ao PT, nas eleições presidenciais, uma vitória no primeiro turno.

O PT não esconde o que deseja. Sua direção partidária já ordenou aos milicianos que devem concentrar os seus ataques na imprensa e no Poder Judiciário. São os únicos obstáculos que ainda encontram pelo caminho. E até com ameaças diretas, como a feita na mensagem natalina - natalina, leitores! - de Gilberto Carvalho - ex-seminarista, registre-se - de que "o bicho vai pegar". A tarefa para 2013 é impor na agenda política o controle social da mídia e do Judiciário. Sabem que não será tarefa fácil, porém a simples ameaça pode-se transformar em instrumento de coação. O PT tem ódio das liberdades democráticas. Sabe que elas são o único obstáculo para o seu "projeto histórico". E eles não vão perdoar jamais que a direção petista de 2002 esteja hoje condenada à cadeia.

A década petista terminou. E nada melhor para ilustrar o fracasso do que o crescimento do produto interno bruto (PIB) de 1%. Foi uma década perdida. Não para os petistas e seus acólitos, claro. Estes enriqueceram, buscaram algum refinamento material e até ficaram "chiques", como a Rosemary Nóvoa de Noronha, sua melhor tradução. Mas o Brasil perdeu.

Poderíamos ter avançado melhorando a gestão pública e enfrentado com eficiência os nossos velhos problemas sociais, aqueles que os marqueteiros exploram a cada dois anos nos períodos eleitorais. Quase nada foi feito - basta citar a tragédia do saneamento básico ou os milhões de analfabetos.

Mas se estagnamos, outros países avançaram. E o Brasil continua a ser, como dizia Monteiro Lobato, "essa coisa inerme e enorme".

Marco Antonio Villa é historiador e professor da Universidade Federal de São Carlos (UFCAR)

Fonte: O Estado de S. Paulo

Que venha 2013! Um pé no sonho, outro na realidade - Marcus Pestana

A cada ano, repetimos o velho hábito. O rito da passagem do ano é recheado de balanços, previsões, profecias, projeções. Videntes escolhem suas vítimas e os grandes acontecimentos, os búzios preveem o fim do mundo e catástrofes climáticas, cartomantes predizem guerras e campeões, economistas ditam a inflação futura e as taxas de crescimento. Acaba o ano e o calendário maia fica desmoralizado, o ministro da Fazenda, desacreditado - jurou que o PIB cresceria 4% e foi desmentido pelo 1% real. Videntes, tarólogos, cartomantes e economistas fazem novas assertivas sobre o futuro, sem sequer pedir desculpas pelos erros do ano anterior.

O mito da virada do ano faz parte do exercício daquilo que mantém o mundo em movimento e a humanidade em ação: o sonho, a esperança, o processamento das perdas e a fé em dias melhores.

No Brasil, o pessimismo é proibido. Afinal, sempre fomos e seremos o país do futuro. Nosso povo é contaminado por um otimismo atávico. Este, definitivamente, não é um país qualquer. É o Brasil de Pixinguinha, Noel, Chico, Caetano, Vila Lobos, Gonzaga e Paulinho. É a terra de Guimarães, Machado e Drummond. É o solo de Garrincha, Pelé, Zico, Romário, Ronaldos e Neymar. É a nação de homens como JK, Vargas, Tancredo e Ulysses. É o universo de um povo alegre, criativo, batalhador. Como ser pessimista? A lógica gregoriana está aí para nos avisar que é só uma questão de tempo, o futuro é nosso e ninguém tira, é só ter paciência e fé.

Gostaria de me somar à "banda dos contentes", ao exercício fácil de prognósticos otimistas. Mas não devo e não posso.

O ano de 2012 não terminou bem. O Brasil está perdendo oportunidades, sacrificando o horizonte de médio e longo prazo. Escândalos se sucedem a cada semana. O PIB de apenas 1% e a queda dos investimentos sinalizam tempos difíceis. A instabilidade regulatória, o viés estatista e a insegurança jurídica afastam parcerias. A má condução de assuntos em setores essenciais, como energia elétrica e petróleo, impede avanços. O Congresso, parecendo uma nau a deriva diante da incapacidade monumental de Dilma para a coordenação política e a promoção do diálogo, patrocinou cenas lamentáveis na votação dos royalties e sequer conseguiu votar o Orçamento para 2013. O PT, alvejado pela condenação de seus principais líderes no processo do mensalão, frequenta o perigoso terreno do confronto com as instituições democráticas e republicanas, como o Poder Judiciário, o Ministério Público Federal e a imprensa. Os estímulos fiscais e creditícios pontuais e a queda dos juros não produzem os efeitos esperados. Fica claro que uma nova rodada de reformas se faz necessária. A inflação ensaiou sair de controle. Enfim, 2012 não será lembrado como céu de brigadeiro ou mar de rosas.

Que venha 2013. Um pé no sonho, o outro na realidade. Se quisermos concretizar o país do futuro, não podemos ficar deitados em berço esplêndido. Há que se arregaçar as mangas e trabalhar duro.

Marcus Pestana é deputado federal (PSDB-MG)

Fonte: O Tempo (MG)

O bicho vai pegar - Ricardo Noblat

“Não respondo nem amarrada” Dilma Rousseff ao reagir à pergunta sobre se o candidato a presidente em 2014 será ela ou Lula

Conselho que vale no mínimo para os primeiros meses do novo ano: preste atenção quando Gilberto Carvalho (foto), ministro da Secretaria Geral da Presidência da República, disser alguma coisa. Lula alugou a boca dele ao se ver acuado pelo julgamento do mensalão, pela descoberta da quadrilha da qual fazia parte Rosemary Noronha, sua ex-secretária, e pela delação à procura de um prêmio feita por Marcos Valério .

GILBERTO FOI posto na antessala da presidente Dilma para funcionar como o principal olheiro de Lula , prestando também ao exigente chefe todo tipo de serviço . Um deles: falar quando Lula não puder ou não achar conveniente . Transmitir suas orientações públicas para dentro ou fora do PT . Com especial afinco , Gilberto ocupou-se disso nas últimas atribuladas semanas.

EM ENTREVISTAS vapt-vupt, em pelo menos uma, extensa, concedida ao jornal “Correio Braziliense”, e em vídeo divulgado no site do PT , ele disse o que Lula lhe soprou. O PT está obrigado a ser solidário com os mensaleiros que tombaram lutando , imagina Lula. Mais do que isso: está obrigado a defendê-los diante dos evidentes “exageros” produzidos durante os quatro meses de julgamento.

“NÃO É PORQUE um companheiro seu cometeu um erro ou foi vítima de exageros que você irá abandoná-lo”, ensina Lula. Ou melhor: Gilberto. “Por outro lado , não há dúvida de que o PT precisa se renovar e se refazer do ponto de vista da ética, da coisa pública, e fazer isso não apenas olhando para os próprios erros, mas para as questões estruturais da política que induzem a essa cultura.

” NO SEGUNDO SEMESTRE de 2005, Lula foi à televisão e pediu desculpas aos brasileiros. Uma vez reeleito no ano seguinte, voltou a se referir ao mensalão como “uma farsa ”. Quem quiser espere deitado o dia em que Lula admitirá o que o Supremo Tribunal Federal concluiu enfático: foi mensalão. E com dinheiro público. Não foi caixa dois, o que também configuraria crime.

“O ERRO DO PT foi um erro de caixa dois”, insiste Gilberto . Digo: Lula . “Não reconheço nada do que foi co-locado em termos de pagamentos mensais.” Compreensível. Lula não pode admitir que mentiu durante todos estes anos. De resto , os presídios estão super-lotados de inocentes condenados sem motivo... Acolher mais alguns não far á para eles a menor diferença.

A ESPERTEZA DE Lula é maior do que a de Gilberto. Lula teria sido mais cuidadoso ao responder sobre a reforma política, que poderia introduzir o financiamento público de campanhas. Gilberto revelou sua descrença na aprovação da ideia de financiamento público — até aí nada de mais. Mas derrapou ao afirmar: “Os outros partidos não são menos corrompidos do que o PT .” Epa!

LULA NÃ O DIRIA que o PT é um partido corrompido — o que é isso , meu irmão? Golpismo midiático? Sai pra lá! Lula diria que o PT apenas se valeu das mesmas armas empregadas pelos demais partidos . Não deixaria brecha para que se pense que seus companheiros , mártires do mensalão, possam ter embolsado algum. Se desviaram dinheiro, foi para o bem do povo brasileiro.

POR FIM, em 2013 o “bicho vai pegar”, alertou Lula via Gilberto . Para ele, os ataques sofridos por Lula têm um só objetivo: “Destruir o nosso PT , o nosso governo.” Lula receia ser processado pelo que Marcos Valério anda dizendo e convoca o PT para a luta . Ao mesmo tempo , sabe que essa seria sua melhor chance para voltar como candidato a presidente em 2014. “O povo é quem me julgará. ” Que tal? Feliz ano novo!

Fonte: O Globo

Dilma fica acuada e PMDB, revigorado - Melchiades Filho

Dilma Rousseff chega à metade do mandato com popularidade recorde, base partidária intacta, a vitória eleitoral mais crucial de 2012 e um cardápio de medidas para aquecer a economia.

Nada, porém, permite antever um 2013 tranquilo para o governo e para o PT.

O desfecho do mensalão ainda está distante. Haverá o impacto midiático da prisão dos condenados. E, ainda que o STF dê início à apreciação do braço tucano do escândalo, a maior expectativa é se será ou não instalado um outro inquérito-mãe, amparado em novas revelações de Marcos Valério.

Nesse segundo "round", procuradores e policiais investigariam a suposta participação de Lula no esquema de desvio de dinheiro público para a compra de apoio parlamentar. Assessores do ex-presidente, como o faz-tudo Freud Godoy e o tesoureiro Paulo Okamotto, teriam as vidas devassadas.

Existem ainda as pendências da Porto Seguro, operação da PF que causará constrangimentos à medida que vazarem e-mails apreendidos no escritório e na casa da ex-assessora íntima de Lula.

No limite, os dois casos poderão manchar o governo Dilma e resultar na interdição eleitoral de Lula, trauma que o Planalto e o PT parecem não descartar. Gilberto Carvalho, ministro e porta-voz lulista, convocou a militância às ruas porque o "ano será brabo". Lula avisou que sairá em caravana pelo país para defender o "legado".

Outro fator de instabilidade é a economia. Até aqui, o hiperativismo da equipe dilmista não engajou o empresariado. Talvez seja impossível tutelá-lo e ao mesmo tempo convencê-lo a investir.

Esse capitalismo de "lucro tabelado" e os resultados anêmicos do PIB levam a iniciativa privada a buscar alternativa na política. O assediado da vez é o governador Eduardo Campos (PSB-PE).

É prematuro apostar em ruptura, mas não em corrosão. O provável é que um núcleo de siglas médias (PSB, PDT, o PSD kassabista) flutue dentro da coalizão, enquanto avalia a conjuntura e recruta apoio e financiamento para voo próprio.

Dilma, assim, aos poucos se vê empurrada para outro aliado, este sem projeto solo.

No governo, o PMDB já faz o papel de ouvidor dos setores insatisfeitos da economia. Tem no vice-presidente Michel Temer o melhor nome para aproximar os três Poderes, atritados em razão da hipertrofia do Executivo e agora também do Judiciário. E deverá tomar o comando do Congresso, com Renan Calheiros (Senado) e Henrique Alves (Câmara). É nessa legenda versada em driblar e fabricar crises que a presidente terá de confiar.

Resumo: o PT estará forte mas na linha de tiro, a oposição ganhará contorno dentro da base, e o PMDB poderá virar o fio-terra da República.

Fonte: Folha de S. Paulo

Fala, Dilma - José Roberto de Toledo

Imagine se você tivesse que falar em público quatro dias sem parar. Está no preço de ser presidente. Mesmo pouco expansiva, Dilma Rousseff encarou essa maratona verbal ao longo dos dois anos no cargo. Foram 96 horas de verborragia, diluídas em 730 dias. Um pronunciamento público dia sim, dia não, em média. Acha muito? Ela não fala nem a metade do que Lula falava.

Comunicar-se é parte vital do exercício da Presidência. Foram 350 falas de Dilma desde a posse, entre discursos, mensagens, homenagens e pronunciamentos. Por comparação, Lula discursou 2.407 vezes em oito anos como presidente - praticamente todo dia útil e mais um pouco. Ele não só fazia uso mais frequente da palavra, como gastava muito mais o verbo. Seus discursos eram duas vezes e meia mais palavrosos do que os da sucessora.

Há dois motivos para tanta diferença. Lula preferia o improviso, e falando de cabeça gastava mais tempo, repetia mais palavras, redundava. Mas soava espontâneo, arrancava reações da plateia e se alimentava delas. Dilma segue o script, até agora.

Lula foi um presidente falante e conversador. Viajou mais, esteve em mais lugares, interagiu mais com o público. Recebeu melhor feedback e fez disso o seu termômetro da opinião pública - por mais enviesado que fosse o tipo de amostra selecionado, já que na maioria das vezes o governante discursa para sua claque ou para um público cativo, que depende de sua boa vontade.

Dilma não é tão palaciana quanto os presidentes militares, mas é mais dependente de intermediários para sentir o pulso da rua. Isso não é necessariamente ruim, mas faz diferença no governar.

Boa parte das decisões de Lula era gestada nesse contato com o seu eleitor, numa dinâmica de retroalimentação intuitiva. Essa sensibilidade para captar o que pensa e quer a maioria está na gênese tanto da sua popularidade quanto do seu populismo. Quanto mais crescia sua aprovação, mais Lula discursava. O fim do governo foi uma avalanche de sintagmas, boa parte deles propagandeando o nome de sua candidata à sucessão.

Dilma segue um processo mais cartesiano. Deu certo até agora, mas têm crescido as pressões para a presidente conversar mais, principalmente com os empresários. E conversar implica ouvir.

A presidente não parece apaixonada pelo som da própria voz, como grande parte dos políticos é. Mas isso não a faz automaticamente mais disposta a escutar a voz dos outros. Durante a campanha eleitoral, Dilma conseguiu encher uma sala virtual maior do que qualquer outro político brasileiro no Twitter. Eleita, não deu mais nenhum pio na rede social. Fechou o canal que tinha aberto.

Quando tem a palavra, Dilma costuma disparar cerca de 100 delas por minuto. Mas a ocasião faz a média. Em situações formais, como quando se dirige aos militares, a presidente faz uso do papel ou do teleprompter para ler seus discursos. Acaba falando mais rapidamente. No pronunciamento de final de ano veiculado em cadeia de rádio e TV na antevéspera do Natal, Dilma conseguiu emendar 1.304 palavras em 11 minutos: 118 por minuto.

Quando está mais descontraída e arrisca algum improviso, a presidente fala mais devagar. Há dez dias, no discurso de reinauguração do Mineirão, Dilma até puxou corinho ("Ô, ô, o Mineirão voltou"), e a velocidade de sua língua caiu para 92 palavras por minuto. Em contrapartida, interagiu com a audiência. No dia seguinte, numa inauguração em Caxias do Sul, ela voltou a quebrar o protocolo. Pode virar uma tendência.

Aos monólogos oficiais, contrapõe-se quase uma centena de diálogos com jornalistas. Foram 98 entrevistas em dois anos - boa parte em viagens internacionais ou em visitas de governantes estrangeiros. Nessas ocasiões as entrevistas coletivas fazem parte do protocolo. Assim, em temporada de viagens ao exterior aumentam as vezes em que Dilma responde perguntas de repórteres.

Foi o que aconteceu em dezembro, o mês mais prolífico em discursos e entrevistas de Dilma em 2012:8 bate-papos com a imprensa e 30 discursos, um recorde para a presidente. Tantas palavras têm dois motivos: as viagens à Rússia e à França, e um aparente esforço de convencimento, mirando os empresários, de que a economia vai bem.

Há sinais de que Dilma começou a se comunicar mais. Talvez seja a urgência de vencer a batalha das expectativas econômicas. Talvez seja mais prática em eventos públicos. Mais provável que seja uma combinação de necessidade e experiência. Está na hora.

Nos próximos dois anos, a presidente precisará exercitar a conversação com mais frequência, engenho e arte, se não quiser correr risco de cumprir a maldição de Chacrinha.

Fonte: O Estado de S. Paulo

No último dia - Paulo Brossard

Este artigo deverá ser publicado no último dia de 2012, é natural, portanto, relembrar alguns fatos do ano que finda. Creio não errar se disser que o processo do mensalão foi o maior sucesso dada sua relevância intrínseca, sem falar em seu ineditismo na história do país. Para ele foi relevante o enorme rastreamento operado pela Polícia Federal de variados delitos envolvendo muitos indivíduos, a minuciosa denúncia do Procurador-Geral da República e seu recebimento pelo Supremo Tribunal Federal, o formidável trabalho do ministro relator e do ministro revisor, e, um a um, dos demais juízes. As divergências entre os votos dos ministros, especialmente do relator e revisor, evidenciam que no feito já histórico foram observados os princípios e normas universais que disciplinam o funcionamento dos órgãos coletivos da Justiça. No entanto, pessoas em geral condenadas pelo Supremo Tribunal Federal censuraram o tribunal, que tanto as condenou como a outras absolveu. O lamentável é que a essa manifestação, aliás, dissonante da opinião do país, se juntou a censura do ex-presidente da República, que não corou ao negar o fato histórico que ocupou 53 sessões públicas do Supremo, assistidas pelo Brasil inteiro até o julgamento. Ainda bem que essa dissidência ensejou outro fato notável a ser registrado.

Com efeito, se o ex-presidente Luiz Inácio juntou-se aos censores do mais alto tribunal da nação, a posição da senhora presidente da República constituiu exemplo impecável ao dizer que as decisões da Justiça deviam ser cumpridas e não discutidas e ao notar que "o PT não é perfeito", acentuou não haver crise entre os poderes por causa da condenação de réus petistas, e reiterou que as decisões da Justiça deviam ser cumpridas e não discutidas, e por intermédio do Ministro da Justiça, repetiu, com as mesmas palavras, a anterior declaração. Dir-se-á que é o óbvio, mas nem por ser óbvio deixa de ser relevante, e é relevante exatamente porque, apesar de sê-lo, não falta quem o ignore, menospreze ou conteste. E tanto mais relevante o acontecimento quando a presidente guarda particular relação política com seu antecessor. Poder-se-ia dizer, com a benção da linguagem bíblica, que, como Eva foi feita da costela de Adão, a senhora presidente foi modelada por seu antecessor. E, não obstante, em relação à separação e harmonia entre os poderes, Eva foi modelar.

Poderia relacionar o PIB, batizado de Pibinho, mas prefiro ficar nos casos apontados, e como meio mundo indaga sobre os efeitos do fenômeno do mensalão não hesito em dizer que serão benéficos à nação, mas, embora seja extraordinário o acontecido, ainda há muito por fazer pela sociedade, suas expressões mais variadas e sem descontinuidade, a começar pela boa escolha dos que ela elege. Na minha já longa vida pública, vi com meus olhos, coisas que não podiam acontecer e aconteceram. Vou mencionar apenas uma. Ademar de Barros, em São Paulo, foi chefe partidário, interventor nomeado e depois governador duas vezes, e disputando a presidência da República, recolheu votos copiosos em todo país, a despeito de ser personagem assaz controvertida. Contudo, o mais desenvolvido dos Estados brasileiros o elegeu e reelegeu governador, sem falar nas votações milionárias que no país obteve em duas ocasiões. Da personagem se dizia que "rouba, mas faz". Esse dado sempre me pareceu inquietante e ilustrativo e ainda hoje me inquieta. Mas tudo pode acontecer, até o milagre. E não foi um milagre o que veio a suceder a partir do mensalão?

*Jurista, ministro aposentado do Supremo Tribunal Federal

Fonte: Zero Hora (RS)

Pernambuco adere à mobilização pró-Lula

Presidente do PT, Pedro Eugênio defende o movimento nacional em defesa do ex-presidente, acusado de suposto envolvimento com o mensalão, e promete reforçá-lo

Ana Lúcia Andrade

O chamado feito pelo secretário-geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, para que a militância do PT invada as ruas de todo o País, em 2013, em defesa do ex-presidente Lula das acusações de suposto envolvimento com o mensalão, foi acatado em Pernambuco. O presidente estadual da legenda, deputado Pedro Eugênio, defende a mobilização nacional e já decretou que o PT local vai se organizar para fazer parte do roteiro e fortalecer o projeto de defesa de Lula e da legenda. Ainda não há uma data precisa para início dos atos pró-Lula. Por ora, as reuniões de organização do movimento estão restritas às cúpulas do PT nacional, em São Paulo, e da legenda no Rio de Janeiro.

Para o dirigente petista, "por mais que se diga que não houve no julgamento do mensalão um movimento contra o PT, ele ocorreu nitidamente". E mais: Pedro Eugênio acredita que a decisão de o Supremo Tribunal Federal (STF) realizar o julgamento durante o período eleitoral não foi uma simples coincidência. "Mas algo dirigido para atingir o PT nas eleições, principalmente na disputa de São Paulo. O partido não se conforma com essa decisão (a condenação dos petistas). Sabemos que decisão judicial é soberana e temos que cumpri-las. Mas também temos o direito de expressar nossas posições", argumentou o dirigente do PT pernambucano.

Os petistas condenados pelo STF na Ação Penal 470 - conhecida como mensalão - foram: o ex-ministro de Lula José Dirceu, o ex-presidente do PT José Genoino e o ex-tesoureiro da legenda Delúbio Soares, todos por formação de quadrilha e corrupção ativa pela compra de votos de parlamentares, e o deputado federal João Paulo Cunha (SP), que foi condenado por corrupção passiva, lavagem de dinheiro e peculato (uso de cargo público para prática de desvios).

No chamamento feito em vídeo, no último dia 17, o secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho, alerta os militantes do PT a "descansar bem agora, porque no ano que vem o bicho vai pegar e precisamos fortemente da nossa militância mais uma vez na rua, conversando com o povo, esclarecendo as pessoas, mostrando qual é esse projeto que, cada vez mais, graças a Deus, está mudando o Brasil". Entende Carvalho, que os "ataques sem limites" ao ex-presidente Lula "têm como objetivo destruir o PT e o governo".

A reação do PT é uma resposta ao depoimento que o publicitário Marcos Valério, operador do mensalão, deu à Procuradoria-Geral da República no qual afirma que o dinheiro do esquema teria servido também para pagamento de despesas pessoais do ex-presidente Lula. Desde que as declarações vieram a público que políticos do PT e ministros da presidente Dilma se mobilizam em defesa do petista.

Fonte: Jornal do Commercio (PE)

O que eles disseram em 2012

"A compra de apoio político no Congresso pôs em risco o regime democrático, a independência dos poderes e o sistema republicano".

Joaquim Barbosa, presidente do STF e relator do mensalão

"Vou manter o sistema tributário vigente. O IPTU uai ficar exatamente do jeito que está. Se puder fazer alguma coisa para abaixar, eu faço".

Eduardo Paes, prefeito, em campanha. Reeleito, anunciou aumento de IPTU

"O dia em que falarem para vocês que caiu raio (e, por isso, o sistema elétrico falhou), gargalhem. (...) Acho ridículo dizer que vamos ter risco de racionamento".

Dilma Rousseff, presidente da República

"Não vou fingir que o caminho que estou oferecendo seja fácil ou rápido. Vocês não me elegeram para dizer o que queriam ouvir. Vocês me elegeram para dizer a verdade".

Barack Obama, presidente reeleito dos EUA

"Se não tiver (sic) pressão, vai trabalhar no Banco do Brasil, senta no escritório e não faz nada".

Luiz Felipe Scolari, técnico da seleção brasileira, ao assumir a função no lugar de Mano Menezes

"Hoje você tem de competir com um bocado de gente, achar seu espaço, ter oportunidade, palco. Ou se profissionaliza para valer ou... desaparece".

Gilberto Gil, cantor e ex-ministro da Cultura

Fonte: O Globo

Revolução permanente - Vinicius Mota

A política econômica nem sempre está alinhada ao programa ideológico dos governantes. Um partido de esquerda muitas vezes é obrigado pelas circunstâncias a seguir a receita liberal. Ocorre também o inverso. A aliança de liberais que governa o Reino Unido é compelida a praticar intervencionismo.

O ambiente contrário à doutrina funciona de antídoto contra extravagâncias. Tempera as paixões e impõe limites às tolices da cartilha.

Problemas surgem quando a ideologia do piloto se harmoniza com o espírito do tempo. A dupla Alan Greenspan, no BC dos EUA, e George W. Bush, na Casa Branca, pôde exercer 120% de seu mercadismo desabrido na década passada. Deu no que deu.

Agora o perigo mudou. Alianças de esquerda espanam o pó de convicções sobre o papel heroico do Estado na condução da economia. Regras básicas dos negócios ficam à mercê do arbítrio visionário do príncipe.

Quando pôde rasgar a fantasia ortodoxa, no final da década passada, o governo do PT pôs-se a "refundar" algumas bases sobre as quais funciona o mercado no Brasil.

O modelo de exploração do petróleo, baseado em concessões, não satisfazia a cartilha. O governo mudou tudo, obrigou o ganhador do contrato a dividir uma fatia da produção com o Estado -e a Petrobras a participar de todas as operações.

O câmbio flutuante tampouco correspondia ao nacionalismo em voga. Uma série de regras e taxas, sujeitas a mudança repentina, passou a mediar a entrada de divisas. As agências reguladoras, que dariam garantias aos investidores a despeito do governo de turno, foram minadas e transformadas em cabides de emprego.

Concederam-se privilégios fiscais a setores eleitos e bem articulados. As metas de inflação e de poupança pública foram desmoralizadas.

Nesse terreno em revolução permanente, o investimento produtivo despencou. O ambiente começa a refutar a doutrina. Bom sinal.

Fonte: Folha de S. Paulo

O programa para 2013 é pôr o 'pibinho' para crescer - Marco Antonio Rocha

Finalmente! Arre! Acabou! Acabou 2012, ano do mensalão e... do "pibinho". Vamos todos para 2013, que nossa líder quer que seja um ano do pibão grandão. Vamos para o pibão grandão. Expressão que pode cair fácil no terreno da picardia.

Mas, da picardia fica encarre¬gado o programa Casseta & Plane¬ta, vamos torcer de fato para que 2013 seja melhor do que 2012. Deve ser, porque o ano que termina foi o pior da era Lula-Dilma, iniciada em 2003. Em termos de economia agregada, ou seja, em termos de PIB, parece que chegamos ao fundo do poço. Então, daqui para a frente, só po¬de haver recuperação.

O engraçado ministro da Fazenda, Guido Mantega, reuniu-se com jornalistas em Brasília, na semana antes do Natal, num café da manhã, para um ato de fé - fé no futuro próximo. Mas neste ano de 2012 eleja apostou tantas vezes no crescimento do PIB, que se mostrou cada vez menor, que é o caso de indagar quanta fé será necessária para que o ato de fé surta efeito.

Uma coisa é inegável: o governo da presidente Dilma não está contando apenas com a fé. Tem feito, digamos, das tripas coração para anabolizar o crescimento do PIB brasileiro, embora o resultado tenha sido até agora desanimador, bem menor do que as doses continuadas de vitaminas do governo autorizariam prever. E, pior, bem abaixo do crescimento médio obtido pelo bloco de países com grau de desenvolvimento semelhante ao nosso. O grupo principal de "emergentes" está crescendo a taxas médias entre 4% e 5% ao ano; a China está crescendo menos do que o normal, ou seja, apenas 7,5% ao ano. O Brasil está ficando na rabeira, com 1% de aumento do PIB neste ano.

Isso ainda não prejudicou o prestígio do governo e da pró¬pria presidente perante a grande massa da opinião pública por um motivo bem mais objetivo do que fé: o emprego tem-se mantido e até aumentado um pouco, na média, e bastante, em alguns setores. De algum modo, isso tem sustentado os níveis médios de renda que foram alcançados nos anos pré-Dilma. Para alguns grupos sociais, até os elevou um pouco. E o desemprego tem esta¬do num dos níveis mais baixos da história.

Este intrigante 2012 oferece, então, o aparente paradoxo de um PIB crescendo quase nada e de uma economia andando razoavelmente bem.

É pura perda de tempo tentar decifrar o enigma. Melhor pensar se a situação pode continuar co¬mo está, se pode enveredar para o pior, uma recessão, ou se o PIB volta a crescer - de forma "robusta", como acredita Mantega e co¬mo todos nós desejaríamos.

Para a situação continuar enigmática como está por algum tempo, o governo só tem de ir tocando o barco da mesma forma com que tocou até agora: incentivos ao consumo, desonerações fis¬cais, barateamento e expansão do crédito.

Mas o governo quer mais do que isso, tanto por motivos políticos - pois esse ramerrão não dará muito gás para a reeleição de do¬na Dilma - quanto por motivos econômicos. E esse ritmo de pro¬cissão do enterro, pode resvalar para a recessão, aí, sim, a reeleição se tornaria muito problemática. O que o governo quer mesmo é o pibão grandão, por mais canhestra que seja a expressão.

A receita é complicada de ar¬mar, mas simples de entender: basta aumentar a taxa de investi¬mento na economia. O governo tem feito muito gasto que não passa de esbórnia e que entra na conta de investimento público. Mas investimento público é coisa muito séria.

Não é dar dinheiro para empresas privadas investirem adoidado, como o BNDES faz para, supostamente, ter lucro com os juros pagos pelos empresários. Isso é bom e necessário nu¬ma proporção honestamente conduzida. Mas nem assim é in¬vestimento público. Este tem de ser orientado, com racionalidade, competência e administração esmerada para a infraestrutura, pois uma boa infraestrutura acelera os investimentos privados, reduz os custos das empresas privadas, gera empregos, atrai capitais nacionais e internacionais, faz o País e a economia marcharem aceleradamente, como o caso da China demonstra.

Essa é a parte que se pode chamar de investimento público de resultados. A outra parte, absolutamente necessária, mas com efeito mais demorado, é o investi¬mento na educação, na saúde, na Justiça e na segurança - as quatro pernas de sustentação do Estado moderno.

O investimento privado, que completa a equação, virá em quantidade e qualidade crescentes na proporção em que o investimento público se torne não só visível, como bem fundamenta¬do e consequente. O investimento privado cuidará de tudo aquilo que não é, nem deve ser, atribuição do Estado: desde a elaboração de pizzas até a construção e administração de aeroportos. E para que sirva à sociedade, bastam duas exigências: eficácia e competitividade.

Então, a tarefa do governo em 2013, e além de 2013, é cumprir e acelerar um programa de investimentos públicos que já existe -mas se arrasta a passo da tartaruga - e atrair o máximo de investimentos privados, nacionais e estrangeiros, sem firulas, leguleios e exigências de jerico, como aconteceu na licitação dos aeroportos - pois empresa privada que aceita tais exigências é porque não pretende cumprir o contrato.

Com isso, o pibinho recomeçará a crescer.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Olhando para trás e para a frente - Samuel Pessoa

Todo o nó de 2013 para a economia é a retomada do investimento; o que ocorrerá se ele não voltar?

Esta é a última coluna do ano. Bom momento para olhar para o que passou e tentar divisar 2013.

A marca de 2012 será o baixíssimo crescimento de 1%, número muito abaixo do que todos os analistas, inclusive eu, prevíamos. Os prognósticos mais pessimistas previam crescimento de 2,5%. O Ibre previu 3%.

Não era difícil encontrar números próximos ou superiores a 4%. Assim, a frustração de crescimento foi generalizada e não se restringiu somente aos órgãos oficiais. A economia surpreendeu a todos.

O baixo crescimento resultou da retração do investimento ao longo dos quatro trimestres de 2012. Essa redução não esperada da demanda agregada explica a maior parte da surpresa negativa. No entanto a inflação terminará acima de 5,5%.

Como conciliar economia em baixa, fruto de choque negativo de demanda, com inflação alta? Apesar de elevada, houve queda da inflação, já que ela fechou 2011 em 6,5%.

A queda da inflação somente não foi maior por estarmos em um regime de câmbio fixo. Até o primeiro semestre de 2010, quando o câmbio ainda flutuava, sempre que havia elevação dos preços das commodities, o câmbio valorizava-se de forma a manter o preço em reais dessas mesmas matérias-primas relativamente constante.

Com a alteração do padrão cambial, a economia brasileira ficou mais exposta a choques de preço. A forte elevação das cotações dos bens agrícolas neste ano, consequência de safras ruins nos Estados Unidos e na Argentina, foi repassada aos preços internos. Se não fosse pela alta das commodities agrícolas produzida pelo regime de câmbio fixo, a inflação em 2012 teria sido quase um ponto percentual mais baixa.

No entanto, em que pese a frustração de demanda com queda de inflação, o crescimento liderado pelo setor de serviços tem contribuído para manter o mercado de trabalho aquecido e, com ele, a inflação de serviços na casa de 8,5% ao ano.

E aí, talvez, tenhamos por ocasião da divulgação pelo IBGE da revisão das contas nacionais referente a 2012 (que ocorrerá em alguns anos) alguma surpresa. Provavelmente o crescimento de 2012 será mais próximo de 2% ou 2,5% do que de 1%. O crescimento será mais coerente com os números do mercado de trabalho. No entanto teremos que esperar alguns anos por essa revisão. Por enquanto ficaremos com o crescimento de 1%.

Para 2013, espero crescimento de 3%, com inflação entre 5,5% e 6%. O cenário de crescimento na casa de 3% prevê recuperação do investimento, que deverá crescer 6% em termos reais. A expansão de 6% em 2013 do investimento em relação ao valor médio de 2012 representa uma variação de janeiro a dezembro de 2013 de quase 10%. Dado que o investimento andou para trás ao longo de 2012, ele terminou em nível mais baixo do que iniciou.

O ponto a reter é que o crescimento projetado de 3% requer forte avanço do investimento.

Por ora, os sinais que temos é que essa retomada ficou para o primeiro trimestre de 2013. Se o investimento não for retomado, o cenário terá que ser revisto.

Finalmente, se o regime de câmbio fixo continuar a funcionar em 2013, haverá uma força desinflacionária externa se as safras de grãos forem boas e compensarem o choque negativo de 2012. No entanto é possível que a Fazenda considere esse possível choque positivo como ocasião para mais um passo em direção a um câmbio mais competitivo para a indústria.

O cenário Ibre para 2013 sustenta-se em uma perspectiva internacional ruim -crescimento de 1,5% dos EUA e próximo de zero na Europa-, mas sem um evento de crédito na Europa.

Se houver algum evento com crise aguda de crédito na Europa, reviveremos algo próximo do que houve em 2008. No entanto, dado que a situação da economia mundial e da brasileira é muito menos brilhante agora do que no terceiro trimestre de 2008, o tombo será bem menor.

Do ponto de vista da popularidade da presidente, o cenário de crescimento de 3% com retomada do investimento manterá o desemprego em baixa, com algum espaço para crescimento da renda. A popularidade deve terminar 2013 em nível próximo ao atual.

Todo o nó de 2013 é a retomada do investimento. O que ocorrerá se ele não voltar?

Samuel Pessôa é doutor em economia e pesquisador associado do Instituto Brasileiro de Economia da FGV.

Fonte: Folha de S. Paulo

O dilema de Eduardo Campos - Fabio Giambiagi

Curiosamente, embora políticos e economistas, quando no exercício da autoridade, sejam vistos como pertencentes a esferas diversas e operando com lógicas diferenciadas, ambos podem encarar dilemas marcados pela presença de riscos relevantes, em que a escolha a ser feita dependerá do balanço que cada um fizer acerca das probabilidades de um ou de outro cenário. Tome-se o caso de Ben Bernanke, o presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano). Se sua política monetária for frouxa demais, o risco que corre é de gerar inflação daqui a alguns anos. Já se ela for apertada antes do tempo, pode lançar os EUA em nova recessão. Defrontadas com o mesmo quadro, pessoas diferentes podem tomar decisões diferentes entre si. São os riscos da vida.

Já na política, candidatos à Presidência também enfrentam escolhas relacionadas com a decisão acerca de dar ou não um grande salto. Barack Obama deu um passo arrojado há alguns anos, quando se lançou numa corrida vista por muitos como fadada ao insucesso e que, pouco depois, foi coroada de êxito.

No campo da economia, na teoria dos jogos aprende-se a pensar em termos estratégicos, entendendo que cada agente define o seu comportamento em função da opinião que ele tiver acerca da ocorrência de outros eventos. Um caso interessante para análise, nesse sentido, é a dúvida a ser enfrentada nos próximos meses pelo governador Eduardo Campos.

Para entender a questão, é conveniente pensar em termos de possibilidades. Num caso, tem-se o estado da economia em 2014, que pode ser definido como "bom" ou "ruim". No outro, tem-se a reflexão de Campos, no sentido de se postular ou não para a Presidência. A combinação de circunstâncias enseja um quadro de possibilidades em que, nas colunas, se tem o estado da economia e, nas linhas, a definição do governador entre ser candidato ou não. Isso gera um quadro com quatro cenários:

Cenário A: Economia em "bom" estado, com candidatura do governador. Trata-se de um contexto delicado para ele, uma vez que, neste caso, a presidente Dilma Rousseff seria uma forte candidata à reeleição. Assim, as chances de Eduardo Campos dependeriam de um fator não econômico ou semieconômico, associado à valorização do "novo" na política e, eventualmente, ao argumento de que ele poderia "tocar" mais rapidamente a agenda da competitividade, por exemplo;

Cenário B: Economia em estado "ruim", com candidatura presidencial de Campos. Pode ser uma situação politicamente boa para ele, uma vez que se desligaria do ônus associado à situação, com a possibilidade de capitalizar parte da eventual insatisfação com o rumo do País, reforçada pela imagem de político jovem e dinâmico;

Cenário C: Economia em "bom" estado, sem que o governador se lance candidato. Poderia ser um cenário interessante para ele, uma vez que teria boas chances de ocupar uma posição de destaque caso a presidente seja reeleita, ao mesmo tempo que almejaria a se credenciar, como aliado, a ser ungido como candidato da própria Dilma para a sucessão de 2018;

Cenário D: Economia em estado "ruim", sem candidatura de Campos à Presidência. Poderia ser uma situação negativa para o governador, que seria visto como alguém que permitiu "passar o cavalo selado" sem aproveitar a oportunidade, deixando a pista livre para que o possível desconforto com a economia seja monopolizado pela oposição, neste caso provavelmente liderada por Aécio Neves.

O problema para o governador é que a decisão acerca de ser candidato ou não terá de ser tomada antes de 2014, para ter condições de ser um candidato competitivo, caso decida concorrer. Isso significa que, para ele, é chave tentar perscrutar o futuro para antecipar qual deverá ser o quadro da economia nos próximos 18 meses. Isso porque, se julgar que a economia estará bem, terá fortes incentivos a manter o seu partido, o PSB, na coalizão oficial, ao passo que, se concluir que a economia entrará em crise, poderá ser induzido pelas circunstâncias a correr em raia própria nas eleições presidenciais.

Como hoje o cenário básico da maioria dos analistas é de que a economia está em recuperação moderada e que esta se estenderá durante 2014, pareceria que, ao governador, interessaria se manter no mesmo barco que o PT, ainda que preservando sua individualidade, para usufruir da popularidade associada à bonança e se perfilar como o candidato "natural" à sucessão da presidente Dilma, se Lula não concorrer em 2018.

Há dois senões a esse raciocínio. O primeiro é que Lula poderá ser candidato em 2018, pondo essa estratégia a perder. O segundo é que, mesmo com uma situação econômica boa, Campos pode ter chances se juntar, numa coalizão alternativa à coalizão oficial atual, partidos que estiverem insatisfeitos com o governo e mais o apoio da oposição, se esta se dispuser a mudar de estratégia.
Fazer política implica correr riscos e tudo indica que o governador está diante da decisão política mais importante da sua vida. Será interessante ver que caminho irá escolher.

Fabio Giambiagi, economista.

Fonte: O Estado de S. Paulo

O que sobrou da sala de aula – José de Souza Martins

Reflexão para um tempo de altas apostas na educação: a praga do economismo não distingue uma escola de uma fábrica de pregos

Já foi o tempo em que a educação fazia parte do cardápio de otimismos que se costuma apresentar nas passagens de ano. No último meio século, a educação pública e gratuita, que garantira a formação de grandes nomes e grandes competências nas várias profissões, que assegurara o grande salto da sociedade escravista à sociedade moderna, foi progressivamente diminuída e até injustamente satanizada em nome de interesses que não são os do bem comum. O estado de anomia em que se encontra a educação brasileira pede, sem dúvida, a reflexão crítica dos especialistas, mas uma crítica que a situe na trama própria de tendências problemáticas da modernidade sem rumo para que seja compreendida e superada.

A educação brasileira foi atacada por três pragas que subverteram a precedência do propriamente educativo na função da escola e do processo educacional: o economismo, o corporativismo e o populismo. O economismo na educação não distingue entre uma escola e uma fábrica de pregos. A pedagogia do economismo confunde aluno com produto e trata a educação e o educador na perspectiva da produtividade, da coisa sem vida, da linha de produção. Importam as quantidades da relação custo-benefício. Não importa se da escola não sai a pessoa propriamente formada, transformada. Importam os números, os índices, os cifrões. Presenciei os efeitos dessa mentalidade na apresentação de um grupo de militantes da causa das cotas raciais perante o conselho universitário de uma das três universidades públicas de São Paulo, de que sou membro. Aliás, nenhum deles propriamente negro: "Não queremos vagas em qualquer curso; queremos em engenharia e medicina, cursos que dão dinheiro", frisaram.

Quer o governo que os royalties do pré-sal sejam destinados à educação e nem temos certeza de que isso acontecerá. Os políticos têm outras prioridades, especialmente a das urnas. Já estamos gastando o dinheiro que ainda não saiu do fundo do mar. Mas não sabemos em que esse dinheiro fará o milagre de transformar, expandir e melhorar a educação brasileira e de elevar substancialmente o nível da formação cultural das novas gerações. Dinheiro não educa. Quem educa, ainda hoje, é o educador. É inútil ter máquinas, computadores, tecnologia, maravilhas eletrônicas na sala de aula se, por trás de tudo isso, não houver um educador. Se não houver aquele ser humano especializado que faz a ligação dinâmica entre as possibilidades biográficas do educando e os valores e requisitos de um projeto de nação, a nossa comunidade de destino. Se não houver, sobretudo, a interação viva entre quem educa e quem é educado, se não houver a recíproca construção de quem ensina e de quem aprende. Se não houver a poesia deste verso de Vinicius de Moraes; "E um fato novo se viu que a todos admirava: o que o operário dizia, outro operário escutava".

O corporativismo transformou o professor de educador em militante de causa própria porque a serviço da particularidade da classe social e não a serviço da universalidade do homem. Não há dúvida de que o salário que valorize devidamente o educador e a educação é uma das premissas da revolução educacional de que carecemos. Do povoado do sertão ao campus universitário da metrópole, o educador tem carências que não são as carências do Fome Zero. Educação não é farinha de mandioca. "Quem não lê, mal fala, mal ouve, mal vê", dizia Monteiro Lobato, em relação a um item da cesta básica do educador. Fome de educador não é fome de demagogo nem pode ser. Privá-lo dos meios para se educar, reeducar e poder educar é desnutri-lo.

A partidarização de todos os âmbitos da sociedade brasileira, até da religião, levou para dentro da educação os pressupostos da luta de classes. O militante destruiu o educador, drenou da educação a seiva vital que lhe é necessária para ser instrumento de socialização, de renovação e de criação social. A educação só o é na perspectiva dos valores da universalidade do homem, como instrumento de humanização e não como instrumento de segregação e de polarização ideológica, instrumento do que separa e não instrumento do que junta. Na escola, a ideologia desconstrói a escola cm nome do que a escola não é.

O populismo, por sua vez, transformou a educação em meio de barganha política, instrumento de dominação, falsificação de direitos em nome de privilégios. O direito que nega a universalidade do homem nega-se como direito. Pela orientação populista, o importante não é que saiam da escola alunos bem formados, capazes de superações, gente a serviço do País. Nas limitações desse horizonte, o importante é que da escola saiam votos, obediências, o ser carneiril das sujeições, e não o cidadão das decisões.

A escola vem sendo derrotada todos os dias, do jardim da infância à universidade, pela educação difusa e extraescolar dos poderosos meios de produção e difusão do conhecimento que já não estão nas mãos do educador. A escola é cada vez mais resíduo de poderes e vontades que estão longe da sala de aula.

José de Souza Martins é sociólogo, professor emérito da USP e autor de A política do Brasil Lúmpen e Místico (Contexto)

Fonte: Aliás / O Estado de S. Paulo

Na Itália, Bersani larga na frente de Monti e Berlusconi

Bersani lidera pesquisas após confirmação de candidaturas rivais

ROMA - Nos últimos meses, o noticiário político italiano girou em torno de duas indefinições: se o premier Mario Monti, líder de um governo tecnocrata não eleito, tentaria se manter no poder pela via eleitoral, e se o ex-primeiro-ministro conservador Silvio Berlusconi tentaria recuperar o cargo que deixou há um ano. Com as duas candidaturas confirmadas, porém, quem largou na frente na corrida para chefiar o governo italiano após as eleições de fevereiro é Pier Luigi Bersani, líder de centro-esquerda legitimado por uma inédita primária na sua coalizão.

Uma pesquisa do instituto Cise divulgada ontem, dois dias após Monti confirmar que vai liderar um bloco de centro nas eleições, mostra Bersani bem à frente na preferência dos italianos, com 36,2% das intenções de voto. Monti aparece em segundo, com 23,3%, seguido por Berlusconi, que tem 21,8%.

Ênfase no crescimento

O Partido Democrático de Bersani fez parte da coalizão de apoio ao governo tecnocrata de Monti, que caiu nas graças da comunidade empresarial italiana e dos parceiros da União Europeia ao adotar medidas de austeridade que reduziram o risco de que o país mergulhasse numa crise aos moldes da vivida pela Grécia, o que representaria uma séria ameaça para a zona do euro. Bersani vem prometendo manter as linhas gerais das reformas promovidas por Monti, mas colocar mais ênfase em medidas que aumentem o crescimento e gerem empregos.

Ontem, Bersani reagiu à entrada de Monti na corrida eleitoral — na sexta, o atual premier disse que era hora de superar a clivagem entre direita e esquerda e avançar na agenda de reformas necessárias.

— Essa aliança centrista têm de explicar exatamente quais são as suas posições. De que lado está Monti? — questionou o líder das pesquisas.

Pier Ferdinando Casini, líder do maior partido centrista da Itália, a União Democrata Cristã, disse que Bersani está acusando de golpe a formação do bloco de centro.

— O Partido Democrático não quer que o centro se una, porque eles preferem a velha polarização com Berlusconi — disse.

Os números das pesquisas indicam, porém, que centro-esquerda e centro terão de buscar algum tipo de composição para garantir a governabilidade. O nome de Monti chegou a ser ventilado como ministro das Finanças em um eventual governo Bersani. Analistas consideram que a missão de Monti, mais do que vencer as eleições, é convencer os demais partidos da necessidade de seguir nos passos tomados no último ano. Desde que entrou na campanha, há cerca de dez dias, Berlusconi já acusou o atual primeiro-ministro de responder a ordens da Alemanha e prometeu “salvar a Itália”, já que, em sua avaliação, o país estaria pior hoje do que quando ele abriu mão do poder.

A decisão do ex-premier de se candidatar apesar do risco de um retumbante fiasco eleitoral, porém, também está ligada aos processos aos quais responde na Justiça, já que o cargo lhe confere imunidade. É esperada para antes das eleições a sentença em primeira instância no caso em que ele é acusado de integrar uma rede de prostituição infantil. E recentemente, ele já foi condenado a quatro anos de prisão por fraude fiscal, embora recorra da sentença em liberdade.

No sábado, Berlusconi acusou Monti e Bersani de terem fechado um acordo secreto que assegura que a atual coalizão continuará no poder após as eleições de 24 e 25 de fevereiro.

Fonte: O Globo

Teresa Cristina e Grupo Semente - Meu mundo é hoje (Eu sou assim)

"Poemas de Dezembro" – Carlos Drummond de Andrade

Procuro uma alegria
uma mala vazia
do final de ano
e eis que tenho na mão
- flor do cotidiano -
é vôo de um pássaro
é uma canção.

(Dezembro de 1968)

Uma vez mais se constrói
a aérea casa da esperança
nela reluzem alfaias
de sonho e de amor: aliança.

(Dezembro de 1973)

Fazer da areia, terra e água uma canção
Depois, moldar de vento a flauta
que há de espalhar esta canção
Por fim tecer de amor lábios e dedos
que a flauta animarão
E a flauta, sem nada mais que puro som
envolverá o sonho da canção
por todo o sempre, neste mundo

(Dezembro de 1981)

Quem me acode à cabeça e ao coração
neste fim de ano, entre alegria e dor?
Que sonho, que mistério, que oração?
Amor.

(Dezembro de 1985)

domingo, 30 de dezembro de 2012

OPINIÃO DO DIA Aloysio Nunes Ferreira: falha humana

"Dilma acerta no diagnóstico do apagão. Este é o governo da falha humana. Falha humana na saúde, na educação, na segurança."

Aloysio Nunes é senador (PSDB-SP

Manchetes dos principais jornais do País

O GLOBO
Paes agora promete fazer 277 escolas em 4 anos
Dilma: metade das promessas ainda no papel
Montadoras vão investir US$ 25 bi
Brasileiras buscam petróleo lá fora
Produção do pré-sal decola
Haddad: decisão do STF deve ser aceita

FOLHA DE S. PAULO
Brasil prepara plano para atrair mão de obra de fora
PT, 10 uma década no planalto
Estagiária morre depois de relatar estupro em festa

O ESTADO DE S. PAULO
Haddad quer aumentar caixa com convênios e apoio privado
MP intervém na transição em três capitais
Impasse atrasa obra de ferrovia
Consumidor dá calote recorde de R$ 44 bilhões
Ágil para cobrar, lento para servir
Ambientalista não consegue proteção

CORREIO BRAZILIENSE
Como cuidar bem do seu dinheiro em 2013
Agnelo quer mais ousadia de secretários
Três áreas que desafiam Dilma

ESTADO DE MINAS
O desafio político de Lacerda
Dilma diante de problemas gigantes
Investidores terão de ousar mais em 2013
Quem foge da crise no exterior tem ajuda oficial

O TEMPO (MG)
Boemia de BH se reinventa em meio a espaços tradicionais
Metas e sonhos para 2013
Transplantes dobram em MG
Chuva provoca danos na capital
Prefeitos precisam ficar atentos às contas e ao caixa herdado

GAZETA DO POVO (PR)
Copa das Confederações terá estádios novos e cidades em obras
Na BR-163, o retrato do abandono da infraestrutura brasileira
Os livros vão à praia e ajudam a relaxar
Ex-prefeitos dão conselhos para Gustavo Fruet
Investidores buscam negócios para apadrinhar

ZERO HORA (RS)
O mercado de armas que abastece o crime
O Desafio de Investir Em 2013
Sorria, seus dados estão sendo usados

JORNAL DO COMMERCIO (PE)
João da Costa vê vitória em "sair vivo"
UPAs estão perdendo o encanto

O que pensa a mídia - Editoriais dos principais jornais do País

http://www2.pps.org.br/2005/index.asp?opcao=editoriais

A canção que nos embala - Luiz Sérgio Henriques

Há alguns anos, um artista admirável, como Chico Buarque, vaticinou o fim da canção, tal co¬mo a conhecemos em nossa geração e que muitas vezes, composta com invulgar talento e coragem cívica, com real espírito de "engajamento", nos ajudou a atravessar menos penosamente as agruras do regime autoritário, a tal "página infeliz da nossa História". Acostumamo-nos a um nível de lirismo na canção popular que não raro fazia com que ela desbordasse do terreno daquilo que é meramente agradável e adquirisse dimensão propriamente estética - a dimensão de uma arte crítica e não oficialista, como deve ser toda arte que se preze, se bem que, como insinuava a corrosiva (auto)ironia dos tropicalistas, uma certa função consolatória naquele tipo de música também estivesse presente, enquanto esperávamos, cada qual à sua maneira, o carnaval chegar.

Eram tempos em que podíamos visualizar, socorridos pela imagem forte, a pátria-mãe ser subtraída em "tenebrosas transações", o que - juntamente com o fim da canção apregoado pelo Chico - talvez não possamos mais fazer agora, em tempos de democracia política e de democratização social, a não ser que se queira receber, em troca, a acusação não menos for¬te de udenismo, que seria o traço distintivo de uma classe mé¬dia ressentida e deslocada do poder político com o advento da esquerda petista ao poder a partir de 2003.

Não importa muito que o observador se coloque numa posição rigorosamente constitucional e que, por exemplo, nunca tenha promovido ou promova palavras de ordem como "Fora, Lula" ou "Fora, Dilma", quando, ao contrário, antes ouvimos um temerário "Fora, FHC". Não importa, também, que o mesmo observador condene, ainda hoje e à distância de tantos anos, manobras de pequena navegação, como a alteração das regras do jogo em benefício imediato de quem está no poder - referência evidente à emenda da reeleição presidencial, equívoca por si mesma, in¬dependentemente da compra ou não de votos de deputados da periferia do sistema.

Nada disso importa: o certo é que, com todas essas ressalvas, quem aponta para a necessidade de obediência rigorosa aos princípios de legalidade e impessoalidade na administração da coisa pública, muito especialmente por parte da esquerda política, pode ver-se alcançado pela acusação genérica de participar objetivamente, querendo ou não, de uma conspiração feroz, em cujo vértice estaria nada me¬nos do que um dos Poderes da República, de resto o mais "aristocrático" deles, contra lideranças populares sem paralelo na História do País.

Num outro tempo, era preciso estar embriagado ou muito louco - dizia o poeta Chico - para contestar e botar defeito nos feitos e conquistas do Brasil Grande, aquele mesmo Brasil que nos convidava, autocraticamente, a amá-lo ou deixá-lo de uma vez por todas. Hoje, no entanto, com os recursos inestimáveis da esfera pública democrática, cabe raciocinar serena e pacientemente em tomo de vícios da esquerda no poder - ou melhor, de uma certa esquerda no poder - que parecem repetir-se de modo incômodo, tais como, para indicar dois traços, uma autoavaliação hiperbólica do próprio desempenho à frente do País e um hábito mental que leva a pretender identificar, sem restos, o povo e seu líder máximo.

Na história da esquerda, a mencionada hipérbole se mani¬festou - e volta a se manifestar, de modo até farsesco - como tendência ao culto à personalidade. Vício terrível, que não atinge somente a imensa massa de deserdados, hoje beneficiada por programas relativamente potentes de transferência de renda, mas alcança também intelectuais efetivamente sofisticados, capazes, no entanto, de arriscadamente desvincular tais programas de toda uma época inaugurada e propiciada pela Carta de 1988. De fato, nesse documento crucial, em tomo do qual cabe cotidianamente construir um "patriotismo" inédito entre nós, se expressou um avançado consenso social-democrata, que permitiu, entre outras políticas sociais justas e progressistas, a generalização da previdência rural e a assistência aos idosos e aos deficientes, num com¬bate "substantivo" à pobreza e à indigência efetivamente enceta¬do nos governos Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso.

Por seu turno, a pretensa identidade entre o povo e o líder supremo empobrece a livre dialética democrática e tendencialmente a suprime, ao retirar, em perspectiva, a "legitimidade das partes" que combatem leal¬mente no campo comum da democracia e elaboram distintas e até mesmo antagônicas visões do bem comum. Produz-se, as¬sim, uma concepção de hegemonia que dispensa o tema do pluralismo, bem como promove tá¬ticas "transformistas" de decapitação das forças conservadoras, destas assimilando, contraditoriamente, métodos de atuação e muitas vezes os próprios objetivos estratégicos, como é possível ver na presente onda de restauração de figuras e questões do velho nacional-desenvolvimentismo, inclusive na versão militar. Sem falar da vontade de levar de roldão, ou da ilusão de que isso seja possível, os delicados mecanismos de freios e contrapesos que marcam o moderno Estado Demo¬crático de Direito.

Caetano Veloso, outro protagonista dos tempos de ouro da canção e que, como poucos, há décadas consegue dar forma a alguns dos nossos dilemas mais decisivos, certa feita tomou co¬mo metáfora do País os que dirigiam "motos e fuscas", avançando os sinais vermelhos e perdendo os verdes. Por isso seriamos uns boçais, concluía ferinamente. Podemos tomar essa ideia aguda como índice dos desvios institucionais - e, logo, dos limites hegemônicos, apesar da seqüência de vitórias eleitorais - da esquerda dominante, ao subestimar o grande sinal verde para as reformas sociais representado pelo respeito pleno à democracia política.

Algum dia deixaremos de desafinar em tal sentido negativo?

Luiz Sérgio Henriques, ensaísta, tradutor, um dos organizadores das obras de Gramsci no Brasil e editor do site Gramsci e o Brasil. É vice-presidente da Fundação Astrojildo Pereira.

Fonte: O Estado de S. Paulo