quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Na CPI do Cachoeira... Relator poupa aliado, e ataca jornalista e procurador-geral

Petista responsabiliza Marconi Perillo (PSDB), mas livra Agnelo Queiroz (PT)

Odair Cunha (MG) pediu indiciamento de 34 pessoas, entre elas Fernando Cavendish, ex-dono da Delta

Num movimento interpretado pela oposição como resposta do PT ao mensalão, o petista Odair Cunha (MG) sugeriu em seu relatório que o Conselho Nacional do Ministério Público avalie a atuação do procurador-geral Roberto Gurgel no caso Carlinhos Cachoeira. Ele também incluiu entre os 34 indiciados o chefe da sucursal da "Veja" em Brasília, Policarpo Júnior, e propôs responsabilizar 12 autoridades, entre elas o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB). O governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT), foi poupado. O Ministério Público pediu novamente a prisão de Cachoeira. Ontem, uma comissão da Câmara reduziu poderes do MP.

CPI do Cachoeira indicia 34

Relatório pede que atuação de Roberto Gurgel seja avaliada; oposição contesta texto final

Chico de Gois

BRASÍLIA - O relatório final da CPI do Cachoeira, apresentado ontem pelo relator, deputado Odair Cunha (PT-MG), sugere que o Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) avalie se o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, agiu corretamente ao esperar dois anos para continuar as investigações da Operação Vegas, realizada pela Polícia Federal em 2009. Pede o indiciamento de 34 pessoas, incluindo Fernando Cavendish, ex-dono da Construtora Delta, e a responsabilização de mais 12 que têm foro privilegiado, como o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), o deputado federal tucano Carlos Alberto Lereia (GO), secretários estaduais e até um desembargador. Porém, exclui o governador petista do Distrito Federal, Agnelo Queiroz. Entre os pedidos de indiciamento há cinco jornalistas, entre eles Policarpo Júnior, chefe da sucursal da revista "Veja", em Brasília.

Para alguns parlamentares, o relatório é fruto da pressão do PT devido ao julgamento do mensalão.

- Respeito o relator, mas ele cedeu às pressões do partido e do governo - disse Onyx Lorenzoni (DEM-RS).

O deputado Miro Teixeira (PDT-RJ) criticou o indiciamento de jornalistas:

- É uma tentativa de constrangimento de quem faz jornalismo investigativo. Tem caráter de vingança. A fiscalização do desempenho das autoridades é feita por diversas entidades públicas, mas é a imprensa que tem feito denúncias. Este relatório não tem como ser consertado.

Durante os trabalhos da CPI, parlamentares como Dr. Rosinha (PT-PR) e o senador Fernando Collor (PTB-AL), apresentaram requerimentos para convocar Policarpo Júnior e Gurgel.

O líder do PT na Câmara, Jilmar Tatto (SP), porém, defendeu o indiciamento. Ele negou que seu partido tenha pressionado pelo indiciamento do jornalista:

- A convicção do relator é que o Policarpo avançou o sinal.

Tatto afirmou que Cunha conversou com ele genericamente, antes de finalizar o relatório. A sugestão do líder petista, segundo disse, foi adotar a convicção como forma de decisão:

- Falei para ele que tinha de ter convicção no que iria escrever. Ele teve autonomia para escrever o relatório. Não fizemos reunião no PT para discutir o texto.

O documento provocou s debates ontem na CPI, e sua leitura não foi concluída. A ideia era ler o texto na íntegra (5.328 páginas) e abrir um prazo de cinco dias úteis para que os parlamentares pudessem analisá-lo. Após pressão da oposição, Cunha concordou em fazer hoje a leitura. Assim, segundo técnicos da CPI, o encerramento só deverá ocorrer em duas semanas, porque é difícil obter quórum às quintas-feiras para deliberação.

Mesmo sem ler o documento final, a oposição classificou o resultado como pizza e anunciou que apresentará, na próxima semana, parecer paralelo. O deputado Silvio Costa (PTB-PE) pediu que o contraventor Carlinhos Cachoeira fosse reconvocado, no que foi apoiado por outros parlamentares. Mas o presidente da CPI, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), não aceitou a proposta.

Parlamentares reclamaram que só tiveram acesso ao texto final ontem e disseram que a imprensa já havia publicado parte do conteúdo. Alguns levantaram suspeitas de que petistas e aliados do governo viram o relatório antes.

- Esta CPI está se transformando numa balela, com todo respeito aos três que comandam a CPI. Só tivemos acesso ao relatório na madrugada. Esta CPI está se transformando numa grande pizza. Não investigamos o que deveríamos investigar. Só os mais chegados leram. É um instrumento de perseguição político-partidária. Estamos aqui com mesquinharia. PT x PSDB. Fomos traídos - vociferou o senador Pedro Taques (PDT-MT).

Cunha minimizou as discordâncias:

- É natural que tenham muitas dúvidas. Aceitamos discutir mudanças porque o relatório é da comissão.

Negou que seu texto tenha o objetivo de perseguir opositores e atacar Gurgel devido ao julgamento do mensalão:

- Entendo que houve omissão do procurador-geral ao não encaminhar algum despacho sobre a Operação Vegas. Não estamos sentenciando o procurador-geral. Não é uma represália ao mensalão.

Gurgel não comentou o relatório. Em maio, ao ser perguntado sobre tentativa da comissão de convocá-lo, afirmara:

- O que temos são críticas de pessoas que estão morrendo de medo do julgamento do mensalão. São pessoas que estão muito pouco preocupadas com as denúncias em si mesmo, com os fatos de desvio de recursos e corrupção, e ficam muito preocupadas com a opção que o procurador-geral tomou em 2009, opção essa altamente bem-sucedida. Não fosse essa opção, nós não teríamos Monte Carlo, não teríamos todos estes fatos que acabaram vindo à tona.

Fonte O Globo

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