quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Estimulado por Campos, Delgado ameaça Alves

Raymundo Costa e Fernando Exman

BRASÍLIA - Passadas as eleições municipais, surge mais um potencial foco de atrito entre a presidente Dilma Rousseff e o governador de Pernambuco e presidente do PSB, Eduardo Campos. Trata-se da candidatura do deputado Júlio Delgado (PSB-MG) a presidente da Câmara, um lance capaz de interferir na chancela que a presidente Dilma Rousseff deu ao acordo PT-PMDB para assegurar aos pemedebistas o comando das duas Casas do Congresso.

A presidente já se deu conta da intensa movimentação de Delgado e ontem à tarde telefonou ao vice-presidente Michel Temer para dizer que o assunto deve ser discutido na reunião entre os dois, marcada para a próxima semana. Após falar com Temer, a presidente também deve conversar com Eduardo Campos, segundo a direção do PSB. Possivelmente também na semana que vem.

"Esse acordo foi feito entre os dois partidos [PT e PMDB]. Não incluiu os outros", afirma Delgado, referindo-se às siglas governistas. "Eu diria que tem um campo fértil pela frente."

O vice-presidente do PSB, Roberto Amaral, disse ontem ao Valor que ainda não há uma decisão oficial da Executiva do partido sobre a candidatura de Júlio Delgado. O deputado, no entanto, afirma que recebeu o incentivo dos principais líderes partidários - inclusive Campos - para articular sua candidatura. Delgado pode receber o apoio do PSD, criado depois do acordo firmado entre PT e PSB, que não se sente compromissado com a candidatura do líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN). O PSDB, especialmente o grupo ligado ao senador Aécio Neves (MG), acompanha com interesse a movimentação capaz de dividir a base governista.

Durante a campanha eleitoral, Dilma deu seu aval ao acordo ao vice Michel Temer. Sobre o Senado, a presidente achava mais prudente o líder da bancada, Renan Calheiros (AL), concorrer ao governo de Alagoas. Mas foi informada que a opção da bancada era por Renan e não opôs restrição. O PMDB, segundo a cúpula do partido, considera um virtual rompimento se esse acordo não for cumprido. Além de Dilma, o presidente do PT, Rui Falcão, também tem insistido que a desconfiança do PMDB não tem procedência. Lembrando que o compromisso do governo é com o PMDB, a orientação do Palácio do Planalto ao PT é que o partido mantenha-se fiel ao acordo.

Delgado, atual quarto secretário da Câmara, deu início a uma intensa articulação para viabilizar a sua candidatura à presidente da Casa. Nas conversas com colegas, tem recebido apoios inclusive de deputados da base aliada e de setores do PT insatisfeitos com a possibilidade de o PMDB assumir o comando da Câmara e do Senado a partir do ano que vem.

Na cúpula do PSB, a intenção é evitar que uma eventual derrota de Delgado seja debitada na conta de Campos, que tem colecionado vitórias políticas nos últimos tempos. Depois de conseguir eleger sua mãe para uma vaga no Tribunal de Contas da União, o governador colheu resultados positivos nas eleições municipais.

A eleição para a presidência da Câmara é vista por integrantes da cúpula do PSB como uma chance de reforçar a posição do partido na base governista ou um ponto de inflexão que impulsione uma aproximação entre a legenda e a oposição. Se Delgado vencer a disputa em fevereiro, o partido teria maior força para pleitear a indicação de Campos para a vaga de vice de Dilma na eleição presidencial de 2014. O projeto de candidatura de Eduardo Campos à Presidência estaria automaticamente postergado e a parceria PT-PMDB, abalada. Por outro lado, uma operação ostensiva do Palácio do Planalto para boicotar a candidatura de Delgado poderia ser usada como justificativa para um rompimento entre o PSB e o projeto de reeleição de Dilma.

Fonte: Valor Econômico

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