quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Britto: 'Judiciário é o poder menos perdoado'

Na despedida do CNJ, ministro se queixa da remuneração

Evandro Éboli

Entre lágrimas. Emocionado, Ayres Britto faz o seu discurso de despedida

BRASÍLIA - Na sua despedida da presidência do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Ayres Britto, chorou e, num desabafo, discursou em defesa da corporação. Ele afirmou ontem que o Poder Judiciário é o mais exigido e o menos perdoado. E disse que os integrantes desse setor não são bem remunerados e sofrem privações por não poder fazer greve, nem ter cargos de confiança a seu dispor:

- O Poder Judiciário é o mais cobrado, o mais exigido e o menos perdoado. E o mais sacrificado em vedações. Não pode fazer greve. Não pode se sindicalizar. Não tem hora extraordinária. Não tem cargo de confiança e não tem autonomia financeira. É o único que se aposenta obrigatoriamente aos 70 anos - disse: - O Judiciário é o fiador da Constituição. Quando o Poder Judiciário não se faz confiável, a autoestima coletiva desaba. Há desmando e desgoverno em outros Poderes. Mas no Judiciário é inconcebível. E não é tratado remunerativamente no superlativo de seu papel.

Ele ainda criticou a situação do Judiciário brasileiro frente ao de outros países:

- Sempre nos comparam com outros países. Mas (no exterior) o sistema de saúde é pago, o sistema de educação é pago. O valor de um carro lá é um terço a menos que no Brasil. Com salário de US$ 10 mil (no exterior) se tem alta qualidade de vida - afirmou Britto, que citou Brasília como uma cidade com alto custo de vida.

No balanço de sua passagem pelo Judiciário, Britto, que completa 70 anos no domingo e se aposentará compulsoriamente, afirmou que a Justiça brasileira é de vanguarda. Sem citar o julgamento do mensalão, disse que o STF vem mudando a cultura do Brasil:

- Estamos inaugurando eras, quebrando paradigmas e acabando com ideias mortas - afirmou, citando aprovação de casos envolvendo células-tronco, nepotismo, liberdade de imprensa, direito do aborto de anencéfalo e da liberação da Marcha da Maconha: - É um novo Poder Judiciário, de vanguarda.

Britto comentou sua saída do STF:

- Não digo que sinto saudade. Não é bem isso. A sensação é que não perdi a viagem. Fiz tudo com devoção. Saio sem nostalgia e tristeza.

Fonte: O Globo

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