segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Uma aposta para renovar o PT pós-mensalão


Planalto e partido investiram tudo na candidatura, que começou com 3%; Marta ganhou pasta da Cultura

Gustavo Uribe, Marcelle Ribeiro

SÃO PAULO - Arrancando com minguados 3% de intenções de voto e com dificuldades para se viabilizar como candidato competitivo, o prefeito eleito de São Paulo, Fernando Haddad, não só virou a acirrada e simbólica disputa eleitoral da capital paulista. Ele se cacifou ao posto de nova liderança nacional do PT, sobretudo após o julgamento do mensalão ter solapado a imagem de caciques da legenda, como o ex-ministro José Dirceu e o ex-deputado José Genoino. Agora, o ex-ministro da Educação, que até 2012 sequer havia participado de uma eleição, comanda o terceiro maior orçamento do país e se tornou a referência no processo de renovação petista, estimulado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Quando a disputa municipal começou, o prefeito eleito tinha sérias dúvidas se teria fôlego suficiente para virar o jogo a tempo de vencer as eleições. À frente, um José Serra conhecido e confiante. E Russomanno, a surpresa do primeiro turno. Quando o Instituto Datafolha divulgou a primeira sondagem sobre o cenário eleitoral, ainda em dezembro de 2011, o então pré-candidato petista ficou apreensivo. Teve que ser tranquilizado por Lula, o padrinho que apostou todas as fichas em seu nome. Numa conversa pelo telefone, Lula lembrou a trajetória de Dilma Rousseff, que começou com 8% de preferência do eleitorado e acabou eleita presidente do Brasil. Ao chegar ao segundo turno, saltando dos amargos 3% para 28% dos votos, Haddad já se dava ao luxo de brincar com a situação.

- No dia em que saiu a primeira pesquisa, eu recebi um telefonema de um companheiro do partido com o resultado. Não foi fácil receber aquela notícia. Eu posso dizer que a primeira pesquisa do Datafolha a gente não esquece - lembrou Haddad.

Excluída, Marta reconhece acerto de Lula

O projeto de lançar a sua candidatura foi esboçado pelo ex-presidente há três anos. Ainda no Palácio do Planalto, em 2009, Lula sondou Haddad sobre a possibilidade de concorrer ao cargo de governador de São Paulo. A proposta de lançá-lo ao posto naufragou após ganhar força a hipótese de Ciro Gomes adotar São Paulo como domicílio eleitoral. Em 2011, com a aproximação de uma nova disputa polarizada contra os tucanos, Haddad, mais uma vez, viu-se cortejado pelo líder máximo do PT. Agora era para valer.

Para viabilizar a candidatura de seu afilhado político, o ex-presidente enfrentou segmentos importantes do PT paulista, em especial o grupo liderado pela ex-prefeita Marta Suplicy. Para os petistas, a vitória na capital paulista era o atalho para encerrar a hegemonia tucana no governo do estado nas eleições de 2014. A sigla nunca chegou ao Palácio dos Bandeirantes, administrado pelo PSDB há quase duas décadas. Ontem, Marta admitiu que Lula fez a escolha certa para tirar o PT de uma situação "extremamente difícil".

- Ele acertou na estratégia. Foi extremamente arriscado, mas acho que o PT, na circunstância e no momento que vive, foi correto. E estou muito feliz que ele (Lula) tenha tido a coragem e arriscado tanto - afirmou Marta, que só entrou com força na campanha depois que virou ministra da Cultura de Dilma.

Outro ministério, o da Pesca, foi dado pelo Planalto ao senador Marcelo Crivella para garantir o apoio do PRB a Haddad ainda no primeiro turno, o que não se concretizou.

Ao votar, o prefeito eleito realçou o discurso do novo contra a continuidade, numa cidade onde a rejeição ao atual prefeito Gilberto Kassab (PSD) teve papel destacado no resultado eleitoral. E aproveitou para dar a dimensão nacional que os petistas tanto aguardavam com a vitória em São Paulo.

- São Paulo hoje é Brasil. Nós temos que levar em conta a importância e o peso específico de São Paulo no desenvolvimento do nosso país.

Nos bastidores, Lula reconhece que os principais nomes do PT estão desgastados e anota na caderneta expoentes que pretende lançar em 2014. Diagnosticou o risco de perder espaço para PMDB e PSB, que têm renovado seus quadros no Sudeste e no Nordeste. Não à toa, Lula pediu que o ministro Alexandre Padilha (Saúde) mude do Pará para São Paulo seu domicílio eleitoral.

- O ex-presidente petista ficou muito impressionado com o nascimento de novas lideranças no Rio de Janeiro e no Nordeste. Ele acha que os ventos da renovação podem chegar a São Paulo - afirmou Fernando Haddad ao GLOBO.

Fonte: O Globo

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