domingo, 7 de outubro de 2012

Recife, uma disputa atípica


Eleição da Capital agravou as divergências internas do PT e inaugurou o rompimento político entre petistas e socialistas

Ayrton Maciel

Três meses depois de iniciado o período de propaganda eleitoral, conforme o calendário do TSE, os eleitores do Recife vão às urnas, hoje, data do primeiro turno, para eleger o novo prefeito da Capital ou os dois mais votados que irão ao segundo turno no dia 27 deste mês. Os candidatos chegam ao pleito após uma campanha inusitada, marcada pelo racha pré-eleitoral do PT – que levou ao expurgo do prefeito João da Costa da disputa – e pelo rompimento entre os dois maiores partidos da Frente Popular, que governa a cidade desde 2000: o PSB do governador Eduardo Campos e o PT do senador Humberto Costa.

Eleição também atípica porque um técnico aparece como favorito, Geraldo Julio (PSB), ungido pelo governador – para suceder um prefeito de perfil técnico com gestão mal avaliada –, e um deputado jovem, mas pouco conhecido, Daniel Coelho (PSDB), ascende ao segundo lugar nas pesquisas, superando um ex-ministro de Lula, ex-secretário de Eduardo, senador e histórico petista. Daniel foi a grande surpresa. Enfrentando as máquinas da PCR e do Estado e uma campanha de descrédito, conseguiu tomar de Mendonça Filho (DEM) o perfil de oposição real. O democrata ocupou, por um tempo, o segundo lugar, mas sucumbiu à falta de aliados, de recursos e de máquina pública e ao peso das máquinas municipal, estadual e federal rodando a favor do PSB e do PT.

Eleição inusitada também pela judicialização. Nunca antes em eleição municipal do Recife assistiu-se coligações recorrerem tanto à Justiça Eleitoral contra propagandas adversárias. De 1º julho – data das primeiras ações por propaganda antecipada – até sexta-feira (05), 234 representações ingressaram na Comissão da Propaganda. As duas principais pedem a impugnação de Geraldo Julio, acusado pelo PT de fazer campanha “casada” com propaganda institucional do governo do Estado. O juiz do Registro, João Maurício Guedes Alcoforado, cunhado do presidente do PSB, Sileno Guedes, não renunciou e acabou tendo o pedido de “suspeição” feito pelo PT. As ações ainda não foram julgadas.

O fator de maior impacto foi o surpreendente lançamento da candidatura própria do PSB, atendendo apelo do PTB e 13 outras legendas da Frente Popular, insatisfeitas com o desempenho administrativo do prefeito petista João da Costa e a sua interminável disputa interna com o ex-padrinho político, ex-prefeito e agora arqui-inimigo João Paulo (PT). Disputa pela Prefeitura que foi assumida por Humberto Costa, cujo grupo chegou a ser o suporte de João da Costa.

Inviabilizado pela avaliação popular, a direção nacional do PT descartou do baralho político o prefeito e acatou inicialmente o então deputado federal Maurício Rands – do grupo de Humberto e também da cota de Eduardo - como alternativa a João da Costa em uma prévia, que o próprio Rands acusou de fraudada após a derrota. A ruptura do PSB ocorreu quando o PT já havia escolhido Humberto, faltando só a reunião nacional que sacramentaria o “fora João da Costa”. Depois de repetidas afirmações de que o PSB apoiaria o nome que o PT indicasse, o lançamento de Geraldo Julio por Eduardo Campos deflagrou o rompimento da parceria iniciada em 2000, com a eleição de João Paulo, e consolidada nacionalmente, em 2002, com a eleição de Lula à Presidência. O resultado foi um mal-estar e o distanciamento entre Eduardo e Lula, embora negado pelo PSB.

Fragilizado, Humberto Costa fez uma campanha sem identidade – nem foi oposição à gestão, nem defendeu o governo João da Costa –, perdeu tempo com respostas ao desafeto e teve o prefeito atuando, nos bastidores e comunidades, contra a sua candidatura. Em meio à troca de fogo entre ex-aliados, o PRTB lançou Esteves Jacinto, impugnado pelo TRE por não quitar multa pela ausência no pleito de 2010. Deixou a impressão que cumpriu um papel de “laranja”, focando as baterias em Geraldo Julio, que também derrubou no TRE as três multas recebidas dos juízes por propaganda em bens públicos.

Fonte: Jornal do Commercio (PE)

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