quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Dilma Fashion Week - Vinícius Torres Freire

Modelo econômico dilmiano ficou mais evidente nesta semana com o pacote de energia

Os economistas ainda mastigam a redução da conta de luz prometida por Dilma Rousseff, mas a opinião entre os profissionais mais ponderados da praça é de que o gosto da coisa é bom e, menos óbvio, deve ter efeitos colaterais positivos. Ponto para o "modelo Dilma".

Sim, seria difícil, quase doido, alguém reclamar das reduções de preços, de custos para empresas e de impostos embutidas no pacote dilmiano. O que está em discussão é o alcance da providência de baratear o custo da eletricidade.

O governo considera que rearranjar preços é um método de combater a inflação. Parece óbvio, mas não é, nem é essa a opinião da maioria dos economistas-padrão, "do mercado". Isso ficou ainda mais evidente nesta semana, com as entrevistas e discursos que embalaram o pacote de energia.

Inflação, para o economista duro e puro, controla-se com política monetária, mexidas na taxa básica de juros -que acabam por ajustar o nível de atividade econômica adequado à estabilidade de preços -e, também, com expectativas dos atores econômicos. Ajustar o nível de gasto do governo e, ainda mais impreciso, outras torneiras de crédito (como compulsórios dos bancos) seriam instrumentos adicionais.

Dilma e seus economistas, porém, são de outra escola, dita "heterodoxa", mais "à esquerda". Seja lá qual for o apelido, acreditam que podem usar outros ingredientes a fim de cozinhar uma boa política econômica. Mexem em preços, rendas, "manipulam" variáveis econômicas.

Os economistas dilmianos toleram uma inflação mais alta, especialmente se o custo de reduzi-la rapidamente for alto para o governo (mais despesa com juros) e para a atividade econômica (desaceleração forte). Ao mesmo tempo, procuram meios alternativos.

Juros menores, mesmo com inflação desagradável, tendem a reduzir a despesa do governo. Assim, o governo precisa poupar menos da sua receita de impostos a fim de reservar dinheiro para continuar a reduzir a dívida pública. Desse modo, pode reduzir impostos.

Custos menores tendem a estimular a produção nas empresas e, claro, a ter efeito no preço final dos produtos, reduzindo a inflação. Pelo menos, é esse o plano.

Obviamente, tais economistas não desprezam a política monetária pura e dura, ajustes nos juros. Mas ficou óbvio que usariam muito mais armas para atirar na inflação desde quase o início do governo Dilma. O Banco Central optou por abrir e fechar várias torneiras de crédito, e não só a taxa de juros, a fim de controlar a atividade econômica.

Essa foi a primeira grande mudança de Dilma. A segunda foi a decisão firme de influenciar a taxa de câmbio a fim de proteger a indústria nacional. Mais adiante, aproveitando-se do fato de que a dívida pública continua caindo, passou a reduzir impostos mais sistematicamente para empresas, ainda setores escolhidos como "prioritários" (como a dívida cai, "sobra" algum para reduzir impostos).

Há mais. O governo controla preços de combustível de modo "disfarçado". Subsidia empresas via BNDES. Influencia a política de crédito dos bancos públicos. Barra alguma importação via impostos ou outros recursos. Etc.

Dilma Rousseff, enfim, tem um modelo econômico para chamar de seu.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

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