quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Defesa de ex-dirigente do Rural diz que Coaf sabia de empréstimos

Kátia Rabello não presidia banco na época do mensalão, diz advogado

André Coelho

BRASÍLIA O ex-ministro José Carlos Dias, advogado da ex-presidente do Banco Rural Kátia Rabello, negou ontem irregularidade nos empréstimos do banco para Marcos Valério, operador do mensalão. Dias disse que todos os empréstimos e os saques foram devidamente informados ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf).

O advogado teve dificuldade, no entanto, de explicar por que o banco não identificou alguns destinatários de recursos distribuídos por Valério a pessoas indicadas pela cúpula do PT. Segundo ele, Kátia presidia um banco de porte médio, com 120 agências e 2.000 empregados. Por isso, não tinha como acompanhar todas as transações.

- Como é que vamos imaginar que a presidente vai fiscalizar os saques feitos nas agências? Nem as mais sofisticadas teorias conspiratórias ousariam supor que cidadãos que passavam pela agência em Brasília seriam assessores, familiares de políticos - disse Dias.

Pela denúncia do MPF, o Rural concedeu empréstimos fictícios ao PT, por intermédio de Valério, para ajudar o partido a esconder a movimentação de dinheiro feita por dirigentes do partido para comprar votos de parlamentares no início do governo Lula. Em troca dos empréstimos, o banco esperava obter vantagens na liquidação extrajudicial do Banco Mercantil de Pernambuco.

Dias confirmou que dirigentes do Rural pediram ao ex-chefe da Casa Civil José Dirceu os créditos referentes à liquidação do Banco Mercantil, do qual o Rural tinha ações. O fato teria ocorrido numa reunião em um hotel em Belo Horizonte, conforme acusa o Ministério Público no processo no mensalão:

-Houve o pleito. Não sei se foi ela (Kátia Rabello) pessoalmente ou se outra pessoa fez. Mas não há ilegalidade alguma nisso. Foi uma reunião pública.

Kátia Rabello foi acusada de formação de quadrilha, lavagem de dinheiro, evasão de divisas e gestão fraudulenta. Para Dias, a denúncia não tem fundamento. Ele diz que à época dos empréstimos, em 2003, o banco era presidido por José Augusto Dumont. Era Dumont, e não Kátia, quem tinha relações com Valério. Dumont morreu em 2004 e Kátia assumiu a presidência, só deixando o cargo depois do mensalão.

Antes de fazer sua defesa, Dias apresentou questão de ordem pedindo a suspensão da sessão porque a ministra Cármen Lúcia não estaria presente. Ela tinha compromisso no Tribunal Superior Eleitoral. O pedido foi rejeitado por unanimidade pelos ministros do STF. A OAB protestou.

FONTE: O GLOBO

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