terça-feira, 14 de agosto de 2012

A hora do mensalão - Para enfraquecer procurador, Jefferson agora acusa Lula

"Não se pode afirmar que o presidente fosse pateta, não soubesse de nada", diz defensor

Após assegurar, em 2005, que o ex-presidente era inocente e desconhecia o esquema do mensalão, presidente do PTB, que denunciou escândalo, muda de tom e diz que na época não sabia das relações de Lula com o banco BMG

Como O GLOBO antecipou, Luiz Francisco Barbosa, defensor do ex-deputado Roberto Jefferson, usou boa parte dos 40 minutos de defesa no STF para atacar o ex-presidente Lula. Com o objetivo de enfraquecer a denúncia do procurador-geral Roberto Gurgel contra seu cliente, Barbosa disse que Lula é o verdadeiro mandante do mensalão e pediu que ele seja investigado pelo STF. Segundo Barbosa, todos os ministros, inclusive José Dirceu, apontado como chefe da quadrilha, cumpriam ordens de Lula. "Não se pode afirmar que o presidente fosse um pateta, que sob suas barbas, acontecendo as tenebrosas transações, não soubesse de nada. Não só sabia, como ordenou o encadeamento disso tudo." Jefferson apoiou: "Se eu soubesse disso, jogaria Lula no chão."

"Não só sabia como ordenou"

André Coelho

UM JULGAMENTO PARA A HISTÓRIA

BRASÍLIA O advogado Luiz Francisco Corrêa Barbosa, defensor do ex-deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), cumpriu a ameaça dos últimos dias e mirou ontem no ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e no procurador geral da República, Roberto Gurgel. Ele usou boa parte dos 40 minutos de sua sustentação oral no Supremo para atacar Lula. Barbosa disse que o ex-presidente é o verdadeiro mandante do mensalão e, como antecipou ao GLOBO que faria, pediu que ele também seja investigado pelo Supremo. Disse que todos os ministros do governo, inclusive José Dirceu, apontado como chefe da quadrilha pela Procuradoria, cumpriam ordens de Lula.

- É claro que Sua Excelência (o procurador Roberto Gurgel) não pode aqui afirmar que o presidente da República fosse um pateta, fosse um deficiente, que sob suas barbas, acontecendo isso, as tenebrosas transações, ele não soubesse de nada - disse Barbosa, citando entrevista do ministro do STF Marco Aurélio Mello:

- Vossa Excelência usou uma expressão carioca, ministro Marco Aurélio, disse que o presidente era safo. E é mesmo. E não só é safo, é doutor honoris causa em universidades brasileiras e de fora. Mas era um pateta? Tudo isso acontecendo sob suas barbas e nada? É claro que não. E não só sabia, digo eu aqui, como ordenou o encadeamento disso tudo.

O advogado disse que cabe aos ministros do STF pedir abertura de investigação separada contra Lula, já que o MPF não o fez. Ele afirmou ainda que Jefferson não concordava com a compra de votos de parlamentares, por isso teria sido vítima de uma armação de integrantes do governo. Negou qualquer irregularidade e argumentou que os R$ 4 milhões repassados pelo PT ao PTB eram parte de um acordo para formar a aliança nas eleições de 2004, que previa a transferência total de R$ 20 milhões, e não para a compra de votos de parlamentares.

- Tratava-se da eleição municipal de 2004, não tem nada a ver com governo federal.

Barbosa também negou a acusação de lavagem de dinheiro, alegando que Jefferson pensava que o dinheiro do PT era limpo.

- Nós todos sabemos que não pode haver crime de lavagem de dinheiro sem a ciência prévia do recebedor de que se trata de dinheiro sujo. Quem entregou foi o Partido dos Trabalhadores? Foi. Por um preposto? Sim. Mas era em 2004, quando o PT ainda era uma vestal (pessoa que apregoa ser honesta). Era de supor que isso tivesse um tipo de ilícito? Não, é claro que não.

O ex-presidente Lula não quis se pronunciar sobre as declarações do advogado. O ex-presidente passou o dia no Instituto Lula, recebendo política. O líder do PT na Câmara, Jilmar Tatto, criticou a defesa de Barbosa:

- Foi uma defesa desqualificada, um ato de desespero. É o fim da carreira de Jefferson.

A Procuradoria Geral da República sustentou haver provas contra Jefferson pelos crimes de lavagem de dinheiro e corrupção passiva. Segundo Gurgel, Jefferson, então presidente do PTB, teria dado continuidade a um esquema iniciado pelo seu antecessor, José Carlos Martinez, morto em outubro de 2003.

Antes de se dirigir ao plenário para fazer a defesa, Barbosa conversou por telefone com Jefferson e brincou com o risco de ele e outros réus serem presos. O ex-deputado riu.

- Eu disse para ele: vou te levar cigarros na prisão - afirmou o advogado.

Itapuã Prestes de Messias, advogado de Emerson Palmieri, ex-tesoureiro do PTB, disse que seu cliente foi denunciado pelo MP apenas para desestabilizar os denunciantes do escândalo:

- Era preciso desmoralizar Emerson Palmieri, cortando assim uma das pernas de sustentação de Roberto Jefferson - disse o advogado.

Messias seguiu a linha da defesa anterior, argumentando que o dinheiro repassado ao partido era resultado de um acordo político para as eleições de 2004. Também atribuiu a responsabilidade pelas negociações a Martinez. E disse faltar à denúncia "precisão e clareza":

- Emerson não é e nunca foi tesoureiro do PTB. É secretário e tem funções subalternas sim, mas tem funções específicas que não são as de coordenar verba de campanha.

Já a defesa do deputado estadual mineiro Romeu Queiroz (PSB), ex-dirigente do PTB e ex-deputado federal, confirmou ter recebido R$ 250 mil do PT e R$ 102,8 mil da SMP&B. Negou que o dinheiro tenha sido embolsado por ele: as quantias teriam sido repassadas ao diretório regional do partido e ao PTB nacional. Ele negou que os recursos eram para pagar apoio ao governo, conforme denunciou o MP. Queiroz responde por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Segundo o advogado Ronaldo Garcia Dias, seu cliente não teria recebido R$ 4,5 milhões, como diz a denúncia.

FONTE: O GLOBO

Um comentário:

Anônimo disse...

Srs.
Por que Ex-Presidente LULA não VETO o MENSALÃO.
E mesmo EX-Presidente LULA VETO o FATOR PREVIDENCIÁRIO.