sexta-feira, 27 de julho de 2012

O despreparo dos bancos - Celso Ming

O Banco Central não esconde seu alívio apenas porque o nível de calote no crédito começa a passar sinais de que pode parar por aí.

Nesta quinta-feira, ao apresentar dados atualizados da execução da Política Monetária, o chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Túlio Maciel, anunciou a “perspectiva de comportamento melhor da inadimplência” como ponto alto das novas condições do mercado de crédito.

E isso numa semana em que alguns dos maiores bancos do Brasil divulgaram balanços trimestrais, nos quais ficaram registrados forte avanço da inadimplência e necessidade de reforço de provisões para enfrentá-la.

Crédito é operação tão velha quanto a sé de Braga, mas no Brasil teve de ser reinventado. A desorganização das finanças públicas e a inflação nos anos 70, 80 e 90 definharam o financiamento bancário. Outros tipos de crédito, sobretudo o comercial (entre empresas e entre o comércio e o consumidor), prosperaram. Mas os bancos pegaram uma moleza que atrofiou seu principal negócio: emprestar dinheiro. Passaram a despejar recursos em títulos do Tesouro (operações de tesouraria), durante décadas o tomador quase exclusivo do crédito no País.

Por não contar com crédito e para azeitar negócios no varejo, o Brasil inventou a jabuticaba (só dá por aqui) que se chama consórcio, em processo de esvaziamento.

E foram as aplicações de tesouraria que levaram bancos a desaprender seu principal ofício. Antes de morrer, em 2001, o banqueiro Gastão Vidigal (antigo Grupo Mercantil) reconhecia ter desaprendido seu negócio: não sabia mais fazer operações de crédito. Desconhecia como avaliar cadastros e fazer análises de risco. Os gerentes dos bancos haviam sido treinados para sorrir para a clientela, vender CDBs e empurrar essa enganação chamada título de capitalização – mais bilhete de loteria do que aplicação financeira.

A queda da inflação, certa disciplina fiscal e a melhora da renda do brasileiro médio empurraram os bancos de volta ao crédito. Mas, na ânsia de ganharem participação de mercado, atiraram-se ao negócio sem os devidos cuidados e sem corpo técnico apto para avaliação adequada de riscos e renegociação de passivos. Daí o salto da inadimplência.

Ainda assim, não há nenhum fator sistêmico que coloque em dúvida a solidez dos bancos brasileiros. Não há por aqui, nem de longe, os abusos e as bolhas dos Estados Unidos e da Europa – fatores que atiraram a economia global na crise da qual não sairá tão cedo.

O governo Dilma ficou decepcionado com os bancos por terem pisado no freio. Essa desaceleração foi necessária para retomar as operações de crédito em bases gerenciais mais consistentes. Mas é pouco. Os juros despencam e isso deveria ser levado em conta não só nos novos financiamentos, mas também nos antigos, firmados com juros do olho da cara.

Se querem derrubar mais rapidamente sua lista de inadimplentes, os bancos, despreparados hoje, terão de ser mais ágeis na renegociação em novas bases dos contratos de financiamento. Como o governo tem grande interesse na expansão firme do crédito, o Banco Central não deveria se limitar a querer mais provisões. Deveria exigir mais renegociação de passivos.

CONFIRA


O gráfico traz a expansão em 12 meses do estoque do crédito. Em dezembro, era de 49,1% do PIB. Ao final do primeiro semestre, de 50,6% do PIB. Nos últimos meses, o nível da inadimplência, mais alto do que o esperado, levou os bancos a frear operações. Até o final deste ano, deverão ter crescido alguma coisa em torno dos 15%.

Descuido. O Santander fez provisões insuficientes para o nível de inadimplência de sua carteira de crédito – apontam os analistas do Credit Suisse. O balanço trimestral do banco foi mais decepcionante do que foram os balanços do Bradesco e do Itaú.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

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