domingo, 22 de julho de 2012

Entrevista – Daniel Coelho: “Recife não é para coronéis”

Paulo Augusto

Já se passaram quase dois anos desde que Daniel Coelho deixou o PV rumo a seu atual partido, o PSDB. Mesmo assim, as questões ambientais e de sustentabilidade continuam sendo o foco de seu discurso. E é a partir dessa temática que o candidato tucano vem se definindo como “o novo” na eleição municipal do Recife. Um “novo” que tem o difícil desafio de chegar a um eventual segundo turno enfrentando um postulante apoiado pelo governo do Estado (Geraldo Julio), um senador da República cujo partido comanda a prefeitura há 12 anos (Humberto Costa), e um ex-governador (Mendonça Filho). Apesar das adversidades, típicas de quem debuta em campanhas majoritárias – e da relativa proximidade que seu partido dispõe tanto do PSB quanto do DEM –, Daniel não tem poupado os adversários de críticas. Diz que, juntos, representam grupos que há 50 anos se revezam no poder, questiona a forma como se deu a indicação de seus rivais – “tem presidente e governador querendo escolher o prefeito do Recife” – e afirma que não há nenhuma diferença entre PT e PSB. Nesta entrevista, concedida em seu gabinete, o tucano falou ainda de seu programa de governo e não escondeu o lado verde que ainda carrega consigo – facilmente observado não apenas na cor de sua camisa, mas também na foto que adorna sua sala, na qual posa ao lado da ex-candidata a presidente pelo PV, Marina Silva.

JORNAL DO COMMERCIO – O senhor está participando de sua primeira campanha majoritária. Realmente acredita que tem chances de vencer ou, independente do resultado, a campanha é importante para eleições futuras, como 2014 e 2016?

DANIEL COELHO – A gente está construindo um projeto para ser vencedor. Não tem nenhum tipo de planejamento voltado para 2014. Temos um cenário em aberto na Prefeitura do Recife. Não dá para apontar favoritismo hoje, pois isso significa querer ser vidente ou olhar em bola de cristal. As mudanças políticas que ocorreram este ano ainda não estão percebidas pela população. O povo não entendeu ainda e não tem as informações suficientes para entender esse novo cenário, esses novos palanques que foram formados. Os grupos que até então estavam juntos e hoje não estão mais. E, pelo fato de nós termos outras três candidaturas que têm se revezado no poder nos últimos 50 anos, a gente tem uma candidatura que pode se diferenciar das demais. Isso vai ficar percebido de uma forma direta quando o debate se aprofundar e eu acredito plenamente que temos todas as condições de estar no segundo turno e vencer as eleições.

JC – O senhor tem falado sempre de três grupos que têm se revezado no poder há 50 anos. Mas o senhor participou da mesa da unidade das oposições, que existiu até o início do ano e da qual fazia parte também um dos candidatos que é incluído nessa sua crítica. Não é estranho estar sentado numa mesma discussão antes e agora ter essa opinião?

DANIEL – Eu não tenho nenhuma crítica pessoal ou nenhuma aversão a nenhum dos candidatos, nem estou fazendo nenhuma crítica específica a ninguém. Nós tínhamos quatro candidaturas de oposição e entre as quatro candidaturas nós procuramos uma renovação na maneira de fazer política e na própria prática que a oposição tinha. A oposição tinha perdido eleições sucessivas no Recife e no nosso entendimento, se não houvesse uma renovação, dificilmente a oposição voltaria a vencer as eleições. Foi o que nós colocamos, sem nenhum demérito a nenhum outro candidato. Nós conseguimos formar um palanque com o PPS, que percebeu isso, que essa renovação era necessária. Tivemos essa adesão que foi estritamente ideológica e no campo das ideias. Tiveram outros partidos que não compreenderam isso. Normal, não há briga, não há confusão. O que há é exatamente a percepção de que se você não renova práticas, não muda o que é essencial. E o que é essencial? É acabar com essa política do loteamento de espaços, do favor, do toma lá, dá cá.

JC – O senhor tem feito inúmeros “compromissos” de campanha. E defende o discurso do “novo”. Esses “compromissos” não se parecem com as velhas promessas que todos fazem?

DANIEL – Temos duas coisas colocadas no nosso programa de governo que são as essenciais nessa mudança de cultura política. Primeiro é o princípio da sustentabilidade em todas as decisões. Quando a gente está falando de calçada, não estou falando de calçada pela primeira vez. O (viaduto) Capitão Temudo, quando estava sendo feito, eu era vereador e perguntei: “Cadê a calçada?”. Fizemos, inclusive, contato com a empresa de engenharia que estava fazendo a obra e a empresa disse que era possível e barato, bastava apenas uma decisão política. Então, é um compromisso que a gente tem tido ao longo dos tempos. E quando a gente começa a colocar que a sustentabilidade vai estar presente em tudo, isso começa a mostrar que a calçada, a ciclovia, tudo isso vai fazer parte de algo no nosso governo. Quando vem para a questão da gestão profissional, de despolitizar, de não aceitar mais indicação política e partidária, é para dar agilidade à gestão e dar condições de você cumprir com as promessas que estão sendo feitas. A Prefeitura do Recife saiu nos últimos 12 anos de 3 mil comissionados para quase 7 mil. Como é que você faz isso? Você engessa a prefeitura, deixa a máquina pesada e coloca um monte de gente que não tem competência. Por que as coisas não andam? Porque não tem competência, não tem agilidade. A gente precisa de pessoas profissionais, de quadros que tenham formação, dentro do possível concursados, que não tenham foco no eleitoral, mas no administrativo. Se consegue fazer isso, fica mais fácil de dar sequência e cumprir com seus compromissos. Se faz um palanque com 10 partidos e cada um vai ter uma secretaria, consequentemente, não vai conseguir colocar em prática um novo formato de política. Ou seja, continua a política da ocupação do espaço. E a gente vê isso em algumas das candidaturas aí colocadas. A própria escolha da candidatura já se deu no formato da indicação. É o presidente querendo indicar o prefeito do Recife, é o governador querendo indicar o prefeito do Recife. Na base, no conceito essencial, eles continuam querendo ocupar o espaço de poder por indicação. Então esse é o formato equivocado e a própria composição dessas candidaturas mostra que é um formato antigo.

JC – Se o senhor for para o segundo turno e tiver o apoio de dez partidos, não vai negociar cargos com eles para o caso de eleito?

DANIEL – Eu acho que você pode fazer um formato de política não em cima do cargo. O (debate pelo) cargo em si é onde está a pobreza. A pobreza é a discussão do cargo. Você tem coisas que são mais importantes do que o cargo. Eu fui vereador e acompanhei, sei como funciona o trabalho do parlamentar no município. Muito mais importante do que essa coisa pequena do cargo é que os partidos e que os políticos possam prestar contas à sociedade de suas ideias e suas propostas. Mais importante é você absorver uma proposta e dar méritos a quem levou ela. Fazer uma obra no bairro e dizer quem fez a proposta, que trouxe a ideia. Fazer uma intervenção no trânsito e dar méritos a quem fez a intervenção. O que eu sinto é que, de uma forma geral, os prefeitos têm uma forma de tratar com os parlamentares e os partidos aonde ele prefere dar o emprego e aí deu o “cala a boca”, ou seja, deu o cargo e não se pode reclamar mais nada. Esse é o formato que a gente tem visto acontecer no Recife, no Estado de Pernambuco e no Brasil. Dificilmente a gente vê o Parlamento influenciando nas decisões de governo. Ele simplesmente está ali cooptado por conta dessa troca de espaços. A gente quer compor aliança? Quer. Mas em cima de ideias, não em cima de espaços.

JC – No primeiro semestre a oposição sempre dizia que iria esperar o PT antes de decidir quantas candidaturas seriam o ideal. Dada a situação atual, dá para dizer que a estratégia da oposição, com duas candidaturas, foi a ideal?

DANIEL – Eu sempre disse que não se podia considerar os quatro partidos de oposição como uma coisa só. Cada partido tem seu projeto político, suas ideias, vai querer seu próprio crescimento como instituição. Dentro daquele processo nós buscamos uma unidade, isso aconteceu. Não houve obsessão por candidaturas, e sim por um projeto de cidade, um formato de fazer política. Isso foi a tônica da discussão e, no final das contas, a nossa candidatura foi a que agregou. Nós tínhamos quatro candidaturas. Dessas, duas se juntaram, a nossa e a do PPS, um dos partidos preferiu migrar para o governo, saiu do campo onde estava, e Mendonça decidiu ser candidato sozinho. Eu acho que a gente tem que respeitar. Não pode querer impor a um terceiro partido a sua vontade. Eu respeito a decisão do Democratas de ter ido em frente em sua candidatura, é legítimo. E respeito também a posição do PMDB de ter ido para o governo, o que não quer dizer que eu concorde.

JC – O senhor tem criticado muito os 12 anos de gestão petista. A culpa dos problemas que o senhor enxerga também é do PSB? Na sua visão, o candidato Geraldo Júlio pode ser considerado também de oposição?

DANIEL – Eu não vejo nenhuma diferença entre o PSB e o PT. Nem na forma de fazer política, nem muito menos nas ideias e no formato de administrar o Recife. Eles governaram juntos, nunca vi uma divergência do ponto de vista administrativo, de projeto de cidade ou ideológica entre os dois. Então, tanto o sucesso quanto o fracasso do que aconteceu no Recife nos últimos 12 anos deve ser compartilhado entre o PSB e o PT. Na minha compreensão eles são exatamente iguais.

JC – Como vencer uma eleição com um candidato apoiado por um governador extremamente bem avaliado e outro de um partido que comanda a prefeitura há 12 anos?

DANIEL – O Recife é uma cidade livre, não é para coronéis. É impossível controlar a opinião das pessoas, por mais que algumas mais carentes, por desinformação e pela própria fome e necessidade, vendam seu voto – e que outras mais poderosas, pela ganância e pelo interesse, também vendam. A gente tem uma grande maioria da população da cidade do Recife que está aguardando para observar o debate e ver o que cada candidato vai dizer e para decidir que futuro quer para sua cidade. A gente quer ganhar a eleição com o apoio das pessoas livres, de opinião e que entendem que a política deve ser feita pensando no coletivo e não no individual. Quando se pensa no coletivo você se afasta dessas questões, da máquina, do poder, do dinheiro. Nossa candidatura pode representar a liberdade que o Recife tem para mudar. O Recife pode mudar. Cabe a ele tomar essa decisão.

JC – Seu programa de governo fala sobre gestão sustentável e essa questão está presente em diversos outros pontos. Como é possível convencer a população que vive numa área problemática, seja por conta de barreiras ou da violência, da importância desse tema?

DANIEL – Quando a gente coloca a sustentabilidade como tema central do nosso programa de governo é porque ele vai estar presente nas pequenas decisões, nas pequenas ações de governo. Então, claro, quando a gente estiver falando de saúde e educação, a sustentabilidade vai estar por trás. Quem tiver um pouco mais de compreensão, vai identificar isso. Talvez algumas pessoas não identifiquem. Eu não vejo isso um problema de nenhuma forma, pois não vamos deixar de falar de saúde, de educação. O que a gente não pode é tomar decisões isoladas. Nunca vai funcionar, você querer falar de sustentabilidade como algo em separado do resto do governo. As pessoas vão poder perceber, aos poucos, a importância dessa visão.

JC – Recentemente o senhor fez críticas ao modelo do Orçamento Participativo, implantado pela gestão do PT. O senhor pretende acabar com o OP?

DANIEL – A gente quer aperfeiçoar. A gente já fez um compromisso de, em primeiro lugar, cumprir todas as obras que foram votadas como prioridade no OP e não foram feitas. Primeiro, é preciso voltar a ter credibilidade. Mostrar que as decisões do OP são compulsórias. Não podemos botar uma obra em votação no OP, ela ser a mais votada e não ser cumprida. Isso gera falta de credibilidade e faz com que as pessoas pensem que as decisões estão sendo tomadas da mesma forma como era antes: simplesmente pela indicação política. Além disso, o delegado ou líder ou representante do povo nessa discussão é importante. Mas as pessoas precisam ter o direito de opinar individualmente. Precisamos abrir essa votação para internet, colocar urnas eletrônicas nos bairros para que as pessoas opinem e retirar do OP aquilo que é essencial. É interessante que se discuta se as pessoas querem um campo de futebol ou uma praça. Mas as pessoas terem que se mobilizar para votar e pedir por um posto de saúde, aí acho que se está agredindo o cidadão. Saúde é direito das pessoas, não tem que se mobilizar uma comunidade para pedir isso.

FONTE: JORNAL DO COMMERCIO

Um comentário:

Anônimo disse...

Quem vocês acham que produz mais? Construção de creches e hospitais ou a população mais pobre fazendo menino sem a menor responsabilidade? É preciso fazer uma campanha para controle de natalidade e não sair construindo por aí afora. Nunca vai acabar. Visite as partes mais pobres da cidade que você vai ver uma mulher nova com uma criança no braço, outra na mão e outra na barriga. E olha que ela deve ter uns 20 e poucos anos ainda. Não tem investimento que dê pra tanta gente. Acho que os políticos deveriam olhar para algum tipo de bolsa controle de natalidade. Sobrariam vagas nas escolas, nas creches, nos hospitais... É uma questão de matemática. Fica aí a dica para os políticos. QUEM ASSUME ESSA IDÉIA???