terça-feira, 26 de junho de 2012

Tem muita lenha para queimar nas eleições:: Raymundo Costa

Algo novo chamou a atenção da campanha de Fernando Haddad na convenção tucana que sacramentou o nome de José Serra como candidato do PSDB a prefeito de São Paulo, no domingo: em vez de atacar Lula, como repetidas vezes fez na pré-campanha, Serra foi direto na jugular de Haddad.

"Experiência é virtude. Não estou aqui para brincar ou experimentar: estou aqui para governar", disse o tucano, em seu discurso aos convencionais. A pancadaria em Lula ficou para outros tucanos credenciados como os senadores Aloysio Nunes Ferreira e Alvaro Dias. Mesmo nas críticas ao ex-presidente da República, os tucanos não perderam Haddad de foco.

A assessoria de Haddad tem suas suspeitas para o comportamento tucano. Uma delas: o PSDB detectou algum crescimento no desempenho do ex-ministro nas pesquisas e decidiu atacar antes de ser atacado. Essa é a segunda suspeita: o consórcio PSDB-PSD teme que a campanha de Haddad revele os casos e as vezes em que o ex-ministro ofereceu ajuda federal para São Paulo e seus governantes reagiram fazendo cara de paisagem.

Campanha de Haddad já dá sinais de divisão

Pode ser tudo isso e também o fato de que a eleição, muito provavelmente, será definida entre José Serra e Fernando Haddad e não entre Serra e Lula. Em algum momento da campanha, talvez não demore muito, Haddad terá de andar com as próprias pernas, assim como Dilma Rousseff teve de fazer nas eleições de 2010. Nesse aspecto, sim, algo novo parece pairar sobre a campanha do ex-ministro.

Já é evidente que há descontentamentos na campanha com sua assessoria política. Haddad certamente não considera a aliança com o PP de Paulo Maluf um erro, mas deu-se conta de que foi barbeiragem ir à feijoada de Maluf para uma fotografia dos três - o anfitrião Maluf, seu padrinho político Lula e ele próprio, o candidato que Aloysio Nunes Ferreira chamou de "urso amestrado", ao discursar na convenção.

Um dos principais articuladores da aliança com Paulo Maluf foi o prefeito de São Bernardo do Campo, Luiz Marinho. Há quem diga, na campanha de Haddad, que ele também foi um dos arquitetos da visita à casa de Maluf. O problema, na campanha petista, não é a aliança ou a foto com Maluf. O problema é Lula e Haddad terem ido até a casa de Maluf, um "erro" que se preferiria atribuir ao "bom astral" da campanha num momento em que as coisas começavam a dar certo: Haddad subira cinco pontos na pesquisa Datafolha e fora acertado o apoio do PP.

Entre "haddadistas" teme-se pelo isolamento de Lula. Não isolamento político, é claro, mas do recolhimento inevitável de uma pessoa com os problemas de saúde pelos quais passou o ex-presidente. Aliados do candidato do PT a prefeito de São Paulo, sem dúvida, prefeririam que Lula estivesse em contato político com um maior número de pessoas, do PT e fora dele, e não apenas acessível a A, B ou C.

São Paulo ainda conhece pouco um dos candidatos com chances efetivas de disputar o segundo turno da eleição para prefeito de cidade. O episódio Paulo Maluf serve para dar alguma pista sobre quem é este professor de 51 anos, noviço em eleições e que jogou suas fichas na novidade (sem esquecer de Lula) para se eleger prefeito da maior capital do país.

O pior de tudo, para Haddad, teria sido perder Luiza Erundina (PSB) como companheira de chapa na eleição de outubro. Conta-se, entre seus aliados próximos, que ele já queria Erundina como companheira de chapa desde que se configurou a hipótese de o então ministro da Educação deixar o cargo para disputar as eleições. Seus amigos de empreitada dizem que Haddad "não é um socialista petista, ele é um socialista".

Acredita-se no universo de Haddad que o episódio Maluf não desgastou o ex-ministro, desgastou Lula. "O Fernando", como é chamado entre os mais próximos, "não vai negociar com o PP nem com ninguém, como não negociou com o PT enquanto era ministro da Educação". O PT queria o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) mas não levou, cita-se como exemplo. Outro: Fernando Haddad manteve o reitor pro tempore da Universidade do ABC, apesar de sofrer pressões do PT para mudar.

São fatos a ser esmiuçados e conferidos na campanha, assim como a acusação segundo a qual o Ministério da Educação ofereceu projetos com financiamento federal, como a construção de uma creche, e o governo tucano de São Paulo simplesmente ignorou, num primeiro momento, e depois culpou a burocracia federal. Negociações dessa natureza costumam ser documentadas por meio da troca de ofícios. O eleitor terá como desfazer suas dúvidas para votar.

Haddad e seus aliados dizem que querem mesmo é discutir um projeto de administração para a cidade. O ex-ministro insiste que os últimos projetos com reordenamento urbano foram consumados nos governos de Faria Lima (1965-1969) e de Prestes Maia (1938-1945). Após um período de estabilidade, São Paulo seria hoje uma cidade com extensas áreas degradadas necessitada de um novo projeto.

OPT entra nas eleições municipais com duas setas disparadas em sua direção: os processos do mensalão e o dos aloprados. Como pano de fundo desta eleição, integrantes do Democratas e tucanos registram que o caso dos aloprados foi aceito pelo Judiciário logo após o entrevero entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e Gilmar Mendes, ministro e ex-presidente do Supremo Tribunal Federal. Nesse meio tempo, o Banco Central interveio no Banco Cruzeiro do Sul, da família de Índio da Costa, ex-candidato a vice-presidente de José Serra, depois de os tucanos acionarem a Justiça contra o PT, por crime eleitoral, devido a entrevista que Lula e Haddad deram ao "Programa do Ratinho", exibido pelo SBT, rede de Silvio Santos, o antigo dono do banco Panamericano. Enquanto isso, a "CPI do Cachoeira" ainda tem muita lenha para queimar. Só depende de vontade política.

FONTE: VALOR ECONÔMICO

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