sábado, 2 de junho de 2012

J&F alega crise de confiança e deixa Delta

Um mês depois de assumir o controle da Delta Construções, a J&F Holding anunciou que desistiu de comprar a empreiteira número 1 do PAC, investigada na CPI pelas ligações com o bicheiro Carlos Cachoeira. O presidente da J&F, Joesley Batista, afirmou que a construtora enfrenta prolongada crise de confiança. Para o governo federal, os contratos não serão prejudicados, A Delta recorreu ao STF para impedir a quebra de seu sigilo bancário.

TENTÁCULOS DA CONTRAVENÇÃO

J&F desiste da Delta

Holding diz que não quer mais compra devido à crise de confiança da empreiteira

Thiago Herdy

Alegando crise de confiança na Delta Construções, a J&F Holding anunciou ontem desistência da compra da construtora, acusada de corrupção e envolvida na CPMI do bicheiro Carlos Cachoeira, menos de um mês após ter afirmado que assumiria a empreiteira. A J&F controla a empresa de alimentos JBS.

- A Delta tem seus valores e seu mérito, mas ao que estamos assistindo é à prolongação de uma crise de confiança, que cada dia mais compromete a condição de continuidade da empresa. A conjuntura política e econômica andou se deteriorando. A combinação disso trouxe essa empresa para um processo que julgamos mais longo que o imaginado - disse o presidente da holding, Joesley Batista, referindo-se ao desgaste da Delta em função das investigações sobre suas relações com políticos e com Cachoeira.

O executivo diz que a decisão foi tomada na manhã de ontem, antes da conclusão do processo de investigação e auditoria. O procedimento era tocado pela KPMG e foi encerrado, segundo Batista, "antes mesmo da entrega de relatórios preliminares", que estava prevista para os próximos 15 dias. O dono da Delta, Fernando Cavendish, vinha sendo informado sobre as análises a respeito da possibilidade de compra da sua empresa diariamente, segundo o executivo, mas foi avisado por telefone sobre a desistência da J&F.

Controle mais rígido de caixa

Na noite de ontem, a Delta - maior detentora de contratos com o PAC, com cem contratos ativos com o governo federal que somam R$3,4 bilhões, e que está sendo auditada pela Controladoria Geral da União - reconheceu o fim do negócio e divulgou nota informando não ter havido consenso para o fechamento da operação de compra e venda. No texto, a empresa ressaltou que "aplicará todos os seus esforços para cumprir os compromissos assumidos" e afirmou a intenção de preservar os cerca de 30 mil empregos em suas obras e projetos.

- Nada mais danoso do que um negócio do que crise de confiança. Porque crise de confiança, o dinheiro não resolve. Como você vai convencer um funcionário a trabalhar na Delta hoje? Como vai contratar um bom engenheiro para uma obra? - diz Joesley.

Apesar de danoso para a Delta, o empresário classifica como "legítimo" o debate sobre a empresa na CPI. A equipe montada para analisar as contas da construtura já havia detectado queda de cerca de 30% no fluxo de faturamento mensal da empresa, que girava em torno de R$ 200 milhões. O atraso no pagamento de contratantes em função da crise é a principal razão.

- A Delta vai ter de fazer controle bem mais rígido de caixa. Não vai conseguir manter obras em funcionamento sem que o fluxo de pagamentos esteja em dia. Em tempos passados, talvez até conseguisse, o mercado dava mais crédito a ela - diz o empresário.

Joesley nega ter recebido qualquer indicação do governo a respeito da manutenção de contratos com a construtora. Alega que a decisão foi baseada estritamente em análise econômica e financeira, e no fato de o "mercado, como um todo, começar a questionar a capacidade da empresa se reerguer".

- Pior do que a idoneidade ou a inidoneidade, é uma empresa com crise de credibilidade e de confiança por muito tempo. A empresa vai ter de mudar radicalmente o modus operandi dela, senão não sobrevive - disse Joesley, que admite manter o interesse em atuar no setor de infraestrutura e, por isso, já estaria analisando a hipótese de aquisição de outras três empresas.

A principal empresa da J&F é a JBS, maior empresa em processamento de proteína animal do mundo, que atua na área de alimentos, couro, biodiesel, colágeno e latas. O grupo também administra um banco, uma empresa de higiene e limpeza, e outra de papel e celulose. O executivo da J&F nomeado para presidir a Delta, Humberto Junqueira de Farias, permanecerá na holding mesmo após a desistência do negócio.

Joesley nega que a quebra do sigilo bancário e fiscal da Delta pela CPI do Cachoeira seja o elemento mais importante da decisão de deixar o negócio:

- O sigilo nacional quebrado, em si, não é o ponto. O ponto é a prolongação do que isso significa. Significa ela se manter sob suspeita por mais quantos meses, né? Não sei quantos meses vai ficar.

(Colaborou Gustavo Uribe )

FONTE: O GLOBO

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