quarta-feira, 13 de junho de 2012

Governo dará R$ 10 bilhões aos estados

Com a crise global e a estagnação do país, o ministro Mantega anunciou que o governo colocará à disposição dos estados um crédito do BNDES de R$ 10 bilhões para obras. A novidade será apresentada depois de amanhã aos 27 governadores. O governo conta ainda com investimentos de US$ 43 bi da Petrobras para o país crescer ao menos 2,7%.

Injeção de R$ 10 bi

Mantega vai usar o BNDES para liberar dinheiro para estados. Petrobras investirá mais de US$ 43 bi

Vivian Oswald, Regina Alvarez

BRASÍLIA - Preocupado com a crise global e a estagnação do crescimento, o governo decidiu abrir uma nova frente de atuação para estimular a economia. Em entrevista ao GLOBO, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, anunciou a decisão de pôr à disposição dos estados uma linha de crédito especial do BNDES com mais de R$ 10 bilhões para financiar obras e projetos. A medida emergencial é parte da estratégia para garantir este ano um crescimento de pelo menos 2,7%, igual ao de 2011. A novidade será apresentada aos 27 governadores em reunião sexta-feira em Brasília. O governo ainda conta com os investimentos de mais de US$ 43,2 bilhões da Petrobras para turbinar a economia. O Banco de Brasil também aparece: segunda-feira, liberou R$ 3,6 bilhões para o Estado do Rio, em ação inédita. Sobre a crise na Europa, Mantega disse que é preciso combinar políticas de ajuste fiscal com estímulo. Esse vai ser o grande tema da reunião do G-20, semana que vem, no México, que ele classifica de crucial. Pela primeira vez, Mantega admitiu que, se a crise se agravar, o governo pode retirar algumas medidas adotadas quando o real estava se valorizando. E a primeira da lista deve ser o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) sobre empréstimos no exterior com prazo inferior a cinco anos.

CRISE NA EUROPA : "Os europeus estão demorando muito para fazer as correções de política econômica que possam tirá-los dessa situação de estresse em que eles estão e colocaram o resto do mundo. A solução dada para a Espanha não resolve a crise, só evitou uma crise bancária aguda. O grande problema é sair do lodaçal e recuperar o crescimento. É preciso mudar o rumo e combinar políticas de ajuste fiscal com estímulo. Esse vai ser o grande tema do G-20. Parece-me inevitável uma mudança de rumo dessa política, com pressões de dentro da própria União Europeia e externas. Estados Unidos e Brics, somos todos favoráveis à mudança de rumo.

G-20: "Essa reunião é crucial. Não podemos sair com as mãos abanando, como saímos na da França. É preciso que os países se disponham a fazer isso. Não pode ficar só no papel. A Alemanha estará sendo pressionada pelo mundo inteiro, inclusive por seus parceiros europeus. Tem que exigir políticas de estímulo dos países com condições fiscais mais sólidas. A Alemanha tem que ser a força de tração da Europa.

FUTURO DO EURO : "É preciso recuperar a confiança no projeto euro. É preciso mostrar uma luz no fim do túnel. Eles estão num túnel escuro maior do que aquele do Canal da Mancha. A luz é a perspectiva da retomada da atividade. A gravidade da situação impõe condições propícias para mudanças. Os europeus são duros para mudar, mas quando a situação está periclitante, você encontra saída. Não dá para exigir só que a Grécia faça ajuste fiscal sem perspectiva de crescimento. Acho muito arriscado saírem da zona do euro neste momento. Mas a zona do euro tem que dar ao país as condições para que fique, porque não dá para continuar pedindo só sacrifícios para a população grega.

TAMANHO DA CRISE: "Por enquanto a crise de 2008 foi pior que a de agora. Nada impede que a gente ainda chegue lá. Na verdade, o G-20 pode impedir, a UE também. Temos os instrumentos. Eles deveriam fortalecer o fundo de resgate, que terá 500 bilhões. Deveriam dizer também que o Banco Central Europeu vai cobrir as necessidades dos bancos. Com isso, poderiam reduzir esses temores.

EFEITO NO BRASIL: "Somos afetados pelas expectativas, porque há saída de capitais, porque as empresas têm problemas em outros países, pela volatilidade das bolsas e pelo câmbio. Mas nada que comprometa nossa trajetória. Os brasileiros estão conseguindo crédito, temos retaguarda enorme em moedas estrangeira e nacional. Investidores veem o Brasil como um lugar seguro. Temos que fazer distinção entre aqueles que perderam a oportunidade de fazer arbitragem, aqueles que ganhavam polpudos lucros só pegando emprestado em Tóquio e aplicando no Brasil. Esses já não estão ganhando. Alguns poderão estar desencantados, porque não têm mais lucro fácil no Brasil. Quem está interessado em produzir no Brasil continua. São os que nos interessam.

MEDIDAS: "Algumas medidas poderão ser revistas no seu devido tempo. O aumento do IOF para empréstimos de até cinco anos feitos no exterior por bancos e empresas é uma medida rigorosa. Hoje há menos liquidez lá fora, e não está havendo grande fluxo. No momento adequado, uma medida como essa poderá ser revista. Poderia dizer que é a primeira da fila para ser revogada.

INVESTIMENTOS: "Demos vários estímulos. Há o crédito do BNDES de R$ 150 bilhões somente este ano e redução geral dos custos dos investimentos privados. O investimento público será puxado pela Petrobras, que vai aplicar mais em 2012 do que os US$ 43,2 bilhões de 2011. Vamos ampliar investimentos de alguns ministérios que poderiam estar gastando mais, mas tiveram problemas com projetos. Estamos agilizando a aprovação dos projetos, acelerando licitações para mobilizar o setor público.

LINHA PARA ESTADOS: "Estamos criando uma linha de crédito especial do BNDES para acelerar os investimentos dos estados. Será anunciada em reunião com os 27 governadores na sexta-feira. Serão mais de R$ 10 bilhões. O investimento público é importante neste momento porque é anticíclico. O dinheiro estará disponível em dois a três meses. Isso vai complementar o orçamento que eles têm para investimentos. A maioria dos estados está habilitada a usar.

CRÉDITO: "Embora estejam entre os mais sólidos do mundo, os bancos brasileiros absorvem um pouco do temor lá de fora e se retraem. Houve retração do crédito, que já está sendo revertida. Os bancos já estão captando a taxas mais baixas. Eles têm redução e podem emprestar a taxas mais baixas. Há uma reação positiva. Mas ainda não estou satisfeito.

CONSUMO: "A capacidade do consumo brasileiro está crescendo. O mercado consumidor continua crescendo. É um dos mais dinâmicos do mundo, por causa da massa salarial. A inadimplência já está caindo. Houve exagero em relação a essa questão, que foi mais localizada em automóveis.

CÂMBIO: "Está volátil em torno de um patamar elevado. Não há ponto ótimo, mas um ponto bom. Está numa situação favorável e pretendemos que permaneça nesse nível. Não é desejável volatilidade.

JUROS: "A queda da Selic e dos juros em geral tem efeito revolucionário na economia brasileira. É algo que ainda não foi percebido. Tem espaço para os juros continuarem caindo no Brasil, e não sou eu que estou dizendo. O mercado de futuros mostra isso. As condições fiscais existem. Temos um dos melhores desempenhos fiscais do mundo, estamos acima da meta de superávit primário.

SUPERÁVIT PRIMÁRIO: "Não há nenhuma necessidade de se abdicar da meta fiscal, porque tem recursos suficientes para investimento.

CRESCIMENTO. "Vamos crescer no segundo trimestre ao menos o dobro dos primeiros três meses (0,2%). No segundo semestre devemos alcançar a velocidade que desejaríamos para o ano todo, de 4,5%. No ano não sei, mas será superior aos 2,7% de 2011, com certeza. Estou falando de medidas concretas já tomadas, cujos resultados estarão surtindo efeito."

FONTE: O GLOBO

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