quinta-feira, 24 de maio de 2012

A verdadeira CPI:: Eliane Cantanhêde

Enquanto a CPI do Cachoeira é (seria) para investigar um esquema mafioso de um empresário-bicheiro, a Lei de Acesso à Informação pode se transformar numa imensa CPI sobre os três Poderes e todos os últimos governos -o de Fernando Henrique, o de Lula e este início de Dilma. O que pode sair de "surpresas" não é fácil!

Lula até tentou, mas não colou a ideia de criar a CPI do Cachoeira para jogar as já tontas e frágeis oposições nas cordas. A comissão se transformou num espetáculo de mau gosto não só para o PSDB e o DEM, mas também para o PT, o aliado PMDB e governadores aliados ao Planalto. Um aborrecimento para Dilma.

A CPI patina em disputas partidárias, em falta de vocação (e de vontade) para a investigação e na disposição de Cachoeira de não contar os podres que ele com toda certeza sabe e só vai contar se e quando bem entender. Sem isso, dessa cartola não sai mais coelho -com a ressalva de que nunca se pode descartar um "fato novo" que ponha fogo em tudo, mas depende menos da CPI e mais da Polícia Federal e da imprensa. A sensação, portanto, é a de que é melhor deixar o esquema com a Justiça, virar a página e ir adiante.

Como? Desviando o foco e as energias da CPI para o julgamento do mensalão, as tão esperadas revelações da Comissão da Verdade, os tabuleiros das eleições municipais e, particularmente, para a Lei de Acesso à Informação, que pode ser uma "super-CPI" sem limites para investigação e sem tempo para terminar.

Se o zoológico do Cachoeira comportava um punhado de governadores, deputados, delegados, arapongas, agentes da Receita, o foco da "super-CPI" vai do funcionário miúdo a todas as instâncias hierárquicas, até os presidentes. E não se fala aqui só de desvios financeiros, mas de decisões, conchavos, interesses.

A CPI do Cachoeira faz água, mas a CPI do acesso à informação é uma torrente de possibilidades.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

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