sábado, 5 de maio de 2012

A tunga na poupança

A partir de hoje, o pequeno poupador passa a receber menos pelas parcas economias que guarda nos bancos. Ontem, o governo apresentou a redução dos ganhos das cadernetas como sendo necessária para a diminuição dos juros. Caberá, agora, entregar o que prometeu: taxas civilizadas.

Dilma Rousseff aproveitou a gordura que sua cruzada retórica contra os bancos está lhe rendendo para investir no bolso dos poupadores. Argumenta que, em troca, levará o país a ter juros reais na casa de 2% ao ano. É bom que consiga cumprir a palavra.

A tunga na poupança foi vendida pelo governo como a retirada do último empecilho para a derrubada dos juros. Mas, de concreto, ainda somos os vice-campeões mundiais na modalidade usura. Nossas taxas só perdem para as russas. Nada mudou, ainda.

A partir de agora, os depósitos realizados pelos poupadores nas cadernetas passarão a ter rendimento menor do que o atual sempre que a Selic ficar igual ou abaixo de 8,5% ao ano. Quando isso ocorrer, a remuneração da poupança será de 70% da taxa básica de juros mais TR.

Ou seja, pela mudança anunciada ontem pela equipe econômica de Dilma, o pequeno investidor da caderneta será brindado sempre com o menor rendimento. Como se vê, um baita negócio para o poupador, não?

Banqueiros, empresários e políticos aliados aplaudiram. Obviamente porque nenhum deles, possivelmente, tem dinheiro guardado na poupança. Mas quem entende de finanças pessoais não tem dúvida: o poupador perdeu, e muito. Segundo O Estado de S.Paulo, o rendimento da poupança cairá dos atuais 6,53% para cerca de 5,95% ao ano.

"Caso o juro real chegue a 2%, como é o objetivo declarado de Dilma, o rendimento da poupança para os novos depósitos ficará cerca de 18% menor do que o previsto hoje", calculou a Folha de S.Paulo. Quanto mais a inflação se distanciar da meta fixada pelo governo, maior será a perda da poupança.

"O investidor da poupança saiu perdendo", atesta Rafael Paschoarelli, professor da FEA/USP. "A medida, infelizmente, vem para piorar o rendimento da poupança", completa Fábio Colombo, administrador de investimentos - ambos ouvidos por O Globo.

O jornal fez simulações que quantificam as perdas em moeda sonante. Com as novas regras, um poupador que guardar R$ 10 mil na caderneta terá R$ 10.582,91 ao fim de um ano, considerando uma Selic de 8,5%. Pelas regras antigas, teria R$ 10.616,78. Isso significa que ele perderá R$ 33,87.

À medida que a taxa básica cair, a diferença entre a rentabilidade antiga da poupança e a da nova se ampliará, sempre em prejuízo do pequeno poupador. Com uma taxa de 8,25%, por exemplo, a perda de rendimento da caderneta, para a mesma aplicação de R$ 10 mil, sobe para R$ 50,81 ao fim de um ano.

Quem conhece de finanças também tem outra convicção: o cenário mais provável é que os bancos lucrarão com a tunga na poupança. Isso porque, a partir de agora, terão dinheiro mais barato para emprestar na forma de crédito imobiliário - 65% dos depósitos em caderneta são direcionados, por lei, a financiamentos habitacionais. E continuarão cobrando por isso tão caro quanto cobram hoje.

Haverá também, do lado de quem toma financiamento, o risco de descasamento entre o valor das parcelas e a capacidade de pagamento. A alteração na regra de remuneração das cadernetas também pode modificar a forma de definição dos juros da casa própria e as prestações podem até subir. Os mutuários que se cuidem.

Tudo considerado, fica o recado de que o governo terá de tombar os juros de qualquer jeito. Primeiro, porque assumiu, implicitamente, este compromisso ontem, ao tentar justificar a redução da remuneração das cadernetas de poupança. Segundo, porque, de fato, a economia está necessitando disso.

A debilidade do setor produtivo tem ficado cada vez mais evidente, como comprovado pela nova queda na indústria, divulgada ontem: 3% no trimestre. O comércio exterior também perde força: teve em abril o pior resultado para o mês desde 2002, isto é, em dez anos. Como consequência, estão desabando as expectativas em torno do crescimento da economia brasileira.

Todos, sem exceção, somos a favor de juros mais baixos. A bola da queda das taxas está com o governo, que começou cortando-a na cabeça do pequeno poupador. Não é possível que os que sempre ganharam continuem com seus privilégios. Mas, por ora, eles permanecem intocados pela gestão petista.

Fonte: Instituto Teotônio Vilela

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