segunda-feira, 28 de maio de 2012

Sinal de alerta nas candidaturas do PT

Petistas encontram problemas para fechar alianças nas capitais e correm o risco de começar a campanha sem Lula e Dilma nos palanques

Paulo de Tarso Lyra

O PT enfrenta dificuldades em formar alianças com os principais partidos da base aliada e vê os seus candidatos amargando percentuais pífios de intenção de voto — o principal nome, Fernando Haddad (SP), não decola dos 3% nos quais estacionou há seis meses. E corre o risco ainda de ter de enfrentar a disputa municipal sem as duas principais estrelas no plano nacional: a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Dilma emitiu sinais de que pretende participar só nos casos de "extrema necessidade". Já Lula terá uma atuação em comícios e caminhadas reduzida, fruto das debilidades provocadas por um câncer eliminado na laringe.

Nos dois casos, a prioridade já foi estabelecida. Esforço total para tentar eleger o ex-ministro da Educação Fernando Haddad como prefeito de São Paulo. O PT tem como estratégia vital derrotar o PSDB na capital paulista para, em 2014, obter uma inédita vitória no governo estadual, considerado o último reduto tucano no país. Dilma e Lula já estiveram em eventos ao lado de Haddad — o ex-presidente fez questão de vir a Brasília, em pleno tratamento quimioterápico, para prestigiar a saída de seu pupilo do Ministério da Educação.

Fora isso, cada questão será analisada pontualmente. Por enquanto, a presidente tem demonstrado pouca disposição para abrir exceções. No ano passado, Dilma já havia dito que não participaria de eventos políticos nas capitais onde a base estiver desunida — exemplos não faltam (veja quadro ao lado). Nas últimas semanas, emitiu sinais de que prefere permanecer em Brasília nos próximos meses.

O recado chegou ao PT. O partido ouviu da presidente que existe uma crise internacional em curso no exterior e que o Brasil, apesar de estar "300% preparado para enfrentar as turbulências", não pode se descuidar. A equipe econômica já admitiu que o crescimento do PIB será muito aquém dos 4,5% sonhados pelo Planalto — alguns especialistas falam em um Produto Interno Bruto (PIB) abaixo dos 3%.

Dilma começou a lançar medidas econômicas para garantir o aumento do crédito. Também iniciou uma briga contra os bancos públicos e privados, cobrando a redução na taxa de juros. "Essa é uma batalha que ela tem disposição de comprar. Batalha eleitoral, nem tanto", disse ao Correio um interlocutor da presidente.

Manuela: Lula deseja que o PT apoie a comunista em Porto Alegre

Saúde. A situação do ex-presidente Lula é diferente. Ele tem gana por disputas eleitorais. Durante os oito anos que exerceu a presidência, foi acusado de utilizar o cargo para ajudar na eleição dos aliados. Planejava "exterminar" a oposição no país. O câncer de laringe o fez rever os planos. Os médicos ordenaram e ele teve que acatar as recomendações. "Participar de eventos públicos, neste ano, será bem difícil", admitiu um assessor.

Na semana que passou, essa debilidade ficou clara. Lula recebeu, na última segunda-feira, o título de cidadão honoris causa da cidade de São Paulo. Em cerimônia concorrida na Câmara Municipal paulistana, discursou por quase meia hora, disse que o mensalão foi uma tentativa de golpe, declarou que a senadora Marta Suplicy (SP) não foi reeleita prefeita da cidade por um "preconceito das elites".

No dia seguinte, tinha agendado uma entrevista no Programa do Ratinho. Seria a primeira em um programa popular desde que foi confirmada o desaparecimento do câncer. Teve que adiá-la por uma semana. "Seriam dois eventos noturnos seguidos, ele ainda não tem condições de enfrentar isso", reconheceu ao Correio uma pessoa próxima do ex-presidente.

Uma saída, ainda não definida, é gravar mensagens de apoio aos candidatos da base aliada. Dilma deve aguardar as convenções partidárias, marcadas para junho, para decidir o que fazer. Em Porto Alegre, por exemplo, o coração dela está completamente dividido. Se dependesse da presidente, o apoio seria dado ao atual prefeito da cidade, José Fortunatti (PDT), companheiro de longa data. Parte do PT, inclusive Lula, sonha com um apoio à comunista Manuela D"Ávila (PCdoB), em troca de uma aliança para apoiar Haddad, em São Paulo. Mas o PT gaúcho lançou o nome do deputado estadual Adão Villaverde.

Um dos coordenadores da campanha de Haddad em São Paulo, o deputado Carlos Zarattini (PT) afirma que o essencial é a gravação de mensagens de apoio para serem divulgadas no horário eleitoral gratuito. "Quando Marta tentava a reeleição em 2008, Lula veio a São Paulo apenas duas vezes. Os comícios estão em baixa, não têm mais apelo popular", completou Zarattini.

Um dirigente nacional do PSB alertou que um dos dois petistas de projeção nacional precisará estar presentes efetivamente na campanha. "Se Lula estiver fora de combate, Dilma terá que rever seus conceitos para ajudar os aliados", afirmou o socialista.

Como está

Confira a situação da relação do PT com partidos aliados nas discussões para formação das alianças municipais em algumas capitais

SÃO PAULO
» O candidato do PT, Fernando Haddad, patina nos 3%. PMDB, PDT e PRB, que integram a base de apoio no governo federal, têm candidatos próprios na disputa paulistana

RECIFE
» O PT briga internamente para escolher o candidato à prefeitura de Recife. As prévias realizadas no último domingo foram anuladas pela Executiva Nacional. O PSB espera a escolha de um nome com viabilidade eleitoral e ameaça lançar candidato próprio, se isso não ocorrer

FORTALEZA
» A prefeita Luizianne Lins (PT) lançou o nome de Elmano de Freitas, secretário municipal de educação. O governador, Cid Gomes (PSB), reclama que ele não tem viabilidade eleitoral e prefere outro nome

JOÃO PESSOA
» O PSB defende a reeleição de Luciano Agra. O PT lançou o deputado estadual Luciano Cartaxo

PORTO ALEGRE
» O PCdoB queria o apoio para Manuela D"Ávila, o PDT lançará José Fortunatti para a reeleição, e o PT apresentou o nome de Adão Villaverde

CURITIBA
» Uma parcela do PT defende o apoio à Gustavo Fruet (PDT) e outra parte é a favor da candidatura própria

FONTE: CORREIO BRAZILIENSE

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