sexta-feira, 11 de maio de 2012

Novos elementos:: Míriam Leitão

O sistema de metas de inflação mudou, na visão do presidente do Banco Central, Alexandre Tombini. Ele acha que a crise fortaleceu o sistema de metas, tanto que este ano os Estados Unidos e o Japão adotaram o modelo explicitamente. Ao mesmo tempo, mudou a interpretação de como ele deve funcionar. "A estabilidade de preços é condição necessária mas não é condição suficiente", diz o presidente do BC.

Tombini falou isso no seminário de ontem do Sistema de Metas de Inflação, um encontro que acontece anualmente no Rio e que reúne a diretoria do BC e economistas de bancos, empresas e consultorias. Na visão dele, é preciso que o Banco Central também garanta a estabilidade financeira. A crise nos países desenvolvidos explodiu depois de longo tempo de inflação baixa, crescimento econômico pouco volátil e juros baixos. Segundo Tombini, isso pode ter levado os agentes econômicos a assumir riscos excessivos.

Essa reflexão ele fez num momento em que há muita dúvida sobre se o Banco Central atual tem autonomia para elevar os juros se necessário for. Uma coisa, certamente, não mudou: a inflação continua desafiadora. Quem duvida deve olhar o gráfico abaixo: ele mostra que produtos afetados pelo dólar, os bens duráveis, ajudaram a puxar o índice para baixo. Estão em deflação de 2,65%. Os serviços, que são preços que não sofrem concorrência externa nem são afetados pelo dólar, estão em alta de 8%.

O governo se esforçou para que o dólar subisse - com imposto à entrada de capital e restrição às importações - e a moeda americana teve alta de 7% nos últimos 30 dias. Isso significa que os produtos impactados pelo moeda americana podem ficar mais caros agora.

A alta do dólar e um possível reajuste no preço da gasolina tornam mais difícil para o presidente do BC cumprir o que promete desde o início de seu mandato, que é levar a inflação para o centro da meta no fim de 2012. A inflação no Brasil está em torno de 5%, com perigo de aumentar mais no segundo semestre. A meta é 4,5%. Nos Estados Unidos, a meta é 2%. No Japão, 1%. Na Europa, 2%.

Aqui, no ano passado, o Banco Central comemorou quando ela fechou em 6,5%. Faltam vários umbrais a cruzar no caminho da estabilização no Brasil. A meta tem que ser mais baixa e o BC não pode confundir teto com centro. Se o país quiser mesmo ter juros de primeiro mundo precisa também querer ter inflação de primeiro mundo.

Alguns analistas acreditam que será interrompida a sequência de quedas que levou o IPCA em 12 meses, de 7,3%, em setembro do ano passado, para 5,1%, em abril. Se o IPCA de maio vier acima de 0,47%, o índice em 12 meses voltará a subir.

- A inflação não deve cair abaixo de 5% ao longo deste ano e por dois motivos: a valorização do dólar, que encarece os produtos comercializáveis, e também por questões de safras agrícolas - disse o economista Roberto Padovani, da Votorantim Corretora.

O que mais impressiona é isso acontecer apesar de o nível de atividade estar fraco. O PIB do primeiro trimestre deste ano, que só será divulgado no início de junho, não será muito melhor que os dois anteriores. O economista José Márcio Camargo, da Opus Gestão de Recursos, prevê PIB de 2,8% este ano com inflação de 5%.

- A indústria está fraca há quatro trimestres, e isso vai manter o PIB baixo. Mesmo com a queda dos juros não houve recuperação porque não estamos com problema de demanda, mas sim com um problema de competitividade e produtividade da indústria - disse José Márcio Camargo.

Luis Otávio Leal, do Banco ABC Brasil, acha que a economia cresce pouco pelo impacto da inadimplência, por estoques elevados da indústria e pelas restrições da Argentina aos produtos brasileiros, que afetaram empresas exportadoras no país.

O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, deixou claro o que todo mundo já tinha notado: mudou a forma de o BC se comunicar. Ele será mais direto ao falar com o mercado. Quanto mais transparência, melhor. O que preocupa é a sensação de que o BC procura novas interpretações para esconder o fato de que é mais leniente com a inflação.

- O Dionísio Dias Carneiro tinha uma frase que dizia: o BC deve ser o primeiro dos pessimistas e o último dos otimistas. Nosso Banco Central atual é o contrário disso. Ele gosta de tomar mais risco. Isso significa aumentar o risco da economia como um todo - disse a economista Monica de Bolle, da Galanto Consultoria.

FONTE: O GLOBO

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