quarta-feira, 23 de maio de 2012

Mercado reage mal a pacote de estímulo

O pacote de estímulo ao consumo lançado pelo governo teve efeito negativo no mercado financeiro. A Bovespa fechou em queda, o dólar deu novo salto e os juros no mercado futuro dispararam. Para os investidores, as medidas, além de tímidas, não reforçam a oferta

Bolsa cai 2,74% e dólar tem a maior cotação em 3 anos, apesar de intervenções do BC

Fábio Alves

O pacote de estímulo ao consu- mo lançado pelo governo ge- rou um efeito negativo no mercado financeiro. Enquanto as bolsas de valores europeias tiveram um dia de recuperação, a Bovespa fechou em forte queda, o dólar deu novo salto frente ao real e os juros no mercado futuro dispararam. O mau humor no Brasil começou logo no início do dia. A crítica entre os investidores era que as medidas foram restritas a alguns setores e repetem a fórmula adotada na crise de 2008 e 2009: o estímulo ao consumo, embora o remédio necessário agora seja dar força à oferta, por meio de reforço à indústria. "Há um questionamento sobre o modelo de crescimento do Brasil", disse o diretor de Pesquisa para Mercados Emergentes da América Latina da corretora Nomura Securities em Nova York, Tony Volpon. "O consumidor brasileiro está muito endividado, então ofertar mais crédito para ele não vai ajudar muito, ao contrário da situação em que vivíamos em 2008." O índice da Bolsa brasileira encerrou em baixa de 2,74%, acumulando queda de quase 12% nos últimos 30 dias – parte das perdas de ontem foi associada à declaração do ex-premiê grego Lucas Papademos de que a saída da Grécia do euro é um risco real. No mercado futuro de juros, os contratos com vencimento em 2013 subiram para 7,91%, ante 7,81% na véspera. As empresas do mercado imobiliário, que ficaram de fora do pacote do governo, foram as que apresentaram maiores quedas na bolsa. A PDG caiu 11,34%, a Gafisa, 9,9%, e a Rossi, 9,31%.

Dólar. Com o dólar em alta desde o início dos negócios, o Banco Central decidiu atuar com mais força no mercado de câmbio. Em dois leilões, o BC vendeu US$ 2,2 bilhões no mercado futuro. Mesmo assim, a moeda seguiu em firme tendência de valorização, até fechar o dia 1,81% mais cara, a R$ 2,079 – o maior preço desde 15 de maio de 2009. Analistas afirmam que o ritmo da alta foi bem superior à deterioração do noticiário e que, se o movimento continuar nessa velocidade, novas intervenções do BC não serão surpresa.

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse ontem no Senado que a alta da moeda pode ter efeitos colaterais sobre a inflação, mas avalia que esse repasse será limitado. "Todo remédio tem efeito colateral, mas você não deixa de tomar o remédio", afirmou. "Atuamos sobre o câmbio para mudar seu patamar.

Desde janeiro, ganhamos 20% de competitividade." No mercado, há várias vozes que discordam. Para o diretor de câmbio da Pioneer Corretora, João Medeiros, a subida recente tem sinais de especulação, e a cotação parece começar a preocupar o BC. "A velocidade desse movimento incomoda", disse.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

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