quarta-feira, 9 de maio de 2012

Indústria e commodities aumentam dependência do PIB ao consumo::Jarbas de Holanda

Indicadores básicos do desempenho da economia no primeiro quadrimestre conflitam com as expectativas da presidente Dilma Rousseff de uma retomada do crescimento no período como etapa de sua prioridade essencial: um PIB de 4,5% em 2012 (que o ministro Mantega, da Fazenda, já procura reduzir para 4%), após a frustração de apenas 2,7% no ano passado. As manchetes dos cadernos de economia dos últimos dias destacam a queda de 0,5% de produção industrial em março, de par com a das exportações de commodities – de 8% do volume na comparação de abril de 2012 com o de 2011 – bem como de seus preços. E em abril, na mesma comparação, houve um recuo do conjunto das exportações, com exceção das vendas de petróleo para os EUA: de menos 8,5% para a União Europeia e de 27% das destinadas à Argentina, sob efeito também da escalada protecionista do governo Cristina Kirchner. Já a principal manchete de ontem do Estado de S. Paulo foi “Estoque dispara e montadoras param produ-ção aos sábados”. Os indicadores correspondentes à produção industrial como um todo mostram a ausência ou influência mínima até agora do processo de queda da Selic, iniciado há quase nove meses, e da ofensiva mais recente para a redução dos juros do sistema fi-nanceiro privado.

“Modelo esgotado” e carga tributária – Uma das me-lhores avaliações das causas do problema foi feita em editorial da Folha de S. Paulo, de anteontem, com o tí-tulo entre aspas acima. Trechos: “Acumulam-se evi-dências de que a volta do crescimento será lenta. Con-trariando as expectativas, a produção industrial teve queda de 3% no primeiro trimestre, sobre o mesmo pe-ríodo de 2011...”. “Apenas o consumo de bens não du-ráveis permanece robusto, impulsionado pelo aumento de renda e pela queda da inflação. Mas, sozinho, não é suficiente para compensar o recuo em outros setores. Por isso, salvo uma recuperação muito forte no segun-do semestre, há risco real de crescimento do PIB infe-rior a 3% este ano”. “A letargia da atividade econômica vai além de um fenômeno cíclico. Há esgotamento do modelo de expansão baseado no crédito ao consumo e na alta de preços das commodities exportadas. Ne-nhum outro setor parece ter condições de substituir es-sa dupla. O candidato óbvio a novo motor da economia seria o investimento que, no entanto, permanece abai-xo de 20% do PIB, uma das menores taxas entre todos os países emergentes”. “Há anos o país espera, em vão, que o governo federal controle seus gastos, o que em tese permitiria estancar o crescimento da arrecada-ção e reduzir a carga tributária”.

Não obstante haja a presidente – em recente encon-tro com empresários – reconhecido que os “impostos altos” têm-se somado às elevadas taxas de juros e ao câmbio como a terceira das “amarras” que obstruem o crescimento, em lugar de passos efetivos no sentido de uma reforma fiscal ampla (que nada tem a ver com medidas pontuais e seletivas em favor de algumas ati-vidades) as respostas concretas do governo a tais indi-cadores negativos centram-se em ações voltadas à du-plicação do consumo. Por meio de estímulos creditícios e do aumento dos gastos públicos (com o gigantismo estatal e o assistencialismo). Combinados com práticas protecionistas contra produtos estrangeiros cujo espaço no mercado interno é ampliado pela baixa competitivi-dade de nossa economia, em particular da produção industrial. Decorrente, sobretudo, dos enormes custos da carga tributária, que aumenta ano a ano, e também das trabalhistas (no contexto de uma globalização de mercados dominada por exportações asiáticas, sobre-tudo chinesas, produzidas com um custo muito menor da mão de obra). Quanto aos gastos públicos, ganha-rão novo incremento no próximo domingo, dia das Mães, com o anúncio pela presidente de um pacote de ampliação dos benefícios do Bolsa Família, de Lula, agora articulado com o programa dilmista Brasil sem Miséria.

Pacote esse que servirá, de um lado, como parte das medidas de incremento do consumo, à meta de expansão do PIB prometida pela presidente, e, de ou-tro, a objetivos políticos e eleitorais dela própria e do ex-presidente. Objetivos que incluem também ações li-gadas à economia, como a responsabilização exclusiva dos banqueiros pelos juros altos. E se estendem da uti-lização do marketing ético da chefe do governo, con-traposta a políticos corruptos ou ineficientes, e do es-forço da presidente e do seu antecessor para restringir a oposicionistas o alcance da CPMI recentemente ins-talada, até o empenho maior do lulopetismo neste ano eleitoral para protelar e esvaziar o julgamento do men-salão.

Jarbas de Holanda é jornalista

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