quinta-feira, 31 de maio de 2012

Governo e STF acalmam ânimos

Dilma se encontra com Lula no Alvorada; governo e o Supremo se movimentaram para desidratar a crise entre o ex-presidente e o ministro do STF Gilmar Mendes por causa do julgamento do mensalão

Dilma recebe Lula e operação ameniza crise

Integrantes dos Poderes agiram para neutralizar a escalada de acusações no episódio envolvendo o ex-presidente e o ministro do STF Gilmar Mendes

Rafael Moraes Moura, Tânia Monteiro, Vera Rosa e Eduardo Bresciani

BRASÍLIA - A presidente Dilma Rousseff comandou ontem uma operação para desidratar a crise envolvendo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Um script bem encadeado, que mobilizou integrantes dos três Poderes, foi posto em ação para neutralizar a escalada de declarações. O Palácio do Planalto divulgou nota, ontem, contestando reportagem do Estado sobre o assunto. Também em nota, o jornal manteve as informações (leia as íntegras abaixo). A senha para a operação de serenar os ânimos foi dada pelo presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), que na terça-feira chegou a criticar Mendes. Ontem, porém, Maia sugeriu um “chá de camomila” aos exaltados. “O importante é que se passe uma borracha nesse episódio, que não vai trazer problema para o Brasil. Temos que dar um chá de camomila a todos os envolvidos, principalmente neste momento em que se aproxima a votação (do mensalão) no Supremo.”

Encontros. Lula esteve ontem em Brasília e conversou sobre a crise com Dilma, em almoço de duas horas, no Palácio da Alvorada. Ele foi acusado por Mendes de ajudar “bandidos” que querem “melar” o julgamento do processo do mensalão, no STF. Pela versão do ministro, Lula ofereceu blindagem a ele na CPI do Cachoeira em troca de um acordo para adiar o julgamento. O ex-presidente chegou na noite de terça-feira em Brasília. Naquele mesmo dia, ele recebeu o ministro da Pesca, Marcelo Crivella, e repetiu estar “indignado” com a atitude de Gilmar Mendes. Ontem, Lula se reuniu no hotel com os ministros Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral da Presidência), Ideli Salvatti (Relações Institucionais) e com o líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP).

Dilma orientou os auxiliares a não mexer nesse vespeiro e ficou furiosa com notícia dando conta de que ela está preocupada com a crise e com o possível esgarçamento das relações com o Judiciário. O governo nega a operação abafa e a ordem no Planalto é não falar sobre o assunto. Nos bastidores, o comentário é o de que a imprensa não explora as “contradições” nas entrevistas de Mendes e está disposta a condenar Lula. Na noite de hoje o ex-presidente deve dar explicações sobre a polêmica no Programa do Ratinho, do SBT. Foi uma estratégia definida para que Lula possa falar ao vivo num programa popular. Ainda ontem, Dilma aproveitou um discurso durante solenidade de entrega da quarta edição do “Prêmio Objetivos do Desenvolvimento do Milênio” para homenagear Lula. “Processos e pessoas têm uma ligação íntima. As pessoas nos lugares certos e na hora certa mudam os processos e transformam a realidade. Por isso, eu queria, de fato, aqui fazer uma homenagem especial ao presidente Lula”, afirmou Dilma. Ela foi interrompida por aplausos da plateia, que se levantou e gritou “Olê, olê, olê, olá, Lula, Lula”, em coro. “Faço essa homenagem pelo desempenho do presidente Lula em se comprometer no Brasil com a questão do desenvolvimento e da oportunidade para os mais pobres”, insistiu Dilma.

‘Algumas pessoas não gostam de mim, tenho de tomar cuidado’

Sem mencionar a crise política, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez ontem uma referência indireta a seu embate com o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), ao proferir palestra no 5º Fórum Ministerial de Desenvolvimento. “Vocês sabem que tem muita gente que gosta de mim, mas tem algumas pessoas que não gostam. Eu tenho de tomar cuidado contra essas”, disse, provocando risos da plateia. “São minoria, mas estão aí no pedaço.” Lula insinuou que existem intrigas contra ele e disse querer evitar “dissabores”. Não citou, porém, o atrito com Mendes. “Vou falar em pé porque senão podem dizer que estou doente’”, afirmou.

ÍNTEGRAS

A Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República divulgou ontem nota contestando reportagem do Estado e negando risco de crise institucional no episódio envolvendo o ex-presidente Lula e o ministro do STF Gilmar Mendes. Por meio também de nota, o jornal manteve a informação publicada.

Nota da Presidência da República:

A Presidência da República informa que são no todo falsas as informações contidas na reportagem que, em uma de suas edições, apareceu com o título ‘Para Dilma, há risco de crise institucional’, publicada hoje no diário O Estado de S. Paulo.Em especial, a audiência de ontem da presidenta Dilma Rousseff com o presidente do Supremo Tribunal Federal, Ayres Britto, tratou do convite ao presidente do STF para participar da Rio+20 e de assuntos administrativos dos dois poderes. Reiteramos que o conjunto da materia e, em especial, os comentários atribuídos à presidenta da República citados na reportagem são inteiramente falsos.

Contrariando a prática do bom jornalismo, o Estadão não procurou a Secretaria de Imprensa da Presidência para confirmar as informações inverídicas publicadas na edição de hoje. Procurada a respeito da audiência, a Secretaria de Imprensa da Presidência informou ao jornal Estado de S. Paulo eà toda a imprensa que, no encontro, foram tratados temas administrativos e o convite à Rio+20.”

SECRETARIA DE COMUNICAÇÃO SOCIAL DA PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA.

Nota do Estado:

O Estado está seguro da apuração que fez e mantém a informação publicada sobre a preocupação do governo com o episódio e seu potencial de risco político, a despeito do desmentido oficial. A matéria publicada pelo Estado é fruto de apuração junto a fontes credenciadas do governo e desenvolvida desde a divulgação do teor da conversa entre o ex-presidente Lula e o ministro Gilmar Mendes. Segundo essas fontes, o fato preocupou profundamente a presidente Dilma Rousseff pelo seu potencial de crise. Dentro e fora do Palácio do Planalto é corrente a leitura de que é preciso evitar o envolvimento do governo com o assunto, raiz da orientação presidencial de silêncio sobre o tema. A audiência entre a presidente e o ministro Ayres Britto, nesta terça-feira, 30, foi marcada a pedido deste em razão de sua posse como presidente do Supremo Tribunal Federal. Foi, portanto, o primeiro encontro formal de ambos na condição de dirigentes máximos dos dois poderes da República, quando a pauta é de natureza necessariamente institucional.

Diante da crise política deflagrada depois do encontro entre o ex-presidente Lula e o ministro Gilmar Mendes, é natural que a versão oficial da reunião entre a presidente Dilma e o presidente do STF enfatize o evento Rio+20, embora este não tenha ocupado a pauta mais que o tempo necessário ao convite a Britto para o evento.

RICARDO GANDOUR, DIRETOR DE CONTEÚDO DO GRUPO ESTADO

FONTE O ESTADO DE S. PAULO

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