quinta-feira, 3 de maio de 2012

À beira da traição:: Jânio de Freitas

O jogo de desgastes é essencial aos partidos, seja no conceito com o governo, seja na rinha eleitoral

O sigilo do que já está ou logo será público, nas atividades centradas em Carlinhos Cachoeira, e a proteção a políticos sujeitos à convocação para depor -é disso que mais se ocupa a maioria da CPI. Na sala de reunião, nos telefones, na internet e, por certo, nos gabinetes e corredores.

A CPI está minada por coniventes com os incluídos no que deve ser esclarecido. E, a prevalecer tal ambiente, logo os coniventes passarão a agentes infiltrados, também conhecidos por traidores. No caso, traidores da CPI, do mandato e do seu eleitorado.

A fúria com que o senador Fernando Collor se bate pelo sigilo do inquérito policial, mandado em cópia à CPI pelo Supremo Tribunal Federal, só se explica por motivações emocionais. Não se inclui, portanto, naquelas condutas comprometedoras. Mas nem por isso se distingue das demais na incapacidade de anular o argumento, tão sucinto quanto agudo, do deputado Miro Teixeira: "O sigilo só beneficiaria os culpados".

A esperança dos defensores do sigilo é frágil, além do mais. É improvável que o Supremo Tribunal Federal, ao se ocupar do inquérito, não dê conhecimento do seu teor à população.

Muitos dos citados são eleitos e serão candidatos, e não seria justo deixar os inocentes sem tal reconhecimento público. Como seria injusto com o eleitorado o silêncio sobre os nomes dos culpados.

Com o STF, ainda há a Procuradoria-Geral da República. Seu chefe, Roberto Gurgel, está posto por vários parlamentares (e outros) como suspeito de esconder, por dois anos, a primeira parte do inquérito sobre Cachoeira & cia.

Em vista disso, sua conveniência é a de pedir a quebra do sigilo judicial e, ele próprio, abrir tudo e ir até onde consiga, atrás de constatações e comprovações.

O PT, o PMDB, o PSDB, o DEM, o PP, o PR, e ainda mais letras, estão todos no prontuário de Cachoeira. Por via telefônica ou por ação direta. Podem acobertar-se todos? Podem todos guardar silêncio uns sobre os outros?

Só se não houvesse as disputas regionais, mais encarniçadas com a proximidade das eleições municipais. O jogo de desgastes e desmoralizações é essencial aos partidos e aos grupos, seja no conceito junto ao governo, seja na rinha eleitoral.

É para reduzir o desgaste que o PT abandona o governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz, ao destino que tenha cavado. E o PMDB se debate para negociar uma armadura em volta do governo fluminense e do governador Sérgio Cabral. O qual, aliás, não facilita nada a intenção dos colegas e de parte do PT.

A mais recente criação do esforço peemedebista é argumentar que a exposição de Cabral na CPI enfraqueceria Eduardo Paes na busca da reeleição de prefeito. Mas tudo indica que Eduardo Paes, com o conceito alcançado, tornou-se mais importante para Cabral do que Cabral para Paes.

Apesar de tudo o que favoreça a CPI, os propósitos mais ativos ali, até agora, são nitidamente ruins ou são enganosamente aceitáveis. Mas a definição dos rumos não tem como tardar muito.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

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