sábado, 14 de abril de 2012

Uma CPI com o dedo do Planalto

Partidos da base aliada submetem indicações para compor o colegiado à aprovação da Presidência da República

Erich Decat, Gabriel Mascarenhas

Diante de um cenário irreversível na abertura da CPI do Cachoeira e da possibilidade de as investigações saírem do controle, o Palácio do Planalto começou a se movimentar nos bastidores com intuito de reduzir as chances de estragos. Com a coleta de assinaturas para a criação da CPI iniciada e com previsão de entrega para a próxima semana, os partidos aliados discutem internamente os nomes que serão indicados para compor o colegiado. Todos, no entanto, passarão pelo crivo palaciano.

Segundo integrantes da base ouvidos pelo Correio, chegou ao Congresso o aviso do Planalto de que será feita uma triagem nos nomes escolhidos pelas legendas alinhadas ao governo. "O perfil do parlamentar que nos foi passado é de que ele deve ser uma pessoa sem medo da opinião pública, que não faça da CPI um palanque e que seja totalmente fiel", resumiu um integrante da base. Dessa forma, alguns nomes já foram praticamente excluídos do colegiado, como o do deputado federal Anthony Garotinho (PR-RJ).

O perfil traçado pelo governo coincide em parte como o que o líder do PT na Câmara, Jilmar Tatto (SP), pretende escolher. "Estou fazendo consultas dentro do PT, mas a condição prioritária é o parlamentar se dedicar 24 horas à CPI e não ser candidato a prefeito", considerou. "Esse critério foi definido por mim, não falei com ninguém do Planalto", despista. Para evitar críticas de ingerência, o líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), nega qualquer movimentação do Planalto no intuito de filtrar os nomes indicados. "A orientação é de o governo não se envolver", explicou Chinaglia.

Esvaziamento

Dentro dos partidos aliados, alguns parlamentares reclamam do freio aplicado pelas duas maiores bancadas do Congresso — PMDB e PT — na condução das investigações pela CPI. "O comando do PMDB nunca quis a abertura da CPI. Tanto é que eles nem reuniram a bancada para debater se o partido deveria ou não assinar o requerimento. Eles sabem que qualquer CPI pode respingar neles e nos seus respectivos cupinchas", disparou o senador Pedro Simon (PMDB-RS).

Entre os petistas, há quem não esconda que, ao falar em abertura de CPI, após o surgimento das primeiras denúncias contra o senador Demóstenes Torres (sem partido–GO), o líder do PT no Senado, Walter Pinheiro (BA), não tinha como objetivo a instauração do colegiado.

Segundo correligionários dele, Pinheiro queria apenas pressionar a Procuradoria-Geral da República (PGR) e o Superior Tribunal Federal (STF) a enviarem ao Congresso o conteúdo do inquérito originário da Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, que flagrou os contatos telefônicos entre Demóstenes e o contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira. "Dentro do PT, havia quem era contra (a CPI), mas o partido se envolveu diretamente nisso", explicou o senador Humberto Costa (PT-PB).

FONTE: CORREIO BRAZILIENSE

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